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2005

Banha-da-cobra



Como eu escrevi na reportagem do Highend Shoow 2005, de Munique, o áudio devia ser sobretudo ciência e técnica, afinal tem muito de arte e alquimia. A coisa complica-se um pouco mais quando o «bruxo» é doutorado em física atómica.
Ingo Hansen trata um disco com CD Flux (ver vídeo)


Ingo Hansen afirma ter descoberto uma técnica simples para, e cito, «reduzir a tensão interna dos materiais ao transferir a ordem interna dos cristais contidos dentro de um pequeno cilindro para todos os objectos na sua proximidade».
Bom, admito que, dada a complexidade da técnica envolvida, o meu alemão talvez não tenha sido suficiente para traduzir o busílis da questão. Mas a ideia base é esta, sobre isso não tenham dúvidas. Até porque Ingo Hansen estava presente e fez ele próprio a demonstração do «Animator» que, como o nome indica, pretende dar «anima», ou alma, aos CD, leitores-CD e outros objectos acústicos, como as colunas de som.


O milagre vende-se na forma líquida, um «fluido» de limpeza de CD que «reordena a estrutura molecular»; e na forma sólida, o tal cilindro Animator, que se passa como uma varinha mágica sobre um leitor-CD, ou de um lado e do outro dos discos para, para «remover» as impurezas acústicas que provocam o som áspero e agressivo.
KEF 207 c/ Animator


Ingo serviu-se da bela e selvagem Josh Stone como sua partenaire de ocasião, e utilizou um par de colunas KEF 207 para provar a sua teoria. De cado lado da «cabeça» das colunas (no caso das KEF 207 parece mesmo uma cabeça), colocou um Animator. Primeiro tocou um excerto de uma faixa do CD da Stone, depois passou a «varinha mágica» sobre ambos os lados do disco e, espanto!, horror!, a voz da jovem branca de voz negra ganhou corpo, textura, inteligibilidade, projecção; e perdeu aspereza, agressividade, sibilância...


Claro que eu não acredito em bruxas, mas que as há, há. Veja-se o caso de Peter Belt, outro doutorado, este em química, que vendia a preços ultrainflaccionados peças de plástico foleiro a que atribuía virtudes milagrosas, quase como por cá se atribuem aos santinhos de mesa de cabeceira. Durante anos, conseguiu enganar meio-mundo, incluindo eu próprio, que participei em Londres, em algumas das suas iniciativas, até que se passou completamente da cabeça e começou a afirmar que o som de um sistema melhora substancialmente se o ouvinte dobrar o lenço que tem no bolso em triângulo! Ou que colocar duas moedas de libra com a efígie da Rainha (tem de ser a Rainha Isabel, atenção!) sobre o CD antes de o tocar também melhora o som!...


O certo é que eu utilizo ainda que esporadicamente algumas das suas «poções» para surpreender os amigos e resulta sempre! A técnica, também utilizada por Ingo Hansen, em Munique, é simples: consiste em explicar antes da experiência, à mistura com alguma dose de «cientificismo», quais as sensações acústicas que as pessoas no auditório irão experimentar. Um pouco como acontece nas reuniões de certas seitas religiosas. Não por acaso, as pessoas presentes que não dominam o alemão não ouviram diferença nenhuma...


Acontece que eu tenho uma gerigonça mecânica da Bedini que gira o disco a alta velocidade sobre um íman para também assim, alega o fabricante, «desmagnetizar» e «reorganizar» a estrutura atómica dos materiais de que o disco é fabricado: plástico e alumínio. Qualquer aluno de um curso de Física lhe explica que tudo não passa de uma aldrabice, até porque o alumínio não é magnético. Então por que motivo o som melhora?


Tenho uma tese científica de vinte páginas que explica tudo. Para espicaçar a sua curiosidade deixo-lhe duas pistas: o alumínio tem impurezas de outros materiais ferrosos; a história de que bits são bits, logo imutáveis, é verdadeira no registo e transmissão assíncrona de dados entre computadores, mas o que está registado no CD são apenas os dados sobre a amplitude e frequência do sinal. Falta o eixo do tempo. E esse é analógico, logo varia, logo pode ser influenciado. Até com práticas de bruxaria? Eis a questão...



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