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2003

Alta Traição



Nada temam, eu não me passei para o lado do inimigo, continuo fiel aos meus princípios audiófilos e hei-de defender sempre a pureza do som face ao assédio da imagem. O ideal seria cada um poder dedicar um espaço próprio à solidão do áudio e outro ao vídeo familiar.


Na ausência de espaço e de dinheiro, há que optar e as pessoas optam (mal: o áudio tem tanto para dar...) pelo vídeo: as aquisições são feitas a dois, e são poucas as mulheres que aceitam de bom grado que o marido se apaixone por um amplificador a válvulas e passe o tempo a ouvir música a olhar para o vazio, quando há tantos filmes giros para ver em família.


Mas como estamos quase no Natal, é preciso comungar com os anseios da maioria pelo que escolhi «Imagens» para tema de «Sons»: saiba tudo sobre os «plasmas», que custam um balúrdio, podem pendurar-se na parede como quadros e são o sonho da classe média alta - e de algum pessoal da barracas que vai buscar a electricidade ao poste mais próximo...


A Pioneer (fotos cortesia da Pioneer Ibérica) lançou uma campanha subordinada ao tema «Lar do Futuro», onde profetiza que haverá écrãs de plasma em cada divisão, incluindo a cozinha, e soluções digitais para cada tarefa da vida doméstica:


«Os utilizadores poderão cozinhar como famosos chefs, tornarem-se num Steven Spielberg, efectuar trabalhos em rede no escritório de casa e converter a sala num centro futurista de lazer», lê-se na «press-release».


Esta nova filosofia, que gira à volta do «plasma», como núcleo de um sistema integrado de som e imagem, é já extensiva a todos os outros fabricantes e não há volta a dar-lhe. Eis porque nos emails que me enviam a pergunta mais frequente deixou de ser «SACD ou CD?» para passar a ser: «Plasma ou LCD?»


PLASMA vs LCD



1. TECNOLOGIA


a. Plasma


Um televisor de plasma funciona com um conjunto de milhões de microlâmpadas fluorescentes (células). Um descarga de tensão elevada ioniza uma mistura de gases (argon, xenon, kryton e/ou neon) produzindo luz UV que ilumina o fósforo vermelho, verde e azul contido nas minúsculas células, sendo a respectiva luz colorida emitida depois pelo píxel. No fundo, não é muito diferente do tubo de raios catódicos dos velhos televisores em que um feixe de electrões estimula também o brilho do fósforo.


b. LCD


Utiliza milhões de microtransístores que funcionam grosso modo como um diafragma de uma câmara, regulando o alinhamento das moléculas de cristal líquido em resposta a mudanças de tensão, ora bloqueando (negros) ora deixando passar a luz polarizada pelos píxeis (vermelhos, verdes e azuis). Esta tecnologia limita o brilho (a luz não passa toda) e a «negrura» dos negros (deixa sempre passar alguma luz) e o ângulo de visão (160º).


Nota: nos últimos modelos (da Philips, por exemplo) este problemas foram em parte resolvidos.


2. DESVANTAGENS


a. Plasma


Gastam muita energia, aquecem e são ruidosos (alguns têm mesmo ventoinhas de arrefecimento), embora a questão do ruído tenha vindo a melhorar. Por outro lado, sendo compostos por «lâmpadas» têm um tempo de vida limitado: 10.000 horas, perdendo depois brilho até às 20/30.000 horas. Mesmo assim, a 4 horas por dia dá para mais de 10 anos. Depois vão para o lixo: essa história de se poder «recarregar» com gás é treta.
Os plasmas não se dão lá muito bem com a altitude (acima dos 1.500 m). Se mora no alto da Serra da Estrela, a diferença de pressão atmosférica afecta a pressão dos gases dentro das células de que pode resultar um zumbido incomodativo. Outro dos inconvenientes é a tendência para «queimar», isto é, se vê sempre o mesmo programa de televisão, o símbolo da estação pode ficar indelevelmente marcado no ecrã; ou as barras negras laterais (alguns fabricantes optaram por barras translúcidas), se vê regularmente programas em 4:3 e não «enche» o ecrã; ou as consolas fixas de certos jogos de computador.


Alguns fabricantes já encontraram soluções para contrariar todos estes problemas. Eu disse: contrariar, não eliminar. Desintonizar o televisor e «ver ruído» durante umas horas é uma solução empírica que pode também afugentar os «fantasmas». Não resolve, disfarça.


b. LCD


A tecnologia continua a evoluir, mas ainda há limitações na relação diagonal do ecrã/preço. O ângulo de visão também é limitado, perdendo alguma definição e contraste quando visto de lado. Os negros dos LCD estão longe da perfeição dos CRT e em salas muito iluminadas a imagem perde qualidade. Os LCD sofrem de «arrastamento» pelo que nos desportos rápidos e jogos de computador pode observar-se um rasto fantasma atrás de imagens em movimento. E quando aparecem «pixéis mortos», que parecem póros da pele entupidos (são especialmente chatos no centro do ecrã), não é possível ressuscitá-los.


Nota: confirme se a garantia contempla a substituição neste caso.


2. VANTAGENS


a. Plasma


Quando olhamos para um plasma vemos a própria fonte de luz. Daí que os plasmas tenham geralmente melhor saturação de cor, um brilho mais natural e melhor contraste, em especial quando nos sentamos de lado em relação ao ecrã, embora os LCD tenham vindo a ganhar pontos rapidamente. A relação qualidade/dimensão/preço é por enquanto favorável ao plasma.


b. LCD


São mais caros mas também mais finos e leves que os plasmas, gastam pouca energia, dissipam pouco calor, são silenciosos, não «queimam» e duram três vezes mais. E como é mais fácil produzir transístores pequenos que «lâmpadas» pequenas o número de pixéis por centímetro quadrado nos LCD é maior, logo é possível obter resoluções mais elevadas, o que é importante quando se trata de imagens de alta definição ou para aplicações informáticas.


Nota: imagens de alta definição são adaptadas (downsampling) à resolução nativa, perdendo qualidade.


4. CONCLUSÃO:


Os plasmas são, por enquanto, a melhor compra, pelo menos em termos de preço/diagonal do ecrã, mas o futuro é o LCD e os diodos de luz orgânica. Vi LCD de luz orgânica em Las Vegas com uma imagem absolutamente fantástica.


O CRT (televisor normal), tal como o LP em relação ao CD, continua a ser melhor que Plasma e LCD para ver programas de televisão (o plasma tem demasiado grão a curta distância, devido ao «upsampling» para a resolução nativa fixa). O mesmo já não se pode dizer da reprodução de DVD com sinal por componentes ou DVI. Com certos filmes a imagem tanto do Plasma como do LCD é espectacular.


A tendência actual para os ecrãs planos 16:9 de pendurar na parede é irreversível (norma europeia a partir de 2010). Ainda que correndo o risco (menor quando se transfere a distorção para os bordos do ecrã) de transformar as pivots anorécticas das emissões de TV em 4:3 em nadadoras de ombros olímpicos.


Mas é tão giro ter uma plasma...


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