Não tenham medo que eu não mordo, e como é fácil comprovar publiquei todas as opiniões na integra, mesmo aquelas que são contrárias à minha. Com excepção de John Atkinson, da Stereophile, conheço muito poucos editores que façam o mesmo.
A verdade é que se considerarmos os milhares de entradas na página do Hificlube, que se traduziram em dezenas de milhares de pageviews, logo nos dias que se seguiram ao Audioshow, mesmo tendo em conta que algumas centenas foram de países estrangeiros, com os EUA em primeiro lugar, seguido à distância pelo Japão (mas como é que estes tipos me lêem?!...) apenas 23 leitores participaram na nossa iniciativa, apesar do aliciante da oferta o SACD de Elton John. E contudo, pode considerar-se uma amostragem representativa, até pelo facto de ser genuína: todos os participantes estão identificados e enviaram o seu endereço pessoal para poderem receber o prémio respectivo, e a diferença de opiniões só prova que não se tratou de uma jogada de bastidores - sabe-se como a coberto do anonimato na net vale de tudo...
Recebi, entretanto, dezenas de outros emails, com elogios, críticas, cunhas, pedidos de ajuda e de sujestões para compra, troca, venda e empréstimo de equipamentos, e até encontros para audições personalizadas, como acontece sempre ao longo do ano, além de opiniões avulsas sobre o Audioshow, mas essas não contam. Tinham de ter minimamente a forma de um reportagem ou opinião sobre a reportagem do Hificlube. Houve até um leitor que escreveu dizendo, e cito:
“Infelizmente não me pude deslocar ao Audioshow, pelo que não posso fazer uma análise critica dos equipamentos lá demonstrados. Mas como sou um grande adepto de Elton John, gostaria de saber se era possível eu receber na mesma o CD?...”
É preciso lata, hã? Tanta, aliás, que estou tentado a oferecer-lhe o disco mesmo assim...
E passo a transcrever o texto que publiquei em 11 de Novembro de 2005 no Diário de Notícias/DN Música (abrir pdf clicando no ícone no início da página para ver original):
Afinal o Audioshow 2005 foi uma agradável surpresa, foi o regresso ao áudio em dois canais estéreo com fontes analógicas em detrimento do av-surround.
Como sempre houve também polémica, e quem, perante uma mesma realidade, conseguisse ouvir coisas completamente diferentes. Neste contexto, a participação activa de muitos leitores do Hificlube merecia uma análise sociológica (e psicológica). Como é possível haver reacções tão díspares, em relação à qualidade de um mesmo sistema de som, ao ponto de ser considerado como “o melhor” e “o pior”? Por vezes, pela mesma pessoa!...
O email do leitor Marco Ferreira (para quem vai o SACD de Bob Dylan!!) põe o dedo na ferida quanto a esta questão:
“A audiofilia, no meu entender, move-se nos terrenos movediços da subjectividade em que estão mergulhadas muitas artes, como a pintura, a literatura ou a própria música. Por alguma razão não se chama audiologia!...
Numa situação de audição como o Audioshow, este aspecto é ainda mais aparente. Como é possível exprimirmo-nos em relação a um dado elemento do sistema em separado? Aquilo que ouvimos depende de incontáveis variáveis: do leitor de CD/vinil, dos cabos de ligação, do pré-amplificador, do amplificador, das colunas, dos próprios discos utilizados, das características acústicas da sala...
E, acima de tudo, dos aspectos afectivos/emocionais que compõem as nossas ideias pré-concebidas acerca deste ou daquele leitor, amplificador ou coluna. Não controlando uma só variável desta equação, até a simpatia dos expositores, a qualidade das salas e o calor influenciam o nosso juízo e interpretação do que ouvimos. Assim, a minha avaliação global é muito subjectiva e provavelmente discordante de muitos outros visitantes do Audioshow”.
Imacústica: Krell Evolution/Wilson Alexandria:13 referências positivas; 4 negativas; 5 referências como melhor som
De facto, Marco Ferreira não podia ter mais razão. A discordância foi tanto mais evidente quanto mais caro era o equipamento. O sistema Wilson+Krell (+13-4/5) representava aqui o “imperialismo” americano e a supremacia tecnológica (o poder de fogo também!), pelo que, tal como Bush, suscitou amores e ódios. Contudo, e apesar de não ser isento de críticas, em alguns aspectos da reprodução sonora, é inegável que foi o único sistema em exibição que conseguiu reproduzir orquestras sinfónicas à escala real e outros tipos de música a níveis de concerto ao vivo. Acontece que a verdade por vezes dói...
Absolut: McIntosh/Tannoy: 9 referências positivas; 6 negativas; 3 referências como melhor som
Reimyo/Nagra/Vivid: 15 referências positivas; 3 negativas; 5 referências como melhor som
Imacústica 2: Krell/Jadis/Martin Logan: 6 referências positivas; 1 negativa; 1 referência como melhor som
Outros sistemas houve que, aproximando-se embora do estado da arte actual, e reproduzindo som com excepcional qualidade, não escaparam contudo a opiniões divergentes: Audiovector+Gamut (+1-2); BW/Classé (+9-1), Tannoy/McIntosh (+9-6/3), Martin-Logan/Krell/Jadis (+6-1/1), Linn (+2-3), Von Schweikert/Naim (+5-4), ATC/Lexicon (+1) Wilson Benesch/Ayre/dCS (+3-3/1) e Vivid+Nagra (+15-3/5), sendo este último mais consensual na área da acústica que na área da estética.
A divergência é saudável e só prova que não há um “som absoluto” apenas “sons” que tendem a convergir para o “absoluto”, leia-se, música reproduzida ao vivo sem amplificação. Será então a crítica áudio uma actividade que se baseia apenas em subjectividades várias sem que sejam sequer pautadas por parâmetros objectivos? Não creio. Quase todas as opiniões expressas pelos leitores se fundamentaram nos mesmos aspectos comuns da reprodução sonora. O que varia é o grau da importância que cada um lhes atribui. E também o contexto em que a audição se verificou: qual a posição (e predisposição) do ouvinte em relação ao sistema, quais os discos, qual o ambiente, etc.
Delmax: RB Ultimo/PrimaLuna/Sonus Faber Grand Domus: 11 referências positivas; 2 negativas
Delaudio: Roksan/Esoteric/Advance/Monitor Audio: 8 referências positivas
Assim, foi curioso verificar como o nível da polémica baixou na razão directa da acessibilidade do sistema, justificando a fábula da raposa e das uvas. Sistemas como Sonus Faber/PrimaLuna, tendo como fonte o gira-discos Rui Borges “Ultimo” (+10), Monitor Audio/Advance Acoustics (+8) e Amphion/Belcanto (+4-2), talvez por não serem candidatos ao pódio, acabaram por recolher a simpatia dos visitantes. O caso mais paradigmático é o do conjunto NAD/Anthony Gallo Nucleus Micro (+4) exibido, com evidente agrado e surpresa dos passantes, em espaço aberto.
Digisom: McIntosh/Denon/Tannoy: 3 referências positivas para a imagem; 2 negativas e 1 positiva para o som
A Digisom, com colaboração da Videoacústica, apresentou um fabuloso sistema AV, com projector Sim C3X, processamento Denon, amplificação McIntosh e colunas Tannoy (+3-2+1), que se mostrou capaz do melhor (excepcional reprodução de imagem e som do episódio “Echo Game”, do filme chinês “The House of the Flying Daggers”) e do pior (excessiva ressonância dos graves), por eventual erro de afinação dos subwoofers ou má acústica da sala. Também na área do vídeo, a SoundEclipse projectou imagens de alta definição (Projection Design) e reproduziu som de alta qualidade com amplificação Audionet e colunas Vienna Acoustics/Usher da AudioElite (+4/+3 imagem).
Uma menção especial para a presença de construtores nacionais num certame onde impera o material importado: JGAudio (+1-3/1 vinilo), de José Gomes, com várias linhas de prévios e amplificadores; e o extraordinário gira-discos “Ultimo Reference”, que Rui Borges (Delmax) constrói por encomenda “à mão”, peça a peça. Um projecto que evoluiu ao longo dos anos, de tal modo que se tornou uma extensão de seu próprio criador.
Nota: Entre parênteses as opiniões positivas e negativas, seguindo-se o número de referência como melhor som. Se considerarmos (numa análise sem rigor científico), apenas a vertente quantitativa e a relação entre positivos e negativos a Ajasom/Nagra/Vivid foi a mais votada com 12 pontos; seguindo-se a Imacústica/Krell/Wilson com 9; Delmax/PrimaLUna/Sonus Faber com 9; Delaudio/Advance/Monitor Audio com 8 e ArtAudio Classé/BW também 8. Krell/Wilson e Nagra/Vivid foram ambas 5 vezes referenciadas como 'Melhor Som'.
A verdade é que se considerarmos os milhares de entradas na página do Hificlube, que se traduziram em dezenas de milhares de pageviews, logo nos dias que se seguiram ao Audioshow, mesmo tendo em conta que algumas centenas foram de países estrangeiros, com os EUA em primeiro lugar, seguido à distância pelo Japão (mas como é que estes tipos me lêem?!...) apenas 23 leitores participaram na nossa iniciativa, apesar do aliciante da oferta o SACD de Elton John. E contudo, pode considerar-se uma amostragem representativa, até pelo facto de ser genuína: todos os participantes estão identificados e enviaram o seu endereço pessoal para poderem receber o prémio respectivo, e a diferença de opiniões só prova que não se tratou de uma jogada de bastidores - sabe-se como a coberto do anonimato na net vale de tudo...
Recebi, entretanto, dezenas de outros emails, com elogios, críticas, cunhas, pedidos de ajuda e de sujestões para compra, troca, venda e empréstimo de equipamentos, e até encontros para audições personalizadas, como acontece sempre ao longo do ano, além de opiniões avulsas sobre o Audioshow, mas essas não contam. Tinham de ter minimamente a forma de um reportagem ou opinião sobre a reportagem do Hificlube. Houve até um leitor que escreveu dizendo, e cito:
“Infelizmente não me pude deslocar ao Audioshow, pelo que não posso fazer uma análise critica dos equipamentos lá demonstrados. Mas como sou um grande adepto de Elton John, gostaria de saber se era possível eu receber na mesma o CD?...”
É preciso lata, hã? Tanta, aliás, que estou tentado a oferecer-lhe o disco mesmo assim...
E passo a transcrever o texto que publiquei em 11 de Novembro de 2005 no Diário de Notícias/DN Música (abrir pdf clicando no ícone no início da página para ver original):
Afinal o Audioshow 2005 foi uma agradável surpresa, foi o regresso ao áudio em dois canais estéreo com fontes analógicas em detrimento do av-surround.
Como sempre houve também polémica, e quem, perante uma mesma realidade, conseguisse ouvir coisas completamente diferentes. Neste contexto, a participação activa de muitos leitores do Hificlube merecia uma análise sociológica (e psicológica). Como é possível haver reacções tão díspares, em relação à qualidade de um mesmo sistema de som, ao ponto de ser considerado como “o melhor” e “o pior”? Por vezes, pela mesma pessoa!...
O email do leitor Marco Ferreira (para quem vai o SACD de Bob Dylan!!) põe o dedo na ferida quanto a esta questão:
“A audiofilia, no meu entender, move-se nos terrenos movediços da subjectividade em que estão mergulhadas muitas artes, como a pintura, a literatura ou a própria música. Por alguma razão não se chama audiologia!...
Numa situação de audição como o Audioshow, este aspecto é ainda mais aparente. Como é possível exprimirmo-nos em relação a um dado elemento do sistema em separado? Aquilo que ouvimos depende de incontáveis variáveis: do leitor de CD/vinil, dos cabos de ligação, do pré-amplificador, do amplificador, das colunas, dos próprios discos utilizados, das características acústicas da sala...
E, acima de tudo, dos aspectos afectivos/emocionais que compõem as nossas ideias pré-concebidas acerca deste ou daquele leitor, amplificador ou coluna. Não controlando uma só variável desta equação, até a simpatia dos expositores, a qualidade das salas e o calor influenciam o nosso juízo e interpretação do que ouvimos. Assim, a minha avaliação global é muito subjectiva e provavelmente discordante de muitos outros visitantes do Audioshow”.
Imacústica: Krell Evolution/Wilson Alexandria:13 referências positivas; 4 negativas; 5 referências como melhor som
De facto, Marco Ferreira não podia ter mais razão. A discordância foi tanto mais evidente quanto mais caro era o equipamento. O sistema Wilson+Krell (+13-4/5) representava aqui o “imperialismo” americano e a supremacia tecnológica (o poder de fogo também!), pelo que, tal como Bush, suscitou amores e ódios. Contudo, e apesar de não ser isento de críticas, em alguns aspectos da reprodução sonora, é inegável que foi o único sistema em exibição que conseguiu reproduzir orquestras sinfónicas à escala real e outros tipos de música a níveis de concerto ao vivo. Acontece que a verdade por vezes dói...
Absolut: McIntosh/Tannoy: 9 referências positivas; 6 negativas; 3 referências como melhor som
Reimyo/Nagra/Vivid: 15 referências positivas; 3 negativas; 5 referências como melhor som
Imacústica 2: Krell/Jadis/Martin Logan: 6 referências positivas; 1 negativa; 1 referência como melhor som
Outros sistemas houve que, aproximando-se embora do estado da arte actual, e reproduzindo som com excepcional qualidade, não escaparam contudo a opiniões divergentes: Audiovector+Gamut (+1-2); BW/Classé (+9-1), Tannoy/McIntosh (+9-6/3), Martin-Logan/Krell/Jadis (+6-1/1), Linn (+2-3), Von Schweikert/Naim (+5-4), ATC/Lexicon (+1) Wilson Benesch/Ayre/dCS (+3-3/1) e Vivid+Nagra (+15-3/5), sendo este último mais consensual na área da acústica que na área da estética.
A divergência é saudável e só prova que não há um “som absoluto” apenas “sons” que tendem a convergir para o “absoluto”, leia-se, música reproduzida ao vivo sem amplificação. Será então a crítica áudio uma actividade que se baseia apenas em subjectividades várias sem que sejam sequer pautadas por parâmetros objectivos? Não creio. Quase todas as opiniões expressas pelos leitores se fundamentaram nos mesmos aspectos comuns da reprodução sonora. O que varia é o grau da importância que cada um lhes atribui. E também o contexto em que a audição se verificou: qual a posição (e predisposição) do ouvinte em relação ao sistema, quais os discos, qual o ambiente, etc.
Delmax: RB Ultimo/PrimaLuna/Sonus Faber Grand Domus: 11 referências positivas; 2 negativas
Delaudio: Roksan/Esoteric/Advance/Monitor Audio: 8 referências positivas
Assim, foi curioso verificar como o nível da polémica baixou na razão directa da acessibilidade do sistema, justificando a fábula da raposa e das uvas. Sistemas como Sonus Faber/PrimaLuna, tendo como fonte o gira-discos Rui Borges “Ultimo” (+10), Monitor Audio/Advance Acoustics (+8) e Amphion/Belcanto (+4-2), talvez por não serem candidatos ao pódio, acabaram por recolher a simpatia dos visitantes. O caso mais paradigmático é o do conjunto NAD/Anthony Gallo Nucleus Micro (+4) exibido, com evidente agrado e surpresa dos passantes, em espaço aberto.
Digisom: McIntosh/Denon/Tannoy: 3 referências positivas para a imagem; 2 negativas e 1 positiva para o som
A Digisom, com colaboração da Videoacústica, apresentou um fabuloso sistema AV, com projector Sim C3X, processamento Denon, amplificação McIntosh e colunas Tannoy (+3-2+1), que se mostrou capaz do melhor (excepcional reprodução de imagem e som do episódio “Echo Game”, do filme chinês “The House of the Flying Daggers”) e do pior (excessiva ressonância dos graves), por eventual erro de afinação dos subwoofers ou má acústica da sala. Também na área do vídeo, a SoundEclipse projectou imagens de alta definição (Projection Design) e reproduziu som de alta qualidade com amplificação Audionet e colunas Vienna Acoustics/Usher da AudioElite (+4/+3 imagem).
Uma menção especial para a presença de construtores nacionais num certame onde impera o material importado: JGAudio (+1-3/1 vinilo), de José Gomes, com várias linhas de prévios e amplificadores; e o extraordinário gira-discos “Ultimo Reference”, que Rui Borges (Delmax) constrói por encomenda “à mão”, peça a peça. Um projecto que evoluiu ao longo dos anos, de tal modo que se tornou uma extensão de seu próprio criador.
Nota: Entre parênteses as opiniões positivas e negativas, seguindo-se o número de referência como melhor som. Se considerarmos (numa análise sem rigor científico), apenas a vertente quantitativa e a relação entre positivos e negativos a Ajasom/Nagra/Vivid foi a mais votada com 12 pontos; seguindo-se a Imacústica/Krell/Wilson com 9; Delmax/PrimaLUna/Sonus Faber com 9; Delaudio/Advance/Monitor Audio com 8 e ArtAudio Classé/BW também 8. Krell/Wilson e Nagra/Vivid foram ambas 5 vezes referenciadas como 'Melhor Som'.