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2005

Blu-ray Vs. Dvd-hd: Divórcio Litigioso



Blu-Ray Sony


Em Fevereiro deste ano, Sony e Toshiba reuniram-se, por pressão da indústria cinematográfica, para encontrarem uma solução de formato único para o futuro DVD de alta definição. O objectivo era evitar a repetição das lutas fratricidas VHS/BETA, que a Sony acabou por perder e, mais recentemente, Super Audio CD/DVD-Audio, na qual a Sony obteve uma vitória de Pirro, ainda que eu - e bem assim a maior parte dos audiófilos - tenha optado pelo SACD.



A indústria multimédia e os consumidores gostam de coisas muito simples, como Oscar Wilde: querem um único formato e que o escolhido seja o melhor. Mas há muitos milhões de “royalties” em jogo e nem a Sony, que sofreu mais um revés nos EUA com uma decisão judicial polémica, que a condena a indemnizar outras companhias discográficas por ter pago durante anos um “mensalão” a emissoras de rádio para favorecer a inclusão dos seus discos nas “playlists”; nem a Toshiba, que tem a apoiá-la o poderoso DVD Forum, querem abrir mão de uma mina de ouro potencial, agora que o negócio do DVD se tornou mais importante que as salas de cinema de estreia. A tal ponto que já se convidam vedetas como Wesley Snipes para protagonistas de filmes de baixo orçamento: “7 Segundos”, por exemplo, que eu já vi e estará em breve nos videoclubes, rodados em países do Leste europeu, como a Roménia, para edição exclusiva em DVD. Deste modo evita-se o período de “carência” entre a estreia e a edição para venda/aluguer aproveitado pelo piratas para colocar cópias ilegais em circulação, que se tornam menos apetecíveis se o DVD já estiver disponível para aluguer em todo o lado.
Blu-Ray Pioneer


Foi com o objectivo de se encontrar uma solução universal fiável de sistema anticópia que Hollywood promoveu este casamento de conveniência entre Blu-Ray e HD-DVD, que resultou agora em divórcio. Cada qual vai à sua vida com as armas que tem: os HD-DVD são mais fáceis de produzir, os Blu-Ray têm mais capacidade. Os filmes são arquivados digitalmente em matrizes D-5 que são transcritas depois de um processo de “down-conversion” para 720p ou 1080i para qualquer dos formatos sem grandes custos adicionais, além de que, desde 1990, quase todos têm som Dolby Digital/DTS 5.1. Hollywood prefere o Blu-Ray mas gostava que se chamasse DVD...



O conflito, aliás, começou logo com essa coisa tão simples como dar o nome à criança. A Toshiba queria dar-lhe o nome de família DVD, alegando que toda a gente sabe o que é, ao contrário de Blu-Ray, que até podia ser confundido com uma colectânea de “blues” cantados por Ray Charles...
Blu-Ray Samsung


A Sony sabia bem que a jogada era outra: bastava que no nome constasse a sigla “DVD” para que a maior parte da “royalties” revertesse para a Toshiba. A mesma situação já se verificara no conflito DVD-Audio/SACD, em que o simples facto de o formato incluir as siglas DVD ou CD determina o destinatário da cobrança de direitos.



A principal vantagem do Blu-Ray, além da maior capacidade, é o sistema anticópia: um obstáculo inultrapassável para os hackers profissionais e outros “piratas” avulsos. Até aqui a chave da encriptação era de base exclusivamente software. No Blu-Ray a “chave” é repartida pelo hardware de produção industrial e leitor doméstico e pelo software registado no disco. As técnicas de reverse engineering, que permitiram a um jovem norueguês quebrar a chave de encriptação do DVD e a um hacker brasileiro fazer o mesmo ao DVD-Audio, não se aplicam aqui. Mesmo que alguém consiga “entrar”, essa tentativa só é válida para esse disco e leitor particular; enquanto a pirataria em grande escala só é possível com a “chave” guardada na fábrica de discos e facilmente identificada.


Creio mesmo que a Toshiba só aceitou este breve casamento de conveniência para obter informação sobre este engenhoso sistema anticópia. Agora acabou, anunciou a Kyodo News: “Vamos mesmo ter dois formatos de alta definição: o consumidor que decida”.
Pelo que eu vi em Las Vegas, os blockbusters, os filmes que toda a gente quer ver, vão ser editados em HD-DVD. Mas a fuga da Fox para o Blu-Ray pode alterar muito este estado de coisas.
Sony PS 3, vagamente inspirada no Qualia 007


A verdadeira causa profunda do divórcio é, contudo, a guerra das consolas de jogos, e não os filmes em alta definição. A Playstation 3, cujo design se inspirou no leitor-SACD Qualia 007 (na foto) vai ser compatível com Blu-Ray, e a X-Box com HD-DVD. A Sony guardou segredo enquanto pôde mas, quando a Microsoft revelou à imprensa a sua nova consola, não era possível esperar mais por um acordo que parecia ser apenas uma forma de a Toshiba ganhar tempo.


Os dados estão lançados. Quem será que vai ganhar? Porque já todos sabemos quem vai perder: o consumidor...



Nota: A Toshiba anunciou hoje que vai adiar o lançamento do HD-DVD previsto para Outubro. Tal como SACD o Blu-Ray vai chegar primeiro (fala-se em 100 títulos já em Setembro). Será que chega? Eu acho que depende muito dos títulos...


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