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2004

Primaluna Prologue One (parte 2)



Primaluna Prologue One c/grelha


E, ao contrário destes, o resultado final é tudo menos tosco: os materiais e acabamentos, incluindo a pintura metalizada de um negro esverdeado, são superiores aos de modelos de outras marcas três vezes mais caros. O design é sóbrio e sem influências «kitsch»: a grelha protectora, por certo inspirada na máscara de Darth Vader, e a cobertura estilizada dos transformadores, tudo contribui para um elevado valor percebido que contradiz o preço real: 1 190 euros. As fichas douradas e os bornes com protecção plástica são da última geração. Esta apreciação é extensiva ao funcionamento: sem sopro, clics, pops, ou outros ruídos de comutação e com um potenciómetro Alps suave e eficaz. Isto só é possível porque o seu criador, o holandês Herman van den Dungen, os manda construir na China. O circuito não tem nada de inovador: é um amplificador clássico do tipo push-pull com válvulas EL34 no andar de potência (o modelo Prologue Two utiliza válvulas KT88) que no limite debitam 40W (8ohm) ou 36W (4ohm). Os watts dos amplificadores a válvulas são como os cavalos dos motores a diesel - têm mais «força».


ANÁLISE AUDITIVA


Na audição o Prologue One revelou a origem genética e a influência do cromossoma EL34: um som «romântico», típico dos anos 70, encorpado, expansivo, com um grave algo redondo e enfático, um agudo que se liquefaz à medida que aquece, e a proverbial gama média que parece derramar chocolate quente sobre a música. A vozes têm a presença e a tal «humanidade» que justificam a crítica recorrente nos meios audiófilos de que os transístores soam «mecânicos» por comparação. O Prologue One consegue juntar a isto uma sensação subjectiva de poder nos registos médio-graves que resulta num inusitado sentido rítmico. Em esforço a voz «endurece» um pouco roubando carisma aos registos-médios: quanto mais eficientes forem as colunas melhor será o resultado.

No meu caso, utilizei um par de Sonus Faber Concertino, que são fáceis de alimentar, tendo como fonte o Sony XA777es. Preferi a saída de 4ohm, que «abre» e dá «bouquet» ao som, ainda que prescindindo de alguma potência: meia-dúzia de watts chegam, contudo, para encher uma sala pequena de música.


Os amplificadores a válvulas são como os charutos: devem ser apreciados com calma, sem criar demasiadas expectativas, de preferência na companhia de bons discos, bons livros e bom cognac. Dispensam a lareira: é um som que primeiro se estranha, como o genial anúncio preterido da Coca-Cola de Fernando Pessoa, e depois se entranha, na alma e nos ossos.

Se isto é o prólogo (e o Prologue Two é ainda melhor) fico excitado só de pensar no epílogo...


Nota: Em Lisboa, o(s) Prologue actuam no palco da Delmax (Rua da Madalena, 237, 1ºDt. (21 879 115), no Porto, exibem-se na Imacústica, Rua Duque de Saldanha, 424 (22 537 73 19). Vá ouvi-los num dia de chuva.

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