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Portugáudio 2012, Santarém: sala LP/Stanza
Se há algo de que me posso orgulhar, ao longo da minha carreira de 30 anos de crítico de áudio, é de ter ajudado a “dar à luz” muitos sons, contribuindo como consultor ou apenas “opinador” profissional, para apontar caminhos ou abrir portas, cá dentro e lá fora. Nem sempre com bons resultados, é certo, porque a maior parte não “vingou” na selva audiófila onde impera a lei do mais forte, que nem sempre é o melhor.
Nota: ver em Media pdf da reportagem do LisbonShow, que publiquei na HiFi News, quando era Editor de Audio da revista Imasom, já na altura dando relevo a construtores nacionais.
Diz o povo com razão que, quem dá o que tem, a mais não é obrigado, sobretudo quando o principal obstáculo à comercialização tem um nome: made in Portugal. E esse estigma é tão forte no estrangeiro como entre nós. Grande parte do valor de um equipamento áudio está na imagem de marca. E não me refiro à “imagem estereofónica” mas ao poder do logotipo, que chega a ter “som próprio”...
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JVH ELS ONE, a minha primeira coluna híbrida: tweeter piezzoeléctrico, painel electrostático Schackman, unidade KEF G200 montada numa linha-de-transmissão Bailey
Quando, por ironia do destino, me tornei crítico de áudio, na sequência de ter ganho um prémio de crítica (ver pdf HiFiNews award_JVH em Media), que abriu as portas do meu humilde estúdio a equipamentos de som com os quais nunca poderia competir, já não fazia sentido perder tempo a “queimar os dedos” com o ferro de soldar.
Tive a partir daí a felicidade de poder conviver com alguns dos melhores construtores e técnicos do mundo e de aprender muito com eles, de trocar impressões com outros críticos internacionais e de me corresponder com nomes míticos da cena audiófila mundial, dando opiniões e apontando soluções. Mas nunca me esqueci das minhas origens de artesão autodidata.
Talvez por isso sempre apoiei os que ainda hoje se aventuram a amassar com suor o seu próprio pão. E estou sempre disposto a dar o meu parecer, que pode ter o valor de uma simples opinião pessoal, ou o parco incentivo do limitado peso institucional do HIFICLUBE.NET, a que alguns amavelmente atribuem importância; e outros preferem ignorar, sobretudo quando eu não gosto do que oiço e tenho a coragem de o afirmar, o que não significa falta de respeito e consideração pelo esforço de quem dedicou uma vida a concretizar o sonho de um “som perfeito”.
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Só nesta sala, estavam dois construtores cuja carreira eu acompanhei de perto. Sobretudo, Luís Pires. Mas também João Grácio aka Jon Stanza, que há muitos anos teve a amabilidade de me consultar sobre um dos seus prévios agora numa versão muito mais sofisticada (ver foto abaixo).
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Stanza con Legno
Na altura, incentivei-o a continuar os seus esforços, mas entretanto Grácio desapareceu do meu radar, até o encontrar agora como rosto da electrónica Stanza. Uma agradável dupla surpresa: reencontrar um jovem promissor e conhecer a sua obra mais recente.
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Luís Pires é um amigo de longa data, e segui a sua carreira bem mais de perto. Desde o tempo em que participou no projecto das HARPA Lusitana, que o levou das catacumbas do forte S. Filipe a Las Vegas, numa jornada memorável de promoção de Portugal até às mais recentes Alphama também apresentadas na CES (ver vários pdfs sobre as Harpa em Media).
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As Alphama são uma bela homenagem à alma da guitarra portuguesa, e Luís Pires merecia ter tido melhor sorte, porque saber não lhe falta, apesar de ter sido o único cujos méritos lograram atravessar o Atlântico.
Eu pelo menos fiz tudo o que estava ao meu alcance para que isso acontecesse, incluindo publicar um artigo na Stereophile sobre a apresentação das HARPA Lusitania (ver pdfs em Media), e divulgar a apresentação das Alphama na CES de Las Vegas junto dos meus contactos internacionais:
CES10 Alphama by Luís Pires
Mas, hélas, diz-se do mar que nos separa da América que muito do seu sal são lágrimas de Portugal...
Escreveu Voltaire que les beaux esprits se rencontrent. De facto assim é: Luís Pires e João Grácio juntaram temporariamente as suas obras primas para tocar Take Five de Dave Brubeck, um dos grandes momentos da Portugáudio. Apesar da acústica de uma sala cúbica, o som era tudo menos “quadrado”. Gostei. E se ouvirem o som do video com uns bons auscultadores também vão gostar:
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