Por ocasião da festa de abertura ao público da nova e redimensionada loja da UAE, em Benfica, que coincidiu com o 30ºAniversário da Gryphon, embora a estrela da companhia fossem as Pendragon (ver em Artigos Relacionados), os meus olhos, mais do que os ouvidos, caíram gulosos sobre o expositor de auscultadores highend, qual tábua de doces em restaurante gourmet.
À disposição dos visitantes havia modelos das duas marcas de referência distribuídas pela UAE, Audeze e Oppo, ambas de tecnologia ortodinâmica, mais conhecida por planar-magnética, pois não utilizam altifalantes mas membranas muito finas que vibram num poderoso campo magnético (funcionam basicamente como as famosas colunas de painel Magnepan), que se distinguem dos modelos electrostáticos por não necessitarem de amplificadores dedicados.
A mim apetecia-me trazê-los a todos para comparar, mas refreei o meu egoísmo e cupidez, e caí na asneira de deixar passar alguns dias para não roubar esse prazer aos clientes e eventuais compradores, com a vantagem não-despicienda de serem eles a fazer a ‘queima’ prévia, poupando-me tempo e dinheiro.
Quando voltei ao local do crime, já era tarde, e um dos suspeitos que eu queria submeter a audição preliminar tinha desaparecido para parte incerta levado pelo feliz comprador: o EL8 ‘open back’.
Da colecção EL 8, restava assim o modelo ‘closed back’, que foi logo ali detido para interrogatório, acompanhado por um irmão mais velho, LCD-X, e um primo direito, o Oppo PM3, a versão urbana móvel e fechada do PM1.
Ora, como sabem, o ‘juiz’ tem um tempo limitado para ouvir os arguidos. Depois, ou os ‘prende’ ou os manda para casa com termo de identidade e residência, neste caso para a loja da UAE, em Benfica, onde os pode ir ouvir pessoalmente.
Isto não é, portanto, um teste formal. É antes o relatório preliminar dos exames poligráficos que efectuei com recurso ao McIntosh MHA-100 ‘headphone/DAC amplifier’: sob pressão cada um contou a sua versão da verdade, mas não consegui apanhar nenhum deles a mentir. E se o fizeram, enganaram-me bem…
Audeze LCD-X
O LCD-X é a versão mais recente da LCD Collection. Pouco mais barato que o LCD-3 mas mais eficiente, sem perder as qualidades intrínsecas e virtudes acústicas (ver em Artigos Relacionados: ‘Buy before you Die’).
A construção e o design são basicamente iguais e o som idem. O peso varia em função dos materiais utilizados para a cápsula e o LCD-X, sendo de alumínio (os outros são de madeiras exóticas), é o mais pesado com cerca de 600 gramas! O conforto das almofadas de pele genuína e a boa distribuição do peso compensa de algum modo o que poderia tornar-se um pesadelo nas longas audições. Convém reforçar os músculos do pescoço no ginásio…
O LCD-X apresenta no cartão de visita algumas inovações tecnológicas patenteadas, ao nível do duplo faseador montado de cada lado sobre a estrutura de ímans de neodímio, da configuração e potência do campo magnético duplo e da espessura da membrana ultrafina que já foram, entretanto, incorporadas nos LCD-3f(azor). A impedância é também substancialmente mais baixa: 22 vs. 110 ohms.
Portanto, são a aposta lógica para quem gostava de ter uns LCD-3 e não pode lá chegar, embora a diferença no preço não seja assim tão grande. No fundo, a diferença entre eles é mínima também em termos de performance acústica, certo? Bom, talvez, a verdade é que eu não tinha aqui os LCD-3 originais para comparar, e servi-me da memória auditiva, que nunca é de fiar…
Desde que lançou o LCD-2 que a Audeze tem tentado responder aos críticos que os consideravam ‘escuros’ e ‘tristonhos’, quando eram apenas ‘educados’ e ‘discretos’, puxando o equilíbrio tonal para cima para compensar o grave, tão poderoso na dinâmica quanto portentoso na extensão. Foi assim com o LCD-3, que tem outra vivacidade no topo e detalhe mais evidente que o LCD-2, sem afectar em demasia o equilíbrio tonal, a pureza tímbrica e a fabulosa imagem estereofónica, ou chame-lhe palco sonoro se preferir, que é amplo e envolvente e nos transporta para o local de gravação numa enorme bolha musical.
O LCD-X foi mais um passo no mesmo sentido. E tudo o que escrevi sobre os LCD-3 se aplica igualmente aos LCD-X, pelo que passo a transcrever alguns excertos do artigo, ao mesmo tempo que aconselho a ler o teste integral ‘Audeze LCD3: buy before you die’, em Artigos Relacionados:
Nunca gritam aos ouvidos, nunca se excedem, nunca a voz lhes dói, mesmo quando a ausência de distorção nos incita a ouvi-los cada vez mais alto.
Os Audeze LCD 3 são os auscultadores com o som mais natural que já ouvi: está lá tudo, um tudo que se faz de pequenos nadas, que nos comprazemos em trazer à superfície, num trabalho paciente de arqueólogos do som, revelando tesouros escondidos nos ficheiros musicais.
Nos Audeze é o todo que conta, não as partes: do timbre ao tom, do ritmo à dinâmica; da ambiência à presença, o LCD 3 é superior a todos os auscultadores que já ouvi até hoje.
O ‘piquinho’ extra no agudo dos LCD-X confere-lhes um som mais moderno e arejado. Mas com este tamanho, peso, preço (para não falar do design algo artesanal) nunca serão a escolha dos jovens urbanos, que gostam de ouvir música on-the-move e andam sempre com muito ‘ar’ nos bolsos. Por outro lado, arriscam-se a não agradar aos conservadores para quem a opção tonal dos LCD-3 em relação aos LCD-2 já tinha sido uma blasfémia. Olhem que não, olhem que não…
Talvez por isso, eu tenha gostado mais de ouvir os LCD-X com o Chord Hugo, cujo agudo é doce como mel, tem uma gama média com a textura de natas frescas batidas e um grave expansivo e controlado.
Absolutamente recomendados, mas mantenho a minha preferência pelos LCD-3, que, admito, estavam mais bem ‘queimados’. Ou então é porque não há amor como o primeiro, e a memória sentimental nos prega rasteiras...
Preço: 1979 euros
Audeze EL-8
E eis agora algo de completamente diferente no planeta Audeze: The EL-8 Collection.
A mesma tecnologia de transdução, duplo faseador e aumento da potência e maior uniformidade do campo magnético, num design moderno, com uma estrutura mais leve (480 g) construída numa liga de alumínio, com elementos decorativos em madeira sintética e um som de auscultador-monitor de estúdio: seco, muito limpo e transparente, na gama média, grave tenso e intenso, com baixa coloração e total ausência de distorção audível nas altas frequências. Aquele som orgânico, morno e repousante que caracteriza os LCD partiu com os EL-8 para parte incerta.
O EL-8 é extremamente eficiente, contudo a impedância nominal de 30 ohms sugere algum cuidado com a amplificação complementar. Toca bem até com um telefone, mas não é a mesma coisa…
Estou a falar, claro, da versão ‘closed back’ dos EL-8. A versão gémea ‘open back’ tem um som mais próximo da ‘LCD Collection’, com a ‘ambiência’ própria dos dipolos.
Com estes EL-8 perde-se assim em ‘espacialidade’ do palco sonoro o que se ganha em foco e definição, a que não é alheio o excelente isolamento externo (os auriculares envolvem integralmente as orelhas).
O nível de detalhe acústico é superior ao do LCD-X, porque o equilíbrio tonal é mais seco, há menos ‘ambiência’ e o cérebro capta assim mais depressa o pormenor minimalista escondido na mistura de estúdio. O grave não tem a extensão nem a ‘gravitas’ (passe a redundância) dos LCD, mas tem um ataque, articulação e ritmo viciantes.
Apetece ouvir alto, cada vez mais alto. Aliás, esta é a sua principal virtude ou defeito, depende do ponto de vista (ou de ouvido): se os ouvir sempre baixinho nunca vai descobrir do que são capazes…
Preço: 819 euros
Oppo PM3
Eis a grande surpresa deste triatlo auditivo. Nunca antes havia sido tentada a portabilidade com tecnologia planar magnética. O formato e tamanho dos auriculares implica que não envolvem completamente, antes assentam sobre as orelhas (mesmo que não sejam grandes), e perde-se assim algum do isolamento ambiental que experimentámos com os EL-8.
Os PM-3 viajam com um estojo de ganga azul de jeans (denim), um longo cabo de 3 m e outro de 1,2 m compatível com smartphones, nas versões branco de noiva (mais feminina) e preto (a que nos tocou, literalmente), têm uma construção irrepreensível, com rotação de 180 graus sem ruídos mecânicos devidos a folgas ou erros de concepção, são leves no limite do que se considera portátil (320 g, ou seja, metade do peso de uns LCD-X!), confortáveis de usar durante horas (auriculares e banda forradas a pele sintética macia) e muito eficientes (102dB).
Os PM-3 foram afinados para reproduzir a voz humana com uma claridade inaudita. Como é óbvio, perdem para os Audeze LCD-X em termos de volumetria do palco sonoro, poder e extensão do grave e aquela respiração profunda que os caracteriza e nos fideliza. E, claro, não apresentam a ‘escala’ dinâmica dos EL-8, mas têm igualmente ataque e presença, até porque também são fechados e não se ‘dispersam’.
A níveis insanos de volume, endurecem um pouco, mas nunca pressenti qualquer contributo da distorção harmónica para essa dureza subjectiva. Talvez fossem antes os meus ouvidos a reclamar para baixar o som - e não alguma culpa que lhes possa atribuir.
O extremo agudo (a partir dos 6/8 kHz) foi algo domesticado para evitar que a sibilância presente em muitos registos sonoros se sobreponha à perfeita inteligibilidade da dicção. Contudo, numa audição apressada, isso pode levá-lo, caro leitor, a incorrer no erro de os considerar ‘mortiços’ ou ‘sonsos’. Nada disso. Ora oiça lá outra vez…
Os PM-3 têm solidez dinâmica e uma abundância de pormenores acústicos, mesmo a baixo nível de sinal, que nos permitem ouvir ‘coisas’ que antes tinham passado despercebidas. Tudo sem perder musicalidade, fruto de uma igualização judiciosa que privilegia o médio-grave (200-400Hz) e lhes confere ritmo, enquanto o ‘turbo’ na zona de presença (3kHz), a que se deve a clareza nos detalhes, está milagrosamente no limite da percepção subjectiva de desvio da neutralidade.
Claro que isso se deve também ao facto de serem do tipo ‘closed back’, logo o som é mais concentrado e menos ‘difuso’. Sabe-se como em todos os actos de amor – e ouvir música é um deles, sobretudo com auscultadores por ser uma actividade tão íntima - a privacidade melhora sempre o desempenho…
Neste particular, são mesmo superiores aos PM-1 originais (ver teste integral dos PM-1 em Artigos Relacionados), o que me leva a recomendá-los como um claro ‘Best Buy’, considerando-se o preço na casa dos 500 euros mais que justo para um modelo planar magnético, tendo em conta que os EL-8 se aproximam dos mil euros e os LCD-X andam pelos 2 000 euros!
Nota: para informações sobre disponibilidade, contacte o distribuidor Ultimate Audio Elite (ver contactos em Distribuidor em Destaque).
Os PM-3 foram também os primeiros auscultadores que testei que fazem justiça ao processamento HXD do McIntosh MHA-100, que não resulta tão bem com modelos ‘open back’. Ao permitir alguma ‘mistura’ intraauricular do canal esquerdo no direito e vice-versa (crossfeed), reduz-se a separação e cria-se uma ‘canal central’ virtual, como se estivéssemos a ouvir umas colunas de som. O efeito é tanto mais evidente quanto melhor for a resposta em fase dos auscultadores, pelo que a dos PM-3 deve ser perfeitamente plana, tal a ilusão criada.
Nota: Atenção que, tendo uma impedância entre os 25-30ohms, estes resultados só são possíveis de obter com amplificação de qualidade, embora os PM-3 sejam compatíveis com amplificadores de bolso como o delicioso Oppo HA-2.
Preço: 545 euros