A Monitor Audio mantém com esta deliciosa duas-vias a tradicional aposta nos altifalantes de liga de metal (o clássico tweeter dourado de 25 mm montado num elegante espelho e um novo médio-grave de 150mm) mas, se possível, os acabamentos da caixa, agora com mão-de-obra chinesa, superam o elevado padrão a que nos habituou. Até o emblema da marca incrustado no topo tem classe e os bornes são de boa qualidade. Aliás, tudo nas Silver RS1 está acima das expectativas, em especial a qualidade geral do som.
A sensibilidade declarada de 90dB parece-me optimista. Embora tenha sido concebida para amplificadores de baixa potência (25-100W), sente-se confortável na companhia de «bestas» como o Krell FPB 400cx. Um pouco de músculo nunca fez mal a ninguém.
AUDIÇÃO OBRIGATÓRIA
Logo na primeira audição, nas instalações, da Delaudio, uma experiência que aconselho a todos os potenciais interessados, acolitadas por um amplificador híbrido (válvulas/transístores) Phatos Logos, de origem italiana, cujo teste já foi aqui publicado (ver em Pesquisa), as minhas «little grey cells» ficaram em estado de alerta. O minimonitor Silver RS1 custa €499/par e tem um som surpreendente, o que é dizer muito de uma coluna deste preço e deste tamanho: limpo, claro, vivo, dinâmico e, acima de tudo, inteligível - finalmente vai perceber tudo o que Lou Reed diz, embora ele seja o primeiro a declarar: «don't believe everything your mother says...». O mesmo se pode dizer dos críticos, pelo que ouvir é obrigatório...
AS LEIS DA FÍSICA
As Silver RS1 têm as naturais limitações na extensão do grave impostas pelas leis da física. Afinal, trata-se de uma coluna de pequeno porte e, apesar da ajuda do «reflex»(sintonizado para os 42Hz e de sopro controlado e benigno), a natureza não se deixa enganar. Mas o nosso cérebro sim, porque se o grave disponível soar harmonicamente relacionado com todas as oitavas que lhe estão acima, ele se encarregará de «sintetizar» as oitavas inferiores em falta, da mesma forma que o amputado sente comichão ou dor num membro fantasma.
A colocação judiciosa na sala, aproveitando com parcimónia a proximidade da parede traseira, pode em parte colmatar esta inevitável crítica por parte dos baixo-dependentes, em detrimento da profundidade da imagem, que é inaudita a este nível de preço. Claro que não há nada como «the real thing», pelo que, já em casa, dei-lhes um cheirinho de «subwoofer» e o palco sonoro ganhou imediatamente a escala que lhe faltava. A Série Silver RS tem, como é óbvio, modelos-de-chão de três (RS6) e quatro vias (RS8), que lhe devolvem a oitava perdida, para não falar no «sub» e na coluna central que com as coluninhas de parede de efeitos traseiros completam o retrato da família AV.
Ora era aqui que eu queria chegar. Quantos são os sistemas de colunas para aplicações AV de preço acessível que sobrevivem à separação? Ou seja: em que o benjamim da família é posto à prova isoladamente num sistema áudio estéreo topo de gama e obrigado a reproduzir vozes femininas, masculinas, bandas de jazz e de rock e orquestras sinfónicas, de tal forma que os ouvintes aceitam de bom grado as suas limitações com o sorriso de condescendência que só o encanto de uma criança em cima de um palco pode suscitar.
A ARTE DO «VOICING»
O «voicing» das Silver RS1 é um dos melhores de sempre no longo historial da marca, um trabalho digno de um enólogo na arte de misturar ou seleccionar castas na busca do equilíbrio organoléptico, que é a propriedade de um corpo impressionar os sentidos. A Monitor Audio Silver RS1 impressionou-me os sentidos, não só pela forma aberta, clara e inteligível como reproduz o discurso musical, mas também pelo ataque, presença, e pela quantidade impressionante de micro e macroinformação, aliada à estabilidade e profundidade da imagem estereofónica.
Não é um tinto encorpado a saber a madeira e especiarias; é um clarete transparente, frutado e fresco, com o «piquinho» típico do «tweeter» dourado, que, contudo, nunca se sobrepõe à informação fundamental dos registos médios antes potencia o prazer do acto de beber, perdão, de ouvir música, porque lhes confere recorte e riqueza harmónica. Tal como acontece com o copo, o recipiente, leia-se, a caixa acústica, desaparece para deixar no ar apenas um «bouquet» de notas límpidas. A auscultação do som do batimento dos nós dos dedos na caixa revelou uma solidez uniforme que faz pressupor (não as abri para confirmar) a utilização de «bracing» (travejamento interno). Outra característica que é pouco comum abaixo do €500. Só aqui e ali notei uma ligeira «espessura» nas notas mais graves da voz feminina que atribuo ao acoplamento do «pórtico» da saída «reflex» com a sala e não a uma qualquer coloração de «madeira».
CASTA ÚNICA
Na tradição da marca, as Silver RS1 são de casta única, leia-se, de alumínio. Nos meios audiófilos, há um debate aberto sobre as vantagens e desvantagens da utilização de alumínio no fabrico dos cones dos altifalantes. O alumínio é rígido e leve, logo responde melhor a acelerações bruscas do que outros materiais mais maleáveis, além de que é mais fácil conseguir o tão desejado movimento de pistão perfeito. Por outro lado, o alumínio tem um som próprio e, por paradoxal que pareça, o melhor som obtém-se a partir de materiais «sem som». Acresce que os cones de alumínio têm ainda tendência para o «beaming», isto é, tornam-se «direccionais» à medida que a frequência sobe, afectando assim o padrão de dispersão, visível numa curva polar, por exemplo; e sofrem de «ringing» (uma vibração intrínseca do alumínio) também nas frequências mais altas, o que obriga a utilizar pendentes rápidas e menos «naturais» nos filtros divisores.
MO IQBAL, O PAI
Foi Mo Iqbal, o fundador da Monitor Audio, agora retirado do negócio, de quem tive a honra de ser amigo, que, não sendo engenheiro-de-coisa-nenhuma, apenas possuidor de grande inteligência e intuição, descobriu a solução para muitos deste problemas. Os cones são fabricados a partir de uma liga de alumínio e magnésio e cobertos por uma finíssima película cerâmica para amortecer as vibrações intrínsecas, sendo também moldados de forma a contrariar a «direccionalidade». Mo provava a eficácia da sua solução com a seguinte experiência empírica: deixava cair cones de alumínio com e sem banho cerâmico sobre uma superfície de pedra. Os últimos soavam mais «abafados» no contacto com a pedra (semelhante ao dos cones de fibra de carbono e de papel tratado), logo tinham em princípio melhor «som» quando montados num altifalante.
Uma análise da composição, que na altura solicitei no IST, revelou a esperada presença de alumínio, com algumas impurezas, sílica e a surpresa do manganésio, além do já esperado magnésio. Mas isso não invalida os resultados práticos que, passados mais de dez anos, atingiram o ponto mais alto com a Série RS.
Até porque, segundo o Dicionário Universal, da Texto Editores, «o magnésio é um metal leve, branco como a prata e que arde em contacto com o ar, com chama deslumbrante».
Ao que eu acrescento: com som deslumbrante.
DELAUDIO, telef. 21 843 64 10 .
A sensibilidade declarada de 90dB parece-me optimista. Embora tenha sido concebida para amplificadores de baixa potência (25-100W), sente-se confortável na companhia de «bestas» como o Krell FPB 400cx. Um pouco de músculo nunca fez mal a ninguém.
AUDIÇÃO OBRIGATÓRIA
Logo na primeira audição, nas instalações, da Delaudio, uma experiência que aconselho a todos os potenciais interessados, acolitadas por um amplificador híbrido (válvulas/transístores) Phatos Logos, de origem italiana, cujo teste já foi aqui publicado (ver em Pesquisa), as minhas «little grey cells» ficaram em estado de alerta. O minimonitor Silver RS1 custa €499/par e tem um som surpreendente, o que é dizer muito de uma coluna deste preço e deste tamanho: limpo, claro, vivo, dinâmico e, acima de tudo, inteligível - finalmente vai perceber tudo o que Lou Reed diz, embora ele seja o primeiro a declarar: «don't believe everything your mother says...». O mesmo se pode dizer dos críticos, pelo que ouvir é obrigatório...
AS LEIS DA FÍSICA
As Silver RS1 têm as naturais limitações na extensão do grave impostas pelas leis da física. Afinal, trata-se de uma coluna de pequeno porte e, apesar da ajuda do «reflex»(sintonizado para os 42Hz e de sopro controlado e benigno), a natureza não se deixa enganar. Mas o nosso cérebro sim, porque se o grave disponível soar harmonicamente relacionado com todas as oitavas que lhe estão acima, ele se encarregará de «sintetizar» as oitavas inferiores em falta, da mesma forma que o amputado sente comichão ou dor num membro fantasma.
A colocação judiciosa na sala, aproveitando com parcimónia a proximidade da parede traseira, pode em parte colmatar esta inevitável crítica por parte dos baixo-dependentes, em detrimento da profundidade da imagem, que é inaudita a este nível de preço. Claro que não há nada como «the real thing», pelo que, já em casa, dei-lhes um cheirinho de «subwoofer» e o palco sonoro ganhou imediatamente a escala que lhe faltava. A Série Silver RS tem, como é óbvio, modelos-de-chão de três (RS6) e quatro vias (RS8), que lhe devolvem a oitava perdida, para não falar no «sub» e na coluna central que com as coluninhas de parede de efeitos traseiros completam o retrato da família AV.
Ora era aqui que eu queria chegar. Quantos são os sistemas de colunas para aplicações AV de preço acessível que sobrevivem à separação? Ou seja: em que o benjamim da família é posto à prova isoladamente num sistema áudio estéreo topo de gama e obrigado a reproduzir vozes femininas, masculinas, bandas de jazz e de rock e orquestras sinfónicas, de tal forma que os ouvintes aceitam de bom grado as suas limitações com o sorriso de condescendência que só o encanto de uma criança em cima de um palco pode suscitar.
A ARTE DO «VOICING»
O «voicing» das Silver RS1 é um dos melhores de sempre no longo historial da marca, um trabalho digno de um enólogo na arte de misturar ou seleccionar castas na busca do equilíbrio organoléptico, que é a propriedade de um corpo impressionar os sentidos. A Monitor Audio Silver RS1 impressionou-me os sentidos, não só pela forma aberta, clara e inteligível como reproduz o discurso musical, mas também pelo ataque, presença, e pela quantidade impressionante de micro e macroinformação, aliada à estabilidade e profundidade da imagem estereofónica.
Não é um tinto encorpado a saber a madeira e especiarias; é um clarete transparente, frutado e fresco, com o «piquinho» típico do «tweeter» dourado, que, contudo, nunca se sobrepõe à informação fundamental dos registos médios antes potencia o prazer do acto de beber, perdão, de ouvir música, porque lhes confere recorte e riqueza harmónica. Tal como acontece com o copo, o recipiente, leia-se, a caixa acústica, desaparece para deixar no ar apenas um «bouquet» de notas límpidas. A auscultação do som do batimento dos nós dos dedos na caixa revelou uma solidez uniforme que faz pressupor (não as abri para confirmar) a utilização de «bracing» (travejamento interno). Outra característica que é pouco comum abaixo do €500. Só aqui e ali notei uma ligeira «espessura» nas notas mais graves da voz feminina que atribuo ao acoplamento do «pórtico» da saída «reflex» com a sala e não a uma qualquer coloração de «madeira».
CASTA ÚNICA
Na tradição da marca, as Silver RS1 são de casta única, leia-se, de alumínio. Nos meios audiófilos, há um debate aberto sobre as vantagens e desvantagens da utilização de alumínio no fabrico dos cones dos altifalantes. O alumínio é rígido e leve, logo responde melhor a acelerações bruscas do que outros materiais mais maleáveis, além de que é mais fácil conseguir o tão desejado movimento de pistão perfeito. Por outro lado, o alumínio tem um som próprio e, por paradoxal que pareça, o melhor som obtém-se a partir de materiais «sem som». Acresce que os cones de alumínio têm ainda tendência para o «beaming», isto é, tornam-se «direccionais» à medida que a frequência sobe, afectando assim o padrão de dispersão, visível numa curva polar, por exemplo; e sofrem de «ringing» (uma vibração intrínseca do alumínio) também nas frequências mais altas, o que obriga a utilizar pendentes rápidas e menos «naturais» nos filtros divisores.
MO IQBAL, O PAI
Foi Mo Iqbal, o fundador da Monitor Audio, agora retirado do negócio, de quem tive a honra de ser amigo, que, não sendo engenheiro-de-coisa-nenhuma, apenas possuidor de grande inteligência e intuição, descobriu a solução para muitos deste problemas. Os cones são fabricados a partir de uma liga de alumínio e magnésio e cobertos por uma finíssima película cerâmica para amortecer as vibrações intrínsecas, sendo também moldados de forma a contrariar a «direccionalidade». Mo provava a eficácia da sua solução com a seguinte experiência empírica: deixava cair cones de alumínio com e sem banho cerâmico sobre uma superfície de pedra. Os últimos soavam mais «abafados» no contacto com a pedra (semelhante ao dos cones de fibra de carbono e de papel tratado), logo tinham em princípio melhor «som» quando montados num altifalante.
Uma análise da composição, que na altura solicitei no IST, revelou a esperada presença de alumínio, com algumas impurezas, sílica e a surpresa do manganésio, além do já esperado magnésio. Mas isso não invalida os resultados práticos que, passados mais de dez anos, atingiram o ponto mais alto com a Série RS.
Até porque, segundo o Dicionário Universal, da Texto Editores, «o magnésio é um metal leve, branco como a prata e que arde em contacto com o ar, com chama deslumbrante».
Ao que eu acrescento: com som deslumbrante.
DELAUDIO, telef. 21 843 64 10 .