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2004

Sons De 2004



Não gosto de colocar no prato da balança todo o trabalho feito durante o ano para depois seleccionar o «Best Of». Só o que tem qualidade à partida é divulgado no Hificlube - não perco tempo com ruins defuntos - motivo por que a opinião final é geralmente positiva. Mas há sempre produtos que ficam «no ouvido». Tal como na cultura, no áudio, «melhor» é o que fica na memória depois de se ter esquecido tudo o que de bom se ouviu durante o ano.


Não pretendo elaborar um guia do comprador com produtos classificados por «estrelinhas» em categorias abertas, onde cabe sempre mais um, para satisfazer distribuidores e condicionar consumidores. Repare-se como as revistas da especialidade «inventam» tantas categorias quantas as necessárias para que ninguém fique de fora: quem não ganha o melhor leitor-CD, ganha o melhor leior-DVD, televisor, amplificador, colunas, etc....


Todos os produtos que analiso são fundamentalmente pretextos para lançar temas, e também porque são representativos de tendências de mercado, de inovação ou evolução tecnológica, e não necessariamente por serem «O Melhor», um comparativo de superioridade que por definição implica ouvir tudo o que está à venda no mercado. A minha escolha é subjectiva (ainda que se reja por parâmetros objectivos), é uma escolha pessoal que os leitores podem seguir, contrariar ou até repudiar; e depende de vontades várias - a minha incluída: nem sempre me apetece ouvir tudo o que me propõem. Contudo, sem a boa vontade dos distribuidores não seria possível dispôr todas as semanas de equipamentos novos para testar.


O equilíbrio entre divulgar (propaganda, publicidade, etc.) e informar (notícias, testes, análises, opiniões, etc.) é precário - a thin red line -, neste como em outros campos da actividade humana, veja-se a alegada promiscuidade entre jornalistas e políticos, árbitros e dirigentes de futebol. São, pois, os meus princípios e convicções, a minha paixão pelo áudio e o apoio dos leitores que me permitem continuar no fio da navalha passados vinte anos, sem nunca renegar gostos e preferências e até cumplicidades. Por vezes, corto-me, e sangro com as injustiças, mas as feridas depressa saram, e sigo o meu caminho, não como líder ou guru, como alguns pretendem, antes aprendendo e sofrendo como elemento activo desta imensa minoria que são os audiófilos portugueses...



OS TEMAS DO ANO



Produtos testados ou divulgados no Hificlube em 2004




1. Highend


É o áudio levado ao extremo, por vezes ao absurdo. Em 2004, Portugal foi palco pela primeira vez de dois concertos inesquecíveis: as exóticas colunas-caracol BW 800 Nautilus (50 000 euros), no Audioshow, e as poderosas Wilson Audio Alexandria X2 (130 000 euros!), nas instalações da Imacústica, que seguiram depois em viagem de núpcias para a Madeira. Deixaram um rasto de corações destroçados - entre eles, o meu. Já houve pelo menos dois candidatos dispostos a pagar o dote da Wilson e outros se perfilam no altar. Mas se pretende casar pelo S. António, as mais modestas Eventus Audio Metis e as Penaudio Rebel, também testadas em 2004 no Hificlube, são mais fáceis de «levar ao colo»...



2. Analógico vs digital



Mais de 20 anos depois da invenção do CD, que já tem dignos sucessores - SACD e DVD-Audio -, o LP continua vivo e de boa saúde e o eterno debate sobre qual soa melhor perdura no tempo ano após ano.



O gira-discos Musical Fidelity M1 e o Rui Borges Reference Turntable foram dignos adversários do Reimyo CDP-777, um leitor-CD de 14 000 euros que prova que há vida na alegada esterilidade marciana da tecnologia digital. Ou do tão esperado Theta Gen VIII. Mas por um décimo do preço pode comprar o Musical Fidelity X-Ray. Ou optar como eu pelo conversor Chord DAC64.



3. Válvulas vs transístores



O que é verdade para LP vs CD é também verdade para válvulas vs transístores. Há mesmo quem diga que só com válvulas é possível reproduzir música de forma «humana». A PrimaLuna, com os modelos Prologue One e Two, tornou mais acessível a tecnologia do vácuo. O amplificador integrado estéreo McIntosh MA2275, um «remake» optimizado do clássico MC275, deixou dentro de mim uma saudade sem fim. O belíssimo leitor-CD Shanling SCD T200C provou que as válvulas podem ser também um festim para os olhos. Os «transistorizados» Audio Analogue Puccini Settanta, Accustic Arts Power 1 e os esotéricos Nagra piramidais mostraram que o reverso da medalha existe e recomenda-se.



4. O poder da imagem



Ao princípio era o som. Hoje a imagem domina o mercado de electrónica de consumo: plasma, LCD, DLP. Qual escolher? E os projectores? Dos sofisticados Sim2 com design italiano ao acessível Hitachi Illumina, o mundo maravilhoso do cinema em sua casa. Anuncia-se o fim dos VCR com gravadores mistos de DVD e disco rígido (HDD) como o Pioneer DVR 720H. E os formatos de alta definição Blu-Ray e HD-DVD ameaçam o DVD convencional.



5. A «universalidade»



Os formatos são tantos (CD,SACD, DVD-Audio, DVD-Video, Dolby Digital, Pro, Xii, DTS, MP3, WMA, etc.) que a solução é ter um único leitor que reproduza tudo. Há dezenas de propostas no mercado. Em 2004, «Sons» seleccionou duas «balizas» que considera representativas: Linn Unidisk SC (tem controlo de volume e pode ser ligado directamente a um amplificador AV): caro mas bom e prático; Denon DVD-2910, progressivo, c/ saída HDMI/DVI e «up-scaler» 720p e 1080i. Basta adicionar um amplificador Denon AVR-2105 e um conjunto de 5.1 colunas, misturar bem e, voilá!, cinema em casa de qualidade e preço acessível.



6.«Design» e «lifestyle»



Elas têm uma palavra a dizer e começam a impor a sua lei, rejeitando a invasão da sala de estar por caixotes horrorosos e uma rede de cabos que mais parece a rede viária de Los Angeles. Os fabricantes sabem dos que elas gostam: coisa giras, com «design» moderno, que ocupam pouco espaço e são fáceis de utilizar. E que toquem bem. para eles não poderem depois implicar com as escolhas delas. O KEF KIT 100 e a Sony DAV LF-1 cumprem todos os requisitos do caderno de encargos matrimonial.



7. Mostras e amostras



Em 2004, «Sons» fez a cobertura integral (que se repetirá em 2005) das CES, de Las Vegas; do HighEnd, de Munique; do Audioshow, de Lisboa; e da apresentação mundial da BW Nautilus New 800 Series, que chegarão a Lisboa no final de Janeiro. Por cá, assistimos aos «concertos» das Sonus Faber Stradivari com os Krell, no Meridien; idem com os Halcro dm10/58, no Marriot; da electrónica Audionet, na Absolut Sound-Video; e da Accustic Arts+Musical Fidelity M1, na Interlux.



We've been around and busy...



Nota: Análises e testes a todos estes equipamentos, além das reportagens referidas profusamente ilustradas numa linguagem acessível, foram publicadas em 2004 no Hificlube. Navegue, vasculhe no caos do Arquivo ou na razão métodica da Pesquisa. Se não encontrar o que procura, contacte-me.


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