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2003

Krell Vs Sony: Combate Do Ano - Parte Ii (audição)




O primeiro leitor-SACD da Krell revelou-se (ó ironia das ironias!) o melhor leitor-CD que ouvi até hoje (comparação com Chord DAC64 fica para segundas núpcias). JVH dixit: o «Standard» reproduz CD melhor que o Krell KPS25c (ó heresia das heresias!); o «Standard» é um leitor-CD com... tomates.


Tal como acontece com o latim na cultura clássica, o grave (o baixo, se preferirem) é a «basezinha» sobre a qual assenta toda a estrutura do edifício acústico; uma estrutura que se revelou antisísmica, neste caso: estremece, abana mas não cai nunca, nem cede um milímetro. Graves tensos, intensos e extensos, poderosos e arrebatadores cuja articulação com os registos médios lhes conferem: mais presença, corpo, ataque, definição, dinâmica, ritmo e resolução. O agudo só não é aqui a proverbial cereja no bolo porque a cereja seria algo de externo ao bolo, e este bolo é um todo orgânico. Pode comê-lo seco ou barrá-lo com chantilly, bastando para isso seleccionar um de dois filtros possíveis:



Filtros CD


Filtro 1 e 2 foram concebidos para eliminar os produtos espúrios da conversão



Filtro 1


Resposta plana 20Hz-20kHz com pendente muito rápida (21,5kHz, -3dB)



Filtro 2


Pendente gradual a partir dos 10kHz com -3dB aos 20kHz


Esta excepcional qualidade de som é extensiva ao SACD estéreo. Só que o salto qualitativo não é tão grande como em relação ao CD: o SACD já é por natureza mais transparente. O «Standard» apenas lhe confere mais poder e autoridade, coesão, riqueza harmónica e pureza tímbrica. Numa palavra: classe.

Com o SACD pode seleccionar um de quatro filtros:



Filtros para SACD


Filtro 1 tem o mesmo nível de saída que os Filtros 1 e 2 para CD. É o que tem a banda mais larga de todos os quatro filtros SACD. Os Filtros 2, 3 e 4 operam com banda limitada, com pendente mais rápida e nível de saída variável.



Filtro 1


Largura de banda integral (até aos 180kHz) e uma pendente suave sem alteração do nível de saída.


Filtro 2


Até aos 75kHz com a pendente mais rápida do grupo. Tem um ganho insignificante no nível de saída de +0,5dB em relação ao Filtro 1.



Filtro 3


Até aos 80kHz com a 2ª pendente mais rápida do grupo. O ganho é substancial com +5,5dB em toda a banda passante em relação ao Filtro 1.


Filtro 4


Até aos 90kHz com a 3ª pendente mais rápida do grupo. Tem um ganho de +3,5dB em toda a banda passante em relação aos Filtro 1




O Filtro 1 com a banda passante integral é o que soa melhor, apenas não sendo aconselhável para certos amplificadores e colunas de som que podem eventualmente entrar em oscilação. O filtro 3 é o mais espectacular: +5,5dB no nível de saída «a la» Theta (pode sobrecarregar alguns andares de entrada). É o tipo de filtro que lhe atira a cantora para o colo: Let's rock, baby! ...


Mano a mano


A principal inovação do Sony SCS XA-9000es é a saída i-Link. Hélas, não foi possível utilizá-la porque o amplificador TA-9000es não está ainda disponível. Quanto à bateria «triple power» de 18 conversores não me soou como um enorme salto qualitativo em relação ao excelente XA-777es (se vir um à venda compre-o). Há uma vaga sugestão de maior silêncio intersticial fruto da elevada dinâmica proporcionada pelo novo circuito e pouco mais. Sendo este XA-9000es um «sample» de promoção, será que está afinado?, interroguei-me várias vezes.


Como leitor CD/SACD estéreo, o XA-9000es teve outro azar na vida: a presença do Krell. Permitam-me uma comparação apropriada para a época: os jogos de futebol da Liga Portuguesa e da Liga Inglesa jogam-se durante 90 minutos, com o mesmo número de jogadores, num campo com as mesmas dimensões. Mas o prazer de ver os jogos é diferente.


A equipa Sony é homogénea e bem entrosada (pasteurizada em relação ao Krell) e o jogo flui com suavidade mas a bola é trocada à flor da relva sem muita convicção (a dinâmica/energia do Krell só ouvida se acredita). A defesa (o grave) é um pouco macia (o Krell bate forte e feio logo à entrada da área); no meio campo (registos médios) as marcações são correctas a toda a largura do campo, a equipa só peca nos lançamentos em profundidade (o Krell coloca todos os intervenientes no campo sonoro com régua e esquadro e faz passes de precisão a trinta metros, estilo Beckam). Ao ataque da equipa Sony (agudos) falta acutilância e sentido de golo (os transitórios de percussão do Krell são de levantar o estádio: não aconselhável na Luz...). Mudando das saídas balanceadas (XLR) para as simples (RCA) a equipa Krell ganha em musicalidade (um termo muito ambíguo que pode significar muita coisa: menos definição, por exemplo) o que perde em energia, definição e ataque (isto mesmo com os níveis equilibrados). Mesmo assim é superior ao XA-9000es que soa lento por comparação.


A principal diferença entre os dois contendores está no carácter do grave. E isso influencia de forma audível todo o resto do espectro e até a imagem estereofónica. A separação lateral na boca do palco do Sony é muito boa. Mas a diferenciação de posicionamento no sentido da profundidade do Krell é excepcional. Instrumentos reproduzidos no mesmo canal que parecem estar juntos na mistura com o Sony estão claramente separados com o Krell: a noção de «atrás de» e «à frente de» é mais complicada de resolver que «ao lado de» ou « lá ao fundo». É fácil a este nível reproduzir o «backstage», iluminá-lo uniformemente já é outra história: nos programas complexos (ex: grandes orquestras sinfónicas) o Krell SACD Standard redefine o estado da arte nas relações de força dos intervenientes em palco em termos de tempo e espaço.



Conclusão preliminar


A Sony apostou na versatilidade e na sofisticação dos circuitos digitais, a Krell na simplicidade e pureza dos circuitos e no andar de saída. Em estéreo, o Krell é imbatível. Aliás, em estéreo, em especial com CD, o Krell não tem rival na minha experiência passada e recente (o CHORD DAC64 aguarda a sua vez de entrar em ringue).


O Sony XA-9000es constitui (texto, bass management, afinação dos canais, etc.) uma aposta mais racional no domínio do SACD-multicanal, apesar de eu preferir o XA-777es. Relembro umavez mais que este XA-9000es é um «sample» de promoção que tem andado por aí aos tombos - não é uma desculpa, é um facto.


Nota: A avaliação da performance multicanal do Krell SACD Standard está em curso agora já com a presença de um subwoofer Martin Logan Depth.


No dia em que a Krell conjugar a excepcional qualidade de som do Standard com a versatilidade e lógica operacional do Sony XA-9000es o mundo pode parar de girar.


Neste primeiro combate, o Krell ganha aos pontos mas não por KO técnico.



Distribuidores: Sony Portugal (Sony), Imacústica (Krell)


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