Regressado à pátria amada, depois de um fim-de-semana prolongado na cidade olímpica de Munique, eis que me encontro de novo perante a tarefa hercúlea de catalogar todo o material: fotos, brochuras, press-releases, notas, sons (sim, também gravei sons e imagens), de forma a poder dar aos leitores de Hificlube uma panorâmica o mais ampla possível de tudo o que se passou no M,O,C, a FIL(zinha) de Munique para onde o HighEnd Show se transferiu de armas e bagagens após se ter realizado durante cerca de 20 anos no Hotel Kempinski em Frankfurt (cobri para a imprensa nacional 16 edições sucessivas!).
MOC Atrium, Munique
O que se perdeu, o que se ganhou?
Perdeu-se o romantismo do «Hifi among the trees», o cuidado decorativo posto em algumas das demonstrações, o ambiente aconchegante (asfixiante? do calor, do fumo) e aquela agradável sensação de dejà vu, quando já sabíamos o que nos esperava ao virar de cada esquina.
Por outro lado, ganhou-se em espaço e em ar, também para respirar (as directivas europeias sobre fumar em espaços públicos só se aplicam aos países pequenos?). Os fabricantes, distribuidores e expositores estavam felizes: o hifi é uma arte mas é também um negócio, e agora todos têm zonas de exposição estática, dinâmica e de atendimento ao profissionais e ao público. As salas são maiores, as demonstrações à porta fechada admitem mais pessoas de cada vez, e a opção por contentores com isolamento acústico na zona do «Hall», uma verdadeira «Feira» de Las Vegas em ponto pequeno, revelou-se eficaz.
Não acreditem nos profetas da desgraça que vão vituperar a decisão da mudança. É verdade que foi uma exigência dos distribuidores que pretendiam ter condições para demonstrar os seus «AV» topo de gama. Mas tudo aquilo que tornava o HighEnd Show diferente continua a marcar presença: os giradiscos (milhares de discos de vinil novos à venda!), as válvulas (nunca vi tantas como este ano), os debates e as longas conferência em alemão, que desesperam e exasperam os portugueses que não dominam a língua, e a situação única e característica daquele que é o maior certame audiófilo da Europa: os testes comparativos.
Músicos de rua na Marienplatz, em Munique
Além disso, Munique é uma cidade muito mais agradável e convidativa que Frankfurt. Tal como sucedeu em muitas outras cidades alemãs parcialmente destruídas durante a guerra, Munique foi reconstruída a pensar nos cidadãos: prioridade aos peões e aos ciclistas e não aos automóveis. O metropolitano ajuda, claro. A selecção de restaurantes é variada e, apesar de não se ver um polícia em cada esquina como em Lisboa, sentimo-os seguros e confortáveis. Também há mendigos e bêbados (nas cervejarias apinhadas, bebe-se, canta-se e dança-se num ambiente de festa), mas é óbvio que se vive bem em Munique. À noite, na Marienplatz, passeia-se, conversa-se e ouve-se música de Mozart e Bach tocada ao vivo por jovens estudantes do Conservatório a troco de umas moedas lançadas para a caixa do violino.
E é aqui que lanço para debate o primeiro tema. Será possível reproduzir música de tal forma que não seja possível distinguir entre o acontecimento real e a sua cópia electrónica?
No Highend 2004, duas corajosas experiências puseram em evidência o notável avanço da tecnologia de reprodução musical. Um avanço que, convenhamos, não consegue ainda dar-nos mais do que uma ilusão do real. João Jarejo (ver Correio) defende que são realidades distintas.
Acoustic Components Incus
Colors Of Sound
A Acoustic Components é uma nova marca austríaca de colunas de som. No «Hall», dentro de uma das tais sala-contentor, demonstraram o modelo Incus, que me cativou pela musicalidade, riqueza harmónica e correcção tonal, sendo alimentadas por um par de amplificadores Unison Research Smart (tríodos 845), que já testei, logo conheço bem. Para uma estreante, as Incus têm uma carreira audiófila promissora à sua frente, que deve ser seguida com atenção pelos nossos importadores.
Colors Of Sound by Acoustic Components
Mario Vukovic, o distribuidor mundial da marca, convidou-me então para assistir ao programa «Colors Of Sound», num hotel da cidade, que consistia basicamente na comparação directa vivo/reproduzido: um pianista e um violinista tocam uma Sonata em ré de Mozart atrás de uma cortina acusticamente transparente. Depois, um registo PCM previamente efectuado a 24 bit/192kHz é reproduzido por um par de colunas Auris de referência, enquanto por trás da cortina, que apenas deixa adivinhar a presença e os movimentos dos músicos, estes fingem que continuam a tocar. Quando a cortina se abre, verifica-se que estamos a ouvir as colunas e não os músicos...
A diferença era mínima no timbre e no tom e a localização do violinista e do pianista perfeita. Depois de saber, é fácil encontrar diferenças, claro: talvez o piano real tivesse mais riqueza harmónica nos registos baixos e soasse «maior», isto é, menos focado; o violino era indistinguível! A amplificação? Custom-made: válvulas 300B em configuração SE ainda em fase de protótipo. Protótipo SET 300B da Acoustic Components
Depois do jantar, seguiu-se a audição de discos LP e CD sortidos. As Auris soaram tão grandes aos ouvidos quanto aos olhos: um pouco maiores-do-que-o-real mas poderosas e dominadoras. Em última análise preferi o som das pequenas Incus, demonstradas no «Hall» do MOC. A opção por posicionar as enormes Auris com os «tweeters para fora» afectou, na minha opinião, a largura da imagem estereofónica. O seu criador considera, contudo, que se garante desta forma a fase geométrica sem necessidade de correcção electrónica no filtro. Eu acho que promove o efeito de difracção. Discutimos e ficámos amigos com dantes.
B e W ao vivo no Atrium
Outra das propostas de comparação vivo/gravado teve lugar no «Atrium», onde uma bateria de colunas BW 801 Nautilus (peço desculpa à Artaudio mas o software do Hificlube é alérgico ao «e» comercial) alimentadas por amplificadores Classé Omega reproduzia em surround um registo DSD em real-time de uma performance musical ao vivo! O décor era todo em branco. As colunas e o pianista Christian Willisohn) vestian de negro. O contraste era fantástico. Se alguém tinha dúvidas de que as 801 Nautilus são capazes de substituir o PA de um concerto ao vivo, elas caíram aqui por terra. Caramba, se o piano vibrava! E nós com ele...
MOC Atrium, Munique
O que se perdeu, o que se ganhou?
Perdeu-se o romantismo do «Hifi among the trees», o cuidado decorativo posto em algumas das demonstrações, o ambiente aconchegante (asfixiante? do calor, do fumo) e aquela agradável sensação de dejà vu, quando já sabíamos o que nos esperava ao virar de cada esquina.
Por outro lado, ganhou-se em espaço e em ar, também para respirar (as directivas europeias sobre fumar em espaços públicos só se aplicam aos países pequenos?). Os fabricantes, distribuidores e expositores estavam felizes: o hifi é uma arte mas é também um negócio, e agora todos têm zonas de exposição estática, dinâmica e de atendimento ao profissionais e ao público. As salas são maiores, as demonstrações à porta fechada admitem mais pessoas de cada vez, e a opção por contentores com isolamento acústico na zona do «Hall», uma verdadeira «Feira» de Las Vegas em ponto pequeno, revelou-se eficaz.
Não acreditem nos profetas da desgraça que vão vituperar a decisão da mudança. É verdade que foi uma exigência dos distribuidores que pretendiam ter condições para demonstrar os seus «AV» topo de gama. Mas tudo aquilo que tornava o HighEnd Show diferente continua a marcar presença: os giradiscos (milhares de discos de vinil novos à venda!), as válvulas (nunca vi tantas como este ano), os debates e as longas conferência em alemão, que desesperam e exasperam os portugueses que não dominam a língua, e a situação única e característica daquele que é o maior certame audiófilo da Europa: os testes comparativos.
Músicos de rua na Marienplatz, em Munique
Além disso, Munique é uma cidade muito mais agradável e convidativa que Frankfurt. Tal como sucedeu em muitas outras cidades alemãs parcialmente destruídas durante a guerra, Munique foi reconstruída a pensar nos cidadãos: prioridade aos peões e aos ciclistas e não aos automóveis. O metropolitano ajuda, claro. A selecção de restaurantes é variada e, apesar de não se ver um polícia em cada esquina como em Lisboa, sentimo-os seguros e confortáveis. Também há mendigos e bêbados (nas cervejarias apinhadas, bebe-se, canta-se e dança-se num ambiente de festa), mas é óbvio que se vive bem em Munique. À noite, na Marienplatz, passeia-se, conversa-se e ouve-se música de Mozart e Bach tocada ao vivo por jovens estudantes do Conservatório a troco de umas moedas lançadas para a caixa do violino.
E é aqui que lanço para debate o primeiro tema. Será possível reproduzir música de tal forma que não seja possível distinguir entre o acontecimento real e a sua cópia electrónica?
No Highend 2004, duas corajosas experiências puseram em evidência o notável avanço da tecnologia de reprodução musical. Um avanço que, convenhamos, não consegue ainda dar-nos mais do que uma ilusão do real. João Jarejo (ver Correio) defende que são realidades distintas.
Acoustic Components Incus
Colors Of Sound
A Acoustic Components é uma nova marca austríaca de colunas de som. No «Hall», dentro de uma das tais sala-contentor, demonstraram o modelo Incus, que me cativou pela musicalidade, riqueza harmónica e correcção tonal, sendo alimentadas por um par de amplificadores Unison Research Smart (tríodos 845), que já testei, logo conheço bem. Para uma estreante, as Incus têm uma carreira audiófila promissora à sua frente, que deve ser seguida com atenção pelos nossos importadores.
Colors Of Sound by Acoustic Components
Mario Vukovic, o distribuidor mundial da marca, convidou-me então para assistir ao programa «Colors Of Sound», num hotel da cidade, que consistia basicamente na comparação directa vivo/reproduzido: um pianista e um violinista tocam uma Sonata em ré de Mozart atrás de uma cortina acusticamente transparente. Depois, um registo PCM previamente efectuado a 24 bit/192kHz é reproduzido por um par de colunas Auris de referência, enquanto por trás da cortina, que apenas deixa adivinhar a presença e os movimentos dos músicos, estes fingem que continuam a tocar. Quando a cortina se abre, verifica-se que estamos a ouvir as colunas e não os músicos...
A diferença era mínima no timbre e no tom e a localização do violinista e do pianista perfeita. Depois de saber, é fácil encontrar diferenças, claro: talvez o piano real tivesse mais riqueza harmónica nos registos baixos e soasse «maior», isto é, menos focado; o violino era indistinguível! A amplificação? Custom-made: válvulas 300B em configuração SE ainda em fase de protótipo. Protótipo SET 300B da Acoustic Components
Depois do jantar, seguiu-se a audição de discos LP e CD sortidos. As Auris soaram tão grandes aos ouvidos quanto aos olhos: um pouco maiores-do-que-o-real mas poderosas e dominadoras. Em última análise preferi o som das pequenas Incus, demonstradas no «Hall» do MOC. A opção por posicionar as enormes Auris com os «tweeters para fora» afectou, na minha opinião, a largura da imagem estereofónica. O seu criador considera, contudo, que se garante desta forma a fase geométrica sem necessidade de correcção electrónica no filtro. Eu acho que promove o efeito de difracção. Discutimos e ficámos amigos com dantes.
B e W ao vivo no Atrium
Outra das propostas de comparação vivo/gravado teve lugar no «Atrium», onde uma bateria de colunas BW 801 Nautilus (peço desculpa à Artaudio mas o software do Hificlube é alérgico ao «e» comercial) alimentadas por amplificadores Classé Omega reproduzia em surround um registo DSD em real-time de uma performance musical ao vivo! O décor era todo em branco. As colunas e o pianista Christian Willisohn) vestian de negro. O contraste era fantástico. Se alguém tinha dúvidas de que as 801 Nautilus são capazes de substituir o PA de um concerto ao vivo, elas caíram aqui por terra. Caramba, se o piano vibrava! E nós com ele...