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2003

Teac Dv-50: Esoterismo Digital




Desta liberdade de expressão artística e técnica, nascem modelos de prestígio, como o Teac DV50, comercializado nos EUA sob a marca-pseudónimo: «Esoteric». Porque é de verdadeiro «esoterismo» que se trata aqui.


O Teac DV50 é o primeiro leitor-Universal desta cinquentenária marca nipónica: SACD/DVD-A-V/CD e suas variantes em disco óptico. O preço a roçar uns escandalosos 6.000 euros coloca-o num patamar apenas acessível a uma minoria. A Teac não pretendeu com este «exercício académico» produzir um «best-buy»: o DV50 é apenas uma declaração de princípios.


«Temos 50 anos de história, um nome a preservar e não recebemos lições de ninguém quando se trata do estado-da-arte», declarou-me um representante da Teac, em Las Vegas, quando me mostrou o protótipo do DV50.


Nunca tive dúvidas: na Teac tudo o que é topo de gama é superlativo. A questão é saber se há justificação para pagar cinco vezes mais quando, por 1.400 euros, se pode comprar um Denon DVD2900 que faz exactamente a mesma coisa - e bem. A si, que me lê já sem esperança de eu vir a escrever sobre algo que possa comprar com o que lhe sobra do ordenado no fim do mês, confesso sem rebuço que não há justificação nenhuma. Até porque eventuais diferenças para melhor se perderiam nos meandros do seu próprio equipamento hifi, incluindo os cabos, esses inefáveis bandidos sónicos.


Quis o destino que a visita do Teac DV50 fosse simultânea com a do conjunto prévio/amplificador Halcro dm8/58 considerado pela nata da crítica internacional como «o-melhor-do-mundo-ponto-final-parágrafo». Em companhia tão ilustre o DV50 provou (em alguns aspectos) que, por muita experiência que um crítico tenha, nunca pode afirmar que já ouviu tudo: «you ain't heard nothing yet», diria Al Jolson.


Para a conversão de sinais PCM (CD, DVD-Audio) Dolby Digital e DTS (DVD-Video) utiliza DACs Burr Brown PCM1738 24-bit/192kHz numa configuração dualdiferencial (duas por canal) e tem três tipos de filtragem comutáveis com «upsampling» variável e diferentes pendentes: RDOT (Refined Digital Output Technology), FIR (Finite Impulse Response) e RDOT+FIR (sobre o efeito de cada um deles escrevo mais abaixo quando apreciar o desempenho sonoro). Para a conversão de sinais DSD (Super Audio CD) tem um circuito independente optimizado com componentes passivos de primeira água - e sem «dodot». Por dentro, é dividido em três partes isoladas respectivamente para a alimentação, os circuitos digitais e os circuitos áudio. Curiosamente, consta que a Teac não optou por um dos seus famosos transportes VRDS. Mas as técnicas de estabilização e de ajuste magnético do disco ao prato são em tudo semelhantes pelo que, até prova em contrário, é de um VRDS que se trata. No exigente teste de «obstáculos» digitais da Pièrre Verany ultrapassou sem dificuldade «drop-outs» de 1,5 mm mas ficou com «soluços» logo aos 2 mm. Qualquer transporte Philips faz melhor. Tem saídas verdadeiramente balanceadas (estes mimos custam dinheiro) que aproveitei para ligar por meio de cabos Nordost Valhalla aos prévios McIntosh MC2200 e Halcro dm8. O Krell FPB400 cx e os Halcro dm58 carregaram à vez o piano, ou seja, as Martin Logan Odyssey. «Great job, boys!».


A filtragem digital e, em especial, o «upsampling», que consiste em subir artificialmente a frequência de amostragem (neste caso pode ir até aos 1.536kHz (!) com DVD-Audio), é como a água benta: cada um toma a que quer. Eu nunca fui grande adepto do «upsampling» (nem da água benta, for that matter) mas um homem precisa de acreditar em alguma coisa, que diabo. O filtro RDOT de pendente suave pode soar muito «analógico», e tal e coisa, mas tira vida e energia ao som. Há quem diga que é o melhor - são gostos. Eu acho que tem um efeito de edulcorante «jitterizado». Por oposição, o filtro FIR de pendente rápida é do tipo «cru», frontal, sem paninhos quentes: aos meus ouvidos o FIR soa mais plano tanto na resposta como no tom. Sabe bem com rock, ó lá se sabe! A dupla RDOT/FIR foi, contudo, a que me ofereceu o melhor de dois mundos com todos os tipos de música. Não entendo porquê. No fundo, o R-DOT continua lá, mas a conversão digital é uma operação matemática e, pelos vistos, aqui menos por menos também dá mais...


Com «dodot» ou sem «dodot»(pode optar ainda pelo modo Direct no set-up), o DV50 não bate o meu Chord DAC64 na reprodução de CD (o que mais se aproximou foi o Krell SACD que, ao contrário do DV50, é ainda melhor com CD que com SACD). Digamos que com CD o DV50 está «apenas» acima da média (16 em 20) mas não atinge o nível do actual estado da arte. O mesmo se pode dizer em relação ao DVD-Audio, embora aqui eu lhe tenha atribuído mais um ponto. Gostei do elevado grau de resolução, da dinâmica e do grave: tudo coisas de respeito, meus amigoszzz. Na reprodução de DVD-Video, não vi nem ouvi nada de negativo que lhe possa apontar. É muito bom, pronto, e recomenda-se. Deixo isso para os videófilos.



É com Super Audio CD que o Teac DV50 cumpre a promessa inicial de estado da arte: excelente, excelente, excelente. Não é por acaso que, mesmo com discos híbridos, o SACD é o default de fábrica.


Na dura prova de SACD-estéreo ( com surround somos levados a ser mais benevolentes), atribuí-lhe 19 em 20 (o DV50 podia entrar em medicina em Portugal mesmo sem cunhas ministeriais). E não lhe dei o 20 só para não ficar desarmado: e se aparece por aí outra coisa melhor? Para um audiófilo fanático como eu, isto só por si justificaria o preço - considere o resto (que já é muito) como extra.


Reparo agora que hoje estou particularmente magnânimo. Terá sido da presunção ou da água benta? Do Bob Dylan e da Patricia Barber, que parecem estar aqui a cantar-me ao ouvido? Ou dos Halcro?...



Distribuidor: Delaudio


Lg. Casal Vistoso, Lt 3B (ao Areeiro), Lisboa, telef. 21 843 64 10 .







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