As Nautilus, inspiradas no molusco com o mesmo nome, são o orgulho da indústria áudio britânica. Galardoadas com o Prémio Milénio, foram exibidas no Pavilhão do Reino Unido, na Expo'98.
Talvez se lembre delas. Eram aqueles estranhos «caracóis» em azul meia-noite metalizado (a mesma versão que vai estar em Lisboa) que estavam mesmo ao fundo de uma das passadeiras rolantes do pavilhão. Não estavam a tocar, claro. Até porque a simples presença das Nautilus chega para impressionar.
Mas desta vez parece que vão tocar mesmo no Audioshow. De todas as vezes que as ouvi, achei que o «molho» dos caracóis precisava de um pouco mais de têmpero. Pode ser que seja desta com mão de mestre do Alberto a dirigir a «cozinha»...
A BW alega que a estranha caixa das Nautilus é a primeira no mundo com «coloração-zero»: tanto a longa espiral como a curiosa cabeleira de «tubos» de diferentes comprimentos são «câmaras de absorção» da radiação traseira - não estão lá só para enfeitar, mas devem ter inspirado Gaultier para desenhar a Diva do «5º Elemento».
Os complexos moldes da caixa foram concebidos em computador com a precisão do milímetro e fabricados em fibra de vidro reforçada por compostos acrílicos. Cada uma destas tão estranhas quanto belas «criaturas» repousa sobre um bloco de mármore de 50 quilos.
Classé Delta
Os altifalantes de liga de metal foram todos especificamente concebidos para este modelo, assim como os filtros divisores (externos). Cada uma das colunas precisa para funcionar de quatro amplificadores separados, de preferência de igual potência e eficiência: são «caracóis» de muito alimento! No caso vertente vão ser amplificadas pelos novos Classé Delta.
Trata-se, como é obvio, de uma coluna extremamente cara (ao preço a que a libra está, devem andar hoje pelos 15.000 contos!) e, mesmo assim, só se fabrica por encomenda. A BW 800 Nautilus é a Mãe-Caracol, o símbolo da marca, pelo que para nós, mortais, o que conta é a sua descendência, a que já chamei a «Ínclita geração».
Todas sem excepção têm a mesma característica genética: o tubo de carga do «tweeter». Nuns casos, exibem-no orgulhosas sobre a cabeça, como o penteado de um jovem punk; noutros, escondem-no no interior - não por vergonha, mas por uma questão de economia de espaço e de... preço. Em todos os casos, os seus efeitos positivos na qualidade do som ouvem-se, mesmo que não se vejam. Duas outras características as distinguem ainda: os altifalantes de médios/médio-graves em «Kevlar», demasiado óbvios para não darem nas vistas (mas não se deixe influenciar pela coloração amarelo-gema-de-ovo: em termos acústicos a coloração é baixa), graças também à estrutura «Matrix» de reforço interior da caixa de ressonância.
Uma curiosidade ainda para os audiófilos amantes do golfe: as marcas na boca do pórtico reflex foram inspiradas nas bolas de golfe para controlar a turbulência do fluxo de ar.
Permitam-me que reproduza aqui o que escrevi quando ouvi, as filhas, as BW801 pela primeira vez em Londres alimentadas por uma autêntica bateria de amplificadores Chord (as raparigas são de muito alimento e gostam de tocar alto...):
BW801 Nautilus
BW 801 Nautilus
Têm aquela ambiguidade entre o divino e o diabólico que as torna tão próximas de nós humanos. Podem soar sublimes e delicadas - as vozes elevando-se ao céu em suspensão; ou violentas e autoritárias - os metais dilacerando a carne, as percussões exorcizando no seu frenesim os males de alma que nos afligem. Os agudos cantam hossanas nas alturas, enquanto os graves descem ao inferno, chafurdando sem remorso na lava incandescente da última oitava perdida, lá onde muitos «subwoofers» não ousariam sequer entrar...
As BW 801 Nautilus respiram, sopram, arfam, com uma sensualidade que nos prende desde o primeiro sussurro, insuflando no ouvinte a paixão e o desejo de posse, mas também o respeito e o temor reverencial perante a evidência da superioridade. É isso: chegam a assustar, tal a demonstração de poder e dinâmica. Os metais rasgam com um realismo atroz o espesso tecido percutivo a golpes violentos de cutelo e não com as finas e delicadas incisões cirúrgicas a que o «hifi» nos habituou; os violinos desenham no ar, com movimentos certeiros de arco, um palco amplo e profundo, acomodando num abraço solidário os outros intervenientes, sem desrespeitar a sua individualidade tímbrica, e iluminando-os a todos por igual.
Distribuidor: Artaudio