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2003

Highend Show, Frankfurt 2003: Saudades Do Kempinski



O HighEnd 2003 realizou-se, em Frankfurt, sob o signo da recessão económica. Se isto é recessão, eu quero ser alemão. No dia dedicado aos profissionais, os corredores estavam cheios. Ora ninguém vai comprar se não tem a quem vender. E havia jornalistas por todos os lados. As revistas vivem da publicidade, pelo que o negócio do «highend» não deve estar assim tão mau. Renate Paxa, relações públicas da HighEnd Society, concorda: «O caro continua a vender-se bem. Passa-se o mesmo no sector automóvel. A crise só existe no mercado da produção em série...».


Crise ou não, havia menos visitantes «em série», os tais que vão lá para ouvir o que não podem comprar e sacar catálogos, como quem anda com fotografias de gajas boas na carteira para impressionar os amigos. Os puros - também os «habanos» (muito se fuma e bebe no Kempinski!) - lá fizeram a sua peregrinação anual aos rituais com hora marcada, onde se fala em alemão técnico, durante meia hora, antes de pôr o raio do sistema a tocar...

Cruzes canhoto!


A minha experiência diz-me que a maior parte das fantasias são isso mesmo: fantasias. Talvez por isso precisem de explicação prévia como a pintura abstracta. Vi um homem na idade do juízo colocar duas estranhas tábuas dentadas em cruz, no chão, junto às colunas, alegando que alteravam a «espacialidade do sistema». A eficácia, dizia, era de tal ordem que se as colocasse noutra posição, invertia-se o efeito, isto é, a imagem estereofónica entrava em colapso! Eu saí para não me acontecer o mesmo...
Transrotor


Waterfall of France


O Kempinski sempre foi um reino de fantasia: colunas exóticas, gira-discos incríveis, soluções inverosímeis, conceitos impossíveis. Mas há «fantasias» que funcionam, como os ovos da U-vola e as colunas de vidro da Waterfall (ver A a Z). Ou as Acapella Triolon Excalibur, com amplificação Unison Mystery e gira-discos Clearaudio Anniversary na fonte: que velocidade, que ataque, que definição! O tweeter de plasma brilha no escuro como o olho do Ciclope mítico. Aquilo até arrepia. Ouvir «Écloga para Flauta e Percussão», de Teruyuki Noda, em LP RCA Direct Master, é uma experiência arrasadora para os sentidos!


O AV, no Kempinski, é de fugir. Fugir à tradição tem os seus inconvenientes. Ninguém se safa naquelas salas atarracadas com o potenciómetro no máximo. Vi/ouvi na Backes-Muller o Robbie Williams Show: a imagem era péssima, o som inenarrável. Creio mesmo que havia problemas de fase. A demonstradora era simpática, coitada...


Notou-se a ausência de alguns pesos pesados da indústria áudio: Audio Research, Burmester (!), BW, McIntosh, Wilson Audio, etc. Mas havia muitos orientais (eles não traziam máscara, as colunas, sim...). De destacar, pela boa qualidade do som, as Usher, que só são orientais na comercialização (projecto original de Joseph D'Apollito).
Colunas Usher


Colunas Usher

E muitos, muitos italianos, com o tradicional rigor e bom gosto que levou a moda transalpina ao sucesso. Alguns nórdicos simpáticos tentaram vender-me filosofia audiófila barata (mas cara no preço!). Uma das marcas tinha o descaramento de se chamar... DNA! Mas não vão ganhar prémios de design como nós, garanto...

Colunas DNA


Vou ter saudades do Kempinski. Em Munique, o HighEnd vai ganhar em espaço e conforto o que vai perder em calor humano (ou será das válvulas?). Nada vai ser como dantes...




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