Com Andrew Jones ao leme, a TAD, uma subsidiária de luxo da Pioneer, recebeu durante três anos sucessivos o ‘diploma’ do Hificlube para ‘Melhor Demonstração de Áudio High-End’ da CES, de Las Vegas. Não só o som era sempre óptimo, como toda a ‘envolvente’: a ‘suite’ alugada no Venetian, a decoração, o conforto dos sofás, o ambiente agradável de tertúlia audiófila, a excelência da selecção musical, com muitos ‘masters’ de alta resolução e, claro, o profissionalismo e simpatia de Andrew Jones.
Poucos profissionais têm esta capacidade de ‘vender’ na praça pública os produtos que eles próprios criam. Há outros grandes engenheiros no mundo do áudio que convivem bem com o público, mas mandam terceiros demonstrar os seus produtos. Andrew dá a cara, sorridente sempre. Aliás, Andrew já trouxe o seu ‘TAD Show’ a Portugal, tendo participado no Audioshow 2012, embora sem o mesmo sucesso, muito por culpa da sala.
No início de 2015, soube-se que Andrew Jones se tinha transferido para a Elac. Pensou-se que iria ser o responsável lógico pelos topo de gama da marca alemã, mas surpreendeu tudo e todos com a série Debut que, além dos modelos C5 (central), A4 (módulos surround para Dolby Atmos) e F5 (de-chão), inclui estas B6 e ainda as B5 (e agora as B4), mais pequenas e baratas, na linha do que já tinha feito na Pioneer, com colunas de 200 e poucos euros, enquanto desenvolvia produtos para a TAD do tipo ‘money no object’.
De tal forma que, quando vi e ouvi pela primeira vez as notáveis Elac Concentro, às quais atribui o ‘diploma’ de ‘Melhor Som’ do Highend 2016, pensei que já havia ali ‘mão de Andrew’, tal a semelhança do tom, do timbre e da dinâmica com o das TAD Ref One.
Afinal, disseram-me que não. ‘No, Andrew Jones had no role in this one, yet. It’s all made by Elac engineers’.
Depois, encontrei Andrew nos corredores e insisti. ‘Eh, pá, Andrew, as Concentro são a tua cara e têm o ‘teu’ som, e eles dizem que não foste ouvido nem achado?’ ‘Bom, dei umas dicas…’. ‘ Ah, pronto, assim já estou mais descansado…’.
Elac B6
Por muito que eu gostasse de estar a escrever sobre as Concentro, que me encantaram pelo design moderno e a naturalidade do som e facilidade com que respondiam às solicitações dinâmicas, o objecto desta análise são as B6, que custam apenas 399 euros (e não 70 mil!), isto para não me acusarem de me dedicar só ao segmento de luxo do áudio.
A verdade é que, por este preço, as B6 são um ‘luxo’. Acessível mas ainda assim um ‘luxo’. Vejamos.
A caixa é em mdf de média densidade e espessura, sem travejamento interno (se bater com os nós dos dedos soa a oco), forrada com vinilo de cor preta antracite (eles chamam-lhe ‘escovado’). Os bornes dourados são de inesperada boa qualidade. Este simpático 'caixote' de linhas direitas tem as dimensões de 35 por 20 cm e pouco mais de 6 quilos de peso. Mas quando as tiramos da caixa são maiores do que aparentam nas fotos.
No painel frontal, estão montados dois altifalantes: um tweeter com diafragma ‘mole’ de 25mm, faseador esférico e grelha de protecção; e um médio-woofer de 165mm e cone de fibra de ‘Aramid’ entretecida, com aspecto hightech (a que não são também alheios os espelhos dos altifalantes em forma de oito), e integrado num sistema reflex com pórtico traseiro. A grelha é fixada por meio de clips. O filtro é de 2º ordem com frequência de corte centrada nos 3kHz. Mais simples é impossível. E, por este preço, melhor também não é fácil...
A impedância é algo elevada no agudo e nunca desce abaixo de 6 ohm no grave, logo é benigna e fácil de alimentar, mas a sensibilidade é de certeza mais baixa que os 87dB declarados, nem seria de esperar outra coisa também, pois para ter um ‘som grande’ foi necessário cortar gás ao tweeter e ‘puxar’ o médio-grave para lá do expectável.
Ora foi este ‘efeito de surpresa’ que tornou as B6 na coqueluche da crítica internacional: uma coluna deste tamanho e deste preço não tem o direito de se fazer ouvir em público com esta voz limpa e autoritária, mesmo quando por trás tem um amplificador como o NAD D3020. E melhor ficou ainda quando eu lhe liguei a secção de amplificação do McIntosh MHA100, que já é de outro campeonato. É uma coluna pequena, mas ‘politicamente’ madura e segura de si.
Não admira que Rui Calado, quando as ouviu na CES 2016, me tenha de imediato mandado uma sms onde dizia: ‘O Andrew demonstrou as B6, e não vais acreditar nos graves que esta m… tem!’ E não é que tem mesmo!...
Também tem algumas ‘colorações de caixa’, claro. Mas não são tão óbvias como eu esperava e o cérebro depressa as ‘filtra’ para deixar passar apenas a música.
Palettes de música, diria o saudoso Nelo, personagem criada por Herman José. Se as colocar a tocar atrás de uma cortina, 7 em cada 10 pessoas dirão que se trata de umas colunas de chão de 3-vias. E as outras 3 vão ficar na dúvida. Até conseguem criar uma imagem ampla e credível se as afastar entre si e da parede de fundo.
É possível ludibriar as leis da física durante algum tempo, mas não o tempo todo: o médio-grave é surpreendente na presença mas a extensão é limitada e a do agudo também para compensar. É óbvio que Andrew fez o ‘voicing’ de molde a favorecer a grande gama média, que é onde ‘vive’ a maioria da música, com alguma tolerância para o grave que lhe dá vida e ritmo.
Para mostrar o que valem, dê-lhes gás! Em velocidade de cruzeiro, o som é limpo, eu diria mesmo inacreditavelmente claro e transparente e o grave é articulado com boa definição - o efeito de caixa não parece fazer-se sentir. Se carregar no pedal, o pórtico entra em acção e o grave ganha profundidade, extensão e poder. O médio não endurece tanto como seria de esperar, apenas o agudo se torna um pouco mais 'espalhafatoso', embora isso dependa muito da qualidade do registo, algo que não abunda na era das gravações digitais a bater nos 0dB, ou seja sem tecto dinâmico: começam alto e acabam alto. Até Mariza já grava assim, como se fosse Andra Day!
Comparei as B6 com umas 'velhinhas' Sonus Faber Concertino originais, e as B6 'denunciaram' logo a idade das Concertino, cujo som é mais encorpado mas menos claro e limpo, e não tão rápido. Sobretudo com música do tipo DJ Snake, a pedido do meu neto. Uau, meu, gan'da batida! E eu que me queixo dos vizinhos que passam a vida a ouvir rap...
Contudo, com todos os géneros musicais, de Bach a Dean Martin, passando por Andra Day ou Vanessa Fernandez, as B6 até podiam servir como 'monitor de estúdio' improvisado, tal a clareza dos enunciados musicais.
Não aconselho a utilização das B6 em espaços muito amplos. Contudo, numa sala europeia normal, ou num quarto de estudante, as B6 podem ter na vizinhança o efeito da passagem de um B58, largando bombas de música, e não de napalm…
Se não puder chegar às GoldenEar, que é outra coluna distribuída pela Ultimate Audio Elite capaz de ultrapassar as limitações impostas pela sua própria dimensão (e preço), tem aqui uma boa alternativa para começo de vida audiófila: o amor, uma cabana e um par de Elac B6. Klang lebt!
Produto: Elac B6 mini-monitora de suporte
Preço: 399 euros
Distribuidor: Ultimate Audio Elite