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2004

Sony Blu-ray: O Raio Azul Do Futuro



Blu-Ray Pioneer



Não poucas vezes ouvi sistemas de som de tal forma transparentes na reprodução musical que a simples ideia de «voltar atrás» se configurava como um pesadelo. Depois de «ouvir a verdade» tudo o resto soava baço e sem graça. Quem já viveu a experiência conhece bem a sensação de frustração. O mesmo se pode dizer das poucas visitas que ganham acesso ao meu reduto audiófilo. Quase todos partem com juras de que vão atirar a «aparelhagem» pela janela logo que cheguem a casa. Ainda recentemente um incauto amigo, tão leigo quanto alheio aos meandros do «highend», depois de um jantar bem regado, desafiou-me:


«Parece que tens para aí uma «aparelhagem» xpto. Põe lá essa m... a tocar para eu ouvir se é melhor que a minha...»


O tempo era pouco e não dava para uma demonstração completa. Nem era preciso. Escolhi uma única faixa de um único disco das centenas de hipóteses possíveis. Podia ter optado por um vídeo de acção com som a abrir e a imagem projectada num ecrã gigante pelos padrões domésticos. Impressiona sempre. Mas não. Coloquei na gaveta do leitor-Universal Linn Unidisk SC o segundo disco da excelente trilogia SACD/DVD de «Goodbye Yellow Brick Road», de Elton John, justamente considerada como a melhor edição SACD de 2004, e seleccionei a faixa 13, «Candle in The Wind» (versão minimalista: voz, guitarra, coros). O Unidisk SC, cujo teste está em fase adiantada, pode ser ligado directamente a um amplificador multicanal, pois tem controlo de volume independente, preservando assim a transparência do sinal original. Assim fiz com o Krell Showcase a atacar por sua vez uma bateria de colunas Martin Logan.


Apaguei as luzes e, quando Elton John lhe apareceu «à frente dos olhos», como se tivesse sido «transportado» dos anos setenta por um feixe da nave Enterprise, ele deu um salto e exclamou: «Não acredito no que estou a ouvir! E eu que tenho este disco em casa há anos...». Não valia a pena explicar que não era o «mesmo disco». A ideia tinha obviamente passado. De forma clara e transparente.
Blu-Ray da Sony, em Las Vegas 2002



CAVIAR VIDEO

A simples visão das potencialidades do Blu-Ray, em certames como a CES, de Las Vegas, também me deixa frustrado e num estado de ansiedade. Em especial quando nos «intervalos» sou obrigado a sobreviver com uma dieta de DVD. Para quem «come» habitualmente na cantina da TVCabo, a imagem de um DVD é uma iguaria. Quando se prova o «caviar» Blu-Ray percebe-se contudo que o DVD não passa de pasta de sardinha. A imagem de alta definição do Blu-Ray não é apenas mais «colorida» (no bom sentido) e mais nítida, é mais real e tem mais produndidade. Tanta que parece 3D aos nossos olhos. E é, sobretudo, mais estável, mais repousante: o cérebro não precisa de compor o ramalhete do MPEG, está lá tudo. Pouco e pouco habituamo-nos de tal forma à qualidade da imagem que passamos a considerá-la «normal». Até que somos de novo confrontados com a imagem do DVD convencional, e só então compreendemos o que temos andado a perder. E vamos continuar porque o Blu-Ray ainda não está à venda. Talvez em Abril de 2005. Para já a Sony distribuiu meia-dúzia de aparelhos por outras tantas lojas seleccionadas para nos fazer crescer água na boca. Um deles aterrou na Pedro's Hifi, no Palmeiras Shopping, em Oeiras. Pode lá ir vê-lo em acção sem compromisso até porque não está à venda. Filmes não há. Apenas o fabuloso material de demonstração da Sony filmado com câmaras de alta definição: paisagens, flores, casas, pessoas que nos entram pelos olhos dentro. No dia não muito longínquo em que Hollywood autorizar a edição de filmes em HD passaremos a dispor pela primeira vez, tal como já acontece com o som, de melhor imagem em casa que no cinema.



GRAVAR HDTV

O Sony Blu-Ray BDZ S77 também grava e reproduz DVD ( e CD), mas é a sua capacidade para gravar directamente da HDTV que o torna tão desejado nos EUA. Pérolas a porcos para quem como eu é servido pelo sinal da TVCabo. A não ser que se inscreva no Euro 1080 para receber por satélite imagens em alta definição.


Se o bom senso imperar, o Blu-Ray pode ainda tornar-se num novo formato áudio superior ao SACD. Um único disco pode conter a integral das Sinfonias de Beethoven em alta resolução e com um sistema anticópia impenetrável. Ora isto é ouro sobre azul para as editoras. E deve bastar para levar de vencida o concorrente Blue Laser (HD DVD) proposto pela Toshiba e imposto pelo DVD Forum que, tal como DVD Audio, só serve para chatear e confundir os consumidores.


Nota: Há cinco anos que os leitores de «Sons» sabem da existência do Blu-Ray. Mas a sua chegada a Portugal impunha que se voltasse ao assunto.



Blu-Ray da Samsung


O QUE É O BLU-RAY?

Também conhecido como BD (Blu-Ray Disc) é a nova geração de disco óptico concebido pela Sony/Philips e um consórcio das maiores empresas produtoras de electrónica de consumo e informática (Dell, Hitachi, Hewlett-Packard, LG, Mitsubishi, Panasonic, Pioneer, Samsung, Sharp, TDK e Thomson). À vista desarmada não se distingue do CD e do DVD e foi desenvolvido para permitir ao consumidor gravar directamente e reproduzir as emissões de HDTV. Assim o Blu-Ray grava 2 horas de HDTV e 13 horas de SDTV (sinal standard) num disco de 25GB com uma única face gravável (o DVD tem apenas 4,5 GB). A Sony tem já em desenvolvimento um disco com a capacidade de 50GB (face simples, camada dupla).


Esta extraordinária capacidade de armazenamento obtém-se com a utilização de lasers de luz azul (violeta), com menor comprimento de onda e tão finos que podem registar e ler marcas ultramicroscópicas na superfície do disco contendo 5 a 10 vezes mais informação que os DVD convencionais. A velocidade de transferência de dados (36Mbps) é tão elevada que permite gravar e reproduzir simultaneamente. As primeiras drives para utilização informática e as especificações do BD-ROM foram recentemente aprovadas. Só falta Hollywood dar o seu aval depois de ultrapassar o fundado receio de colocar no mercado uma cópia digital perfeita da matriz original do filme. Tão perfeita, aliás, que os filmes um dia vão chegar aos cinemas num simples disco para serem projectados...

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