O DVD-Audio, o formato digital PCM de som multicanal de alta resolução (que não deve ser confundido com o vulgar DVD-Video), foi um remendo feito à pressa pelo DVD Forum para combater o Super Audio CD da parceria Sony/Philips. A verdade é que até hoje ainda ninguém percebeu o que se pretendia com ele. Ao contrário do SACD, o DVD-Audio nasceu incompatível com os leitores-CD. O mais bizarro é a sua também incompatibilidade com os leitores-DVD convencionais, que brada aos céus! Ou seja: a maior parte dos leitores DVD-Video não reproduz DVD-Audio, com excepção da banda em Dolby Digital ou DTS 5.1. Se juntarmos a isto que para se correr o menu temos de nos socorrer de um monitor de TV, não admira que apesar do relativo insucesso comercial do SACD, que atingiu este mês os 2 000 títulos já editados, este seja o preferido dos audiófilos como eventual substituto do CD num futuro próximo.
Híbrido pode ser que pegue...
Depois do óbvio tiro no pé, o DVD Forum fez um estudo de mercado e concluiu que se os discos DVD-Audio fossem híbridos como os SACD, isto é, se tivessem, além da camada multicanal de alta resolução, uma camada CD-compatível, talvez fosse possível inverter a natural tendência do mercado para os ignorar. Mas quem torto nasce...
A colecção SACD de Bob Dylan
O SACD parece-se em tudo com um CD vulgar e pode até ser reproduzido por qualquer leitor-CD, incluindo o Discman e o leitor do carro. Mas embebida na face legível tem uma segunda camada a diferente profundidade com um registo em estéreo ou multicanal de alta resolução que precisa para se reproduzida de um leitor-SACD.
O DVD-Audio não foi concebido de raiz para suportar camadas a diferentes profundidades. Assim, a única solução seria prescindir da etiqueta e colar o CD costas com costas com o DVD. Até aqui tudo bem: sempre houve discos DVD de dupla face. Contudo, para poder ser «lida» a informação no CD esta tem de estar à profundidade de 1,2 mm, pelo que a espessura mínima do disco de dupla face ultrapassa os 1,5 mm. Resultado: os discos «híbridos» ficavam encravados nos leitores-CD dos automóveis.
Em Portugal, estamos habituados (cada vez menos) a comer e calar, mas nos EUA isto significava a falência das empresas discográficas por acumulação de processos em tribunal com pedidos de indemnização.
Dual ou duplo?
Em desespero de causa, o DVD Forum chegou a propor que cada DVD-Audio tivesse como extra a versão em CD, sendo assim a edição composta não de um disco-duplo mas de dois discos fisicamente separados. A prensagem de um CD custa menos que um euro, não era por aí que o gato ia às filhós. Colocava-se, contudo, a questão da embalagem e do armazenamento. Feitas as contas, desistiram da ideia.
Finalmente, o DVD- Forum anuncia que resolveu todos os problemas técnicos e que o «Dual Disc» será lançado antes do Natal com 30 a 50 novos títulos. Eu acho que eles vão esperar pelas CES em Janeiro para fazer uma apresentação em grande. Que não vai passar disso mesmo: um epitáfio festivo.
O DVD-Audio é um aborto desde que nasceu. Foi concebido só para «chatear» a Sony e Philips e evitar que continuassem a receber as royalties sobre a designação «CD». Que bom seria que todos tivessem chegado a um acordo para facilitar a vida ao consumidor...
DSD ou PCM?
Até ver/ouvir eu mantenho a minha preferência pelo SACD. Isto apesar de a TEAC e a Aero terem optado nos seus últimos leitores-SACD topo de gama por converter o sinal DSD dos SACD para PCM a 88,4kHz (idêntico ao utilizado no DVD-Audio), porque, segundo eles, soa muito melhor. Será que há aqui espaço de manobra para uma conciliação? Oxalá. Estou farto de recomeçar colecções do mesmo disco em versões diferentes: LP, CD, DCC, MD, SACD, DVD-Audio, Dual-Disc, Blu-Ray. Vira o disco e toca a mesma.
Últimas notícias: Philips ameaça processar
Entretanto, ainda a procissão não saiu do adro e já o Los Angeles Times anuncia que a Philips vai processar os promotores do Dual Disc porque não podem utilizar a sigla CD num novo formato que não está conforme aos ditames dos «Evangelhos do CD» (Red Book, Orange Book, etc.). O DVD Forum parece inclinado a regressar à ideia original dos dois discos: um CD com a versão em MP3, que pode ser «ripada» para o computador e um DVD-Audio com faixas multicanal e estéreo de alta resolução 24/192 e ainda algum conteúdo video.
Triplo SACD/DVD
No fundo, a notável edição SACD de «Yellow Brick Road», de Elton John, que pode ler em Artigos Relacionados, já oferece um DVD-Video como extra com o histórico «making of» do disco. E basta ouvir «Sweet Painted Lady», «Roy Rogers» ou «Candle In The Wind» (a versão final com acompanhamento simples de guitarras e coro) para perceber de imediato a superioridade do SACD-multicanal. O DVD-Video é interessante, mas uma vez visto, visto está. O SACD já o ouvi dezenas de vezes...