O Jadis Orchestra é um amplificador do «antigamente», do tempo da outra senhora. Aliás, «jadis» em francês significa isso mesmo: «outrora», «dantes». Daí a pensar-se que é um fóssil tecnológico vai um passo. Mas também há muito quem pense que «dantes» é que era bom. O regresso cíclico aos valores dos heróis românticos de Alexandre Dumas, patente no êxito da nova versão de «O Homem da Máscara e Ferro», a que se seguirá por certo «O Conde de Monte Cristo», é a prova de que os «clássicos» nunca morrem. Jean-Paul Caffi, o criador dos Jadis, é francês e também «produz» clássicos, cujo efeito sobre os sentidos perdura na nossa memória, tal como o «final» dos vinhos e conhaques da sua terra perdura na nossa memória palatal muito para além do acto de beber. Ainda hoje guardo no coração a doce memória do som de uns Jadis JA-200, alimentando um par de Sonus Faber Electa, na casa de Ricardo Franassovici, em Londres, entre um copo de champanhe e dois dedos de conversa. Foi esta soberba performance que o convenceu em boa hora a aceitar distribuí-las na Europa. Já lá vão uns 15 anos!...
A audição dos Jadis, de todos os Jadis, produz em mim uma indefinível sensação de bem-estar, que tem tanto de emocional como de física: a ilusão de presença, de espaço e principalmente de profundidade do palco sonoro é tão real, tão palpável, que não pode ser apenas ilusão. C'est uncroyable! A riqueza harmónica confere ao som um corpo que - para utilizar um chavão dos críticos de vinhos - quase se pode «mastigar». Et quel bouquet! Na prova «sabe» a fruta fresca: ameixas, com o toque exótico da canela, os taninos arredondados...
Os espíritos mais racionalistas dirão: sim, mas isso não passa de um truque resultante da inteligente manipulação da distorção harmónica e da fase, como os testes laboratoriais podem provar, quando não mesmo do... acaso. Não refuto o poder da ciência para desmistificar as crendices que rodeiam o mito da superioridade das válvulas sobre os transístores. Mas ainda gostava que me apresentassem provas laboratoriais dos efeitos benéficos do estágio do vinho em pipas de carvalho francês. E contudo elas existem - basta provar o vinho...
Há que dizer as coisas com frontalidade: o Jadis Orchestra não tem o poder, a autoridade e a transparência dos JA-200, nem tão pouco dos JA-80, sequer do integrado DA-60, muito menos dos monstros JA-500 e JA-800 que se vendem a preços pecaminosos. Digamos que esta Orchestra é «de câmara». Mas a doce claridade do agudo e a transição pacífica e sem descontinuidade aparente para os registos médios tem a indesmentível assinatura de Caffi. O grave é voluntarioso e revela uma surpreendente estrutura harmónica para um amplificador integrado de baixa potência. Falta-lhe, como é óbvio, a pujança e sobretudo a solidez e a clarividência demonstradas neste departamento pelos seus irmãos mais velhos - em especial pelo atlético e rápido Jadis Defy 7. Grave seria que assim não fosse, tal a disparidade no preço. Quanto às questões de maior «gravidade» - refiro-me aos «baixos», claro - ainda não há nada que bata os transístores...
Em comum, como inefável traço de união da família Jadis, têm a arte mágica de fazer desaparecer as colunas de som, deixando-nos a sós com a música, na agradável companhia dos músicos que habitam um palco sonoro de características panorâmicas. Simplesmente delicioso. Beba-se no sossego da noite, não de um trago mas sorvendo lentamente cada nota de música sem encher muito o copo. Se puxar muito por ele, «entorna»...
O amplificador da máscara de ferro
O Jadis Orchestra apresenta-se num chassis em inox, sem a profusão de detalhes (e entalhes) dourados e outros luxos que caracterizam os modelos mais caros, como os condensadores vestidos de azul. Como elementos activos, quatro válvulas EL34 de origem sérvia (escaparam à barbárie!) montadas em «push-pull» atacadas por um par de ECC83. Como toque de inovação estética na marca, os flancos laterais em madeira. O Orchestra é o resultado de um estudo da Jadis cujo objectivo é oferecer ao entusiasta menos endinheirado o prazer de ter «un vrai Jadis» pelo preço (apesar de tudo elevado) de um amplificador a válvulas com menos «pedigree».
Na melhor tradição da Jadis, o circuito é muito simples: um primeiro andar solid state e um andar de potência com 40W por canal sobre impedâncias que podem ir de 1 a 16 ohms, com cablagem soldada ponta-a-ponta sem recurso a placas de circuito. O Orchestra vem afinado de fábrica para cargas de 4 e 8 ohms e o ajuste de polarização não pode (ou pelo menos não deve) ser feito pelo utente mas por um técnico competente. Aceita cinco fontes nas entradas de linha mas não tem entrada para gira-discos (phono). No painel frontal pintado a ouro, exibe três botões iguais (e igualmente feios) para o selector de fontes, o volume e o equilíbrio entre canais. De resto, uma luz-piloto em verde e um comutador on/off. C'est tout.
Ao contrário de outros amplificadores integrados a válvulas, o Orchestra - sendo os andares de linha passivos - não tem tempo de espera: está apto a funcionar logo que se liga. Mas como todos os seus congéneres beneficia de um período de «queima» prolongado e soa melhor quando «quente», isto é, ao fim de uma meia-hora. Um eventual «suave fritar» intermitente e esporádico que notei no canal direito (alguma válvula com stress de guerra?) desapareceu ao fim de poucos minutos. Para um amplificador a válvulas, o Jadis Orchestra é, aliás, particularmente silencioso: o «sopro» é negligenciável.
Os transformadores (que também não ronronam) exibem-se negros e nus com seus capuzes de borlas douradas sobre um lago calmo de aço inox brilhante, sendo o de corrente de sector guardado por quatro condensadores em formação e os dois de sinal mais pequenos logo atrás das válvulas, que se elevam no centro da estrutura de capacete pontiagudo e ar marcial, cobertas por uma «máscara de ferro», também ela negra, por imposição das normas de segurança da UE (se não tem crianças de dedos curiosos, pessoas de idade de dedos trémulos ou animais soltos de nariz afoito em casa, pode retirá-la sem perigo de maior). O chassis de dimensões não-normalizadas exige uma prateleira especial e espaço arejado à volta e por cima.
Neste caso, a beleza está de facto nos ouvidos de quem ouve, e não nos olhos de quem vê. Mas as coisas melhoram um pouco se retirar a grelha de protecção, libertando as válvulas e o espírito.
Deixe-se ir neste «ledo e doce engano»: vai ver como é bom...
Distribuidor: Imacústica
A audição dos Jadis, de todos os Jadis, produz em mim uma indefinível sensação de bem-estar, que tem tanto de emocional como de física: a ilusão de presença, de espaço e principalmente de profundidade do palco sonoro é tão real, tão palpável, que não pode ser apenas ilusão. C'est uncroyable! A riqueza harmónica confere ao som um corpo que - para utilizar um chavão dos críticos de vinhos - quase se pode «mastigar». Et quel bouquet! Na prova «sabe» a fruta fresca: ameixas, com o toque exótico da canela, os taninos arredondados...
Os espíritos mais racionalistas dirão: sim, mas isso não passa de um truque resultante da inteligente manipulação da distorção harmónica e da fase, como os testes laboratoriais podem provar, quando não mesmo do... acaso. Não refuto o poder da ciência para desmistificar as crendices que rodeiam o mito da superioridade das válvulas sobre os transístores. Mas ainda gostava que me apresentassem provas laboratoriais dos efeitos benéficos do estágio do vinho em pipas de carvalho francês. E contudo elas existem - basta provar o vinho...
Há que dizer as coisas com frontalidade: o Jadis Orchestra não tem o poder, a autoridade e a transparência dos JA-200, nem tão pouco dos JA-80, sequer do integrado DA-60, muito menos dos monstros JA-500 e JA-800 que se vendem a preços pecaminosos. Digamos que esta Orchestra é «de câmara». Mas a doce claridade do agudo e a transição pacífica e sem descontinuidade aparente para os registos médios tem a indesmentível assinatura de Caffi. O grave é voluntarioso e revela uma surpreendente estrutura harmónica para um amplificador integrado de baixa potência. Falta-lhe, como é óbvio, a pujança e sobretudo a solidez e a clarividência demonstradas neste departamento pelos seus irmãos mais velhos - em especial pelo atlético e rápido Jadis Defy 7. Grave seria que assim não fosse, tal a disparidade no preço. Quanto às questões de maior «gravidade» - refiro-me aos «baixos», claro - ainda não há nada que bata os transístores...
Em comum, como inefável traço de união da família Jadis, têm a arte mágica de fazer desaparecer as colunas de som, deixando-nos a sós com a música, na agradável companhia dos músicos que habitam um palco sonoro de características panorâmicas. Simplesmente delicioso. Beba-se no sossego da noite, não de um trago mas sorvendo lentamente cada nota de música sem encher muito o copo. Se puxar muito por ele, «entorna»...
O amplificador da máscara de ferro
O Jadis Orchestra apresenta-se num chassis em inox, sem a profusão de detalhes (e entalhes) dourados e outros luxos que caracterizam os modelos mais caros, como os condensadores vestidos de azul. Como elementos activos, quatro válvulas EL34 de origem sérvia (escaparam à barbárie!) montadas em «push-pull» atacadas por um par de ECC83. Como toque de inovação estética na marca, os flancos laterais em madeira. O Orchestra é o resultado de um estudo da Jadis cujo objectivo é oferecer ao entusiasta menos endinheirado o prazer de ter «un vrai Jadis» pelo preço (apesar de tudo elevado) de um amplificador a válvulas com menos «pedigree».
Na melhor tradição da Jadis, o circuito é muito simples: um primeiro andar solid state e um andar de potência com 40W por canal sobre impedâncias que podem ir de 1 a 16 ohms, com cablagem soldada ponta-a-ponta sem recurso a placas de circuito. O Orchestra vem afinado de fábrica para cargas de 4 e 8 ohms e o ajuste de polarização não pode (ou pelo menos não deve) ser feito pelo utente mas por um técnico competente. Aceita cinco fontes nas entradas de linha mas não tem entrada para gira-discos (phono). No painel frontal pintado a ouro, exibe três botões iguais (e igualmente feios) para o selector de fontes, o volume e o equilíbrio entre canais. De resto, uma luz-piloto em verde e um comutador on/off. C'est tout.
Ao contrário de outros amplificadores integrados a válvulas, o Orchestra - sendo os andares de linha passivos - não tem tempo de espera: está apto a funcionar logo que se liga. Mas como todos os seus congéneres beneficia de um período de «queima» prolongado e soa melhor quando «quente», isto é, ao fim de uma meia-hora. Um eventual «suave fritar» intermitente e esporádico que notei no canal direito (alguma válvula com stress de guerra?) desapareceu ao fim de poucos minutos. Para um amplificador a válvulas, o Jadis Orchestra é, aliás, particularmente silencioso: o «sopro» é negligenciável.
Os transformadores (que também não ronronam) exibem-se negros e nus com seus capuzes de borlas douradas sobre um lago calmo de aço inox brilhante, sendo o de corrente de sector guardado por quatro condensadores em formação e os dois de sinal mais pequenos logo atrás das válvulas, que se elevam no centro da estrutura de capacete pontiagudo e ar marcial, cobertas por uma «máscara de ferro», também ela negra, por imposição das normas de segurança da UE (se não tem crianças de dedos curiosos, pessoas de idade de dedos trémulos ou animais soltos de nariz afoito em casa, pode retirá-la sem perigo de maior). O chassis de dimensões não-normalizadas exige uma prateleira especial e espaço arejado à volta e por cima.
Neste caso, a beleza está de facto nos ouvidos de quem ouve, e não nos olhos de quem vê. Mas as coisas melhoram um pouco se retirar a grelha de protecção, libertando as válvulas e o espírito.
Deixe-se ir neste «ledo e doce engano»: vai ver como é bom...
Distribuidor: Imacústica