Carlos Henriques com as MetisDesignada por SACC, Simulated Anechoic Cabinet Construction, a tecnologia patenteada de construção das caixas acústicas da Eventus consiste em simular uma minicâmara anecóica no interior da coluna, evitando assim que esta contribua com «som próprio» para o resultado final. As paredes paralelas são o principal factor de existência de ondas estacionárias no interior das caixas acústicas. Quase todos os grandes construtores apresentam assim soluções alternativas: caixas redondas, elípticas, trapezoidais, em forma de quilha, de alaúde, etc.Interior caixa acústica das EventusMas a Eventus Audio foi mais longe: com base em múltiplas peças irregulares, a partir das quais se constrói uma curiosa caixa acústica ondulada no exterior e com o tradicional padrão de protuberâncias em forma de cunha no interior que simulam as paredes de uma câmara anecóica, conseguiram eliminar os reflexos internos causadores de colorações e ressonâncias. Na audição, o efeito sente-se (ou melhor, não se sente) como uma total ausência de...caixa. A qualidade de construção assistida por computador é exemplar. Os suportes dedicados em madeira e metal completam esta bela escultura audiófila. As Eventus Audio Metis aliam forma e função, e são a consecução de um dos objectivos últimos do áudio: o casamento entre engenho e arte. Metis e Phobos
A beleza e as formas originais das Eventus Metis já me tinham impressionado no HighEnd Show, em Frankfurt, em 2003. Agora com tempo para as olhar de frente e de lado, de as experimentar a frio e a quente, a impressão inicial saiu reforçada. Quando se pensava que a Sonus Faber tinha atingido o limite na relação forma/função, utilizando as caixas como se de um instrumento musical se tratasse, eis que as paredes externas graciosamente onduladas e as ameaçadoras entranhas pontiagudas das Eventus Metis surgem como um novo tema de debate audiófilo: será a «ausência de caixa» uma mais valia acústica?Imagem holográficaÀs primeiras notas o equilíbrio tonal soa-nos estranho, em especial as vozes (slightly pinched, diria eu se fosse um crítico anglosaxónico). Será o cérebro a habituar-se à ausência de caixa?, pensei. Será que me faz falta o som da vibração da madeira? Tinha acabado de ouvir música nas gigantescas (por comparação) Martin Logan Odyssey acolitadas por um par de «subwoofers» MJ Acoustics Reference One, e sentia ainda falta de outra coisa: a última oitava. As Metis associam a ausência de colorações de caixa à ausência de graves profundos. A caixa acústica das Metis, que já de si é pequena, tem o volume interno ainda mais reduzido pelo «miolo» SACC e, apesar de ser uma «reflex» (saída do pórtico inferior exige a colocação elevada sobre bicos de aço), o pequeno diâmetro do woofer Morel de 14, 5 cm não lhe permite descer muito abaixo dos 65Hz, embora o pórtico esteja sintonizado para os 31Hz, e fica à espera que a sala faça o resto. Com sinais de teste, a resposta é até razoavelmente linear acima dos 100Hz e com um ligeiro ênfase nos 7kHz. Com música, a crista harmónica das fundamentais de baixa frequência está lá, e permite-nos seguir com prazer as linhas de um contrabaixo ou o choro dolente de um violoncelo, assim como o impacte transitório dos metais e das percussões (notável velocidade de resposta). Mas eu gosto de cordas com um pouco mais de «caixa», passe a contradição; e dá-me gozo o corpo, impacte e violência visceral e telúrica própria da relação tumultuosa entre um ouvinte colocado no epicentro do fenómeno acústico e o ar da sala excitado pelos pedais de um orgão, a vibração dos grandes tímbales ou a mão esquerda de um pianista, tal como nos são proporcionadas por uma coluna de banda larga.
Colocá-las perto da parede traseira ajuda mas afecta a extraordinária precisão holográfica da imagem. Como ajuda colocar a boca dos pórticos reflex do lado de dentro do triângulo cujos vértices são as colunas e o ouvinte. Ou a solução mais radical de lhes associar os «subwoofers» das MJ Acoustics, que resolvem de imediato o problema, não sem corrermos o risco de perturbar a espantosa geometria da imagem estereofónica que, com as Metis a solo, parece ter sido desenhada com régua e esquadro a tinta da China em papel milimétrico, tal é a minúcia dos pormenores e o rigor da arquitectura do palco sonoro. O que me suscita o desejo de ouvir em breve as Phobos, o modelo-de-chão de três-vias da Eventus que responde com insustentável leveza à questão dos graves.
(Continua)
A beleza e as formas originais das Eventus Metis já me tinham impressionado no HighEnd Show, em Frankfurt, em 2003. Agora com tempo para as olhar de frente e de lado, de as experimentar a frio e a quente, a impressão inicial saiu reforçada. Quando se pensava que a Sonus Faber tinha atingido o limite na relação forma/função, utilizando as caixas como se de um instrumento musical se tratasse, eis que as paredes externas graciosamente onduladas e as ameaçadoras entranhas pontiagudas das Eventus Metis surgem como um novo tema de debate audiófilo: será a «ausência de caixa» uma mais valia acústica?Imagem holográficaÀs primeiras notas o equilíbrio tonal soa-nos estranho, em especial as vozes (slightly pinched, diria eu se fosse um crítico anglosaxónico). Será o cérebro a habituar-se à ausência de caixa?, pensei. Será que me faz falta o som da vibração da madeira? Tinha acabado de ouvir música nas gigantescas (por comparação) Martin Logan Odyssey acolitadas por um par de «subwoofers» MJ Acoustics Reference One, e sentia ainda falta de outra coisa: a última oitava. As Metis associam a ausência de colorações de caixa à ausência de graves profundos. A caixa acústica das Metis, que já de si é pequena, tem o volume interno ainda mais reduzido pelo «miolo» SACC e, apesar de ser uma «reflex» (saída do pórtico inferior exige a colocação elevada sobre bicos de aço), o pequeno diâmetro do woofer Morel de 14, 5 cm não lhe permite descer muito abaixo dos 65Hz, embora o pórtico esteja sintonizado para os 31Hz, e fica à espera que a sala faça o resto. Com sinais de teste, a resposta é até razoavelmente linear acima dos 100Hz e com um ligeiro ênfase nos 7kHz. Com música, a crista harmónica das fundamentais de baixa frequência está lá, e permite-nos seguir com prazer as linhas de um contrabaixo ou o choro dolente de um violoncelo, assim como o impacte transitório dos metais e das percussões (notável velocidade de resposta). Mas eu gosto de cordas com um pouco mais de «caixa», passe a contradição; e dá-me gozo o corpo, impacte e violência visceral e telúrica própria da relação tumultuosa entre um ouvinte colocado no epicentro do fenómeno acústico e o ar da sala excitado pelos pedais de um orgão, a vibração dos grandes tímbales ou a mão esquerda de um pianista, tal como nos são proporcionadas por uma coluna de banda larga.
Colocá-las perto da parede traseira ajuda mas afecta a extraordinária precisão holográfica da imagem. Como ajuda colocar a boca dos pórticos reflex do lado de dentro do triângulo cujos vértices são as colunas e o ouvinte. Ou a solução mais radical de lhes associar os «subwoofers» das MJ Acoustics, que resolvem de imediato o problema, não sem corrermos o risco de perturbar a espantosa geometria da imagem estereofónica que, com as Metis a solo, parece ter sido desenhada com régua e esquadro a tinta da China em papel milimétrico, tal é a minúcia dos pormenores e o rigor da arquitectura do palco sonoro. O que me suscita o desejo de ouvir em breve as Phobos, o modelo-de-chão de três-vias da Eventus que responde com insustentável leveza à questão dos graves.
(Continua)