Carlos Moreira dispensa apresentação. É um nome indissociável do “Movimento Áudio” nacional, desde a década de oitenta, e foi, enquanto rosto da Transom, meu compagnon de route, na era de ouro da electrónica de consumo, de uma maneira geral (plasmas e telemóveis, por exemplo); e do highend, em particular, que se viveu euforicamente em Portugal, pelo menos até ao virar do século.
Hoje está associado à Absolut Sound&Vision (da Topaudio, grupo JLM), uma das grandes lojas de hifi de Lisboa, e resolveu surpreender-me com um produto novo no nosso mercado, e que eu admito já que não conhecia, o que é obra!
A Guru é mais um dos muitos fabricantes suecos, uma indústria conhecida pelo equipamento áudio de qualidade, normalmente de categoria highend e preço a condizer.
Ora as colunas Guru Junior faziam parte de um sistema composto por um leitorCD/transporte Arcam FMJ CD37, que fornecia o sinal digital a um Chord Chordette Qute DAC; e este, por sua vez, enviava a mensagem analógica para amplificação ao Arcam FMJ A19, e era anunciado por Carlos Moreira como “o sistema mais barato do Audioshow 2013”.
Não sei se seria, mas atendendo à “envolvente” electrónica no Pestana Palace, era pelo menos muito acessível.
Sobre o adorável Qute já disse o que tinha a dizer aqui e aqui. Não aparece nas imagens, porque Carlos Moreira resolveu criar um “mistério de Lisboa”, e escondeu-o junto com o A19, sob um manto de veludo vermelho. De facto, havia naquele som uma misteriosa sensualidade: o que andariam o Qute e o A19 a fazer debaixo dos lençóis?...
Havia quem dissesse que também lá estava escondido um “subwoofer”, mas Carlos Moreira garantiu-me que aquele som todo vinha das Guru Junior. Seria falta de educação ir lá espreitar...
Um guru é normalmente uma pessoa discreta, fisicamente insignificante, aparentemente débil, com enorme sabedoria, personalidade e carisma. As pequenas Guru Junior fazem jus ao nome. Apesar de encostadas à parede, mantiveram a calma e o equilíbrio tonal e tímbrico, a fazer lembrar o som BBC dos anos 60, mas com a transparência e a resolução que os tempos modernos exigem.
Com Nina Simone, cantando He Needs Me, julguei ouvir “a parede” reflectica na voz, sob a forma de uma ligeira espessura nos registos médio-baixos. No registo digital que vos apresento, essa “espessura” está ausente e a dicção, entoação e fraseado são perfeitamente inteligíveis e naturais:
And I'm here
And I'm gonna be his friend or his lover
'Cause my one ambition is
To wake him and make him discover
That he needs me
I've got to follow where he leads me
Or else he'll never know that I need him
Just as he needs me
Tal como Nina Simone, eu acho que: I’m gonna be his friend...
O trecho de jazz que se seguiu dissipa qualquer dúvida: timbre perfeito do trompete, metálico e abrasivo, como deve ser; e a pele bem tensa, definida e articulada dos tambores, com ritmo fluido e sem o overhang, que a parede teria provocado a outro monitor do mesmo tipo e preço, nas mesmas circunstâncias.
Um ensinamento acústico a seguir com religiosa devoção, o deste guru sueco.