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2003

Audioshow 2003 : A Minha Avaliação - Parte 2



AJASOM:dCS+NAGRA+AUDIO PHYSICS



Com as Audio Physics, disse-me um dia o seu criador no Stereophile Show, de S. Francisco, a expressão «toe-in» é mesmo «toe» e mesmo «in». Só assim é possível recriar a imagem holográfica que as caracteriza. Apesar disso, eu, que oiço colunas em salas pequenas, no campo próximo, para evitar que os reflexos das paredes cheguem aos meus ouvidos quase ao mesmo tempo que o som das colunas, não as afastava tanto uma da outra com receio que a imagem estereofónica se partisse em duas como aconteceu na sala da Ajasom.


E contudo, uma vez ganha a posição ideal, que nem sequer tinha de ser a «sweet spot», o palco sonoro abria-se perante os nossos olhos (eu escrevi olhos e não ouvidos) como um holograma onde se podia andar mentalmente e tocar os objectos acústicos expostos como num museu interactivo de música. Que pena serem quase todos de arte Ming. Ó António, deixa-te de chinesices! Eu entendo que te estavas a defender da sala, e que o baixo anafado (mas, ó tão gostoso!...) da Patricia Barber te iria criar problemas idênticos aos da Alfida (ver «A minha avaliação Parte 1»), apesar de teres optado pela parede correcta. Assim, tinhas um sistema com vista sobre a cidade e sobre a música como quem vê um concerto do primeiro balcão. As Avanti são umas senhoras colunas!, admito. Fui eu que trouxe notícias delas para Portugal do outro lado do Atlântico (Las Vegas). Já lá vai um ano? Dois?...


A visão dos Nagra influencia a nossa percepção do som que (re)produzem: aquela luz morna das válvulas torna o som igualmente morno por afinidade electiva. Como posso definir o som dos Nagra? Viscoso? Tudo o que é viscoso é também pegajoso e, na melhor das hipóteses, translúcido. Não é o caso. O som dos Nagra é de uma «transparência viscosa» que se cola à nossa pele como um bálsamo macio, refrescante e apaziguador depois das agressões ambientais dos «surrounds» assassinos.


A excelência da fonte dCS muito contribuiu para um cômputo geral positivo. Gostei. Mas atenção: alguns transitórios de percussão oriental (escolha tua) apresentaram harmónicos picantes como a pimenta que o Gama nos trouxe dessas paragenes longínquas por mares nunca dantes navegados, embora aceite que descontes parte dos «graves» na conta do «pladur», que tem as costas largas...



AUDIO ECLIPSE: NEAT ACOUSTICS/AUDIONET



A primeira vez que lá entrei era Sexta-feira e a sala estava já às escuras mas pude distinguir muitas famílias com miúdos. Mau sinal pensei: mete sangue e porrada. Não me enganei: um Blade II assassino, com um grave telúrico e indefinido - e indefinível: tonitruante?, omnipresente?, como se saísse da campa onde porventura residiam aquelas personagens estranhas. Quer faça som, quer faça imagem, o povo quer é sangue. Saí espavorido, sem olhar para trás para assistir ao eclipse do audio.


No Domingo, voltei ao lugar do crime. Não desisto à primeira. A luz estava ainda acesa. O vampiro afinal era um jovem simpático: Paulo Gomes. Apresentou o sistema com a óbvia satisfação e bom humor de um anfitrião que recebe amigos em casa: vai um porto?, não se esqueçam de assinar os livro de presenças? estou à disposição para qualquer pergunta? E estava: fiquei a saber que as Neat eram afinadas de ouvido. Pelo que eu tinha ouvido na Sexta-Feira devia ser o ouvido de um vampiro deitado no caixão.


O Paulo escolheu, ainda dizem que não há coincidências!, o tema «Don't Give Up», de Peter Gabriel cantado ao vivo. As Neat revelaram para minha grande surpresa um elevado potencial acústico. Há ali matéria para explorar: o entrosamento dos médios e agudos e, pasme-se!, até o grave atingiram os mínimos olímpicos (o mínimo para eu lhes prestar atenção). Os vampiros tinham fugido. Seria do alho que eu levava no bolso, ou do crucifixo que me deu a minha madrinha quando passei o exame da quarta classe?

A escolha deste concerto de Peter Gabriel revela coragem por parte de quem também representa uma marca de projectores, a ThemeScene: a imagem era abaixo de cão e tinha mais grão que a praia do Guincho. E projectada na parede! Paulo reconheceu isso. Mas o som é bom, disse. E era. Seguiu-se Sting. Imagem boa (talvez excessivamente contrastada e sem nuances de negro), som medíocre: sibilante, desgarrado.


Deixo o meu veredicto para circunstâncias mais auspiciosas. Mas gostei do Paulo Gomes. E as Neat prometem - fora do cemitério...

Continua

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