O Super Audio CD já nasceu velho: a maior parte dos lançamentos são reedições. Daí aos leitores mais jovens pensarem que eu sou um «cota» que só ouve a «Rádio Gagá». Em verdade vos digo, se exceptuarmos a «2» e os noticiários da TSF, só tenho paciência para ouvir a «Oxigénio» no meu adorável Tivoli One (Ver Artigos Relacionados).
Por dever de ofício, tenho de alimentar também os ultrasofisticados sistemas que analiso com o último grito em tecnologia de som digital para testar os limites de capacidade de reprodução. Para isso não há nada melhor que SACD multicanal. Os títulos em SACD são escassos em relação ao CD, assim tudo o que vem à rede é peixe.
Neste contexto, a reedição comemorativa dos 30 anos de «Goodbye Yellow Brick Road», de Elton John, em Super Audio CD, é um robalo do Cabo da Roca que, apesar da idade, não perdeu frescura musical e acústica: um duplo álbum que é um monumento da cultura pop/rock dos anos 70.
Elton John pode ser foleiro, pimba e bicha, e teve até o descaramento de deixar a nossa Lili Caneças e mil outros convidados pendurados no Casino Estoril, quando se recusou a cantar e fugiu à última hora, alegadamente por motivos passionais (não com a Lili, frise-se). Mas é um grande músico, um cantor razoável, com alguns momentos altos, e um pianista brilhante (descubra onde os Supertramp se inspiraram para alguns dos seus acordes):
«At first, I was only a piano player», confessa Elton John numa das entrevistas registadas no DVD «The Making Of GYBR», que acompanha esta edição dupla em SACD-híbrido (compatível também com o seu leitor CD), que incluem Bernie Taupin, Davey Johnstone, Nigel Olsson, Gus Dudgeon (a quem esta edição é dedicada), David Hentschel, Del Newman, Sir Tim Rice e Paul Gambaccini.
Ver para crer
Alguns críticos anglosaxões consideram que o DVD é dispensável e aconselham a comprar apenas a edição em SACD-duplo, mais barata. Eu considero o DVD fundamental. Assim, os nascidos em décadas posteriores podem compreender melhor a década de 70 e contextualizar a carreira de Elton John. In illo tempore não era fácil um cantor britânico colocar um álbum-duplo no TOP americano durante meses como foi o caso de GYBR. Também Elton foi profeta em pátria alheia.
O anacronismo das imagens do DVD é evidente, mesmo para os que viveram essa época; já o som mantém-se surpreendentemente actual: a qualidade musical nunca passa de moda. O mesmo não se pode dizer dos penteados, das calças justas à boca de sino, dos sapatos altos, a que se seguiram a extravagância dos chapéus, dos óculos e das indumentárias exóticas e «kitsch», apesar dos revivalismos cíclicos de culto esporádico.
O DVD que acompanha a «milagrosa» evolução capilar de Elton John até à bela cabeleira ruiva actual, é também um documento histórico da notável evolução tecnológica da imagem: os registos da época, cheios de grão e de cores desbotadas, contrastam com a definição, resolução e correcção cromática das entrevistas recentemente gravadas com alguns dos então intervenientes no processo de criação, voluntariamente exilados num «château» decrépito algures em França. Em especial Bernie Taupin, cujo imaginário da adolescência fundado na paixão pelo cinema inspirou canções como «Roy Rogers» ou «The Ballad of Danny Bailey».
Já as matrizes originais, a partir das quais se produziram os SACD, podiam ter sido registadas hoje. De facto, nos últimos trinta anos, pouco se evoluiu em termos de registo de som. É mais a fama que o proveito. Há mesmo quem considere a tecnologia digital um retrocesso. Felizmente, as matrizes de GYBR são analógicas. Se fossem digitais, não teria sido possível o milagre desta transcrição perfeita para DSD (Super Audio CD). Depois dos LP originais, esta é, sem dúvida, a versão definitiva deste monumento musical. E o bónus da envolvência multicanal não é aqui despiciendo, assim o ouvinte disponha de um sistema de reprodução bem afinado que lhe faça justiça.
Tudo soa melhor: o piano é limpo, vibrante, poderoso e sem «overhang»; as guitarras são harmonicamente cintilantes e ricas de detalhe; a secção rítmica é propulsiva, embora pudesse ser mais articulada e tensa; os coros são algo incipientes e ingénuos mas claros e eficazes. O ouvinte sente-se também ele parte do processo musical em curso graças ao «surround» de alta definição (sem imagem).
Se é verdade que ouvir «vozes e outros sons avulsos» atrás de nós pode provocar, por vezes, o natural desconforto de quem está biologicamente imbuído de um instinto de sobrevivência (reagimos instintivamente quando atacados pelas costas), houve bom senso e sensibilidade q.b. por parte dos engenheiros responsáveis. Os canais frontais são os pilares fundamentais deste projecto acústico e os canais de efeitos traseiros são apenas complementares, desculpando-se alguns assomos de autonomia acústica em nome do «glamour» tecnológico.
Elton John surge preferencialmente focado no canal central e, em faixas como «Sweet Painted Lady» e «Harmony», a sua voz atinge mesmo estatuto de som-de-demonstração, tal a inteligibilidade da dicção, a emotividade artística e a sensação de presença e plenitude. A cereja no bolo para os audiófilos é uma versão quasi-acapella, nunca antes editada, de «Candle In The Wind», dedicada a Marilyn Monroe. Uma lufada de ar fresco, depois da adaptação da versão original ter sido ouvida «ad nauseam» quando das exéquias da Princesa Diana.
Os «tijolos amarelos» podem aqui e ali soar agressivos (vozes, guitarras, sons sintetizados), quando ouvidos a níveis elevados (o agudo, ao contrário do que se pensava, não é afinal o forte do SACD) e, apesar da inegável transparência e elevada resolução dos registos médios, o «corpo» acústico do LP seria aqui bem vindo (Ver Artigos Relacionados).
De resto, apenas um reparo para numeração contínua das faixas (o Disco 1 acaba na faixa 8 e o Disco 2 começa na faixa 9), enquanto na capa estão correctamente numeradas.
O tríptico 2SACD+1DVD de «Goodbye Yellow Brick Road» recebe uma forte recomendação, mesmo para quem só dispõe de um sistema estéreo sem capacidade multicanal.
Por dever de ofício, tenho de alimentar também os ultrasofisticados sistemas que analiso com o último grito em tecnologia de som digital para testar os limites de capacidade de reprodução. Para isso não há nada melhor que SACD multicanal. Os títulos em SACD são escassos em relação ao CD, assim tudo o que vem à rede é peixe.
Neste contexto, a reedição comemorativa dos 30 anos de «Goodbye Yellow Brick Road», de Elton John, em Super Audio CD, é um robalo do Cabo da Roca que, apesar da idade, não perdeu frescura musical e acústica: um duplo álbum que é um monumento da cultura pop/rock dos anos 70.
Elton John pode ser foleiro, pimba e bicha, e teve até o descaramento de deixar a nossa Lili Caneças e mil outros convidados pendurados no Casino Estoril, quando se recusou a cantar e fugiu à última hora, alegadamente por motivos passionais (não com a Lili, frise-se). Mas é um grande músico, um cantor razoável, com alguns momentos altos, e um pianista brilhante (descubra onde os Supertramp se inspiraram para alguns dos seus acordes):
«At first, I was only a piano player», confessa Elton John numa das entrevistas registadas no DVD «The Making Of GYBR», que acompanha esta edição dupla em SACD-híbrido (compatível também com o seu leitor CD), que incluem Bernie Taupin, Davey Johnstone, Nigel Olsson, Gus Dudgeon (a quem esta edição é dedicada), David Hentschel, Del Newman, Sir Tim Rice e Paul Gambaccini.
Ver para crer
Alguns críticos anglosaxões consideram que o DVD é dispensável e aconselham a comprar apenas a edição em SACD-duplo, mais barata. Eu considero o DVD fundamental. Assim, os nascidos em décadas posteriores podem compreender melhor a década de 70 e contextualizar a carreira de Elton John. In illo tempore não era fácil um cantor britânico colocar um álbum-duplo no TOP americano durante meses como foi o caso de GYBR. Também Elton foi profeta em pátria alheia.
O anacronismo das imagens do DVD é evidente, mesmo para os que viveram essa época; já o som mantém-se surpreendentemente actual: a qualidade musical nunca passa de moda. O mesmo não se pode dizer dos penteados, das calças justas à boca de sino, dos sapatos altos, a que se seguiram a extravagância dos chapéus, dos óculos e das indumentárias exóticas e «kitsch», apesar dos revivalismos cíclicos de culto esporádico.
O DVD que acompanha a «milagrosa» evolução capilar de Elton John até à bela cabeleira ruiva actual, é também um documento histórico da notável evolução tecnológica da imagem: os registos da época, cheios de grão e de cores desbotadas, contrastam com a definição, resolução e correcção cromática das entrevistas recentemente gravadas com alguns dos então intervenientes no processo de criação, voluntariamente exilados num «château» decrépito algures em França. Em especial Bernie Taupin, cujo imaginário da adolescência fundado na paixão pelo cinema inspirou canções como «Roy Rogers» ou «The Ballad of Danny Bailey».
Já as matrizes originais, a partir das quais se produziram os SACD, podiam ter sido registadas hoje. De facto, nos últimos trinta anos, pouco se evoluiu em termos de registo de som. É mais a fama que o proveito. Há mesmo quem considere a tecnologia digital um retrocesso. Felizmente, as matrizes de GYBR são analógicas. Se fossem digitais, não teria sido possível o milagre desta transcrição perfeita para DSD (Super Audio CD). Depois dos LP originais, esta é, sem dúvida, a versão definitiva deste monumento musical. E o bónus da envolvência multicanal não é aqui despiciendo, assim o ouvinte disponha de um sistema de reprodução bem afinado que lhe faça justiça.
Tudo soa melhor: o piano é limpo, vibrante, poderoso e sem «overhang»; as guitarras são harmonicamente cintilantes e ricas de detalhe; a secção rítmica é propulsiva, embora pudesse ser mais articulada e tensa; os coros são algo incipientes e ingénuos mas claros e eficazes. O ouvinte sente-se também ele parte do processo musical em curso graças ao «surround» de alta definição (sem imagem).
Se é verdade que ouvir «vozes e outros sons avulsos» atrás de nós pode provocar, por vezes, o natural desconforto de quem está biologicamente imbuído de um instinto de sobrevivência (reagimos instintivamente quando atacados pelas costas), houve bom senso e sensibilidade q.b. por parte dos engenheiros responsáveis. Os canais frontais são os pilares fundamentais deste projecto acústico e os canais de efeitos traseiros são apenas complementares, desculpando-se alguns assomos de autonomia acústica em nome do «glamour» tecnológico.
Elton John surge preferencialmente focado no canal central e, em faixas como «Sweet Painted Lady» e «Harmony», a sua voz atinge mesmo estatuto de som-de-demonstração, tal a inteligibilidade da dicção, a emotividade artística e a sensação de presença e plenitude. A cereja no bolo para os audiófilos é uma versão quasi-acapella, nunca antes editada, de «Candle In The Wind», dedicada a Marilyn Monroe. Uma lufada de ar fresco, depois da adaptação da versão original ter sido ouvida «ad nauseam» quando das exéquias da Princesa Diana.
Os «tijolos amarelos» podem aqui e ali soar agressivos (vozes, guitarras, sons sintetizados), quando ouvidos a níveis elevados (o agudo, ao contrário do que se pensava, não é afinal o forte do SACD) e, apesar da inegável transparência e elevada resolução dos registos médios, o «corpo» acústico do LP seria aqui bem vindo (Ver Artigos Relacionados).
De resto, apenas um reparo para numeração contínua das faixas (o Disco 1 acaba na faixa 8 e o Disco 2 começa na faixa 9), enquanto na capa estão correctamente numeradas.
O tríptico 2SACD+1DVD de «Goodbye Yellow Brick Road» recebe uma forte recomendação, mesmo para quem só dispõe de um sistema estéreo sem capacidade multicanal.