Quando passei pela Ajasom para buscar o Meridian Explorer II (ver Artigos Relacionados), Nuno Cristina convidou-me a entrar num mini auditório onde estava a tocar também um mini amplificador a válvulas. Houve uma imediata empatia, e ficou logo ali combinado um test drive. Depois dos Ferrari e Lamborghini, no Verão sabe bem dar uma volta de...Vespa!...
Unison Research Simply Italy, de sua graça, é uma versão comemorativa do 150º Aniversário da Itália (um país novo, ao contrário de Portugal), baseado num modelo de grande sucesso da marca, o Simply Two. Ambos funcionam em Classe A, em modo single-ended ultralinear, e produzem 12W/c a partir de duas válvulas EL34, no andar de potência, que funcionam como quasi-tríodos, e duas ECC82 no andar de prévio e de ganho. Simplesmente.
Um pequeno comutador, escondido sob a grelha de protecção das válvulas, permite ajustar a realimentação negativa no circuito. Mais feedback confere ao som uma sugestão de mais potência e controlo sobre os graves, menos feedback torna as vozes mais naturais. Lá iremos a seu tempo.
Os terminais RCA dourados (5 entradas) são de boa qualidade e o bornes protegidos estão de acordo com as normas europeias e aceitam cabos nus, forquilhas e bananas. O cabo de potência é destacável: utilizei um cabo Siltech ligado a um condicionador Isotek Titan. Para as interligações o Black Sat. Nas colunas: Audioquest (com malha energizada).
Em relação ao Simply Two, o “Italy” utiliza um transformador com duplo enrolamento, que permite separar o andar de prévio e de ganho. O andar de potência tem uma impedância de um pouco mais consentânea com o mundo real das actuais colunas de som: 6 ohms! Mesmo assim um exagero, pelos padrões dos amplificadores de estado sólido.
Em termos técnicos, isto significa que a resposta em frequência, sobretudo nos extremos, pode variar substancialmente em função do factor de amortecimento e da impedância das colunas utilizadas.
Neste caso, e perdoem-me os moralistas de serviço, aconselho “sexo antes do casamento”.
Há por aí muitas colunas com mau feitio e incompatíveis com o Simply Italy. Opte por modelos com impedância benigna e sensibilidade racional. António Almeida e Nuno Cristina, do distribuidor Ajasom, melhor que ninguém, saberão aconselhá-lo.
Esqueça os 12W! Bastou avançar o potenciómetro ALPS RK27 menos de um quarto de volta para encher a sala de música. Estes watts italianos não foram por certo alimentados a saladinhas Caprese, com tomate, mozarella e folhas frescas de manjericão, acompanhada por água San Pelegrino; isto é mais lasagna com um bom Chianti tinto, na esplanada de um praça histórica de Florença, em fim de tarde de sol, seguido de um delicioso gelato Tartuffo!...
Pode optar pelo controlo remoto. Mas eu gosto de sentir o contacto dos dedos nos botões redondos e macios, em forma de mamilo, e coloquei o Simply Italy perto de mim para poder dispensar a acção remota daquele tic-tic miudinho, apesar do corpo de madeira.
Como sempre acontece com válvulas, o som torna-se ainda mais voluptuoso e carnudo à medida que os filamentos aquecem, brilhando no escuro e reflectindo-se nos espelhos em metal anodizado, que funcionam também como dissipadores.
Dentro da sua zona de conforto, o Simply Italy é simplesmente notável: as vozes têm corpo e alma, como os seres que as produzem; os instrumentos denunciam de imediato o material de que são feitos e o timbre próprio que resulta do seu tamanho, forma, função e posicionamento na orquestra: oiça-se Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev.
O Simply Italy liga-se, e deixa-se a tocar sem parar. Quase nos esquecemos dele – e de nós.
Preferi sempre o som com mais feedback. Agora com a idade deu-me para negar alguns dos dogmas audiófilos da minha juventude. In illo tempore, o feedback era uma coisa má!
É verdade que reduzindo o feedback (1, 8 dB) o som ganha em “musicalidade” mas acentua-se a “fragilidade” do andar de potência, e quando o sinal se mete por caminhos íngremes, nos picos inóspitos e gelados, sente-se o frio da distorção.
Aumentando o feedback para 5dB, ainda assim aceitáveis, o factor de amortecimento sobe em conformidade e o grave torna-se mais tenso e articulado. O som como um todo ganha projecção e presença. É uma diferença subtil, mas está lá e ouve-se: “mais alto e mais limpo” versus “mais baixo e redondo”.
Nota: leia nos Artigos Relacionados “Doce mentira”, publicado no DNA em Junho de 2003 e, em versão bilingue, na revista de bordo da Air Luxor.
Para terminar não resisti a levar os Simply Italy para o estúdio, onde ousei ligá-los a um par de Quad 2912 (teste para breve), sem grande esperança de sucesso, admito.
Num contexto mais complexo, as limitações de potência do Simply Italy são evidentes. Mas em sessões de late night listening os resultados superaram as minhas expectativas. As 2912 são exímias na manutenção do equilíbrio tonal geral, mesmo a níveis baixos de sinal, e a música fluia quente e frutada como mosto de vinho de bica aberta.
Mais espantoso ainda era o realismo extraordinário do palco sonoro com os planos bem definidos, sem perder de vista a noção do todo orgânico, que engloba o espaço, os intervenientes e o ar à sua volta, com religioso respeito pela morte dos sons (decay), sobretudo com ficheiros áudio de alta resolução.
Não exija do Simply Italy o que ele não pode dar-lhe, e ele dar-lhe-á mais do que alguma vez pensou poder exigir dele. It’s that simple...
Distribuidor: Ajasom
Preço: 1 750 euros