Artistas e consumidores triunfam sobre editora, pode ler-se na internet (http://netparque.sapo.pt). De facto os consumidores (os músicos idem) reclamaram e a EMI-VC acabou (e bem) por substituir todos os discos reclamados por cópias não protegidas. O mesmo já se tinha passado na Alemanha com um disco de Natalie Imbruglia e nos E.U.A. com «More Fast and Furious», editado pela Universal, que ainda não chegou a Portugal (ficam já avisados).
Reconheço todo o direito aos editores e artistas de protegerem o seu património intelectual, mas não devem esquecer-se dos direitos dos consumidores que devem ser avisados de que podem estar a comprar gato por lebre.
Pessoalmente, não me preocupa não poder copiar os CD para MP3. Pelos meus padrões, o som da maior parte dos CD já é suficientemente mau: desafio quem quer que seja a comparar o CD com o LP (ou SACD) respectivo. O que me deixa «furioso» é que o sistema anticópia «Cactus Data Shield» (CDS), concebido por especialistas israelitas para protecção de conteúdos confidenciais e aplicado agora ao áudio, traz outros problemas associados, como a degradação da qualidade do som, pelo recurso técnico à introdução deliberada de «erros» e «buracos negros» na trama digital. Nos E.U.A., a bronca foi tão grande que a Universal sentiu-se na obrigação de providenciar uma «linha S.O.S.» para informar e auxiliar os consumidores (http://www.musichelponline.com).
Cheguei a pensar que nós, que somos (?) um povo de brandos costumes, iríamos engolir o «cacto», com picos e tudo, e calar, como sempre. Enganei-me, e ainda bem. Pelo menos os leitores de «Sons» já sabiam há meses o que mais tarde ou mais cedo lhes iria ser servido, sob o pretexto unilateral de protecção de direitos de autor, quando os informei do que estava para vir sob a forma de um «cacto». Como se os verdadeiros piratas não tivessem já descoberto o antídoto. Além de que é sempre possível converter para analógico e reconverter para digital (MP3). Tudo o que é reproduzível é «clonável». Donde se conclui que isto só serve para chatear os consumidores honestos.
O CDS (nada de piadas políticas) foi concebido para permitir a reprodução de um CD por um leitor-CD normal apenas. Para o tocar na drive do seu computador tem primeiro de instalar uma aplicação tipo «media player» incluída no disco que só corre em Windows PC. De fora ficam os utilizadores de «Mac» e a maior parte dos leitores-DVD e consolas de jogos e alguns leitores-CD que utilizam drives de CD-ROM, como os Meridian e os Proceed. Como já adivinharam, esta aplicação impede (?) a duplicação do conteúdo do disco. Mas nem todos os que reproduzem um disco na drive do computador o fazem com intenções criminosas. Muitos gostam apenas de ouvir música enquanto estão a trabalhar.
Gary Warzin, Presidente da CEO, Consumer Electronics Organization, citado pela Stereophile, defendeu recentemente em conferência de imprensa que neste tipo de discos devia ser colocado um autocolante com o seguinte aviso:
«Atenção: não é um disco compacto áudio e pode não ser compatível com a drive CD-ROM do seu computador ou com o seu leitor-DVD ou ainda alguns modelos de leitor-CD». E continuou Warzin: «Quem compra um CD protegido pelo sistema Cactus tem que ser informado que ele pode não tocar até mesmo no seu velho leitor-CD e que, com o tempo e o uso, a quantidade de «erros» pode aumentar ao ponto de não poder ser corrigida pelo sistema de correcção. Quanto mais erros, mais o circuito tenta «adivinhar» o que falta na informação musical e a probabilidade de falhar no todo (pura e simplesmente deixa de tocar) ou em parte (a correcção por interpolação degrada a qualidade do som)». Gerry Wirtz, da Philips, foi anda mais longe: «A UMG, Sony, BMG, EMI e Warner, que andam a editar discos protegidos contra cópia, estão no seu direito, mas andam a brincar com o fogo, e arriscam-se a ter que retirar o logotipo «CD» dos seus discos».
De facto, a Philips (que tendo vendido a Polygram já não tem software a proteger) informou através do seu porta-voz que qualquer disco que não estivesse conforme às normas do «Livro Vermelho» não poderia usar a designação CD, e que iria actuar judicialmente contra os prevaricadores.
Para evitar problemas legais «More Fast and Furious» foi lançado no mercado americano com um autocolante onde se pode ler que está protegido contra cópia pelo Cactus e quais as potenciais incompatibilidades na reprodução. A EMI-VC esqueceu-se do tal autocolante e, porque é uma empresa séria, montou um esquema de trocas. Fez bem.
Mas no futuro será o autocolante suficiente para informar os consumidores de todas as implicações técnicas? Estarão os nossos revendedores dispostos a perder tempo (e a paciência) com situações destas? Não creio. Quando chegar a uma loja e disser: «Este disco não toca nem no meu computador nem no meu leitor-DVD. Queria ser reembolsado...», o mais certo é responderem: «O problema é seu, tivesse lido o aviso!». E se o aviso estiver em inglês?
A mim preocupa-me mais a qualidade do som. Uma análise à versão protegida por Cactus de «More Fast and Furious», pela revista Audio Revolution, com um Sony CDL-40 Error Detector, revelou centenas de «erros» por segundo. O mesmo deverá porventura ter sucedido com a versão protegida do CD «Podes Fugir Mas Não Te Podes Esconder», dos da Weasel.
O sistema de correcção de erros do seu leitor-CD vai ter de trabalhar a tempo inteiro com estes discos. Ora, é ponto assente, desde que o famoso leitor-CD Cambridge CD1 introduziu há mais de dez anos o contador de erros, que quanto mais erros, mesmo que corrigidos por interpolação (ou por isso mesmo), pior é a qualidade do som.
«E tudo isto para quê?», pergunta Warzin. «Qualquer miúdo equipado com o programa MusicMatch MP3, que pode ir buscar de borla à internet, consegue em pouco tempo copiar o conteúdo do disco e convertê-lo para ficheiros MP3. Quanto aos piratas industriais, basta-lhes ter um computador Dell equipado com uma drive NEC DV-5700 DVD, que entra no Cactus Data Shield como faca em manteiga mole».
Querem uma solução para o problema da pirataria? Vendam os discos mais baratos. É quando o uísque sobe de preço que começa a valer a pena fabricá-lo a martelo...