Tudo o que escrevi, há cerca de cinco anos, sobre o amplificador integrado estéreo Audio Analogue Puccini SE, continua válido para a nova versão Settanta, que representa uma evolução na continuidade, com uma imagem mais fresca e jovem e um som mais aberto e ágil se bem que menos encorpado:
«Se exibisse na lapela uma qualquer famosa marca americana, o Puccini SE era coisa para custar cinco vezes mais. E não me refiro apenas ao «visual». Uma vez a tocar, é ainda melhor. Eu diria que em termos sónicos (relativos, que não absolutos) se situa algures entre a subtil delicadeza e musicalidade do Yba Integré e a transparência prenhe de detalhe (e força) do Jeff Rowland Concentra sem, contudo, revelar a mesma classe, ainda que um quinto do preço não signifique necessariamente neste contexto um quinto da qualidade.
O Puccini SE exibe uma calma meridional, que não deve ser confundida com preguiça. Se bem que não alcance o tecto dinâmico do Concentra, o Puccini SE «surfa» com eficácia a crista das ondas sonoras num mar de reconfortante musicalidade. Muito menos se deve confundir os laivos de «ybaniana» compostura com a falta de personalidade típica dos amplificadores de cento e tal contos a armar-se ao fino. O Puccini SE pinta a música de cores quentes, que denunciam a sua origem transalpina, sem perder a capacidade para se indignar quando o registo sonoro pisa os terrenos lamacentos da reverberação electrónica ou as pedras pontiagudas da agressividade digital, revelando assim uma transparência pouco habitual a este nível de preço. A resolução dos mais ínfimos pormenores não se faz aqui à custa da habitual presença de grão electrónico, nem as vozes ganham uma «auréola» de circuito integrado que as torna desgarradas, sibilantes e fininhas: há uma cativante solidez no som do Audio Analogue Puccini SE que reputaria de milagrosa ao nível da articulação dos graves, não fora o mistério estar explicado pelo elevado factor de amortecimento que decorre da baixíssima impedância de saída. Como todos os amplificadores que produzem imagens sólidas e não apenas projecções ectoplásmicas, o Puccini SE constrói um palco sonoro de dimensão bastante para albergar as suas belíssimas criações acústicas. É curioso como a solidez não decorre afinal da potência mas do equilíbrio espectral e da linearidade tanto na resposta em frequência como em fase. O Puccini SE é um Chianti Classico Riservo encorpado, de taninos redondos, com sabor a ameixas maduras. Aqui e ali sinto que há limitações de potência, de «swing», de contraste dinâmico, que podem (e devem) ser facilmente ultrapassadas com recurso a colunas de sensibilidade elevada ou média-alta (o casamento com as italianissimas Sonus Faber Concertino/Concerto seria por certo abençoado pelo Papa), mas a potência disponível (50W/c) está de tal forma bem distribuída por toda a banda passante que a música respira natural e livre como um corpo vivo, ao ritmo envolvente da batuta do genial compositor».
PUCCINI SETTANTA
A Audio Analogue parece ter ouvido as minhas preces e concedeu ao novo Puccini Settanta a graça dos desejados 70W que lhe dão também o apelido. Aliás, esta não é apenas uma decisão técnica, é também uma decisão comercial (ver reportagem do HighEnd2004, Munique, em www.hificlube.net). Todos os amplificadores, incluindo o Primo e o Maestro subiram à categoria de «settanta» e todas as fontes digitais foram promovidas a 24/192, como é o caso do leitor-CD Paganini que o acompanhou nesta breve visita e não chegou, hélas, a actuar por falta de tempo. Mais potência e resolução por exigência do mercado (e da concorrência), a mesma construção sóbria, ao mesmo tempo delicada e robusta, com a elegância das linhas espalmadas, e o factor distintivo do regresso ao botão central original que comanda agora digitalmente o volume rodeado de delicadas pétalas que se iluminam na forma de minúsculos leds verdes. O pequeno controlo remoto de metal sólido e polido faz o resto. O preço também «evoluiu» ( 1 350 euros) sem contudo afectar a já anterior excelente relação qualidade/preço do SE. De referir a continuação do respeito demonstrado pelo velho LP com a manutenção da entrada Phono MM/MC.
Admito que esta foi apenas uma «primeira audição ingénua», na qual julguei adivinhar a tal evolução «dialéctica» no carácter do som: a vertente verista do SE, na qual a arte se sobrepõe à ciência, deu lugar no Settanta a um naturalismo alicerçado na técnica: há mais potência, mais luz, mais informação, mas também mais leveza e ar. Ousando parafrasear a saudosa Sophia de Mello Breyner, diria que o Puccini Settanta voltou para buscar os instantes que o Puccini SE não viveu junto ao mar. De facto, o dramatismo crepuscular e trágico do SE evoluiu no no Settanta para o optimismo das radiosas manhãs mediterrânicas, quando o olhar se espraia sem limitações sobre a paisagem ampla e o processo musical é representado à luz do dia sem o efeito de claro-escuro que caracterizava o seu antecessor. Como contraponto do romantismo «quasi» valvular do SE, ouve-se com o Settanta o realismo das cores fortes e pinceladas decididas sem cedências mitológicas. Ou, para os que preferem as metáforas vinícolas: onde antes se bebia Chianti, é-nos agora servido um inebriante e transparente Frescati com um «piquinho» nos registos médio-altos e um pouco mais de teor alcóolico. Beba-se sem moderação.
Produto: Audio Analogue Puccini Settanta
Preço: 1 350 euros
Distribuidor: Ajasom, 21 474 8709
«Se exibisse na lapela uma qualquer famosa marca americana, o Puccini SE era coisa para custar cinco vezes mais. E não me refiro apenas ao «visual». Uma vez a tocar, é ainda melhor. Eu diria que em termos sónicos (relativos, que não absolutos) se situa algures entre a subtil delicadeza e musicalidade do Yba Integré e a transparência prenhe de detalhe (e força) do Jeff Rowland Concentra sem, contudo, revelar a mesma classe, ainda que um quinto do preço não signifique necessariamente neste contexto um quinto da qualidade.
O Puccini SE exibe uma calma meridional, que não deve ser confundida com preguiça. Se bem que não alcance o tecto dinâmico do Concentra, o Puccini SE «surfa» com eficácia a crista das ondas sonoras num mar de reconfortante musicalidade. Muito menos se deve confundir os laivos de «ybaniana» compostura com a falta de personalidade típica dos amplificadores de cento e tal contos a armar-se ao fino. O Puccini SE pinta a música de cores quentes, que denunciam a sua origem transalpina, sem perder a capacidade para se indignar quando o registo sonoro pisa os terrenos lamacentos da reverberação electrónica ou as pedras pontiagudas da agressividade digital, revelando assim uma transparência pouco habitual a este nível de preço. A resolução dos mais ínfimos pormenores não se faz aqui à custa da habitual presença de grão electrónico, nem as vozes ganham uma «auréola» de circuito integrado que as torna desgarradas, sibilantes e fininhas: há uma cativante solidez no som do Audio Analogue Puccini SE que reputaria de milagrosa ao nível da articulação dos graves, não fora o mistério estar explicado pelo elevado factor de amortecimento que decorre da baixíssima impedância de saída. Como todos os amplificadores que produzem imagens sólidas e não apenas projecções ectoplásmicas, o Puccini SE constrói um palco sonoro de dimensão bastante para albergar as suas belíssimas criações acústicas. É curioso como a solidez não decorre afinal da potência mas do equilíbrio espectral e da linearidade tanto na resposta em frequência como em fase. O Puccini SE é um Chianti Classico Riservo encorpado, de taninos redondos, com sabor a ameixas maduras. Aqui e ali sinto que há limitações de potência, de «swing», de contraste dinâmico, que podem (e devem) ser facilmente ultrapassadas com recurso a colunas de sensibilidade elevada ou média-alta (o casamento com as italianissimas Sonus Faber Concertino/Concerto seria por certo abençoado pelo Papa), mas a potência disponível (50W/c) está de tal forma bem distribuída por toda a banda passante que a música respira natural e livre como um corpo vivo, ao ritmo envolvente da batuta do genial compositor».
PUCCINI SETTANTA
A Audio Analogue parece ter ouvido as minhas preces e concedeu ao novo Puccini Settanta a graça dos desejados 70W que lhe dão também o apelido. Aliás, esta não é apenas uma decisão técnica, é também uma decisão comercial (ver reportagem do HighEnd2004, Munique, em www.hificlube.net). Todos os amplificadores, incluindo o Primo e o Maestro subiram à categoria de «settanta» e todas as fontes digitais foram promovidas a 24/192, como é o caso do leitor-CD Paganini que o acompanhou nesta breve visita e não chegou, hélas, a actuar por falta de tempo. Mais potência e resolução por exigência do mercado (e da concorrência), a mesma construção sóbria, ao mesmo tempo delicada e robusta, com a elegância das linhas espalmadas, e o factor distintivo do regresso ao botão central original que comanda agora digitalmente o volume rodeado de delicadas pétalas que se iluminam na forma de minúsculos leds verdes. O pequeno controlo remoto de metal sólido e polido faz o resto. O preço também «evoluiu» ( 1 350 euros) sem contudo afectar a já anterior excelente relação qualidade/preço do SE. De referir a continuação do respeito demonstrado pelo velho LP com a manutenção da entrada Phono MM/MC.
Admito que esta foi apenas uma «primeira audição ingénua», na qual julguei adivinhar a tal evolução «dialéctica» no carácter do som: a vertente verista do SE, na qual a arte se sobrepõe à ciência, deu lugar no Settanta a um naturalismo alicerçado na técnica: há mais potência, mais luz, mais informação, mas também mais leveza e ar. Ousando parafrasear a saudosa Sophia de Mello Breyner, diria que o Puccini Settanta voltou para buscar os instantes que o Puccini SE não viveu junto ao mar. De facto, o dramatismo crepuscular e trágico do SE evoluiu no no Settanta para o optimismo das radiosas manhãs mediterrânicas, quando o olhar se espraia sem limitações sobre a paisagem ampla e o processo musical é representado à luz do dia sem o efeito de claro-escuro que caracterizava o seu antecessor. Como contraponto do romantismo «quasi» valvular do SE, ouve-se com o Settanta o realismo das cores fortes e pinceladas decididas sem cedências mitológicas. Ou, para os que preferem as metáforas vinícolas: onde antes se bebia Chianti, é-nos agora servido um inebriante e transparente Frescati com um «piquinho» nos registos médio-altos e um pouco mais de teor alcóolico. Beba-se sem moderação.
Produto: Audio Analogue Puccini Settanta
Preço: 1 350 euros
Distribuidor: Ajasom, 21 474 8709