Há cerca de um mês, lancei um desafio a Vanda de Sá (Expresso/Actual) a propósito da sua análise de um SACD de Alfred Brendel: o de revelar qual o sistema multicanal que utilizou para reproduzir o disco que lhe permitiu ser tão categórica na sua preferência pelo modo estéreo. Não respondeu. Seria, aliás, interessante escrever uma série de artigos sobre os sistemas de som dos críticos de música nacionais. Alguns há que não vão além do “discman”, ou fazem o trabalho de casa no... carro, a caminho do jornal, no meio de buzinadelas. Neste contexto, o simples facto de Vanda de Sá ter analisado o SACD referido também na versão multicanal tem tanto de notável como é digno de louvar pela ousadia. De uma maneira geral, os críticos de música não se dão sequer à maçada de explorar os aspectos técnicos dos discos. E não são só os críticos nacionais.
Num seminário recente sobre os novos formatos de alta resolução, no qual participaram críticos de áudio e de música de revistas especializadas e da imprensa generalista americana, John Atkinson, da Stereophile, chegou à conclusão que os críticos de jornais de referência, como o New York Times, afinal não só não tinham equipamento de reprodução compatível com SACD e DVD-Audio, como recebiam indicações editoriais para não perderem tempo com os aspectos técnicos do registo e da qualidade de som dos CD. É um facto que a complexidade técnica só confunde o leitor. Mas ela existe e não pode ser ignorada.
Tenho verificado que a maior parte das pessoas nunca ouviu SACD em condições ideais. Há até quem ligue o leitor-SACD ao amplificador AV por meio de cabo óptico ou coaxial. Nesta configuração, apenas é possível reproduzir a “camada” CD dos SACD híbridos. Não admira que não se oiçam diferenças. O mesmo se passa com as ligações analógicas entre leitor-SACD e certos amplificadores AV que, não dispondo de entradas ANALOG 7.1 não-processadas, reconvertem o sinal analógico para digital PCM e de novo para analógico. É como chover no molhado.
COMPARAR ALHOS COM BUGALHOS
Por outro lado, também é verdade que nada nos garante que a matriz original utilizada nos discos híbridos é a mesma para CD e SACD. Podemos estar a comparar alhos com bugalhos sem saber. Detectei até um caso extremo em que os canais do CD e do SACD do mesmo disco híbrido estavam trocados (“Jazz At The Pawnshop”, SACD Prophone/FIM)!...
Ora, se nos meios políticos trocar a direita pela esquerda e vice-versa já é considerado normal (?), nos meios audiófilos ainda é uma heresia. Lembro-me que, no meu primeiro programa de rádio “Audiofilia Aguda” transmitido pela XFM, os canais estavam trocados. Quando chamei a atenção para o facto, o técnico achou que era um preciosismo de estreante. Aliás, num dos estúdios da XFM, uma das colunas monitoras estava avariada, e isso nunca impediu os programas de irem para o ar em... estéreo. Mesmo assim, que saudades dos dias da rádio!...
A FIM é uma pequena editora familiar, embora isso não sirva de desculpa para a negligência na produção. Mas também as grandes editoras se estão nas tintas para os audiófilos. Ora nós somos poucos e bons e compramos os discos fundamentalmente pela qualidade de som, enquanto o resto do pessoal saca da net e o MP3 serve-lhes bem. Depois, queixem-se...
Nota: informa-me o leitor Luís Vicente que a Proprius lançou recentemente a versão genuína SACD- Multicanal (4.0) de “Jazz At The Pawnshop” a partir das matrizes originais. O disco é distribuído em Portugal pela AudioTeam, de Jorge Nunes Alves (Telef. 21 764 95 32).
Num seminário recente sobre os novos formatos de alta resolução, no qual participaram críticos de áudio e de música de revistas especializadas e da imprensa generalista americana, John Atkinson, da Stereophile, chegou à conclusão que os críticos de jornais de referência, como o New York Times, afinal não só não tinham equipamento de reprodução compatível com SACD e DVD-Audio, como recebiam indicações editoriais para não perderem tempo com os aspectos técnicos do registo e da qualidade de som dos CD. É um facto que a complexidade técnica só confunde o leitor. Mas ela existe e não pode ser ignorada.
Tenho verificado que a maior parte das pessoas nunca ouviu SACD em condições ideais. Há até quem ligue o leitor-SACD ao amplificador AV por meio de cabo óptico ou coaxial. Nesta configuração, apenas é possível reproduzir a “camada” CD dos SACD híbridos. Não admira que não se oiçam diferenças. O mesmo se passa com as ligações analógicas entre leitor-SACD e certos amplificadores AV que, não dispondo de entradas ANALOG 7.1 não-processadas, reconvertem o sinal analógico para digital PCM e de novo para analógico. É como chover no molhado.
COMPARAR ALHOS COM BUGALHOS
Por outro lado, também é verdade que nada nos garante que a matriz original utilizada nos discos híbridos é a mesma para CD e SACD. Podemos estar a comparar alhos com bugalhos sem saber. Detectei até um caso extremo em que os canais do CD e do SACD do mesmo disco híbrido estavam trocados (“Jazz At The Pawnshop”, SACD Prophone/FIM)!...
Ora, se nos meios políticos trocar a direita pela esquerda e vice-versa já é considerado normal (?), nos meios audiófilos ainda é uma heresia. Lembro-me que, no meu primeiro programa de rádio “Audiofilia Aguda” transmitido pela XFM, os canais estavam trocados. Quando chamei a atenção para o facto, o técnico achou que era um preciosismo de estreante. Aliás, num dos estúdios da XFM, uma das colunas monitoras estava avariada, e isso nunca impediu os programas de irem para o ar em... estéreo. Mesmo assim, que saudades dos dias da rádio!...
A FIM é uma pequena editora familiar, embora isso não sirva de desculpa para a negligência na produção. Mas também as grandes editoras se estão nas tintas para os audiófilos. Ora nós somos poucos e bons e compramos os discos fundamentalmente pela qualidade de som, enquanto o resto do pessoal saca da net e o MP3 serve-lhes bem. Depois, queixem-se...
Nota: informa-me o leitor Luís Vicente que a Proprius lançou recentemente a versão genuína SACD- Multicanal (4.0) de “Jazz At The Pawnshop” a partir das matrizes originais. O disco é distribuído em Portugal pela AudioTeam, de Jorge Nunes Alves (Telef. 21 764 95 32).