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2005

Denon Smartlife S-101: Utilitário Do Ano



Ao contrário das oligarquias partidárias que nos governam à vez, neste arremedo de democracia sufragista, a Denon parece preocupar-se com as necessidades culturais da classe média baixa, que tem pouco dinheiro, pouco espaço e pouco tempo, mas que, com o muito de pouco de que dispõe, gosta de satisfazer os desejos dos filhos: nem muitos desejos, nem muitos filhos, que a vida está cara.



Tão cara, aliás, que alguns leitores criticaram o facto de eu escrever com demasiada frequência sobre produtos inacessíveis. Ao que eu respondi: “Caro leitor, eu não vendo equipamentos de som, vendo artigos de jornal que pode comprar num quiosque por um euro. Ou que pode ler gratuitamente na Internet”.Em ambos os casos, parece-me bastante acessível



Contudo, não sou insensível aos pedidos de leitores. Por isso, sempre que a ocasião se proporciona, lá escrevo sobre um produto “comprável”, embora a minha paixão seja o fenómeno áudio em si, um tema que não se esgota nos produtos testados e ao qual tenho dedicado toda a minha vida adulta.



VOX POPULI


O que quer o povo, afinal? Quer um aparelho simples de utilizar, que permita a toda a família ver DVDs e ouvir CDs com boa qualidade de reprodução; que seja compatível com o iPod dos filhos; e tenha capacidade de reproduzir surround (ainda que virtual), sem necessidade de encher a sala de colunas ou de espalhar cabos pelo chão, como se fosse o palco de um concerto rock. E, sobretudo, que não custe os olhos da cara.



Há aparelhos desses por aí à venda a pataco vindos de fábricas OEM, localizadas na China. Mas poucos resistiriam a passar pelo meu apertado crivo. Aqui não basta cumprir as promessas do catálogo, é preciso fazê-lo com classe. Ou então chumba sem apelo nem agravo.
Denon SmartLife S-101



O Denon S-101 passou todos os testes a que o submeti, ultrapassando os “mínimos olímpicos” e suscitando a admiração do analista, que está (mal) habituado a ouvir os melhores sistemas de som do mundo. Apesar de ser um sistema “tudo-em-um” acessível (preço provável de 1 300 euros, ainda não-confirmado), a Denon não se limitou a prometer - cumpriu. No fundo, é só isso que o povo quer: não se sentir enganado com promessas vazias de conteúdo como as que os políticos fazem.



SMARTLIFE


O Denon S-101, da série SmartLife, é leitor-DVD/CD (MP3,WMA), sintonizador (AM/FM/RDS), amplificador (50W c/), processador (Dolby Digital, DTS) e tem um subwoofer activo (100W) e dois satélites de design atraente fabricados num composto de metal e plástico, que podem ser colocados sobre elegantes suportes próprios, na estante ou até na parede (ficam a matar ao lado do plasma ou do LCD). E é tão intuitivo na utilização, na montagem e na afinação que, de facto, vai sentir-se inteligente (o Help Menu ajuda mesmo).



AMIGO DO IPOD

A Denon fez equipa com a Apple para oferecer a primeira ligação digital para iPod. Até aqui podia ligar o iPod a qualquer equipamento estéreo através da saída analógica dos auscultadores. No Denon S-101, a ligação é digital e faz um by-pass total ao processador do iPod. O sinal AAC comprimido passa assim a ser processado pelos excelentes DACs internos do S-101 com up-sampling para 192/24. Mas há mais: o menu do iPod surge no ecrã do televisor e pode comandá-lo com o controlo remoto do S-101. Ah, e também carrega a bateria do seu iPod, enquanto ouve música!...



SURROUND VIRTUAL


A Denon pediu emprestada à Dolby Labs a “realidade virtual”, ou seja, o algoritmo que permite obter efeito surround a partir de apenas duas colunas de som frontais e ainda com auscultadores. Embora os satélites da Denon sejam do tipo convencional (um altifalante de médio-graves e um tweeter) o efeito surround é muito convincente. Na verdade, não é totalmente envolvente, é mais do tipo “abrangente”, nem seria de esperar que duas “colunas virtuais” substituíssem com vantagem duas colunas reais colocadas atrás do ouvinte. Contudo, no modo surround, a imagem estereofónica alarga-se num abraço amplo, cuja envolvência depende muito da sua posição na sala e da acústica da própria sala (no setup pode fazer algumas correcções: DSP boundary/gain compensation).
Em “Kill Bill II”, soou assustadora na minha sala de estar a ressonância das marteladas dentro do caixão, no qual um dos maus da fita enterra Uma Thurman viva (além de mau, é estúpido!). E, virtuais ou não, houve sons que surgiram distintamente atrás de mim: a espada na cena da biblioteca (Blue Room) de “Hero”, por exemplo; ou a massa de guerra no duelo final no restaurante de “Kill Bill I”. A experiência com auscultadores é também muito interessante (pode comparar o surround virtual com o bypass), o que é uma óptima notícia para quem precisa de respeitar o silêncio dos inocentes.



TSUNAMI


Em termos acústicos, o que distingue o Denon S-101 da concorrência não é, portanto, o Dolby Virtual (outras marcas há, como a KEF, que o utilizam, ver Artigos Relacionados) é a excepcional textura do som: cheio, poderoso, bem integrado, transparente q.b. sem necessidade do ênfase nos registos médio-altos tão habitual neste tipo de produtos AV. E isto mesmo sem utilizar a função EQ, que com um simples toque permite “domesticar” os agudos de filmes com bandas sonoras mais agressivas.



Com música, eu preferi cortar 2dB no nível do “sub” e passar para o modo stereo. E admito que se pudesse baixava alguns Hz na frequência de corte. Mas com filmes o “sub” (altifalante de 20 cm) funciona como suporte dinâmico de toda a estrutura sonora e o “tsunami” de “The day after tomorrow”, em DTS, arrasou tudo à sua passagem. A minha vizinha, que passa a vida a sonhar com ladrões e com a gripe das aves, bateu-me à porta assustada, perguntando-me se eu também tinha sentido o tremor de terra...



SOA A ESCÂNDALO


Vi DVDs em longas sessões nocturnas com auscultadores (mini-jack) sem qualquer sensação de desconforto ou cansaço, e sem que uma palavra se perdesse na ambiência espectacular das bandas sonoras, tal é a inteligibilidade do S-101. Isto dito assim, por quem ouve habitualmente sistemas AV de preço obsceno, pode...eh... soar escandaloso. Mas ninguém está mais “escandalizado” com a performance do Denon S-101 do que eu.


Toda a gente sabe que, com uma boa imagem à frente dos olhos (PAL progressivo por componentes com processamento Faroudja), engolimos com facilidade o som que nos põem no prato. Acontece que o S-101 reproduz também CD em estéreo melhor do que qualquer outro sistema similar que ouvi até hoje. Até um CD-R que com o tempo e o uso já sofria de irritantes soluços tocou sem gaguejar. Fiquei tão intrigado que fiz a maldade de submeter o S-101 à difícil prova digital de obstáculos da Pièrre Verany. Pois ultrapassou drop-outs simples e sucessivos de 1,25 mm (1,50 mm, em alguns casos!). É óbvio que a Denon aplicou neste “utilitário” tecnologias que foram concebidas de origem para os seus topos de gama.


O modelo S-301, mais caro e mais potente, é compatível também com SACD e tem saída HDMI. Além da ligação para o iPod, oferece ainda USB para ligar o Rio/MP3 e similares. Mas para quem só quer ver uns DVDs e ouvir uns CDs (e rádio) em família com efeito surround q.b., sem ocupação do espaço vital por inestéticos caixotes, o Denon S-101 leva a minha entusiástica recomendação de forte candidato a “Utilitário do Ano 2005”.



Para mais informações: VIDEOACÚSTICA


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