Depois da morte do teatro popular, ir ao cinema deixou também de ser um hábito. As razões são muitas: das novelas ao futebol na televisão, passando pelo preço dos bilhetes, e a insegurança que leva as pessoas a ficarem em casa depois de escurecer. Eu, por exemplo, detesto o ambiente “pipoqueiro” da maior parte das salas de cinema, para já não falar na má qualidade da imagem e do som, que regra geral está tão alto ao ponto de tornar aquelas duas horas num sacrifício e num atentado à minha saúde auditiva. A minha experiência com a “Vingança dos Sith”, numa das salas do Shopping Beloura, deixou-me a ouvir estrelas durante uma semana...(ver Artigos Relacionados).
Assim, cada vez mais prefiro esperar pelo DVD, e vejo depois o filme em casa em condições de som e imagem próximas das ideais. É notável a qualidade de imagem que já é possível obter com certos leitores-DVD. Não admira, pois, que o DVD seja um sucesso a nível mundial. Só nos EUA há 140 000 títulos disponíveis e 400 milhões de discos são vendidos por trimestre. Mas se não se tomarem medidas urgentes vai acontecer a esta galinha dos ovos de ouro o mesmo que ao CD. Por esse mundo fora, por cá também, mas em especial na China e na Rússia, há “chocadeiras” industriais que produzem discos como pintos, e vendem-nos mesmo antes de serem frangos feitos. Mal o DVD é editado nos EUA, e por vezes até antes, já milhões de cópias piratas estão disponíveis no mercado europeu.
A Espanha, aqui ao lado, tem centenas de “criadores” independentes: os DVD de “Ray” e “O Aviador” já circulavam no mercado paralelo muito antes da edição oficial. E “A Guerra dos Mundos” vai ser uma questão de tempo. Aliás, em Madrid, onde recentemente se realizou um forum internacional sobre pirataria, os marroquinos do “topmanta” vendem-nos espalhados no chão sobre “mantas” à saída do metro.
Neste contexto, a aposta do nosso governo na banda larga pode vir a piorar ainda mais este estado de coisas: copiar um DVD e colocá-lo online é facílimo.
OS TANSOS FISCAIS
A via judicial funciona como a via fiscal - só os tansos é que são apanhados, nunca os grandes prevaricadores - e a recente decisão de um tribunal superior americano de considerar os promotores dos P2P responsáveis pela troca individual de ficheiros corresponde, por absurdo, a responsabilizar um fabricante de armas pelos homicídios cometidos por terceiros; ou levar a Volvo a tribunal pelos acidentes provocados pelos maus condutores. Aliás, a ideia de processar os engenheiros que conceberam a IP4 pelos acidentes por excesso de velocidade é já um começo. E que tal proibir a circulação de automóveis que excedam a velocidade máxima de 120, colocando no motor limitadores invioláveis obrigatórios?...
SOLUÇÕES
Não há então solução? Há. E mais do que uma. Mas será que as editoras estão realmente interessadas em qualquer delas? Duvido (ver “ Teoria da Conspiração” em Artigos Relacionados)
A solução comercial é tornar o original tão barato que não compense sequer comprar a cópia. Ou optar por facilitar o download legal, um negócio em que Morgan Freeman pretende agora apostar: colocar online filmes recentes no período que medeia entre a estreia nas salas de cinema e a edição em DVD.
A outra solução é técnica e consiste em impedir a cópia tout court. Não conheço ninguém que tenha conseguido copiar um Super Audio CD? E porquê? Não é possível reproduzi-lo num computador (não me refiro à “camada” CD dos discos híbridos) e a trama digital só pode ser transmitida para um processador externo sob encriptação inviolável. Mais: na eventualidade de alguém conseguir ultrapassar estes obstáculos, a origem da cópia, isto é, o proprietário registado da matriz copiada, pode ser de imediato identificado e responsabilizado.
VANDA DE SÁ E O SACD
E contudo, mesmo apesar da superlativa qualidade do som, o SACD é um relativo fracasso comercial, com apelo apenas junto de melómanos e audiófilos. Tudo porque não se chegou a um consenso para o tornar num formato universal como o CD. Atente-se, por exemplo, como na última semana, por pura coincidência, tanto Bernardo Mariano, no “DN Música”, como Vanda de Sá, na “Actual”, deram nota máxima a dois discos editados em Super Audio CD: as Sonatas para piano de Mozart K281, 292, 576, interpretadas por Alfred Brendel (Philips/Universal) e as Sonatas para Violino e Piano de Mozart K303, 304, 377 e 526, por Mark Steinberg e Mitsuko Uchida (Philips/Universal).
É verdade que só Vanda de Sá se refere à tecnologia SACD: “muito rica no reforço da presença e espessura do espectro sonoro”, embora não tenha gostado da versão multicanal: “o som Surround favorece o artificialismo e distanciação da realidade da experiência da música ao vivo”. Ora isto deixa-me curioso: em que condições (qual a configuração do sistema) e com que equipamento áudio: leitor, amplificador, cabos, colunas, etc. ouviu Vanda de Sá estes SACD para poder pronunciar-se de forma tão categórica sobre a qualidade do som em estéreo e multicanal?
FUSÃO DE BLU-RAY E HD-DVD
O DVD-Audio e o Dual-Disc (DVD de um lado, CD do outro) foram lançados no encalço do SACD apenas para não o deixar ganhar, e vão acabar por se afundar os três como ciclistas subindo uma montanha numa fuga suicida.
A história repete-se agora com o Blu-ray e o HD-DVD, os dois formatos vídeo rivais que disputam o mercado emergente da alta definição, que disparou nos últimos dois anos para números fabulosos nos EUA com o início das emissões de HDTV.
Toda a gente quer ter um plasma ou um LCD de alta definição (atenção: nem todos os plasmas e LCD são de alta definição: resolução nativa 720p ou 1080i) para ver o Super Bowl e o Jay Leno. A qualidade da imagem destas emissões em directo é de cortar a respiração. De tal forma que o DVD acaba por surgir depois aos nossos olhos como antes o VHS em relação ao DVD: um borrão colorido.
Ora o Blu-ray pode dar-nos esta qualidade também com os filmes de que gostamos. Mas como é uma cópia perfeita da matriz digital original utilizada para arquivo, os estúdios de Hollywood têm receio que vá cair nas mãos erradas e sirva de base à duplicação em massa. Assim, apresentaram um ultimatum à Sony e à Toshiba e seus apoiantes para que se entendam e procedam à “fusão fria” Blu-Ray/HD-DVD num único formato de alta definição com um sistema anticópia inviolável. E já avisou: despachem-se, ou avançamos nós com um formato próprio. I can't wait to see…
Nota: as conversações entre a Sony e a Toshiba já se iniciaram e prosseguem a bom ritmo. Mas será que algum dia chegarão a acordo?
Assim, cada vez mais prefiro esperar pelo DVD, e vejo depois o filme em casa em condições de som e imagem próximas das ideais. É notável a qualidade de imagem que já é possível obter com certos leitores-DVD. Não admira, pois, que o DVD seja um sucesso a nível mundial. Só nos EUA há 140 000 títulos disponíveis e 400 milhões de discos são vendidos por trimestre. Mas se não se tomarem medidas urgentes vai acontecer a esta galinha dos ovos de ouro o mesmo que ao CD. Por esse mundo fora, por cá também, mas em especial na China e na Rússia, há “chocadeiras” industriais que produzem discos como pintos, e vendem-nos mesmo antes de serem frangos feitos. Mal o DVD é editado nos EUA, e por vezes até antes, já milhões de cópias piratas estão disponíveis no mercado europeu.
A Espanha, aqui ao lado, tem centenas de “criadores” independentes: os DVD de “Ray” e “O Aviador” já circulavam no mercado paralelo muito antes da edição oficial. E “A Guerra dos Mundos” vai ser uma questão de tempo. Aliás, em Madrid, onde recentemente se realizou um forum internacional sobre pirataria, os marroquinos do “topmanta” vendem-nos espalhados no chão sobre “mantas” à saída do metro.
Neste contexto, a aposta do nosso governo na banda larga pode vir a piorar ainda mais este estado de coisas: copiar um DVD e colocá-lo online é facílimo.
OS TANSOS FISCAIS
A via judicial funciona como a via fiscal - só os tansos é que são apanhados, nunca os grandes prevaricadores - e a recente decisão de um tribunal superior americano de considerar os promotores dos P2P responsáveis pela troca individual de ficheiros corresponde, por absurdo, a responsabilizar um fabricante de armas pelos homicídios cometidos por terceiros; ou levar a Volvo a tribunal pelos acidentes provocados pelos maus condutores. Aliás, a ideia de processar os engenheiros que conceberam a IP4 pelos acidentes por excesso de velocidade é já um começo. E que tal proibir a circulação de automóveis que excedam a velocidade máxima de 120, colocando no motor limitadores invioláveis obrigatórios?...
SOLUÇÕES
Não há então solução? Há. E mais do que uma. Mas será que as editoras estão realmente interessadas em qualquer delas? Duvido (ver “ Teoria da Conspiração” em Artigos Relacionados)
A solução comercial é tornar o original tão barato que não compense sequer comprar a cópia. Ou optar por facilitar o download legal, um negócio em que Morgan Freeman pretende agora apostar: colocar online filmes recentes no período que medeia entre a estreia nas salas de cinema e a edição em DVD.
A outra solução é técnica e consiste em impedir a cópia tout court. Não conheço ninguém que tenha conseguido copiar um Super Audio CD? E porquê? Não é possível reproduzi-lo num computador (não me refiro à “camada” CD dos discos híbridos) e a trama digital só pode ser transmitida para um processador externo sob encriptação inviolável. Mais: na eventualidade de alguém conseguir ultrapassar estes obstáculos, a origem da cópia, isto é, o proprietário registado da matriz copiada, pode ser de imediato identificado e responsabilizado.
VANDA DE SÁ E O SACD
E contudo, mesmo apesar da superlativa qualidade do som, o SACD é um relativo fracasso comercial, com apelo apenas junto de melómanos e audiófilos. Tudo porque não se chegou a um consenso para o tornar num formato universal como o CD. Atente-se, por exemplo, como na última semana, por pura coincidência, tanto Bernardo Mariano, no “DN Música”, como Vanda de Sá, na “Actual”, deram nota máxima a dois discos editados em Super Audio CD: as Sonatas para piano de Mozart K281, 292, 576, interpretadas por Alfred Brendel (Philips/Universal) e as Sonatas para Violino e Piano de Mozart K303, 304, 377 e 526, por Mark Steinberg e Mitsuko Uchida (Philips/Universal).
É verdade que só Vanda de Sá se refere à tecnologia SACD: “muito rica no reforço da presença e espessura do espectro sonoro”, embora não tenha gostado da versão multicanal: “o som Surround favorece o artificialismo e distanciação da realidade da experiência da música ao vivo”. Ora isto deixa-me curioso: em que condições (qual a configuração do sistema) e com que equipamento áudio: leitor, amplificador, cabos, colunas, etc. ouviu Vanda de Sá estes SACD para poder pronunciar-se de forma tão categórica sobre a qualidade do som em estéreo e multicanal?
FUSÃO DE BLU-RAY E HD-DVD
O DVD-Audio e o Dual-Disc (DVD de um lado, CD do outro) foram lançados no encalço do SACD apenas para não o deixar ganhar, e vão acabar por se afundar os três como ciclistas subindo uma montanha numa fuga suicida.
A história repete-se agora com o Blu-ray e o HD-DVD, os dois formatos vídeo rivais que disputam o mercado emergente da alta definição, que disparou nos últimos dois anos para números fabulosos nos EUA com o início das emissões de HDTV.
Toda a gente quer ter um plasma ou um LCD de alta definição (atenção: nem todos os plasmas e LCD são de alta definição: resolução nativa 720p ou 1080i) para ver o Super Bowl e o Jay Leno. A qualidade da imagem destas emissões em directo é de cortar a respiração. De tal forma que o DVD acaba por surgir depois aos nossos olhos como antes o VHS em relação ao DVD: um borrão colorido.
Ora o Blu-ray pode dar-nos esta qualidade também com os filmes de que gostamos. Mas como é uma cópia perfeita da matriz digital original utilizada para arquivo, os estúdios de Hollywood têm receio que vá cair nas mãos erradas e sirva de base à duplicação em massa. Assim, apresentaram um ultimatum à Sony e à Toshiba e seus apoiantes para que se entendam e procedam à “fusão fria” Blu-Ray/HD-DVD num único formato de alta definição com um sistema anticópia inviolável. E já avisou: despachem-se, ou avançamos nós com um formato próprio. I can't wait to see…
Nota: as conversações entre a Sony e a Toshiba já se iniciaram e prosseguem a bom ritmo. Mas será que algum dia chegarão a acordo?