Talvez houvesse mais “respeitinho”, que é sempre “bonito” e, admito, mais segurança nas ruas. Mas, tal como na política, ao nível do áudio as escolhas eram muito limitadas. Na clandestinidade, havia, claro, quem tivesse outras opções. Até eu construía no segredo da minha garagem colunas de som e amplificadores com peças importadas à candonga da Wimslow Audio. E se aquilo soava bem. Era um pouco como o discurso dos políticos exilados, que, lá de fora, criticavam o que se ouvia cá dentro.
Deu-se o 25 de Abril e passámos a ter de tudo em catadupa: políticos, colunas de som, partidos, amplificadores, comícios e audioshows. Do grau zero da política e da audiofilia, passou-se para a inflação galopante da oferta. Há hoje em Portugal políticos a mais, partidos a mais e mais marcas que consumidores potenciais. Do deslumbramento inicial até à desilusão foi um passo. Os políticos, como os críticos de áudio, são todos vistos como uns corruptos, embora haja também quem lhes elogie o discurso, a escrita e a isenção; os partidos, como as marcas, atropelam-se e confundem-se e a globalização acabou com as ideologias: agora é tudo feito na China sociocapitalista. Ah, como era tudo mais romântico no tempo do MRPP. E pensar que Durão e JG são agora presidentes europeus...
Não há fome que não dê em fartura. Os audiófilos portugueses, que, há 30 anos, achavam que um rádio a pilhas era o máximo, assumem agora um ar enfastiado de quem tem a barriga cheia, quando se referem às Wilson Alexandria, e criticam o som das Tannoy Westminster Prestige, como se fossem caixotes de sabão. Como se já não houvesse nada de importante para reflectir no discurso dos mais ilustres políticos, ou para ouvir nos melhores sistemas de som do mundo. Passámos do oito ao oitenta. Cuidado, amigos, um dia podemos perder a liberdade de escolha. Política e económica. Os bons distribuidores, tal como os bons políticos (?), desanimam e atiram a toalha ao tapete. E lá voltamos à fase das cavernas, isto é, da garagem clandestina. Gozem enquanto é tempo. Porque vejo cada vez menos gente nos comícios e nos audioshows. E eis que um belo dia aparece um 'Iluminado' que acha todos os sons são potencialmente subversivos e que só se deve adorar a Imagem...
Neste contexto, o Audioshow 2005 foi uma agradável surpresa: os distribuidores apostaram sobretudo no áudio em dois canais, o que prova que os dirigentes afinal ouvem o povo e são influenciados pelos media. Eu não vejo mal nenhum em bipolarizar a política. É o excesso de ruído à volta das questões importantes que me incomoda...
FAÇA-SE LUZ SOBRE O VERBO
Ainda é cedo para dizer com absoluta certeza que o som tal era bom ou mau, melhor ou pior do que este ou aquele, ou apenas assim assim. Estou na fase “esvoaçante”: entro, oiço, converso, fotografo, saio e deixo o cérebro assimilar lentamente os estímulos visuais e acústicos, na esperança de que, no acto da escrita, deixe transparecer as impressões indeléveis de uma visita breve, de simples cortesia, um cumprimento amigo, uma palavra de apoio, e também um comentário ou outro mais ácido e acintoso. Talvez se...e se fizesse antes assim... quem sabe...Isso mesmo, quem sabe se também eu posso dizer amanhã o contrário do que disse hoje. Tal como na política, é preciso ter a coragem para assumir que nos enganámos. Ou que temos razão até alguém nos provar que estamos errados. É por isso que eu gostava que os leitores dissessem de sua justiça. Gostei, não gostei. Preto no branco. Assinado por baixo. Mandem que eu publico (dentro dos limites da decência e do “respeitinho”). E ganhem um SACD triplo do Elton John. While they last...
ABSOLUT SOUND/VISION
Carlos Delgado apresentou-se aos comandos de um mito: as Tannoy Prestige Westminster, com um supertweeter qual cereja no enorme bolo de noiva, alimentadas por McIntosh MC 1201/C2200. Na fonte, o leitor-CD Dirondo, da Ensemble, que volta assim ao nosso convívio, agora pela mão de Pestana Audio. E pensar que o japoneses, que vivem em caixas de fósforos, adoram estes “monstros”. Discos duros nos registos médios fazem realçar os maus instintos da “corneta” acústica interna que dinamiza os graves. Mas os “sete véus” de Strauss, pintados pela mão de mestre Keith Johnson (Reference), esvoaçaram sublimes, numa sala que, afinal, não é tão má como a pintam, tudo depende do que se põe lá dentro...
AJASOM
Muito bem a sala das Wilson Benesch a soarem melhor que nunca com fontes dCS e amplificação Ayre.
Ajasom/Vivid (no primeiro plano, um leitor lê o meu teste ao Reimyo CDP777; à esquerda o mestre de cerimónias João Jarego
Linda de morrer, digna do grande Tutankamon, a sala das Vivid exibindo-se à sombra das pirâmides da Nagra, sob o olhar atento do Reimyo CDP777. Terei de lá voltar para escavar em busca do tesouro escondido, que eu sei que lá está. Com calma como quem desce o Nilo numa jangada. E para ter o prazer de conversar com João Jarego aka Vermeer. Que não é o Caronte que pretenderam fazê-lo ser. Emocional. Sensível. Conhecedor. Sooner than later teremos um novo “mestre” demonstrador. Ou dois? JoeKool andava por lá também...
ARTAUDIO
O Alberto e as BW802. Uma relação amorosa. De respeito mútuo e compreensão. Não são as Nautilus, sabemo-lo bem. Mas o som, energizado pela Classé com um CDP 300 na linha da frente, directamente ligado aos monoblocos CAM 400, por cabos balanceados Harmonic Technology, sem prévio de permeio, surgiu cheio, encorpado, sem sombra de pecado no brilho acetinado do diamante. Que afinal não são só os melhores amigos delas. Também são nossos amigos. E dos nossos ouvidos.
DELAUDIO
Rodeado de plasmas Hitachi por todos os lados, Delfim Yanez estava feliz. O homem que nos trouxe os Pass e os Pathos, descobriu agora uma marca de amplificadores “highend” com preços “lowend”. São montados na China, claro. Mas foram educados na França. Advance de seu nome vão dar que falar. Menos de €800 por um amplificador integrado com esta qualidade de construção vai deixar a concorrência à beira de um ataque de nervos. C'est incroyable! Je le jure...
DELMAX
Com um LP de uma big band a rodar no prato do “seu” giradiscos e os PrimaLuna Three/Five a atacar as SF Grand Piano Domus, o Rui Borges ofereceu-me numa bandeja a maior largura de palco que já ouvi num sistema de preço razoável. É que não basta afastar as colunas entre si para “alargar” o palco. A verdadeira largura não se mede no espaço entre as colunas mas no espaço “fora das colunas”. E eu ouvi sons que soaram distintamente “para lá” das colunas. Ainda há estrelas no céu, e no palco da Delmax também...
IMACÚSTICA
Para mim a única surpresa (ou talvez não, a avaliar pela minha crítica positiva) foi a opção pelo SACD Standard como fonte, tendo em exposição estática o Audio Research CD7 que, dizem-me fontes fidedignas, é o melhor leitor-CD do mundo e arredores. De resto, sobre o duo Krell Evolution/Wilson Alexandria, já disse quase tudo o que tinha a dizer. Que estas colunas respondam deste modo a toda e qualquer variação a montante e a jusante (sala) só prova que o único limite delas não reside na minha capacidade crítica, mas algures na minha capacidade financeira. Voltarei ao assunto. Aconselho-os a fazer o mesmo. Não é todos os dias que se ouve um sistema destes de borla. E já podia ter sido assim o ano passado, se não fosse a dança (ou será a guerra?) das salas...
Quanto às Martin Logan Summit, só tive tempo de lá ir acima para as fotografar. Mal posso esperar o momento de lhes meter as mãos em cima. Volto lá amanhã. That's for sure.
JM AUDIO
Finalmente, os BelCanto chegaram à lusitana praia. Longa foi a viagem, desde o saudoso tempo dos amplificadores SE com válvulas 845. A aposta agora é na amplificação digital. Tripath ou Ice eis a questão? But there's no going back, garantiu-me John Stronczer, em Las Vegas. O José Martins queria tanto os BelCanto que eu mandei ao John uma carta de recomendação. Em boa hora o fiz, o Zé merece.
TRANSOM
Aposta integral na Linn. Sem tibiezas. Sem coligações. Da linha Komponent às poderosas Artikulat 350. Dos Classik aos Klimax. Tudo com K, que a genética também conta nestas coisas...
Deu-se o 25 de Abril e passámos a ter de tudo em catadupa: políticos, colunas de som, partidos, amplificadores, comícios e audioshows. Do grau zero da política e da audiofilia, passou-se para a inflação galopante da oferta. Há hoje em Portugal políticos a mais, partidos a mais e mais marcas que consumidores potenciais. Do deslumbramento inicial até à desilusão foi um passo. Os políticos, como os críticos de áudio, são todos vistos como uns corruptos, embora haja também quem lhes elogie o discurso, a escrita e a isenção; os partidos, como as marcas, atropelam-se e confundem-se e a globalização acabou com as ideologias: agora é tudo feito na China sociocapitalista. Ah, como era tudo mais romântico no tempo do MRPP. E pensar que Durão e JG são agora presidentes europeus...
Não há fome que não dê em fartura. Os audiófilos portugueses, que, há 30 anos, achavam que um rádio a pilhas era o máximo, assumem agora um ar enfastiado de quem tem a barriga cheia, quando se referem às Wilson Alexandria, e criticam o som das Tannoy Westminster Prestige, como se fossem caixotes de sabão. Como se já não houvesse nada de importante para reflectir no discurso dos mais ilustres políticos, ou para ouvir nos melhores sistemas de som do mundo. Passámos do oito ao oitenta. Cuidado, amigos, um dia podemos perder a liberdade de escolha. Política e económica. Os bons distribuidores, tal como os bons políticos (?), desanimam e atiram a toalha ao tapete. E lá voltamos à fase das cavernas, isto é, da garagem clandestina. Gozem enquanto é tempo. Porque vejo cada vez menos gente nos comícios e nos audioshows. E eis que um belo dia aparece um 'Iluminado' que acha todos os sons são potencialmente subversivos e que só se deve adorar a Imagem...
Neste contexto, o Audioshow 2005 foi uma agradável surpresa: os distribuidores apostaram sobretudo no áudio em dois canais, o que prova que os dirigentes afinal ouvem o povo e são influenciados pelos media. Eu não vejo mal nenhum em bipolarizar a política. É o excesso de ruído à volta das questões importantes que me incomoda...
FAÇA-SE LUZ SOBRE O VERBO
Ainda é cedo para dizer com absoluta certeza que o som tal era bom ou mau, melhor ou pior do que este ou aquele, ou apenas assim assim. Estou na fase “esvoaçante”: entro, oiço, converso, fotografo, saio e deixo o cérebro assimilar lentamente os estímulos visuais e acústicos, na esperança de que, no acto da escrita, deixe transparecer as impressões indeléveis de uma visita breve, de simples cortesia, um cumprimento amigo, uma palavra de apoio, e também um comentário ou outro mais ácido e acintoso. Talvez se...e se fizesse antes assim... quem sabe...Isso mesmo, quem sabe se também eu posso dizer amanhã o contrário do que disse hoje. Tal como na política, é preciso ter a coragem para assumir que nos enganámos. Ou que temos razão até alguém nos provar que estamos errados. É por isso que eu gostava que os leitores dissessem de sua justiça. Gostei, não gostei. Preto no branco. Assinado por baixo. Mandem que eu publico (dentro dos limites da decência e do “respeitinho”). E ganhem um SACD triplo do Elton John. While they last...
ABSOLUT SOUND/VISION
Carlos Delgado apresentou-se aos comandos de um mito: as Tannoy Prestige Westminster, com um supertweeter qual cereja no enorme bolo de noiva, alimentadas por McIntosh MC 1201/C2200. Na fonte, o leitor-CD Dirondo, da Ensemble, que volta assim ao nosso convívio, agora pela mão de Pestana Audio. E pensar que o japoneses, que vivem em caixas de fósforos, adoram estes “monstros”. Discos duros nos registos médios fazem realçar os maus instintos da “corneta” acústica interna que dinamiza os graves. Mas os “sete véus” de Strauss, pintados pela mão de mestre Keith Johnson (Reference), esvoaçaram sublimes, numa sala que, afinal, não é tão má como a pintam, tudo depende do que se põe lá dentro...
AJASOM
Muito bem a sala das Wilson Benesch a soarem melhor que nunca com fontes dCS e amplificação Ayre.
Ajasom/Vivid (no primeiro plano, um leitor lê o meu teste ao Reimyo CDP777; à esquerda o mestre de cerimónias João Jarego
Linda de morrer, digna do grande Tutankamon, a sala das Vivid exibindo-se à sombra das pirâmides da Nagra, sob o olhar atento do Reimyo CDP777. Terei de lá voltar para escavar em busca do tesouro escondido, que eu sei que lá está. Com calma como quem desce o Nilo numa jangada. E para ter o prazer de conversar com João Jarego aka Vermeer. Que não é o Caronte que pretenderam fazê-lo ser. Emocional. Sensível. Conhecedor. Sooner than later teremos um novo “mestre” demonstrador. Ou dois? JoeKool andava por lá também...
ARTAUDIO
O Alberto e as BW802. Uma relação amorosa. De respeito mútuo e compreensão. Não são as Nautilus, sabemo-lo bem. Mas o som, energizado pela Classé com um CDP 300 na linha da frente, directamente ligado aos monoblocos CAM 400, por cabos balanceados Harmonic Technology, sem prévio de permeio, surgiu cheio, encorpado, sem sombra de pecado no brilho acetinado do diamante. Que afinal não são só os melhores amigos delas. Também são nossos amigos. E dos nossos ouvidos.
DELAUDIO
Rodeado de plasmas Hitachi por todos os lados, Delfim Yanez estava feliz. O homem que nos trouxe os Pass e os Pathos, descobriu agora uma marca de amplificadores “highend” com preços “lowend”. São montados na China, claro. Mas foram educados na França. Advance de seu nome vão dar que falar. Menos de €800 por um amplificador integrado com esta qualidade de construção vai deixar a concorrência à beira de um ataque de nervos. C'est incroyable! Je le jure...
DELMAX
Com um LP de uma big band a rodar no prato do “seu” giradiscos e os PrimaLuna Three/Five a atacar as SF Grand Piano Domus, o Rui Borges ofereceu-me numa bandeja a maior largura de palco que já ouvi num sistema de preço razoável. É que não basta afastar as colunas entre si para “alargar” o palco. A verdadeira largura não se mede no espaço entre as colunas mas no espaço “fora das colunas”. E eu ouvi sons que soaram distintamente “para lá” das colunas. Ainda há estrelas no céu, e no palco da Delmax também...
IMACÚSTICA
Para mim a única surpresa (ou talvez não, a avaliar pela minha crítica positiva) foi a opção pelo SACD Standard como fonte, tendo em exposição estática o Audio Research CD7 que, dizem-me fontes fidedignas, é o melhor leitor-CD do mundo e arredores. De resto, sobre o duo Krell Evolution/Wilson Alexandria, já disse quase tudo o que tinha a dizer. Que estas colunas respondam deste modo a toda e qualquer variação a montante e a jusante (sala) só prova que o único limite delas não reside na minha capacidade crítica, mas algures na minha capacidade financeira. Voltarei ao assunto. Aconselho-os a fazer o mesmo. Não é todos os dias que se ouve um sistema destes de borla. E já podia ter sido assim o ano passado, se não fosse a dança (ou será a guerra?) das salas...
Quanto às Martin Logan Summit, só tive tempo de lá ir acima para as fotografar. Mal posso esperar o momento de lhes meter as mãos em cima. Volto lá amanhã. That's for sure.
JM AUDIO
Finalmente, os BelCanto chegaram à lusitana praia. Longa foi a viagem, desde o saudoso tempo dos amplificadores SE com válvulas 845. A aposta agora é na amplificação digital. Tripath ou Ice eis a questão? But there's no going back, garantiu-me John Stronczer, em Las Vegas. O José Martins queria tanto os BelCanto que eu mandei ao John uma carta de recomendação. Em boa hora o fiz, o Zé merece.
TRANSOM
Aposta integral na Linn. Sem tibiezas. Sem coligações. Da linha Komponent às poderosas Artikulat 350. Dos Classik aos Klimax. Tudo com K, que a genética também conta nestas coisas...