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2005

Denon Dcd/pma Sa-1: Parte 3: Dsd Vs Pcm



Nos meios audiófilos, muito se tem escrito sobre a alegada distorção audível presente nos agudos do SACD. Há até quem proponha (Audio Aero) que o sinal DSD registado no disco seja convertido com vantagem para PCM 24-bit/192kHz. Sendo a excelência do “agudo” uma das virtudes mais propaladas do SACD, a verdade é que logo aos 10kHz a distorção+ruído pode atingir 1% , o que pressupõe uma resolução muito inferior à do CD nas altas frequências.

Ora isto, em termos de tecnologia de reprodução digital, é um absurdo. Contudo, 1% (ou mais) aos 10kHz é a distorção típica de alguns amplificadores a válvulas conceituados. E, no caso das colunas de som, entre 3% e 5% de distorção é um valor comum. Não estou aqui a fazer a apologia da distorção. Que fique bem claro que sou da opinião de que quanto menos distorção melhor. Mas o que interessa fundamentalmente é a justa medida em que essa distorção mesurável tem efeitos audíveis ou se pode ser considerada um mal necessário.

Dos cerca de 60 SACD da minha colecção, 50 soam melhor que o CD correspondente. Para surpresa minha, a conversão directa para “PCM” do sinal DSD, defendida como panaceia para os males do SACD, nem sempre resultou em vantagem audível, ou não resultou quase nunca, até prova em contrário, e estou disposto a demonstrá-lo em público.. Mesmo quando, neste caso específico, não há dúvida de que a matriz é exactamente a mesma, pois apenas a tecnologia de conversão e, sobretudo, a filtragem, é diferente. A comparação com CD, quer ao nível da matriz que vem incluída nos discos híbridos (que não é necessariamente igual, como veremos), quer a matriz da edição em CD correspondente, introduzem outra tantas variáveis: a igualização, o nível do sinal e a taxa de compressão escolhida pelo produtor ou engenheiro de som responsável, que pode até ser outra pessoa, com os seus gostos pessoais e obsessões técnicas particulares.

Há casos em que o CD soa melhor, admito; outros há em que o SACD se superioriza claramente, talvez porque tenha havido respectivamente mais cuidado na transcrição da matriz original. Outros há ainda em que o diabo que escolha, até porque a matriz DSD foi obtida a partir do mesmo original em PCM do CD, numa clara contradição entre termos.

Em 1997, assisti em S. Francisco à apresentação mundial da tecnologia de registo e arquivo DSD. Na altura ainda não havia SACD. As comparações entre PCM e DSD foram feitas com base em registos feitos no disco rígido de um computador. A matriz DSD soou sempre melhor, mesmo quando o registo PCM correspondente tinha resolução 96/24.


O suporte SACD não deve ser confundido com DSD, são complementares mas não são sinónimos. O SACD é um compromisso que permitiu comercializar a tecnologia de registo digital DSD, criada pela Sony para preservar os arquivos da Columbia. Teoricamente, o SACD é melhor que o CD correspondente, o que não impede alguns CD de serem “superiores” ao SACD, pelas razões já expostas.

Ora, não há no mundo melhor leitor CD/SACD que o Denon DCD SA1 para tirar estas coisas a limpo. O DCD-SA1 oferece pela primeira vez, numa função comutável, a possibilidade de comparar directamente a matriz DSD com conversão Direct Stream e conversão PCM. Nas experiências efectuadas com dezenas de SACD, como já referi, e irei concretizar na Parte 4 deste artigo, em nenhum caso obtive melhor resultado na conversão directa da matriz DSD para PCM. A sensação de compressão é imediata e o facto de soar 1dB mais baixo contribuiu em grande parte para a desilusão inicial: o som é mais discreto, redondo, mas é também menos transparente e parece ter menos informação nos registos médios, sobretudo “ar”, além de que o grave perde recorte e extensão Em alguns casos (poucos), preferi o CD convencional ao SACD correspondente. Mas, como já vimos, nada nos garante que a masterização é a mesma ou que a matriz DSD não foi obtida a partir de um original PCM...


A principal vantagem do SACD, para além do facto óbvio e indesmentível de conter mais informação, é poder prescindir do malfadado filtro analógico “brickwall” que nos primórdios do CD destruiu toda a falsa promessa de musicalidade. Um filtro de pendente rápida logo aos 20kHz provoca desvios de fase inaceitáveis em termos musicais. Aliás, as técnicas de “oversampling” e “upsampling” foram, em certa medida, a solução de recurso encontrada para aumentar a resolução e “estender” artificialmente a resposta em frequência de modo a poderem-se utilizar filtros de pendente mais suave, cujos efeitos perniciosos na linearidade de fase já não se faziam assim sentir do mesmo modo dentro da banda áudio. Continuo, no entanto, a considerar que 'não há melhor filtro que filtro nenhum', por muito suave que seja. Como se prova com o DAC 5 da Audio Note, que mandou às urtigas a imposição técnica do maldito filtro analógico, mesmo sob pena de os “alia” da quantização introduzirem distorção dentro da banda áudio. O resultado: maior transparência, tal como acontece com o SACD.

Ora, graças às técnicas digitais de noise-shaping (que, admito, não são tão eficazes como nos foi prometido), os componentes da quantização são “empurrados” muito para além da banda áudio e o SACD requer apenas uma filtragem suave a partir dos 50kHz, e até esse filtro pode ser desactivado permitindo uma resposta em frequência até aos 100kHz (desnecessária, pois não há praticamente informação acima dos 30kHz apenas distorção térmica). O resultado é uma transparência a que só leitores-CD superlativos (estou a lembrar-me do Reimyo CDP777) podem ascender pela arte mágica da tecnologia de conversão K2, que, no fundo, não passa de uma técnica de “upsampling” como a AL24.



Continua (ver Artigos Relacionados)

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