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2005

Choque Tecnológico



Bladelius, na CES, de Las Vegas: os deuses nórdicos da amplificação (colunas Marten Design)



Agora só falta a educação, a produção industrial «exportável» e o consequente aumento do trabalho e da riqueza sobre a qual se possam então fazer incidir os elevados impostos que pagam a factura do bem estar social, que, por sua vez, induz o aumento da produtividade, num ciclo que, ao contrário do nosso, não é vicioso antes virtuoso.


A verdade é que, na minha área específica, Portugal não produz nada. Não me refiro a multinacionais que instalam aqui fábricas de montagem de televisores, vídeos ou autorádios, cujo valor acrescentado se perde nos incentivos fiscais. Refiro-me ao highend, a alta costura do som, porque, tal como na moda, não são as fábricas de confecções assentes em mão de obra barata que vão fazer o país sair do marasmo económico, estas apenas ajudam as mascarar o problema do desemprego até chegar a hora de se «deslocalizarem» para a China, deixando as operárias com as mãos cheias de cartazes de desesperada ortografia.
Nunca teremos capacidade para produzir em massa e competir com o paraíso capitalista em que se tornou a maior nação comunista do mundo.


A solução, dizem os especialistas, está no design, na tecnologia de ponta e no marketing, a partir de PMEs bem geridas e financiadas, com incentivos fiscais à exportação e não ao consumo, e centros de desenvolvimento próprios, em constante interactividade com as universidades e os institutos politécnicos, com o objectivo de exportar para os grandes mercados da Europa e EUA produtos exclusivos de qualidade e elevado valor acrescentado. Produzir pouco mas bom, eis o busílis da questão.


O problema depois é conseguir vender lá fora. Quem é que compra um amplificador, coluna de som highend «made in Portugal»?, pergunta o potencial investidor desconfiado.


Falta de confiança, é esse o verdadeiro problema de Portugal. Aqui há uns anos quem é que acreditava na moda portuguesa? Ana Salazar, Fátima Lopes, Tenente, entre muitos outros, provaram que Portugal hoje não exporta só jogadores (e treinadores!) de qualidade, depois de décadas de emigração de mão de obra barata e dócil, e já não é mais a coutada onde as grandes marcas de roupa vinham caçar costureirinhas.


Também é possível criar marcas portuguesas de highend, a alta costura do som. O que é preciso é acreditar. Bom, ter alguém que ajude a mexer uns cordelinhos ajuda muito...


Em 2001, Luís Pires, um engenheiro português, e audiófilo emérito, desafiou-me para ouvir no Forte de S. Filipe, em Setúbal, umas colunas de som misteriosas concebidas e construídas por dois jovens universitários da margem sul (ver em Artigos Relacionados).


Reprodução do artigo publicado no DN/SONS sobre a presença das Harpa em Las Vegas (ver texto integral no Artigos Relacionados em baixo)


Em 2002, as Harpa assim se chamavam, foram apresentadas na CES, de Las Vegas, com razoável sucesso (a bica de café Delta e o Vinho do Porto que o Luís Pires e o João Gonçalves serviram no stand também contribuiram para isso...), e eu consegui publicar um artigo na Stereophile sobre o modelo Harpa Lusitana (abrir pdf clicando no símbolo do Adobe em cima). Foi assim como se, logo ao primeiro «trapinho», um criador de moda português tivesse sido citado na Vogue. O interesse foi imediato e os primeiros modelos de produção foram vendidos para os EUA. Não sei se, entretanto, o projecto avançou mas isto prova que há sempre espaço para mais um, mesmo quando tudo já parece ter sido inventado.


Dali, Bow, Dynaudio, Electrocompaniet, Forsell, Gryphon, Marten Design, Primare, etc. são marcas escandinavas de alta fidelidade que o público fiel conhece bem. Mas Bladelius diz-lhe alguma coisa? E no entanto, lá estava na CES, mostrando-se ao mundo (ao mercado americano) sem medo de ser apenas mais um.


A Bladelius é uma marca sueca criada por um jovem empreendedor, igual a tantos outros jovens portugueses licenciados no desemprego, que dá aos diferentes modelos nomes de deuses e heróis da mitologia escandinava, e explica tudo nas excelentes brochuras junto com as especificações técnicas: amplificador Thor, o mais poderoso deus nórdico, deus do trovão e da força; leitor CD/SACD/DVD Freja, a deusa do amor e protectora da música; leitor-DVD Gondul, a deusa da Valquíria, enviada à terra para buscar os espíritos de reis caídos em batalha, etc. Tudo com excelente design, acabamentos de luxo e tecnologia de ponta, e apresentado ao público com bom gosto e classe. Dá gosto viver num país assim.


É uma economia escandinava como esta, com iniciativa privada e não estatal ou subsídio-dependente, e capacidade de inovar e correr riscos, de criar milhares de PMEs e postos de trabalho, de produzir riqueza de forma sustentada e limpa, mesmo que em pequena escala, que eu quero para Portugal e para os meus filhos e netos. Foi isso que me prometeram há trinta anos. Ainda estou à espera...


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