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2005

Sony Mdr Sa-5000/3000: Além Do Universo



Sony MDR SA-5000: sons ilimitados


Os SONY MDR SA-5000 são os melhores auscultadores dinâmicos que já tive oportunidade de ouvir (e foram muitos), incluindo os Sennheiser e os Grado. Em alguns aspectos (nomeadamente a reprodução de graves e a informação no agudo), revelaram-se mesmo como superiores aos famosos Stax electrostáticos. Felizmente, não são perfeitos, ou eu teria de procurar outra actividade intelectual para me entreter. Ora, como para os leitores do Hificlube não é aceitável a ideia de que um simples “acho que”, sem outra fundamentação que não seja o gosto pessoal do crítico, chega para avalizar uma opinião (e em Portugal “acha-se” demasiado em todas as áreas), passo a analisá-los em mais pormenor.


Os SA-5000 são um produto de luxo que utiliza tecnologia de ponta, o que se reflecte no preço de 688 euros, que justificaria um estojo em madeira, e não uma simples caixa de cartão, apesar do pormenor do forro de cetim e da oferta de um suporte. A estrutura dos auscultadores é em magnésio, as almofadas dos auriculares são forradas em pele natural e até o cabo de ligação é revestido a tecido. Os diafragmas finos e leves como membranas electrostáticas dos altifalantes são um produto da nanotecnologia molecular (reestruturação dos átomos do material) e respondem aos transitórios como penas que esvoaçam sob o efeito de um sopro suave. Todo o conjunto é, aliás, de peso-pluma (260 gramas). A “bandelette” veste meias de rede em mousse de seda que não arrepanharam os meus (poucos) cabelos.

Os SA-5000 são semiabertos, pelo que não respeitam o silêncio dos inocentes: é fácil a qualquer pessoa na sala identificar a música que estamos a ouvir. Não é, pois, o tipo de auscultador que se leva para a cama de casal para ouvir enquanto ela dorme...


A resposta em frequência é transcendental: 5Hz-110kHz (dos 5 aos 110 mil ciclos!). Uma pessoa saudável e jovem tem capacidade para ouvir em boas condições de 20Hz a 20kHz. Com a idade e os excessos (ah, as malfadadas discotecas que levam os nossos jovens para o abismo da surdez!) vamos deixando de ouvir os sons agudos. Os SA-5000 foram concebidos com o objectivo de reproduzir integralmente o conteúdo musical dos Super Audio CD (teoricamente de 0Hz-100kHz). Não conheço nenhum instrumento musical que reproduza frequências tão elevadas (nem tão baixas). Além de que os microfones actuais utilizados nos estúdios de gravação não teriam capacidade para os captar. A verdade é que acima dos 30kHz não há nada de muito interessante musicalmente, e o pouco que há está mergulhado em distorção térmica. E no entanto, ouvi com os SA-5000 coisas que nunca tinha ouvido antes a partir de discos que já ouvira mil vezes.

No caso de uma transparência tão elevada da reprodução musical, a crítica costuma utilizar a expressão “janela aberta”. Os SA-5000 não são apenas uma janela aberta, são o telescópio Hubble, porque nos permitem ouvir com nitidez muito para além do nosso universo acústico. A quantidade de micro informação que disponibilizam ao ouvinte é mesmo do outro mundo. Eu ouso até dizer que é excessiva, porque nos distrai do fundamental e obriga-nos a concentrar no acessório.


O SACD do famoso “Jazz At The Pawnshop” é um exemplo paradigmático: o ambiente de clube de jazz, as vozes, os ditos, as graças (suponho, não falo sueco), os risos (que são universais), o tilintar do gelo nos copos e a alegria da caixa registadora, o telefone que toca lá ao fundo, o fumo que quase se ouve a subir para o tecto! A música, essa, é em alta definição: limpa, recortada, presente, e tão rica de harmónicos que assume o poder inebriante da “schnapps”, que escorre pelas gargantas secas de emoção do público presente.


A respiração rítmica é pautada pelo melhor grave que já ouvi a partir de uns auscultadores: tenso, intenso e extenso, articulado e informativo. Continuei a ouvir SACD após SACD (e CDs também, claro), de Stimela, de Hugh Mazekela, a Avalon, de Brian Ferry, de Mozart a Mahler, sempre com os mesmos resultados: o grave dos SA-5000 é o actual estado da arte em auscultadores.

Arrisquei fazer um “sweep” 20Hz-20kHz com um disco teste para comprovar que a resposta começa mesmo cá em baixo no fundo do espectro sonoro (se bem que se oiça apenas um restolhar nos 20Hz), embora tenha tido alguma dificuldade em segui-la até ao topo (a curva auditiva acompanha, hélas, a curva da vida: a partir dos 18kHz, ouve-se apenas o impulso inicial...).


Contudo, a música não são sinais de teste com frequências fundamentais desprovidas de harmónicos, é algo de grande complexidade harmónica. Ora é com música que a extensão da resposta para além do limiar auditivo teórico tem uma influência determinante na qualidade do som. O cérebro humano parece ter outras formas de receber informação auditiva, nomeadamente por condução óssea, além da capacidade de sintetizar as notas fundamentais a partir dos seus harmónicos.


Em última análise, os SA-5000 podem soar um pouco “brilhantes” ou até agressivos com certos discos, em especial nas primeiras horas de utilização. Com o tempo, soltam-se e tornam-se mais agradáveis de ouvir. E soarão tanto melhor quanto melhor for a fonte de energia que os alimenta. Um bom amplificador de auscultadores a válvulas seria a solução ideal, mas podem ser ligados directamente à saída de um leitor-SACD/CD, como o Sony XA-777ES, com excelentes resultados.
A Sony Portugal enviou-me também um par do modelo imediatamente abaixo: MDR-SA-3000 (398 euros). A tecnologia é a mesma e a diferença entre especificações é mínima: a resposta em frequência é, neste caso, de “apenas” 8Hz-100kHz. Será possível ouvir uma diferença tão pequena, ainda por cima numa zona que se situa muito além do universo auditivo humano? O facto é que soam ambos muito diferentes. E não creio que isso se deva à estrutura em plástico rígido em lugar do magnésio e à substituição da pele por um tecido sintético nas almofadas dos auscultadores do SA-3000. Atrevo-me, aliás, a dizer que me senti até mais confortável com eles: uma sensação que não era apenas física era também acústica. O som é mais “redondo”, encorpado e repousante (menos tenso), logo mais compatível com audições prolongadas.


Após várias comparações, concluí que os SA-3000 são melhores para ouvir música e os SA-5000 para ouvir som. Uma contradição entre termos que passo a explicar: os SA-5000 têm muito mais informação nos extremos de frequência, só que, por vezes, o excesso também cansa.


Se considerarmos o espectro áudio como um todo orgânico, o SA-3000 leva a minha mais entusiástica recomendação. Se analisarmos o espectro em termos de grave, médio e agudo, o SA-5000 revelou-se um instrumento de trabalho único e excepcional. Eu até era capaz de viver com os SA-3000, se não tivesse nunca experimentado o ataque, o ritmo e, em especial, a absoluta perfeição da reprodução dos “baixos” do SA-5000: definição, articulação e extensão inauditas a partir de um par de auscultadores. Uma experiência que teve tanto de cativante como de viciante. Quero mais, sempre e todos os dias.



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