Denon AVR-2105 (c/microfone calibração automática)
Entre 500 e 1 000 euros, a oferta de AVRs é tanta que sugerir uma marca ou modelo é hoje tarefa inglória: são quase todos montados na China, utilizam os mesmos «chips» e os mesmos circuitos, desunhando-se os departamentos de marketing para realçar as poucas diferenças existentes.
DENON SURPREENDE
Resolvi testar o Denon AVR-2105 como resposta aos insistentes pedidos de «bom e barato em linguagem simples» de alguns leitores. Podia ter sido um NAD, Pioneer, Sherwood, Sony, Teac, Yamaha, etc. que, por certo, o leitor não ficaria defraudado. É nesta categoria de preços que a concorrência é mais agressiva e as margens de lucro mais apertadas. Mesmo que se escolha de olhos fechados (convém, contudo, manter os ouvidos abertos...), não se pode falhar muito: todos cumprem a função de o «envolver» em som, com mais ou menos impacte e transparência.
Mas eis que a Denon volta a surpreeender-me ao incluir num amplificador de 670 euros uma característica que normalmente só aparece uns furos acima na cadeia hierárquica. E não está lá só para encher o olho, a ideia é antes alegrar os ouvidos: calibração automática do som de todos os canais.
CALIBRAÇÃO AUTOMÁTICA
Não sou grande adepto da calibração automática. Prefiro os meus ouvidos. Mas isso sou eu que tenho o sistema montado numa sala independente da casa, onde passo as poucas horas livres a ouvir e a afinar, sem chatear a família, e domino as técnicas de ligações e conceitos básicos de fase, tempo de atraso e resposta em frequência. A maior parte das pessoas nem sabe por onde começar. E depois cada sala é um caso. Ou são os agudos que ficam demasiado brilhantes, os médios duros e reverberantes ou os graves anafados e ribombantes. Ao contrário do que se pensa, ao nível dos graves, tendo em conta os comprimentos de onda envolvidos, tapetes, cortinados e sofás são ineficazes.
Pois a Denon inclui no dote do AVR-2105 um microfone para calibrar com a função «Auto Set-Up» seis dos mais importantes parâmetros para se obter bom som «surround»: polaridade das ligações, fase relativa, dimensões das colunas (small, large em função da resposta de graves), distância das colunas ao ouvinte (compensação do atraso relativo), nível do som relativo e resposta em frequência. No caso dos graves, que são mais problemáticos, faz o «sound-check» dos «subwoofers» duas vezes (frequência de corte variável entre 40Hz (colunas grandes) e 250Hz (minimonitores). A função pode ser desligada, claro. Mas não custa nada experimentar: os parâmetros ficam registados na memória (store) e podem até servir de referência para ajustes personalizados mesmo com outros equipamentos (tome nota das distâncias e dos níveis e introduza-as depois manualmente). Embora a utilização seja intuitiva (os menus são escorreitos), o apoio de um bom revendedor na fase de montagem é aconselhável. A partir daí é só carregar no botão do «power», o AVR-2105 faz o resto! O Auto Set-Up é um processo algo ruidoso ainda que rápido: os sopros de 3 segundos de ruído rosa são seguidos de outros tantos de análise de dados e cálculo. Respeite a família e os vizinhos e faça a calibração durante o dia. A calibração é extremamente eficaz e precisa com «surround» favorecendo o canal central e o «corpo» geral do som. No modo «stereo», tem tendência para «engordar» um pouco os registos médio-graves.
Tratando-se de um «receiver» o AVR-2105, irmão mais novo dos AVR-2805 (1116 euros) e AVR-3805 (1 481 euros), tem ainda um sintonizador integrado AM/FM-RDS. E as saídas de prévio (7.1) permitem atacar amplificadores multicanal externos. Não que seja necessário: em circunstâncias normais, a potência instalada é quanto basta para a maior parte das aplicações domésticas, desde que não se utilizem colunas demasiado exigentes (quanto mais eficientes, melhor). Atenção: o AVR-2105 não tem ventoinhas de arrefecimento e, quando se puxa por ele, aquece bastante, convém pois não o encafuar num armário ou colocá-lo uma estante com livros em cima lá porque é barato. Deixe-o respirar: sempre são 7 x 90W debaixo do capot!...
MERGULHO EM PROFUNDIDADEUma análise mais profunda revela que a Denon não poupou nos componentes para baixar o preço. O processador digital é, creio, o mesmo utilizado até agora nos topos de gama da marca: Analog Devices Hammerhead Sharc 32-bit. E cada um dos 7-canais tem conversores independentes (duplos no AVR-2805) Analog Devices AD-1387, 24-bit/192kHz, o que o torna compatível com todos os formatos áudio conhecidos: Dolby Digital Surround 5.1/EX, DTS 96/24 5.1, DTS ES Discrete/Matrix 6/1 e Neo (Cinema e Música), e ainda Dolby PLIIx (para cinema, música e jogos em surround 7.1 a partir de discos estéreo) que detecta automaticamente. Nota: no modelo AVR-2805, quando não se pretende montar o par extra de colunas traseiras para tirar partido dos formatos EX e ES (são poucos os filmes com som 7.1), podem utilizar-se os dois canais restantes para alimentar um sistema estéreo independente noutra zona da casa. No departamento vídeo, o AVR-2105 tem 3-entradas de 30MHz (100MHz/HDTV no AVR-2805) e faz a conversão de vídeo composto para S-Video. No departamento áudio: 7 entradas analógicas+phono e 5 digitais (4 ópticas, 1 coaxial). E, claro, as indispensáveis entradas 5.1 analógicas para SACD e DVD-Audio.
RECEITA CERTA
A Denon parece ter descoberto a receita certa para meter 7-canais de potência variável e um prévio/processador sofisticado dentro de um único chassis sem meter a mão no bolso do consumidor e bate a concorrência próxima na relação características/preço. Os comandos são intuitivos (o comando remoto tem botões de cores garridas e algumas idiossincrasias) e a qualidade sonora em multicanal e estéreo (para ouvir música utilize exclusivamente o modo Direct) é acima das expectativas para o preço exigido.
Nota: O comportamento do AVR-2105 foi tão bom que lhe dei a oportunidade de integrar o meu sistema de referência com base em colunas Martin Logan: Odyssey, Clarity, Theater i. Os parentes não me cairam na lama, o meu queixo sim. Nos modos «direct» (para estéreo) e «ext.l.» para multicanal, o som recomenda-se quase sem reservas.
Não espere, contudo, requintes audiófilos que só o dinheiro pode pagar, ou a minha função de divulgação do highend terminava já aqui por redundante. Os Denon têm «médios» tradicionalmente cremosos e transitórios de alta frequência pouco «afiados», uma benesse com certas bandas sonoras estridentes e sibilantes. Tal como nas séries anteriores, a autoridade dos graves e as características melhoram à medida que se sobe na escala hierárquica e no preço: AVR2105, 2805, 3805... Mas isso já seria de esperar, não?
Creio que era isto que os leitores «natalícios» queriam saber...
VIDEOACÚSTICA, 21 424 1770
Entre 500 e 1 000 euros, a oferta de AVRs é tanta que sugerir uma marca ou modelo é hoje tarefa inglória: são quase todos montados na China, utilizam os mesmos «chips» e os mesmos circuitos, desunhando-se os departamentos de marketing para realçar as poucas diferenças existentes.
DENON SURPREENDE
Resolvi testar o Denon AVR-2105 como resposta aos insistentes pedidos de «bom e barato em linguagem simples» de alguns leitores. Podia ter sido um NAD, Pioneer, Sherwood, Sony, Teac, Yamaha, etc. que, por certo, o leitor não ficaria defraudado. É nesta categoria de preços que a concorrência é mais agressiva e as margens de lucro mais apertadas. Mesmo que se escolha de olhos fechados (convém, contudo, manter os ouvidos abertos...), não se pode falhar muito: todos cumprem a função de o «envolver» em som, com mais ou menos impacte e transparência.
Mas eis que a Denon volta a surpreeender-me ao incluir num amplificador de 670 euros uma característica que normalmente só aparece uns furos acima na cadeia hierárquica. E não está lá só para encher o olho, a ideia é antes alegrar os ouvidos: calibração automática do som de todos os canais.
CALIBRAÇÃO AUTOMÁTICA
Não sou grande adepto da calibração automática. Prefiro os meus ouvidos. Mas isso sou eu que tenho o sistema montado numa sala independente da casa, onde passo as poucas horas livres a ouvir e a afinar, sem chatear a família, e domino as técnicas de ligações e conceitos básicos de fase, tempo de atraso e resposta em frequência. A maior parte das pessoas nem sabe por onde começar. E depois cada sala é um caso. Ou são os agudos que ficam demasiado brilhantes, os médios duros e reverberantes ou os graves anafados e ribombantes. Ao contrário do que se pensa, ao nível dos graves, tendo em conta os comprimentos de onda envolvidos, tapetes, cortinados e sofás são ineficazes.
Pois a Denon inclui no dote do AVR-2105 um microfone para calibrar com a função «Auto Set-Up» seis dos mais importantes parâmetros para se obter bom som «surround»: polaridade das ligações, fase relativa, dimensões das colunas (small, large em função da resposta de graves), distância das colunas ao ouvinte (compensação do atraso relativo), nível do som relativo e resposta em frequência. No caso dos graves, que são mais problemáticos, faz o «sound-check» dos «subwoofers» duas vezes (frequência de corte variável entre 40Hz (colunas grandes) e 250Hz (minimonitores). A função pode ser desligada, claro. Mas não custa nada experimentar: os parâmetros ficam registados na memória (store) e podem até servir de referência para ajustes personalizados mesmo com outros equipamentos (tome nota das distâncias e dos níveis e introduza-as depois manualmente). Embora a utilização seja intuitiva (os menus são escorreitos), o apoio de um bom revendedor na fase de montagem é aconselhável. A partir daí é só carregar no botão do «power», o AVR-2105 faz o resto! O Auto Set-Up é um processo algo ruidoso ainda que rápido: os sopros de 3 segundos de ruído rosa são seguidos de outros tantos de análise de dados e cálculo. Respeite a família e os vizinhos e faça a calibração durante o dia. A calibração é extremamente eficaz e precisa com «surround» favorecendo o canal central e o «corpo» geral do som. No modo «stereo», tem tendência para «engordar» um pouco os registos médio-graves.
Tratando-se de um «receiver» o AVR-2105, irmão mais novo dos AVR-2805 (1116 euros) e AVR-3805 (1 481 euros), tem ainda um sintonizador integrado AM/FM-RDS. E as saídas de prévio (7.1) permitem atacar amplificadores multicanal externos. Não que seja necessário: em circunstâncias normais, a potência instalada é quanto basta para a maior parte das aplicações domésticas, desde que não se utilizem colunas demasiado exigentes (quanto mais eficientes, melhor). Atenção: o AVR-2105 não tem ventoinhas de arrefecimento e, quando se puxa por ele, aquece bastante, convém pois não o encafuar num armário ou colocá-lo uma estante com livros em cima lá porque é barato. Deixe-o respirar: sempre são 7 x 90W debaixo do capot!...
MERGULHO EM PROFUNDIDADEUma análise mais profunda revela que a Denon não poupou nos componentes para baixar o preço. O processador digital é, creio, o mesmo utilizado até agora nos topos de gama da marca: Analog Devices Hammerhead Sharc 32-bit. E cada um dos 7-canais tem conversores independentes (duplos no AVR-2805) Analog Devices AD-1387, 24-bit/192kHz, o que o torna compatível com todos os formatos áudio conhecidos: Dolby Digital Surround 5.1/EX, DTS 96/24 5.1, DTS ES Discrete/Matrix 6/1 e Neo (Cinema e Música), e ainda Dolby PLIIx (para cinema, música e jogos em surround 7.1 a partir de discos estéreo) que detecta automaticamente. Nota: no modelo AVR-2805, quando não se pretende montar o par extra de colunas traseiras para tirar partido dos formatos EX e ES (são poucos os filmes com som 7.1), podem utilizar-se os dois canais restantes para alimentar um sistema estéreo independente noutra zona da casa. No departamento vídeo, o AVR-2105 tem 3-entradas de 30MHz (100MHz/HDTV no AVR-2805) e faz a conversão de vídeo composto para S-Video. No departamento áudio: 7 entradas analógicas+phono e 5 digitais (4 ópticas, 1 coaxial). E, claro, as indispensáveis entradas 5.1 analógicas para SACD e DVD-Audio.
RECEITA CERTA
A Denon parece ter descoberto a receita certa para meter 7-canais de potência variável e um prévio/processador sofisticado dentro de um único chassis sem meter a mão no bolso do consumidor e bate a concorrência próxima na relação características/preço. Os comandos são intuitivos (o comando remoto tem botões de cores garridas e algumas idiossincrasias) e a qualidade sonora em multicanal e estéreo (para ouvir música utilize exclusivamente o modo Direct) é acima das expectativas para o preço exigido.
Nota: O comportamento do AVR-2105 foi tão bom que lhe dei a oportunidade de integrar o meu sistema de referência com base em colunas Martin Logan: Odyssey, Clarity, Theater i. Os parentes não me cairam na lama, o meu queixo sim. Nos modos «direct» (para estéreo) e «ext.l.» para multicanal, o som recomenda-se quase sem reservas.
Não espere, contudo, requintes audiófilos que só o dinheiro pode pagar, ou a minha função de divulgação do highend terminava já aqui por redundante. Os Denon têm «médios» tradicionalmente cremosos e transitórios de alta frequência pouco «afiados», uma benesse com certas bandas sonoras estridentes e sibilantes. Tal como nas séries anteriores, a autoridade dos graves e as características melhoram à medida que se sobe na escala hierárquica e no preço: AVR2105, 2805, 3805... Mas isso já seria de esperar, não?
Creio que era isto que os leitores «natalícios» queriam saber...
VIDEOACÚSTICA, 21 424 1770