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Audio Analogue Crescendo

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O Hificlube propôs a Manuel Dias, da Imacústica, o seguinte exercício: sugerir a JVH um sistema de som minimalista de entrada, como se ele fosse um iniciado nas delícias do áudio.

A sugestão veio rápida:

Audio Analogue Crescendo: leitor-CD e amplificador integrado (€995+ €995)

Sonus faber Venere 2.0: colunas de som (€ 1600 em preto lacado+ €430 suporte) 

Pelos padrões Imacústica, isto é, de facto, um sistema de entrada muito por baixo ainda que evolutivo. Não no sentido de permitir ‘upgrades’ por ‘soft/firmware’, pois trata-se de um amplificador integrado clássico, com 4 entradas de linha e uma Rec Out, além do ‘bypass’ HT para aplicações AV, uma entrada para um iPod e uma saída para auscultadores, sem as actuais vertentes informáticas de DAC/Streamer, mas que pode constituir o primeiro passo na ‘long and winding road’ do sistema de trocas evolutivas que a Imacústica disponibiliza a todos os clientes que há 30 anos ‘crescem’ com os seus sistemas.

Só que primeiro é preciso captá-los, cativá-los e pô-los em marcha rumo ao Graal, e é aqui que entram os Crescendo, como o nome indica.

Audio Analogue Crescendo & Sonus faber Venere 2.0, nada mal para começo de vida...

Audio Analogue Crescendo & Sonus faber Venere 2.0, nada mal para começo de vida...

…um sistema cujo preço total é inferior ao de alguns cabos de interligação: será preciso mais do que isto?

Sentado calmamente a ouvir música, e face ao desempenho de um sistema cujo preço total é inferior ao de alguns cabos de interligação vendidos pela Imacústica, assaltou-me um pensamento: será preciso mais do que isto?

Sabemos como a busca do som perfeito se pode tornar uma obsessão. E um modo de vida. Eu falo por mim. Mas sei que há por aí muitos audiófilos que ‘cresceram’ comigo. São da minha ‘criação’, como se diz na minha aldeia. Neste contexto, os equipamentos disponibilizados pela Imacústica são uma tentação – e uma perdição.

É sempre possível evoluir, porque a busca do Graal é antes de mais uma busca interior pela felicidade que nos escapa no momento em que julgamos tê-la atingido. Eis como, pelo menos durante algum tempo, podemos ser felizes apenas com aquilo que temos, as Venere 2.0 e os Crescendo, sem perder o desejo de concretizar o sonho de possuir umas novas Aida, de braço dado com Hercules II, passando ou não por todos os estádios de evolução intermédios.

O segredo, portanto, é ‘gostar de estar onde se está’, aproveitando o que a vida nos dá em cada momento. E o que ‘esta vida de crítico de áudio’ me deu nunca me impediu de descer do pedestal do highend, onde me alcandorei por convicção, mérito e alguma sorte – sendo que a sorte dá muito trabalho – para concluir que o hifi acessível atinge hoje patamares de qualidade plenamente satisfatórios.

Em quarto crescendo

Audio Analogue AAcento, my favourite

Audio Analogue AAcento, my favourite

É difícil apanhar-me desprevenido, e esta não foi a minha primeira experiência com os Audio Analogue Crescendo. No decorrer do ImacShow 2017, Luís Campos já os tinha apresentado, então na companhia de um par de ProAc DB3 (ler reportagem aqui).

E ficou logo ali delineado o caminho de evolução a seguir sempre dentro da linha Audio Analogue Armonia, passo a passo, com os Fortissimo (o dobro da potência e o dobro do preço), seguindo-se o AAcento (de classe A 100W) que custa o triplo e, finalmente o Puccini Anniversary, que custa outro tanto e ainda mais um pouco. Depois, sai-se e sobe-se pela via Maestro. Mas nós hoje ficamos nesta estação.

A Audio Analogue é uma empresa italiana, da bela Toscânia, terra por andou da Vinci e Galileu, que se preocupa com a tradição cultural e tecnológica patente nos produtos que fabrica ‘em casa’ há 20 anos, uma longevidade que, só por si, já é uma boa garantia de continuidade para o comprador, quantas vezes apanhados no meio de ‘takeovers’ hostis de origem asiática, que exploram o prestígio de marcas europeias famosas até se esgotar e partem depois para outra sem remorso.

Como todos os fabricantes, a Audio Analogue alega que se preocupa sobretudo com a qualidade do som, desde a concepção à afinação e audição. Mas, ao contrário, de outras marcas que têm um som sempre igual, e os modelos mais caros se limitam apenas a ter mais potência, a Audio Analogue ‘atribui’ um tipo de som particular a cada modelo, embora mantendo a mesma qualidade geral.

Assim, o Fortissimo não é um Crescendo mais potente. E o som do AAcento não tem nada a ver com o do Puccini. São como bons vinhos do mesmo produtor mas de ‘castas’ diferentes adequados a cada gosto. Depois temos os Anniversary que são ‘reservas especiais’.

Todos partem da mesma base tecnológica com provas dadas de que uma boa fonte de alimentação, com um toroidal sobredimensionado, dá corpo e estrutura ao som.

O controlo de volume é do tipo ‘push and twist’: roda-se para regular o som e pressiona-se para seleccionar as fontes (pode utilizar o modesto controlo remoto também); e o potenciómetro tem 4 níveis de ‘ajuste’ para melhor se adaptar à personalidade das colunas e garantir ‘subidas e ‘descidas’ suaves sem sobressaltos acústicos.

As caixas são robustas, sólidas para evitar contribuir com ressonâncias mecânicas, daí o peso que pode surpreender quem está habituado a pegar em ‘plástico’ asiático.

É no andar de potência que os ‘enólogos’ da Audio Analogue dão o‘bouquet’ ao som.

Com mais ou menos polarização em Classe A (AAcento, o meu favorito) ou com pouca ou nenhuma realimentação negativa global (Puccini Anniversary). No caso do Crescendo, o segredo está na opção ‘gainclone’. E é isso que o diferencia: a simplicidade do circuito tem como objectivo o ‘rigor’ mais do que o ‘vigor’. São 50W de equilíbrio musical, sem sobressaltos dinâmicos.

…o segredo está na opção ‘gainclone’. E é isso que o diferencia: a simplicidade do circuito…

De facto, se abrirmos a caixa observamos que o Crescendo utiliza apenas um transístor de potência por canal (LM3886), na linha do famoso 47 Labs, que custava uma pipa de massa. Tudo o resto fica a cargo da PSU, que tem de ser muito estável. Quando testei o Clones 25i, expliquei tudo sobre o princípio do ‘gaincard clone’. Portanto, vamos ao que interessa: a música.

Crescendo e companhia

A arte e a cultura italianas estão sempre presentes na sua indústria áudio

A arte e a cultura italianas estão sempre presentes na sua indústria áudio

O Crescendo apresentou-se a concurso, acolitado pelo seu colega leitor-CD, também muito espartano, com apenas uma saída RCA e uma coaxial (digital). O transporte é um Teac CD-5010A, um luxo nos tempos que correm, pois a Teac deixou de produzir para fora. Contudo, apesar disso o mecanismo de leitura é ‘audível’ em funcionamento em condições de proximidade e silêncio. A conversão é do tipo Delta Sigma 24/192 com base em ‘chips’ Burr Brown.

Nada de revolucionário, portanto, apenas uma boa gestão de componentes para garantir uma boa relação qualidade-preço.

Como convidadas trouxe um par de colunas Sonus faber Venere 2.0, lacadas a negro, com os respectivos suportes, tão elegantes quanto complicados de montar.

Casamento à italiana

Sonus faber Venere 2.0, a noiva vestia de negro...

Sonus faber Venere 2.0, a noiva vestia de negro...

Sendo um ‘gainclone’, o Crescendo precisa de ‘aquecer’ até atingir a temperatura ideal de funcionamento (cerca de meia-hora). E tem para oferecer o som característico dos ‘gainclones’: leve, doce e subtil, com um grave ligeiro mas articulado e muito bem definido; rico em informação, um tudo-nada frontal na apresentação talvez, o que lhe confere boa presença, foco e estabilidade. Alguma timidez macrodinâmica é bem compensada ao nível da performance microdinâmica.

Crescendo consegue tocar alto sempre com compostura: não grita e não perde a noção de civismo audiófilo.

Sobretudo, não soa ‘electrónico’, a maleita que afecta muitos concorrentes até mil euros. O palco é tão rico de informação, de conteúdo e ambiental, que a experiência de audição electrostática nos ocorre logo à memória, mesmo ouvindo-o com colunas de caixa, porque parece não lhes 'excitar' os maus modos.

Daí talvez a mesma sensação que tive com o Clones 25i de que os sons mais ínfimos se ouvem com extrema definição, como se alguém no palco nos fizesse sinais de morse com uma lanterna eléctrica para uma leitura imediata do processo musical, que outros nos apresentam como codificado e de difícil compreensão.

O integrado Crescendo já me tinha deixado boa impressão, quando o ouvi com as ProAc DB3, mas as Venere 2.0 são um melhor casamento. Não por serem italianas também, mas porque o agudo mais vivo compensa a doçura a montante; o recato responde à franqueza dos médios; e o corpo dos graves dá à definição geral o sentido de autoridade, urgência e ritmo.

Nada mal para começo de vida audiófila.

AAnalogue Crescendo amp e leitor CD

Audio Analogue Crescendo & Sonus faber Venere 2.0, nada mal para começo de vida...

Audio Analogue AAcento, my favourite

A arte e a cultura italianas estão sempre presentes na sua indústria áudio

Sonus faber Venere 2.0, a noiva vestia de negro...


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