Eduardo R. na Pedro's Hifi, em Oeiras (Shopping Palmeiras)
PARIS A ARDER
Algumas das suas tentativas fizeram história. Um dia, numa Feira de Electrónica no norte do país, abriu as goelas a umas colunas Tannoy Westminster de tal forma que, quando entraram em cena os canhões da «Abertura 1820», de Tchaikovsky, o auditório improvisado ameaçou ruir levando as pessoas a fugir em pânico. Juntos vivemos em Paris um dos momentos mais hilariantes da minha carreira audiófila. No salão de um palácio parisiense, demonstrava-se com pompa e circunstância um par de colunas de painel Magnaplanar alimentadas por amplificadores a válvulas Audio Research. Coisa fina, mes amis. Ouvia-se um daqueles CD «Concerto de Fim-de-Ano» pela Filarmónica de Viena. Numa das polkas de Strauss, a dado passo ouvem-se estalidos secos imitando rolhas de champanhe a saltar, fazendo-nos saltar a nós também na cadeira. O demonstrador francês gozando o efeito de surpresa aproveitou para chamar a atenção para a notável resposta transitória do sistema, e esclareceu: «Os sons que acabaram de ouvir foram obtidos ao vivo com o disparo de um pequeno revólver (c'est um vrai pistolet, afirmava ele). Eduardo que tinha visto o concerto em directo na televisão, corrigiu-o falando em português: «Desculpe, não é um revólver, é uma pistola de «pressão-de-ar». E sublinhou em francês, fazendo um gesto com as mãos, numa tentativa para se fazer entender: «pression d'air». O homem irritou-se e, julgando que Eduardo se estava a referir aos fracos níveis de pressão sonora do sistema, colocou em desespero de causa na gaveta do leitor-CD o famoso «Toros y Toreros», um fabuloso registo de música tauromáquica, e abriu o gás aos amplificadores. Ao primeiro «tutti» orquestral, o som estava tão alto que os Audio Research se imolaram publicamente num enorme clarão de luz azul. Eduardo e eu saímos apressadamente incapazes de conter o riso, enquanto ele olhava desolado para as válvulas fundidas e nos rogava pragas num dialecto incompreensível. Foi também em Paris que juntos descobrimos o verdadeiro significado de «baixo profundo», quando ouvimos um par de colunas Duntech Sovereign, alimentadas por amplificadores Accuphase, reproduzindo com absoluta perfeição o famoso disco «La vrai histoire de Mr. Swing», de Michel Jonasz, talvez o disco que contém registos musicais de mais baixa frequência: o som irradiava das colunas e envolvia-nos num delírio telúrico.
UMA VEZ NA AMÉRICA
Quis o destino que passados alguns anos, numa visita à fábrica da McIntosh, perto de Nova Iorque, lhe saísse, pasme-se!, num sorteio daqueles em que se tira um papelinho com o nome de dentro de um chapéu (o meu também lá estava mas não tive sorte), um amplificador a válvulas MC275, que ele hoje adora e exibe com orgulho na sua loja como um troféu. Nunca o vi tão feliz. Isto porque não estive presente quando Raymond Cooke, o fundador da KEF, lhe atribuiu, em Londres, o diploma de melhor vendedor Europeu da série Reference, e lhe concedeu a honra, que ainda hoje se mantém, de um dos primeiros exemplares de cada novo modelo topo de gama lhe ser enviado com um placa dourada com o seu nome gravado. As KEF 207 Reference com a placa estão lá na loja para o provar.
BLU-RAY
Eduardo é hoje um homem mais calmo, mas ainda não perdeu o secreto prazer de «ser o primeiro». Foi na sua loja que vi o primeiro DVD e ouvi o primeiro SACD que chegou a Portugal. E também já tem disponível o Blu-Ray! Em verdade vos digo, são virgens em vídeo todos os que ainda não viveram a experiência exaltante das imagens de alta resolução do Blu-Ray. O DVD vulgar é um borrão comparado com esta janela aberta sobre um mundo de cor e movimento tão concreto e definido como o sonho de Gedeão.
A MÚSICA EM MIM
Passados 20 anos, já ouvi e vi tudo o que de melhor se produz no mundo da electrónica. Mas aqui para nós, Eduardo, meu amigo, nunca esquecerei a primeira vez que ouvi a Thelma Houston em tua casa. Ainda hoje, cá bem dentro do peito, «I've got the music in me»...
Nota: Pedro's Hifi, Shopping Palmeiras, Oeiras, telef. 21 456 0669
PARIS A ARDER
Algumas das suas tentativas fizeram história. Um dia, numa Feira de Electrónica no norte do país, abriu as goelas a umas colunas Tannoy Westminster de tal forma que, quando entraram em cena os canhões da «Abertura 1820», de Tchaikovsky, o auditório improvisado ameaçou ruir levando as pessoas a fugir em pânico. Juntos vivemos em Paris um dos momentos mais hilariantes da minha carreira audiófila. No salão de um palácio parisiense, demonstrava-se com pompa e circunstância um par de colunas de painel Magnaplanar alimentadas por amplificadores a válvulas Audio Research. Coisa fina, mes amis. Ouvia-se um daqueles CD «Concerto de Fim-de-Ano» pela Filarmónica de Viena. Numa das polkas de Strauss, a dado passo ouvem-se estalidos secos imitando rolhas de champanhe a saltar, fazendo-nos saltar a nós também na cadeira. O demonstrador francês gozando o efeito de surpresa aproveitou para chamar a atenção para a notável resposta transitória do sistema, e esclareceu: «Os sons que acabaram de ouvir foram obtidos ao vivo com o disparo de um pequeno revólver (c'est um vrai pistolet, afirmava ele). Eduardo que tinha visto o concerto em directo na televisão, corrigiu-o falando em português: «Desculpe, não é um revólver, é uma pistola de «pressão-de-ar». E sublinhou em francês, fazendo um gesto com as mãos, numa tentativa para se fazer entender: «pression d'air». O homem irritou-se e, julgando que Eduardo se estava a referir aos fracos níveis de pressão sonora do sistema, colocou em desespero de causa na gaveta do leitor-CD o famoso «Toros y Toreros», um fabuloso registo de música tauromáquica, e abriu o gás aos amplificadores. Ao primeiro «tutti» orquestral, o som estava tão alto que os Audio Research se imolaram publicamente num enorme clarão de luz azul. Eduardo e eu saímos apressadamente incapazes de conter o riso, enquanto ele olhava desolado para as válvulas fundidas e nos rogava pragas num dialecto incompreensível. Foi também em Paris que juntos descobrimos o verdadeiro significado de «baixo profundo», quando ouvimos um par de colunas Duntech Sovereign, alimentadas por amplificadores Accuphase, reproduzindo com absoluta perfeição o famoso disco «La vrai histoire de Mr. Swing», de Michel Jonasz, talvez o disco que contém registos musicais de mais baixa frequência: o som irradiava das colunas e envolvia-nos num delírio telúrico.
UMA VEZ NA AMÉRICA
Quis o destino que passados alguns anos, numa visita à fábrica da McIntosh, perto de Nova Iorque, lhe saísse, pasme-se!, num sorteio daqueles em que se tira um papelinho com o nome de dentro de um chapéu (o meu também lá estava mas não tive sorte), um amplificador a válvulas MC275, que ele hoje adora e exibe com orgulho na sua loja como um troféu. Nunca o vi tão feliz. Isto porque não estive presente quando Raymond Cooke, o fundador da KEF, lhe atribuiu, em Londres, o diploma de melhor vendedor Europeu da série Reference, e lhe concedeu a honra, que ainda hoje se mantém, de um dos primeiros exemplares de cada novo modelo topo de gama lhe ser enviado com um placa dourada com o seu nome gravado. As KEF 207 Reference com a placa estão lá na loja para o provar.
BLU-RAY
Eduardo é hoje um homem mais calmo, mas ainda não perdeu o secreto prazer de «ser o primeiro». Foi na sua loja que vi o primeiro DVD e ouvi o primeiro SACD que chegou a Portugal. E também já tem disponível o Blu-Ray! Em verdade vos digo, são virgens em vídeo todos os que ainda não viveram a experiência exaltante das imagens de alta resolução do Blu-Ray. O DVD vulgar é um borrão comparado com esta janela aberta sobre um mundo de cor e movimento tão concreto e definido como o sonho de Gedeão.
A MÚSICA EM MIM
Passados 20 anos, já ouvi e vi tudo o que de melhor se produz no mundo da electrónica. Mas aqui para nós, Eduardo, meu amigo, nunca esquecerei a primeira vez que ouvi a Thelma Houston em tua casa. Ainda hoje, cá bem dentro do peito, «I've got the music in me»...
Nota: Pedro's Hifi, Shopping Palmeiras, Oeiras, telef. 21 456 0669