O iFI Micro iDSD é – literalmente – do outro mundo. É o único DAC (a qualquer preço!) que toca True Native Octa-DSD512/PCM768/Double DXD. E utiliza um Ultra low jitter GMT computer controlled Femto Clock, só possível de encontrar em modelos de preços muito elevados. O jitter é tão baixo, que já só é possível calculá-lo em: <240 femtosegundos (abaixo do limiar de medição do Audio Precision!).
É isto que se pode ler na página da iFI Audio referente ao micro iDSD, um DAC portátil, que funciona a baterias (carrega-se e também pode carregar o seu smartphone via USB!).
Além de ter outras especificações únicas (ou pelo menos raras) mesmo em DACs highend, como selecção de filtros digitais: Bit-Perfect, Linear Minimum Phase e Standard para PCM; com DSD correspondem respectivamente a filtros analógicos (do tipo low-pass): Extreme, Extended e Standard. Com DXD utiliza exclusivamente Bit-Perfect Processing.
Há ainda algo que só se percebe como é útil quando existe: o comutador de polaridade (+Normal/- Invertida).
Não quero entrar aqui na polémica sobre fase absoluta e relativa, mas com certos discos a diferença, sobretudo nas vozes, é tão óbvia que nos perguntamos como podemos passar sem esta função em prévios e DACs de milhares de euros.
Para uma melhor gestão da carga de bateria e da potência disponível para cada tipo de auscultador tem um selector de modo de potência (Eco, Normal e Turbo).
Eu não precisei de ir além de Eco com os Focal Spirit One. Embora tenha ficado com a impressão que no modo Normal, mesmo depois da devida correcção do volume, o grave tem mais tensão e impacto. Faça as suas próprias experiências.
A iFI Audio garante que, no modo Turbo, o iDSD é capaz de alimentar mesmo os auscultadores mais recalcitrantes, como os Audeze e os Abyss. Cuidado: no modo Turbo com auscultadores sensíveis prepare-se para um doloroso “puxão de orelhas”.
Nota: antes de utilizar deve deixar o Micro a carregar (ligado ao PC por cabo USB) durante tantas horas quantas as necessárias para o led azul se apagar; depois, tenha sempre o cuidado de o ligar (no botão de volume) antes de ligar o PC para funcionar no modo de alimentação por bateria (o som é ainda mais doce...), caso contrário a alimentação é via USB.
A audição com auscultadores pode ser feita no modo normal ou 3D Holographic e a função XBass dá mais corpo a auriculares anémicos do tipo supositório ou bandelette (ambas as funções são desactivadas no modo Direct).
Descobri que nestes dois modos “virtuais” o iDSD funciona bem com bandas sonoras de filmes. Com música, já se sabe, continuo a ser um purista convicto, embora nos concertos ao vivo o efeito 'holográfico' seja aceitável e até desejável.
Como se não bastasse, o circuito SPDIF é do tipo all-in-one: coaxial In/Out Optical In (com adaptador fornecido) e limitado a 192kHz PCM.
Ora isto não é apenas engenhoso e genial é… bestial, porque lhe permite reenviar um sinal digital MP3 “upsamplado” para um gravador digital externo.
E mais não digo, não a vá SPA acusar-me de incentivar a pirataria, ou taxar também o iDSD com base na absurda Lei da Cópia Privada, que não passa de mais um taxa do audiovisual para sustentar clientelas.
E vem aí pior: a “three strike law” já utilizada no YouTube. Se já tens dois amarelos (alegada violação de direitos de autor) levas com o vermelho e a Meo, Nos ou outro fornecedor são obrigados a cortar-te a net durante seis meses!
Isto, se nós não cortarmos o Xavier, enquanto é tempo, ou fizermos um referendo para fazer parte do Reino Unido, que mandaram os burocratas da UE ir dar uma volta ao bilhar grande e permitem a cópia privada. Logo o país europeu que mais música produz…
Além de DAC e amplificador de auscultadores, pode ser utilizado como prévio com saída fixa (2V) ou variável (5V) com regulação analógica de volume por potenciómetro.
E nem sequer se esqueceram de um comutador para adaptar auriculares de alta ou ultra alta sensibilidade (reduz o sinal de saída e elimina o sopro dos modelos intraauriculares).
Se considerarmos que tudo isto vem dentro de uma caixinha de alumínio com 16 x 6 x 2,5, com um peso de 300 gramas e que custa apenas 549 euros, dá-me vontade de citar a minha avó: Credo!, onde é que este mundo vai parar?...
Crowd project
Ou seja, ao iFi Micro iDSD não parece faltar nada que me possa passar pela cabeça. Isto porque foi concebido como um crowd project, um projecto para o qual a iFi Audio solicitou o contributo de distribuidores e clientes.
Assim, além das especificações ditas normais tem as “anormais” (8 x PCM e DSD Nativo, por exemplo) a pedido de várias famílias de audiófilos.
Os debates de natureza técnica sobre o iDSD na net são mais que muitos. E, como dizem os politicos, eu não queria ir por aí. Questões como o porquê da escolha dos chips Dual-Core Burr-Brown native DSD/PCM ou as opções de filtragem.
Mas a maior parte dos leitores está mais interessada em saber se tudo isto funciona como publicitado. E se funciona, malta!
Até um pequeno bug, que resultava em “pops” no final de programas DSD via Dop foi, entretanto, resolvido com um novo driver e um firmware, de imediato disponibilizados gratuitamente no site. O serviço de apoio é fantástico! (abrir pdfs em Tutorials)
A era do áudio informático
Os novos DACs exigem alguma destreza com computadores. Nada de complexo, mas se utiliza um PC tem de instalar o tal iFi Windows Driver (v2.20), seguindo as instruções. Não demora mais que uns minutos. Se tem o sistema operativo OS X (Mac) não precisa do driver. Na dúvida, consulte a Esotérico (Alberto Silva) ou procure o apoio da própria iFI.
E é exactamente por se estar no domínio digital que se pode “manipular” os 0s e 1s até limites impensáveis com o iDSD: como, por exemplo, “puxar” os 384Kbits/s do MP3 para 16Mbits ou mesmo 32Mbits/s! (ver tutorial em pdf).
Importante: opte sempre por ASIO, pois é a único protocolo que permite manter a resolução DSD independente da resolução PCM. Com WASAPI a resolução DSD é limitada a 4 x= 256.
A própria iFI Audio, sendo uma subsidiária da purista AMR, não é defensora do upsampling e prefere que cada ficheiro seja reproduzido na sua resolução nativa. Mas isso é o mesmo que venderem um carro que dá 300 à hora e sugerir depois que não se conduza a mais de 60, quando não há nenhum problema de segurança à vista (ou ouvido, neste caso). Quem é que vai nisso?
Não é só a velocidade de processamento que aumenta, a sensação é a mesma de passar de uma estrada esburacada para uma autoestrada: mais suave, mais linear, mais musical.
E é aqui que começa a verdadeira polémica. Se não há ficheiros registados a PCM768 e DSD512, embora seja já possível fazer download de ficheiros DXD 384kHz/24bits e DSD 128, não será o iDSD um exercício masoquista e desnecessário de “overkill”? Talvez.
Mas e se eu lhe disser que com o iDSD pode - sem gastar mais um tostão - ouvir os seus ficheiros MP3 em resolução DSD512 Native e a Spotify Premium a 384kHz/32 bits ou 2 x DSD (DSD 128) via Dop?!
Nota: isto, partindo do princípio que, tal como eu, já utiliza no seu PC o acessível software J.River Media Center 20.
No primeiro caso, é a própria iFi Audio que lhe ensina o caminho das pedrinhas. Basta fazer download do firmware foo-dsd-asio e seguir todos os passos (abrir pdf: MP3 to DSD512 tutorial).
Atenção: o foo-dsd-asio é um proxy que “cavalga” o JRMC20 e desactiva-lhe todas as funções. Só sabe que está a ouvir DSD512 porque se acende o respectivo led no Micro iDSD (Magenta).
Spotify/Fidelify: o milagre da multiplicação dos bits
No segundo caso, sou eu que lhe ensino como caminhar sobre a água, passe a blasfémia. O programa que lhe permite ouvir Spotify Premium via JRMC a 384kHz/32 bits e 2 x DSD a 5,6 Mhz/1 bit (via Dop) é legal, está disponível na net em versão Beta, e é…grátis: chama-se Fidelify!
Por ser uma versão Beta, ainda tem alguns bugs mas funciona como prometido e não desactiva nenhuma das funções do programa da J.River. Apenas não é compatível com DSD Nativo, portanto só PCM e 2 x DSD over PCM. Nota: como sempre, se não sabe o que deve fazer, peça ajuda profissional à Esotérico, Consultores de Som.
Quanto aos bugs, se reproduzir uma playlist, quer ela tenha uma única faixa ou 100, e a deixar chegar ao fim, tem de sair do Fidelify e do JRMC20 e voltar a entrar (demora menos de 1 minuto). Para evitar isto tem de seleccionar outra lista/faixa antes da primeira acabar. Simples. O que é que estava à espera? Dado e arregaçado?…
Nota: o Fidelify assume automaticamente todas as suas Playlists no Spotify (faça Refresh). Mas atenção: desactiva o player da Spotify. Está por sua conta e risco. Pode, claro, continuar a utilizá-lo no iPad sem problema, se é que depois de ouvir os conteúdos em DSD vai conseguir voltar atrás…
Importante: tanto o foo-dsd-asio como o Fidelify são compatíveis com outros Media Centers e com todos os DACs – eu disse todos e não apenas o iDSD! - até ao limite da sua capacidade de resolução.
Uau: descobri agora mesmo que o foo-dsd-asio e o Fidelify são compatíveis e cumulativos. Estou a ouvir The Thrill Is Gone (Tracy Chapam/BB King) via Spotify Premium a DSD512, ou seja, não a um débito de 320Kbits/s mas a 24,6Mbits/s!
Não se preocupe: se “acelerar” mais do que deve com o seu velho DAC, o MC20 avisa que vai em… excesso de velocidade, e pede-lhe para “abrandar” para 96kHz/24, por exemplo.
Quem de dois tira oito…
E agora pergunta o leitor: é possível ir buscar mais informação do que a originalmente registada no disco ou ficheiro digital áudio? Oops, no way Jose. A primeira e última pessoa que conseguiu multiplicar pães e peixes tinha origem divina e cruficaram-no…
Então, há alguma vantagem nesta operação matemática? Que las hay, las hay!...
Quem estudou o teorema de Nyquist sabe que a banda de frequência é metade da frequência de amostragem. Ao “puxar” a resposta em frequência acima dos 100kHz é possível utilizar filtros de pendentes suaves, que não interferem na banda áudio, ou mesmo dispensá-los, como é o caso do iDSD acima de 192kHz. E isso faz assim tanta diferença? Oh, yeah, se faz!
Hands On
Eu sei que os leitores passam por cima do bláblá técnico como por vinha vindimada. Eu também sou assim. Mas com o Micro iDSD não havia outra hipótese: primeiro é preciso saber o que nos dizem que ele é capaz de fazer e só depois comprovar se é verdade.
E, como não gosto de ler manuais, comecei com o pé esquerdo. Liguei os Focal One, cujo cabo de origem utiliza um mini jack, à respectiva ficha de 3,5 mm no centro do painel frontal. O Micro aos costumes disse nada: música nicles. Que raio! Será que instalei o driver mal?
O Alberto estava de férias, liguei para o Vincent da iFI Audio. Uninstalll and Install again, and see what happens. Nicles again, my man.
Email para aqui, email para ali. Deixa-me lá pôr os óculos: olha a ficha de 3,5 mm é um Input para Smartphones, iPods e afins. Grande gaffe! A única entrada de jack do Micro é de 6,3 mm. Montei um adaptador dourado (que se vê em algumas fotos) e voilá!
Mas em minha defesa alego que o meu DAC portátil de referência, o Chord Hugo, tem entradas para ambos os tipos de jacks, daí o erro. A verdade é que não tem lógica que um DAC que até tem iEMatch, ou seja: adaptador de sensibilidade para auriculares, que normalmente utilizam mini jacks, só tenha entrada para jacks full size. Deve ter sido a única coisa que falhou no crowd project…
Nota: acabei de descobrir que, dentro do saquinho de veludo, havia mais 'prendas' escondidas, tipo caça ao tesouro: pezinhos de sorbotano para colocar por baixo do Micro e, claro, nao podiam ter falhado, afinal, o adaptador de cabo optico Toslink e o de jack 6.3/3.5. Retiro o que disse: nao falta nada! Nada mesmo!...
De resto, meus amigos, tudo funciona como anunciado. Utilizei o Micro como DAC e amplificador de auscultadores; prévio e DAC (com saída fixa) ligado a um prévio Mc2200 a válvulas, que soou diferente mas não necessariamente melhor. Aliás, como Preamp (saída variável), ligado a um par de colunas activas Focal XS Book e um PC portátil tem tudo o que um audiófilo exigente precisa num desktop system de elevada qualidade.
Quase esgotei o meu stock de ficheiros de alta resolução DXD e DSD, durante o período de testes. A reprodução de DSD Nativo é uma mais valia, sobretudo quando o ficheiro áudio foi originalmente registado neste formato. A qualidade do som é excepcional! Macio e sem vestígios de jitter crónico e digitalite aguda.
O Micro iDSD é uma delícia: soa como chocolate quente sobre gelado de baunilha.
Gosto de o colocar “ao cutelo” sobre um dos lados para poder brincar com os comandos de polaridade e o selector de filtros. Como estes afectam também o volume do som, é difícil uma comparação A-B-C imediata. Na dúvida, in medio virtus, coloque o botão na posição Minimum Phase e não pense mais nisso. Embora Bit Perfect para PCM (mais corpo) e Standard para DSD (mais ar) sejam teoricamente os ideais, o centro é sempre um bom compromisso para começar.
Quanto ao truque de ouvir MP3 como DSD512 é quase mágico, se nós não soubessemos já que é afinal uma operação matemática, logo científica. Isto para não falar do manancial inesgotável de música no Spotify que posso ouvir agora também como 2 x DSD (Dop) ou PCM 384kHz/32 bit.
Ao fim de muitas experiências, optei por 2 x DSD: soa mais natural e menos cansativo a longo prazo, porque é preciso não esquecer que, hélas, lá bem no fundo, continua a ser 44,1kHz/16 bit a 320Kbps. É como meter gasolina de avião num Mini Cooper...
De tal modo, que já informei a Esotérico que vou comprar o passe do iFi Micro iDSD e integrá-lo na equipa principal do Hificlube para disputar o campeonato mundial do áudio digital. Vou integrá-lo no ataque com o ponta-de-lança Hugo.
Ainda por cima este é o nr.412, logo faz parte dos 500 exemplares da série comemorativa, que me torna membro honorário do Clube dos Octa-Adopters.
Nota: como se não bastasse ter a melhor relação especificação/preço do mercado, a embalagem do Micro parece um ovo da Kinder cheio de “prendas”: bolsa de veludo, vários cabos analógicos e USB, adaptadores sortidos, auto-colante dos Octa-Adopters. Uma festa para as crianças grandes que somos todos nós, audiófilos!..
Para mais informações:
Introdução: iFI Micro iDSD DAC: The King of Specs in the Digital Wonderland