Toda a minha cultura audiófila é de raiz anglosaxónica. Iniciei-me na leitura das revistas inglesas e americanas, com incursões esporádicas em artigos de opinião de especialistas franceses, italianos e alemães. Revistas como as britânicas Hifi Choice, Hifi News, What Hifi, etc., e as americanas The Absolute Sound e Stereophile influenciaram toda uma geração de audiófilos, logo também o meu gosto e a minha escrita. A seu favor têm a língua universal: os críticos mais famosos do mundo escrevem em inglês. Aliás, é talvez por isso que são famosos, e não por terem uma qualquer superioridade atávica. Sei-o apenas agora porque os conheço a todos pessoalmente: alguns são até pessoas banais.
O poder da língua é tal que, quando publiquei em inglês neste site a reportagem da apresentação mundial das Sonus Faber Stradivari, as pageviews dispararam para números astronómicos e surpreendentes. Cheguei mesmo a pensar escrever só em inglês, pois recebi emails dos quatro cantos do mundo (e continuo a receber, até do Dubai e da Arábia Suadita!...), e este é o único tipo de feedback de que eu gosto. Mas o Hificlube foi criado em Portugal para portugueses e, embora me tenha sentido tentado a deixar de escrever na «incompreensível» língua de Camões, com til, cedilhas e acentos circunflexos, optei por me manter fiel à mãe-pátria, ao contrário do José Barroso que se deixou guiar pelo canto da sereia europeia que não sabe pronunciar «ão».
A crítica britânica, em especial, dominou assim facilmente a cena audiófila europeia, nas últimas décadas, influenciando ouvidos e mentes, a tal ponto que alguns fabricantes de certos países «não-alinhados» têm dificuldade em sair do anonimato apesar de estarem no mercado há quase vinte anos. Longe da vista, longe do ouvido. Os «barões» do áudio tendem a defender as cores nacionais e ignoram tudo o que pode contrariar os seus dogmas e preconceitos. A histórica revista HiFi Answers, que eu lia na minha juventude com a reverência de quem lê o evangelho, foi fundada e secretamente subsidiada durante anos pelo orçamento da Associação Industrial Britânica. Nas suas páginas só o que era nacional era bom. Os japoneses eram desancados todos os meses enquanto produtos artesanais locais eram incensandos apesar da clara incipiência tecnológica e fraca fiabilidade. Até que os subsídios acabaram e as revistas tiveram de passar a viver da publicidade: a partir daí alguns amplificadores japoneses começaram a soar estranhamente bem...
Os críticos britânicos estão agora mais abertos à diversidade audiocultural mas «sapos germânicos» é algo que ainda lhes custa a engolir. Daí a pensar-se que não vale a pena ouvi-los cantar no charco em que se tornou o mercado do áudio vai um passo. Também eu durante anos resumi a indústria de áudio alemã à Burmester, AvantGarde, mbl e Transrotor. A cobertura anual de certames como o HighEnd Show abriram-me os ouvidos para outras realidades (ver reportagem em Artigos Relacionados). A Accustic Arts, a Audionet e a T+A, para citar apenas três de muitos exemplos possíveis, fazem parte da nova ordem audiófila mundial.
(Continua)
O poder da língua é tal que, quando publiquei em inglês neste site a reportagem da apresentação mundial das Sonus Faber Stradivari, as pageviews dispararam para números astronómicos e surpreendentes. Cheguei mesmo a pensar escrever só em inglês, pois recebi emails dos quatro cantos do mundo (e continuo a receber, até do Dubai e da Arábia Suadita!...), e este é o único tipo de feedback de que eu gosto. Mas o Hificlube foi criado em Portugal para portugueses e, embora me tenha sentido tentado a deixar de escrever na «incompreensível» língua de Camões, com til, cedilhas e acentos circunflexos, optei por me manter fiel à mãe-pátria, ao contrário do José Barroso que se deixou guiar pelo canto da sereia europeia que não sabe pronunciar «ão».
A crítica britânica, em especial, dominou assim facilmente a cena audiófila europeia, nas últimas décadas, influenciando ouvidos e mentes, a tal ponto que alguns fabricantes de certos países «não-alinhados» têm dificuldade em sair do anonimato apesar de estarem no mercado há quase vinte anos. Longe da vista, longe do ouvido. Os «barões» do áudio tendem a defender as cores nacionais e ignoram tudo o que pode contrariar os seus dogmas e preconceitos. A histórica revista HiFi Answers, que eu lia na minha juventude com a reverência de quem lê o evangelho, foi fundada e secretamente subsidiada durante anos pelo orçamento da Associação Industrial Britânica. Nas suas páginas só o que era nacional era bom. Os japoneses eram desancados todos os meses enquanto produtos artesanais locais eram incensandos apesar da clara incipiência tecnológica e fraca fiabilidade. Até que os subsídios acabaram e as revistas tiveram de passar a viver da publicidade: a partir daí alguns amplificadores japoneses começaram a soar estranhamente bem...
Os críticos britânicos estão agora mais abertos à diversidade audiocultural mas «sapos germânicos» é algo que ainda lhes custa a engolir. Daí a pensar-se que não vale a pena ouvi-los cantar no charco em que se tornou o mercado do áudio vai um passo. Também eu durante anos resumi a indústria de áudio alemã à Burmester, AvantGarde, mbl e Transrotor. A cobertura anual de certames como o HighEnd Show abriram-me os ouvidos para outras realidades (ver reportagem em Artigos Relacionados). A Accustic Arts, a Audionet e a T+A, para citar apenas três de muitos exemplos possíveis, fazem parte da nova ordem audiófila mundial.
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