O Meridian Director não é a longa metragem do Explorer. É outro filme!
Quando a Ajasom propôs enviar-me o Director, o mais recente DAC da Meridian, ainda havia pouca informação sobre ele. Pela fotografia, pareceu-me uma versão “musculada” do Explorer, que já havia testado nas duas versões de 40 e 5 Ohm (ambos os testes podem ser acedidos via Artigos Relacionados).
De facto, o “Sr. Director” não é um DAC “de bolso” e, embora seja “portável” não é portátil, no sentido que atribuimos ao Explorer de o poder levar para todo o lado para ouvirmos a “voz do computador” através de auscultadores, com uma qualidade antes só possível com DACs king size.
Aliás, o Director nem tem entrada para auscultadores, pois tem a função audiófila mais nobre de conversor “de secretária”, com saídas analógicas RCA a sério em vez da mini-jack. Se pretender brincar com as palavras, pode chamar-lhe “a secretária do Sr. Director”.
O formato de cilindro achatado é o mesmo do Explorer, embora de maiores dimensões (8 x 14 x 3,4 cm). Para não rolar, tipo mata-borrão, tem uns pézinhos de borracha, que lhe conferem a necessária estabilidade. A cor negra mate dá-lhe um ar sólido, sóbrio e discreto.
O sinal digital SPDIF/Toslink entra pelo mesmo “buraco” híbrido (os respectivos mini jacks são fornecidos) e, claro, tem a ubíqua entrada USB 2.0. O que significa que pode ser ligado directamente a um MAC. Quem como eu utiliza um PC portátil tem de fazer o download da drive.
No meu caso, não foi necessário, pois é a mesma do Explorer e o resto ficou a cargo do excelente Media Player da J.River, depois de feitas as configurações no Windows Control Panel, que seguem também o percurso já percorrido antes pelo Explorer. (ver Artigos Relacionados)
Nota: está tudo no site da Meridian, é só seguir o caminho das pedrinhas. Na dúvida, fale com o Nuno Cristina, da Ajasom.
No frontispício, o Sr. Director exibe um botão selector central ladeado por mini leds brancos: dois à (sua) esquerda, três à direita. Os da esquerda indicam a fonte seleccionada: USB e SPDIF/opt; os da direita a frequência de (sobre) amostragem do sinal: 1 x (44,1/48), 2 x (88,2/96), 4 x (176,4/192).
O Director utiliza o mesmo interface para USB assíncrono XMOS L2 do Explorer e também partilha o processador digital e a tecnologia de filtragem da Meridian, incluindo agora o apodising filter que elimina o pré-eco, além de uma escolha gourmet de componentes Wima e Nichicon da série 800.
Chegado aqui, pergunta o leitor: mas então se o Director não passa de um Explorer maior e 2 x mais caro, porque diz JVH que é “outro filme” e não apenas uma sequela de longa metragem com o mesmo guião? Resposta: porque tem muitas “cenas” diferentes.
As novas “cenas” da versão Director’s Cut
- Fichas RCA (e não mini jack) na saída analógica, cujo nível de 2V é fixo (não tem controlo de volume via Meridian Control Panel, como o Explorer).
- Ficha USB B na entrada digital.
- Quando ligado ao computador o cabo USB também funciona como cabo de corrente.
- Só precisa de utilizar o transformador de corrente se optar exclusivamente pela entrada SPDIF/Toslink (o transformador liga-se à entrada USB).
- O sinal a 44/96-16 bit é “sobreamostrado” para 88/96-24-bit por default (embora o led 1 x se ilumine para indicar a frequência do sinal original à entrada).
- Director utiliza um DAC Cirrus Logic CS4535; Explorer utiliza o Texas Instruments TI PCM5102.
- Director custa 540 euros; Explorer apenas 299 euros.
- Director não tem entrada directa para auscultadores; Explorer tem.
Let’s look at the trailer
Se comprou o Explorer para ouvir os ficheiros áudio que tem no disco do seu computador com auscultadores, o Director não o substitui nessa função. Se utiliza o Explorer como DAC principal do seu sistema de som, o Director substitui o Explorer com vantagem sonora, sem bem que tenha de pagar quase o dobro por uma diferença, que existe, mas é tudo menos...eh... óbvia.
O Director tem um som mais sólido, mais, digamos... “grande” que o Explorer, no corpo e no espaço e, sobretudo, nas nuances informativas, embora eu ache o grave mais tenso e seco. Assim sendo, o “corpo” é fruto maduro dos registos médios, que são da mesma árvore que “dá” os 800, também conhecida pela ausência de grão em toda a banda.
Se fosse um filme de cowboys, eu diria mesmo que a Meridian deu um tiro no pé. Não no sentido de que falhou a pontaria, mas exactamente o oposto: o tiro foi tão certeiro que o Director soa como um irmão da série “800”, por uma fracção do preço...
Tal como o Explorer, o Director converte tudo até 192kHz mas não DSD. E porquê? Porque Bob Stuart não gosta de DSD, sobretudo do ruído ultrasónico, que tem de ser filtrado com noise-shaping. Eu gosto. Não do ruído. Não do noise shaping. Mas do resultado sonoro: DSD reproduz a secção de violinos de uma orquestra como nenhum outro formato.
E tenho alguns ficheiros DSD que toco com muita frequência. Felizmente, o J.River tem uma forma de fazer o Director “engolir” DSD sem se engasgar. Não, não é o DoP (Digital Over PCM), de que o Bob provavelmente também não gosta.
Basta configurar o J.River para reproduzir a 176,4kHz PCM tudo o que seja “greater than 192kHz”. O que inclui também DXD a 352,8kHz (16 934 kbps, juro)!
Não é a mesma coisa que nativo, mas mais vale um ficheiro PCM vivo que um DSD nativo morto, salvo seja.
Nota: Este truque não é exclusivo para o Director. Resulta com todos os DACs (pelo menos os que eu experimentei, como o Micromega e o Devialet) que também não são “compatíveis” com DSD, e incluindo, parto do princípio, o Explorer.