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2004

Penaudio Rebel 2+chara: Rebelde Com Causa



O conjunto de colunas de som Penaudio Charisma+Chara exibe com orgulho no curriculum um teste muito positivo de Wes Philips.Todos os pretensos gurus gostam de «dar uma mãozinha» a fabricantes promissores para mais tarde poderem dizer: «I told you so...».


No meu caso, as Chara (1 990 euros) fizeram-se acompanhar das Rebel 2 (1 300 euros). Numa gama tão curta, porquê produzir dois modelos que utilizam o mesmo «tweeter» de cúpula de seda e têm basicamente as mesmas dimensões? Fiz-lhes essa pergunta em Munique. Resposta: a Charisma custa o dobro da Rebel e é duas vezes melhor. Ponto final. Talvez por isso Wes tenha sido tão encomiástico...

Rebel 2


À primeira vista, a Rebel 2 é mais um «caixotinho» simpático, sem nada que o recomende em termos de design, construído em madeira prensada e (bem) folheada, com altifalantes da norueguesa SEAS, numa das mil variantes dos famosos minimonitores BBC dos anos 60. Na minha juventude, eu próprio construí colunas destas com altifalantes SEAS que mandava vir da Wimslow Audio à socapa pelo correio. E não tocavam nada mal, diga-se! Os acabamentos das Penaudio são melhores, claro. Apesar de tudo, não estão isentos de críticas: as grelhas metálicas, por exemplo, desagradam-me; e os bornes WBT contrariam a legislação europeia ao aceitar bananas. Neste particular, considero que Penttila fez muito bem: os deputados europeus não percebem nada de hifi e gostam de se meter onde não são chamados - nisto como noutras coisas. Eu gosto de bananas - destas e das outras também: são mais práticas que as forquilhas. Além de que a função de aperto faz falta depois para as forquilhas dos «links» de ligação às «bases» Chara. O altifalante médio-grave está aparafusado ao painel sem «rebaixamento», ignorando o alinhamento geométrico de fase e promovendo o efeito de difracção: uma opção que reputo de «estrutural» (para não enfraquecer os apoios das porcas). O pórtico «reflex» traseiro, com um tubo anormalmente longo, aproveita a profundidade da terceira dimensão, tendo como objectivo dar «um ar grave» a um corpo pequeno, mas é incompatível com a tradicional estante ou a proverbial proximidade da parede traseira. Sugere-se a colocação em espaço aberto, uma utilização típica de um potencial comprador com forte «consciência» audiófila (e uma esposa compreensiva), e não de um jovem em estado avançado de «MP3 addiction» ou gosto pelo AV. Foi pois com «consciência audiófila» que passei à audição, servindo-lhes «fillet mignon» áudio (SACD) em baixela de prata: fonte Theta, amplificação McIntosh/Krell, cabos Nordost Valhalla e Siltech Classic.


Ainda não foi Sami Pentilla que descobriu a forma de contrariar as leis da física: uma coluna com pouco mais de 4 litros e um altifalante de dimensões reduzidas tem inevitavelmente capacidade limitada de movimentar ar dentro de uma sala média. Por outro lado, as Rebel 2, sendo pequenas, precisam de espaço à sua volta para respirar. Na audição isolada, isto é, sem o apoio das Chara, as Rebel 2 exibiram as vantagens típicas dos minimonitores de «baffle» (painel frontal) estreito: notável precisão, solidez, profundidade e estabilidade da imagem estereofónica, a que não é alheio também o facto da passagem de testemunho entre médio e agudo se fazer apenas aos 4kHz. O filtro divisor foi assim concebido para garantir a coerência na banda em que o ouvido é mais sensível e preservar a fase e a transparência: não se deixaram humilhar na comparação com um painel electrostático (!), revelando apenas um ligeiríssimo traço de nasalidade. Quanto à claridade, a óbvia acentuação no agudo confere-lhes vivacidade e riqueza harmónica sem as tornar agressivas, graças à opção pela «velha» cúpula de seda do «tweeter» em detrimento dos modernos «metais». A resposta de graves é uma obra-prima da arte do acoplamento acústico com a sala de audição. A resposta cai rapidamente abaixo dos 50Hz, mas a minha sala tratada (RPG, Tube Traps) e de pequenas dimensões «pegou» na cauda dos graves reforçando-os de forma solidária e musical. O cérebro tem a capacidade de sintetizar as fundamentais a partir dos harmónicos relacionados e fez o resto: o baixo da Rebel 2 soa ágil, musical, entrosado e articulado, malgré as limitações de extensão e potência. Mais potência implicaria menos sensibilidade, logo incompatibilidade com amplificações menos musculadas, embora a carga seja benigna. Quando muito instadas «batem no fundo» (bottoming): rebeldes mas não muito, portanto. As Rebel 2 não são um monitor de estúdio, são um monitor audiófilo: umas LS35a sem a fleuma britânica, leia-se, mais sensíveis, mais dinâmicas e mais alegres.



Chara


Em boa verdade, as Chara não são «subwoofers», são antes «bases-interactivas»: dão apoio físico e acústico às Rebel, e apoio psicológico ao ouvinte, numa clara concessão ao mercado americano, que não se compadece com limitações no extremo inferior do espectro áudio. São uma solução a posteriori, como as famosas Wilson Watts+Puppies. Já testei também outras soluções idênticas da TAG McLaren, da Ensemble, etc.


As Chara ajudam os graves das Rebel 2 a ganhar outra dimensão, admito. Mas nem sempre mais grave significa melhor grave. Sinceramente, prefiro as Rebel 2 com as suas inevitáveis limitações. Tanto mais quanto as Chara abusam do corpo, isto é, aos 5kHz ainda estão activas (!), interferindo com a esmerada educação nórdica das Rebel 2: no tratamento da voz feminina, por exemplo; e no delicado e efémero «som do ar», patente na música acústica tocada ao vivo. Algo que, numa coluna convencional de caixa com esta, é um milagre que deve ser preservado a todo o custo. Eu optava pelas Rebel 2 a solo ou, melhor ainda, pelas Charisma, a acreditar que são realmente «duas vezes melhores». Se quer «aprofundar» a questão finlandesa, aguarde pelas Charade, que lembram as Audio Physics e são as Charisma+Chara em versão monovolume. Eu ouvi-as em Munique e gostei. As Rebel 2 levam uma clara recomendação pela delicata invenzione armonica. As Chara (+Rebel2) nem por isso.


Distribuidor: António Henrique Almeida


Notas:


1. O «woofer»das Chara pode ser colocado apontado para dentro ou para fora. No primeiro caso «solidifica» a imagem central mas perde alguma definição; no segundo caso, «alarga» o palco sonoro. Faça experiências e opte pela que melhor se adapta a si e à sua sala.


2. Pode ligar as Rebel 2 directamente ao amplificador (banda alargada) ou com os «links» fornecidos a partir do Chara. A Penaudio aconselha a primeira opção; eu aconselho a segunda. É um facto que, ao libertar as Rebel de reproduzir as baixas frequências, a resposta na banda de trabalho é mais linear; por outro lado, com os «links» tem dois «filtros» (e os consequentes desvios de fase) no caminho do sinal: o da Chara e o da Rebel. O som fica mais «limpo» mas algo «comprimido».


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