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2001

Wilson Audio Watchdog: Cão De Guarda



Como é apanágio da Wilson Audio, «Watch Dog» é um cão de raça: raro e caro. Por isso não se misturou com a rafeirada electrónica que uma vez mais enchia a «feira» de Las Vegas, ladrando desalmadamente em MP3 e sofrendo de digitalite compacta aguda .


O Watch Dog exibiu o seu «pedigree» no luxo de uma penthouse do Hotel Mirage, com a famosa «Strip», a avenida dos casinos, a seus pés, enquanto dezenas de milhares de visitantes se acotovelavam no Centro de Convenções. Um privilégio.


Subi ao 30º andar, bati à porta. Sheryl estava à minha espera com aquele sorriso de dentes de pérola que distingue os americanos bem instalados na vida - os dentistas na América ainda se fazem pagar melhor que David Wilson.


O dia era dedicado à comitiva russa, composta por jornalistas e distribuidores, e Dave muito a propósito usava uma gravata com ursos. Os russos gostaram da singela homenagem e o casal Wilson deixou-se fotografar com eles para mais tarde recordarem. A Rússia das mafias endinheiradas está a tornar-se um mercado fabuloso para o high-end depois da queda do império bolsista asiático. Quanto mais caro, melhor.


Eis que de rompante entra na sala um grupo de japoneses sorridentes em vénias sucessivas. Achei curioso que um americano genuíno estivesse ali a dar música aos antigos inimigos - os da guerra quente e os da guerra fria - e desejei que o século XXI fosse um século de paz e que Portugal tivesse uma palavra a dizer no concerto das nações. Eu pelo menos apresentei uma ou outra questão durante o debate que se seguiu só para marcar presença. Que mais podemos fazer? Pouco compramos e nada fabricamos.



De profundis


Dave abriu as hostilidades com cargas de profundidade. Um gerador de baixas frequências excitou à vez os três «subwoofers» presentes: BW, Revel e Wilson «Watch Dog». A ideia não era deixar mal a concorrência, até porque o «sub» da Wilson não tem concorrência - nem na qualidade nem no preço. Dave tinha escolhido o BW porque, segundo ele, conseguia descer ao inferno telúrico da última oitava; e o Revel porque era rápido a responder. Com seria de esperar, «Watch Dog» não só «ía» lá abaixo, onde nenhum outro ousara antes descer, como o fazia de forma expedita, linear e com um poder que «deitava por terra» - metaforicamente falando, claro - a qualidade de construção dos hotéis de Las Vegas: aquilo estremecia tudo quando a frequência de ressonância da sala - 25Hz - era atingida. Agora já percebo como é possível haver hotéis novos de 2.000 quartos todos os anos: são construídos como um jogo de «Meccano», depois é só decorar a gosto. Não há memória de um único ter caído, a não ser quando são «implodidos» - mas isso até serve de espectáculo.


O luxo requintado da «penthouse», a forma como Dave e Sheryl recebem os convidados e se vestem (Sheryl mudou de vestido para a sessão de fotografias), a competência reconhecida da «entourage» técnica, como nomes como Peter McGrath e Trent Workman, fazem parte de uma maneira de ser e de estar que muito contribuem para o prestígio internacional da Wilson Audio. Os russos estavam obviamente satisfeitos com a recepção, os japoneses mantinham-se calados em pose de adoração. O poder feroz do «cão de guarda» não admitia réplica. Estávamos, muito provavelmente, perante um exemplo vivo do conceito de «subwoofer» perfeito apresentado pelo par perfeito - e refiro-me tanto ao simpático casal Wilson como ao par de Wilson Cub II que reproduziu ao ritmo biológico da «pele de galinha» a voz de Rickie Lee Jones sem que «Watch Dog» lhe tocasse num cabelo sequer. O mesmo não se podia dizer dos outros dois «subs» que, ainda que ao de leve, cometiam o sacrilégio de sublinhar a negro os esparsos sons médio-graves que a sua voz aguda e luminosa conseguia emitir.


Valeu a pena ir a Las Vegas só para poder assistir a esta demonstração. Para a semana há mais, muito mais: os verdadeiros audiófilos vão ficar de papo cheio. Só uma dica: a Krell comemorou os seus 25 anos. Acham que Dan D'Agostino ía deixar passar a data em claro?...


Watch Dog



Nas entranhas um poderoso amplificador de 400W projectado pelo famoso Richard Marsh, especificamente concebido para excitar um altifalante de longo curso de doze polegadas que dispara para a frente (e não para baixo). O painel exterior de controle protegido por uma tampa de acrílico parece o «cockpit» de um avião: é possível ajustar a frequência de corte entre os 30 e os 150Hz; a pendente do filtro de passa-baixas entre os 12dB e os 18dB por oitava e o de passa-altas entre os 6dB e 12dB por oitava; a fase entre os 0º e os 180º (grau a grau!); o nível com +/-10dB e o «factor de qualidade (Q) entre 0,2 e 2. Pela primeira vez é possível equilibrar não só o conjunto colunas/subwoofer mas também o conjunto subwoofer/sala por meio de igualização paramétrica sem recurso a digitalização. O sistema pode ser duplamente afinado para áudio e para vídeo fazendo-se depois a selecção por simples comutação no módulo de controle. O «dog» aceita cabos simples e balanceados.


Do rosnar dolente do contrabaixo ao impacte visceral dos tímbales, do ruído das explosões ao pavor dos terramotos; até o peito delicado de um tenor. Watch Dog tem dentes para todos eles: sinta o pedal de uma bateria na boca do estômago e chore por mais.


Depois do inatingível X-1/ Grand Slamm, eis o subwoofer da Wilson capaz de impedir que lhe roubem os graves da casa da música: Watch Dog. Cuidado com o cão: morde! Ah, e não se pode levar ao colo: pesa 140 quilos!...


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