O partidários da informação generalista partem do princípio errado de que os leitores são também eles «generalistas». A escrita profunda, dizem, afunda... as vendas. Os leitores querem generalidades, banalidades, novidades. A «profundidade» foi banida do ensino, da informação, da política e do futebol. E até os jovens evitam «aprofundar» as relações para mais facilmente sairem delas.Tudo à superfície, portanto, pela rama e o mais abrangente possível, o que significa que se pode escrever sobre tudo desde que se escreva sobre... nada. Os «especialistas» têm a desagradável tendência para «aprofundar» - são uns chatos. Em vez do hifi puro e duro, opta-se nos jornais por variar: «gadgets» vendem mais que hifi puro e duro.
«Quem muitas cabras toca alguma vai deixar para trás», dizia a minha avó. No «quiosque» do Expresso, primeiro foi a bronca do «vibrador» da Clark Synthesis, depois confundiram o Chord Blu com um leitor-CD portátil e «kitsch» que se podia comprar na Worten. Lost in translation? O Chord Blu é um transporte digital, de facto - daí ao «portátil» vai apenas um passo, admito. Até porque, sendo pequeno, pode levar-se debaixo do braço para todo o lado - mas desligado...
Apesar do aspecto de caixinha de jóias (caixa de seringas se olhado com algum cinismo), o design não é um fim em si. O «Blu» é um equipamento de precisão com características só possíveis de encontrar em alguns modelos profissionais, cujo objectivo é elevar o som do CD a um novo patamar de excelência. O preço é consentâneo com o objectivo declarado: €6 200!
O «Blu» é o complemento ideal do que eu considero o melhor conversor digital/analógico: o Chord DAC64, a obra prima de Robert Watts. Mas, por si só, não «toca» CDs: limita-se a «lê-los» e a enviar a informação para o DAC64 (ou outro conversor externo) para que este a interprete. Quem fosse na conversa do «quiosque» gastava uma fortuna e ficava sem perceber por que motivo o Blu não tocava - mesmo quando ligado à corrente...
Um leitor-CD é composto por um transporte/leitor que «lê» a informação digital contida no disco e um circuito que a converte depois em sinais analógicos compatíveis com os amplificadores convencionais. Daí a criarem-se componentes separados para cada uma das funções foi uma questão de tempo. Em teoria, bits são bits, e todos os transportes «lêem» a mesma informação, pelo que não há, não pode haver, diferenças de desempenho entre eles. De facto, há. E grandes diferenças! Mas não aprofundemos demasiado...
O Chord Blu fornece ao DAC64 a melhor informação possível. Ou melhor: impossível, porque é melhor que a original! Como? Multiplicando-a por dois e por quatro, respectivamente, e adicionando-lhe «dither» a gosto. E o que é isso do «dither»? «Dither» é...eh, ruído. E isso é bom? Em certas circunstâncias, sim. É uma espécie de compromisso para compensar o limite imposto de 16 bits. Aparentemente, 16 bits são muitos bits: sempre são 96 dB! Mas se o engenheiro de som permitir que os picos de sinal os «gastem» todos, os sinais de baixa amplitude, iguais ou inferiores a 1-bit são reproduzidos como ondas quadradas, ou seja: distorção. Mas há uma maneira de os recuperar: introduzindo «dither». O nível de «dither» só tem de ser inferior ao do bit menos significativo. O ruído (de banda larga) tem o efeito de «espalhar» os erros provocados pela distorção por todo o espectro áudio, e o nosso cérebro faz o resto: subtrai o ruído, recupera o sinal perdido e permite-nos ouvir o que antes estava escondido abaixo do bit menos significativo.
O Chord Blu oferece «dither» a 16-bit (High)) e a 24-bit (Normal). «Ditherizar» a 24-bit é chover no molhado, embora muitos DVD com registos ditos de 24-bit não o sejam de facto; mas com discos antigos, a posição «High» torna o som mais transparente, quase analógico.
Há conversores que fazem «up-sampling» (e nunca me convenceram), isto é, elevam a frequência de 44 100 amostras por segundo para 96 000 ou até 192 000. Mas já reparou que 96 e 192 não são múltiplos de 44? O «Blu» não faz nada por excesso: 88 200 e 176 400 são os múltiplos exactos, e é isso que ele fornece ao DAC64. O resultado desta coerência matemática é a optimização também da coerência musical e temporal, algo que já me tinha impressionado tanto quando testei o DAC64 que comprei um para uso pessoal. Querem melhor recomendação? Significa isso que o leitor (refiro-me agora a si) deve ir a correr comprá-lo? Claro que não, até porque a família nunca lhe perdoaria: pelo mesmo preço pode comprar um sistema surround completo com 5.1 canais e leitor-CD/DVD/SACD. E ainda: um plasma! Significa apenas que quem tem um sistema highend compatível e uma grande colecção de CD (e só CD!) deve colocar o par Chord Blu/DAC64 na sua lista de alternativas a considerar. Eu já considerei.
Há quem pense que a vantagem de aumentar a velocidade de amostragem é a reprodução de frequências acima da banda áudio: sons agudos. Mas se o ouvido não chega lá, onde está a vantagem? No tempo. No tempo? Exactamente. Eu desta vez explico (só pela rama):
Ao contrário dos animais, nós não ouvimos sons supersónicos. Contudo, mantemos a capacidade de localizar a origem dos sons no espaço pela diferença de fase (diferença de tempo de chegada) aos nossos ouvidos (não é por acaso que temos duas orelhas, uma de cada lado da cabeça, e não apenas uma na testa ou na nuca). Somos assim capazes de detectar diferenças da ordem dos microsegundos. Para ter um resolução temporal de 1 microsegundo, o sistema de gravação digital devia funcionar a uma frequência de 1MHz: 1 000 000 de vezes por segundo! E não 44 100 como nos impingiram. Não admira que as pessoas mais sensíveis se sintam incomodadas quando ouvem CD: o cérebro anda em busca do tempo perdido, como Proust. E cansa-se, coitado!, mesmo não saindo do quarto.
O «Blu» não só quadriplica a velocidade de amostragem como tem um filtro WTA altamente sofisticado que corrige os desfasamentos temporais. O resultado (em especial a 176,4kHz) é um som muito semelhante (eu disse: semelhante, não disse igual) ao do SACD: mais limpo, coerente, transparente, informativo e, acima de tudo, com mais ritmo. O som é também mais doce com uma característica orgânica e texturas naturais. O «Blu» recomenda-se, em particular para quem já é possuidor de um DAC64. A máxima resolução só é possível de obter com o novo modelo (dupla ligação digital BNC ou AES-EBU). Ainda que eu continue a achar que a primeira versão soa melhor a 44,1kHz (com cabo óptico), é mesmo assim possível chegar aos 88, 2kHz com uma ligação coaxial simples. Creio que o problema está na fonte de alimentação comutada, mas não me obriguem a ir mais fundo, por favor. Aconselhável apenas para audiófilos inveterados que andem a penar há vinte anos no purgatório digital depois de terem abandonado o paraíso analógico enganados pela serpente do mercado. Apenas um reparo: a tampa manual (mola demasiado forte) e o colocar/retirar do disco no «Blu» são, no mínimo, uma chatice e exigem algum treino. Pelo preço justificava-se uma tampa motorizada.
Distribuidor: Alfida
«Quem muitas cabras toca alguma vai deixar para trás», dizia a minha avó. No «quiosque» do Expresso, primeiro foi a bronca do «vibrador» da Clark Synthesis, depois confundiram o Chord Blu com um leitor-CD portátil e «kitsch» que se podia comprar na Worten. Lost in translation? O Chord Blu é um transporte digital, de facto - daí ao «portátil» vai apenas um passo, admito. Até porque, sendo pequeno, pode levar-se debaixo do braço para todo o lado - mas desligado...
Apesar do aspecto de caixinha de jóias (caixa de seringas se olhado com algum cinismo), o design não é um fim em si. O «Blu» é um equipamento de precisão com características só possíveis de encontrar em alguns modelos profissionais, cujo objectivo é elevar o som do CD a um novo patamar de excelência. O preço é consentâneo com o objectivo declarado: €6 200!
O «Blu» é o complemento ideal do que eu considero o melhor conversor digital/analógico: o Chord DAC64, a obra prima de Robert Watts. Mas, por si só, não «toca» CDs: limita-se a «lê-los» e a enviar a informação para o DAC64 (ou outro conversor externo) para que este a interprete. Quem fosse na conversa do «quiosque» gastava uma fortuna e ficava sem perceber por que motivo o Blu não tocava - mesmo quando ligado à corrente...
Um leitor-CD é composto por um transporte/leitor que «lê» a informação digital contida no disco e um circuito que a converte depois em sinais analógicos compatíveis com os amplificadores convencionais. Daí a criarem-se componentes separados para cada uma das funções foi uma questão de tempo. Em teoria, bits são bits, e todos os transportes «lêem» a mesma informação, pelo que não há, não pode haver, diferenças de desempenho entre eles. De facto, há. E grandes diferenças! Mas não aprofundemos demasiado...
O Chord Blu fornece ao DAC64 a melhor informação possível. Ou melhor: impossível, porque é melhor que a original! Como? Multiplicando-a por dois e por quatro, respectivamente, e adicionando-lhe «dither» a gosto. E o que é isso do «dither»? «Dither» é...eh, ruído. E isso é bom? Em certas circunstâncias, sim. É uma espécie de compromisso para compensar o limite imposto de 16 bits. Aparentemente, 16 bits são muitos bits: sempre são 96 dB! Mas se o engenheiro de som permitir que os picos de sinal os «gastem» todos, os sinais de baixa amplitude, iguais ou inferiores a 1-bit são reproduzidos como ondas quadradas, ou seja: distorção. Mas há uma maneira de os recuperar: introduzindo «dither». O nível de «dither» só tem de ser inferior ao do bit menos significativo. O ruído (de banda larga) tem o efeito de «espalhar» os erros provocados pela distorção por todo o espectro áudio, e o nosso cérebro faz o resto: subtrai o ruído, recupera o sinal perdido e permite-nos ouvir o que antes estava escondido abaixo do bit menos significativo.
O Chord Blu oferece «dither» a 16-bit (High)) e a 24-bit (Normal). «Ditherizar» a 24-bit é chover no molhado, embora muitos DVD com registos ditos de 24-bit não o sejam de facto; mas com discos antigos, a posição «High» torna o som mais transparente, quase analógico.
Há conversores que fazem «up-sampling» (e nunca me convenceram), isto é, elevam a frequência de 44 100 amostras por segundo para 96 000 ou até 192 000. Mas já reparou que 96 e 192 não são múltiplos de 44? O «Blu» não faz nada por excesso: 88 200 e 176 400 são os múltiplos exactos, e é isso que ele fornece ao DAC64. O resultado desta coerência matemática é a optimização também da coerência musical e temporal, algo que já me tinha impressionado tanto quando testei o DAC64 que comprei um para uso pessoal. Querem melhor recomendação? Significa isso que o leitor (refiro-me agora a si) deve ir a correr comprá-lo? Claro que não, até porque a família nunca lhe perdoaria: pelo mesmo preço pode comprar um sistema surround completo com 5.1 canais e leitor-CD/DVD/SACD. E ainda: um plasma! Significa apenas que quem tem um sistema highend compatível e uma grande colecção de CD (e só CD!) deve colocar o par Chord Blu/DAC64 na sua lista de alternativas a considerar. Eu já considerei.
Há quem pense que a vantagem de aumentar a velocidade de amostragem é a reprodução de frequências acima da banda áudio: sons agudos. Mas se o ouvido não chega lá, onde está a vantagem? No tempo. No tempo? Exactamente. Eu desta vez explico (só pela rama):
Ao contrário dos animais, nós não ouvimos sons supersónicos. Contudo, mantemos a capacidade de localizar a origem dos sons no espaço pela diferença de fase (diferença de tempo de chegada) aos nossos ouvidos (não é por acaso que temos duas orelhas, uma de cada lado da cabeça, e não apenas uma na testa ou na nuca). Somos assim capazes de detectar diferenças da ordem dos microsegundos. Para ter um resolução temporal de 1 microsegundo, o sistema de gravação digital devia funcionar a uma frequência de 1MHz: 1 000 000 de vezes por segundo! E não 44 100 como nos impingiram. Não admira que as pessoas mais sensíveis se sintam incomodadas quando ouvem CD: o cérebro anda em busca do tempo perdido, como Proust. E cansa-se, coitado!, mesmo não saindo do quarto.
O «Blu» não só quadriplica a velocidade de amostragem como tem um filtro WTA altamente sofisticado que corrige os desfasamentos temporais. O resultado (em especial a 176,4kHz) é um som muito semelhante (eu disse: semelhante, não disse igual) ao do SACD: mais limpo, coerente, transparente, informativo e, acima de tudo, com mais ritmo. O som é também mais doce com uma característica orgânica e texturas naturais. O «Blu» recomenda-se, em particular para quem já é possuidor de um DAC64. A máxima resolução só é possível de obter com o novo modelo (dupla ligação digital BNC ou AES-EBU). Ainda que eu continue a achar que a primeira versão soa melhor a 44,1kHz (com cabo óptico), é mesmo assim possível chegar aos 88, 2kHz com uma ligação coaxial simples. Creio que o problema está na fonte de alimentação comutada, mas não me obriguem a ir mais fundo, por favor. Aconselhável apenas para audiófilos inveterados que andem a penar há vinte anos no purgatório digital depois de terem abandonado o paraíso analógico enganados pela serpente do mercado. Apenas um reparo: a tampa manual (mola demasiado forte) e o colocar/retirar do disco no «Blu» são, no mínimo, uma chatice e exigem algum treino. Pelo preço justificava-se uma tampa motorizada.
Distribuidor: Alfida