
O ML Nº320S, que custa um pouco maisde 10 000 euros, é o descendente directo do famoso prévio de referência de duplo-chassis Nº32, com andar «phono» opcional e o mesmo potenciómetro do tipo «twin resistor ladder» (duplo com canais independentes e resistências com soldadura de superfície, sendo que só uma em cada passo está no caminho do sinal). Por fora parece ter sido construído a partir de um bloco sólido de metal, com painel ondulado, mostrador alfanumérico distinto e informativo e teclas bem dimensionadas que, tal como os botões de volume e selecção, destacam-se pelo tom claro: um sorriso de dentes brancos num rosto negro.

O «320» é um prévio simétrico em toda a acepção da palavra, até na disposição das fichas no painel posterior, o que pode fazer um pouco de confusão nas ligações ao princípio. Simetria que no interior atinge o limite da perfeição: todos os circuitos são integralmente balanceados (simétricos). Mesmo quando as fontes são não-balanceadas, os sinais são convertidos para que não sofram interferências no percurso interno.


Aliás, tudo parece ter sido concebido para que o sinal siga o seu caminho impávido e sereno. Os circuitos de áudio, controlo e alimentação são totalmente isolados por escudos de aço para os proteger de interferências electrostáticas e electromagnéticas. A corrente alterna filtrada por dois andares activos de tensão regulada segue por uma «circular externa» aos circuitos áudio. Um primeiro andar de ganho regula a tensão de linha e as variações de temperatura. O segundo andar de ganho de elevada performance está exclusivamente dedicado ao sinal áudio. Os circuitos de controlo e de áudio têm alimentação e transformadores toroidais(!) separados cada um isolado por uma gaiola de Faraday para evitar a corrupção dos sinais de baixa tensão por corrente alterna. A construção dual-mono separa física e electricamente o canal direito do canal esquerdo para garantir imagens sónicas tridimensionais. Mas há mais: pode atribuir nomes diferentes, ganhos diferentes, percursos diferentes (para gravação) a cada uma das entradas ou até desactivá-las se não estiverem em uso. Pode ainda desactivar o controlo de volume e integrar o 320 num sistema Surround pré-existente controlado pelo processador AV.
Durante o cerca de mês e meio em que o utilizei, só estranhei a «lentidão» do potenciómetro de volume, que é preciso rodar várias vezes até atingir a «velocidade» de cruzeiro: passos de 1 dB até aos 23 dB e de apenas 0,1dB a partir daí. Em contrapartida, a precisão do ganho é quase laboratorial: cada disco tem o volume exacto para ser ouvido e 0,1dB pode fazer toda a diferença. Também possui controlo remoto, claro.
O ML Nº320S tem todas as vantagens da neutralidade típica dos grandes prévios passivos «de resistências» sem nenhuma das desvantagens e oferece ainda todas as facilidades de utilização dos mais modernos exemplos activos. O som é claro-escuro como a pintura de Rembrandt, mas transparente, amplo e profundo (também no grave) sem o mais leve resquício de coloração «electrónica». O silêncio intersticial é fantasmagórico: na ausência de som o «vazio» é total, surgindo depois os elementos sonoros como corpos celestes iluminados pelo sol no negrume do universo infinito. O ML 320S soa como parece: sólido, de rosto redondo e sem protuberâncias, elegante e robusto, rápido, cheio e táctil, carnudo e de penetrante odor a terra húmida como uma trufa preta de Périgord. E é igualmente raro e caro.
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