
Na passagem do 40º Aniversário, a CES devolveu a dignidade ao High Perfomance Audio: o termo highend tem direitos de autor - não, não foi o Gato Fedorento que inventou, foi Harry Pearson, da TAS, e foi também ele que impediu, com a criação da Academy for the Advancement of Highend Audio, de que eu fui com grande honra júri honorário, que a CES acabasse com a exposição de áudio especializado na década de 80.

Ao mudar do local de exibição do Alexis Park, um resort sem casino e afastado da Strip, para o sumptuoso Venetian, um hotel temático, que pretende ser uma réplica hollywoodesca da bela cidade de Veneza, o highendestá finalmente no seu ambiente natural.



O notável projecto arquitectónico inclui e todos os principais ícones da Serenísima cidade do Adriático: o campanário, o leão alado…, a ponte de Rialto, a praça de S. Marcos e, claro, os canais, onde gondoleiros italianos transportam turistas para o centro comercial em gôndolas, sob um céu pintado que se confunde com a realidade, como se estivessemos ao ar livre, enquanto cantam O Sole Mio, Volare, e Auguri, Auguri, quando transportam noivos (a gôndola nupcial é branca e dourada como o carro do Papa) ou descobrem que algum deles faz anos nesse dia. Sempre sacam alguma gorja, além dos 15 dólares da corrida.

A gorgeta é, aliás, uma instituição nacional na América e uma questão sensível. Se não quer ser invectivado - um eufemismo para 'jerk' ou 'fucking nerd' - e olhado de soslaio, saiba que tudo o que for menos de um dólar para o porteiro, que lhe abre a porta do táxi, dois para o taxista e 10 a 15% mínimo sobre a conta do restaurante, vai ficar com as orelhas a arder. Embora, em Las Vegas, a questão não seja tão pertinente como em NY, onde já cheguei a ser perseguido até à porta pelo empregado por não ter gratificado depois de ter sido servido mal e porcamente.

O amplo casino do Venetian está sempre em efervescência e tem bom ambiente de jogo. À volta de uma mesa há pessoas de todas as raças e estratos sociais.
E vale a pena visitá-lo, mesmo que não jogue, ou sobretudo se não joga, quanto mais não seja para andar de cabeça no ar a olhar para os maravilhosos frescos dos tectos.


Ou para jantar no restaurante Postrio, de Wolfgang Puck, abrindo as hostilidades com umas amêijoas 'quase' à Bulhão Pato.

Em Las Vegas, há de tudo para todas as bolsas: desde o tradicional hambúrguer ou cachorro comido em andamento, com as mãos a escorrer molho amarelo e vermelho; o buffet para os que têm mais barriga que olhos e enfardam comida para o dia todo como os camelos bebem água para aguentar a travessia do deserto; as pizzarias mais ou menos sofisticadas e os restaurantes de luxo e super luxo onde uma garrafa de vinho pode custar 3.000 dólares, e se vende também vinho corrente ao copo a 10 dólares.
O mesmo se pode dizer da indumentária: gente bonita vestida por Armani cruza-se nos corredores apinhados de hóspedes que arrastam malas com a turbamalta vestida pela Nike, de chapéu de pala virada para trás, enquanto as mulheres empurram carrinhos de bebé e reformados passeiam de mão dada, revivendo vidas passadas ou de cadeira de rodas motorizada com botija de oxigénio: ao contrário dos portugueses, que se reforma e deixam morrer devagarinho, os americanos recusam-se a parar, porque isso significa morrer e na América não se morre - até os mortos são embalsamados para parecerem vivos durante o velório que mete comida, copos, música e, em Las Vegas, jogo!....
Pense no metro em Lisboa à hora de ponta e fica como uma ideia razoável do movimento no Venetian. Mas cada um está na sua e ninguém implica com ninguém, lança olhares críticos ou faz comentários.

Eu estava na minha também: press badge ao peito, máquina à tiracolo e o abençoado e exclusivo trolley com rodinhas, cortesia anual da Toshiba, que fazia parte do kit fornecido aos jornalistas (tenho um para oferecer ao leitor que enviar o melhor comentário sobre a reportagem, assim como um sampler CES 2007 da DTS para o segundo) e que eu levei de casa, pois já sabia que este ano seria substituído por uma mochila que, ao fim de uma hora de recolha de catálogos, brochuras e white papers pesa uma tonelada. Se o trolley tivesse conta-quilómetros, teria registado uns bons 50 quilómetros a pé no fim da reportagem…

O alojamento do High Performance Audio no Venetian trouxe óbvias vantagens para todos: os distribuidores dispunham de salas maiores com o luxo consentâneo com os preços e qualidade dos equipamentos; os visitantes não tinham de andar dentro e fora, como no Alexis, sujeitos aos caprichos do tempo (há dois anos, se bem se lembram nevou em Las Vegas!), embora já fosse discutível a opção de instalar os expositores que não couberam nas amplas salas de conferência dos 3 pisos inferiores de serviços, pelas suites dos andares 29, 34 e 35, obrigando-nos a formar fila para os elevadores.

As suites eram magníficas, e marcas como a Soundlab, Sonus Faber, TAD, Vienna Acoustics puderam, finalmente, cumprir a promessa de som highend em ambiente de 'show'. Claro que daí resultaram também situações caricatas que observei em algumas suites duplas, como a de estar a ouvir música na sala e ter a cama feita logo ali ao lado ou até o jacuzzi! E não foram poucas as vezes que me apeteceu utilizá-los…
Fiz 600 fotografias e visitei mais de 200 fabricantes em quatro dias! Trouxe comigo informação que dava para manter o Hificlube actualizado durante dois meses. Mas hoje em dia o leitor online está assoberbado de informação, muita dela já veiculada por múltiplos sites internacionais (há milhares de jornalistas dos quatro cantos do mundo a cobrir a CES), pelo que vou optar por dar aos leitores aquilo que eles, de facto, ainda não leram em nenhum lado: a minha opinião sobre os melhores e os piores sons; as maiores surpresas e desilusões; as coisas mais bonitas e as mais esquisitas ou mesmo loucas; aquilo que funciona na prática e o que só funciona em teoria (conversa da treta não falta aos fabricantes de highend…); e só depois, saciada a curiosidade inicial e a ânsia de novidades, irei percorrer com todos vós, o habitual caminho de A a Z. Sempre com o prazer da escrita, o amor ao áudio e o respeito pela verdade sem esquecer os interesses dos leitores e distribuidores que em Portugal lutam por manter a chama acesa.