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2005

Vincent Sv-236: Um Amplificador Chamado Vicente



A Vincent é uma empresa alemã com um pé na Europa e outro na China. O resultado desta parceria é uma notável produção de equipamento hifi com pretensões highend a preços muito abaixo do valor real para a sua classe e origem e, sobretudo, para a qualidade de construção. Embora ofereça linhas exclusivamente a transístores, são os “híbridos” a válvulas/transístores que desde sempre me seduziram. Não só pela beleza incandescente, que nos espreita através da janela circular inundada de uma luz avermelhada como as “vontades” da Blimunda do “Memorial do Convento” (a função dimmer do controlo remoto regula em quatro passos a intensidade desta falsa “incandescência” até à sua extinção, deixando em vigília apenas a luz pálida da válvula), como pela extrema eficácia do conceito técnico, que alia a doçura tradicional do vácuo à energia e potência disponível do estado sólido.
Vincent SV/236, um amplificador com coração luminoso


O SV-236 apresentou-se ao serviço como um amplificador de 100W/c sobre 8 ómios, que quase dobra a potência na relação inversa da descida de impedância: uns apreciáveis 180W/4! O orgulho de ostentar o emblema de amplificador de Classe A é algo optimista: são apenas 10 watts em classe A pura, que determinam o carácter geral do som a níveis baixos, e sobre os quais assentam os robustos 100 watts em classe B “when things get tough”. Contudo, em face dos resultados obtidos, aceita-se a imodéstia da declaração.



O SV-236, que se estreou no palco da CES2005, pesa 18 quilos, em grande parte por culpa do transformador de baixo ruído de 5kV (ressona baixinho), mas não tem o aspecto exterior tosco e massivo de alguns dos seus pares: os dissipadores laterais estão bem integrados e protegidos no conjunto de uma estrutura arejada, e a janela transparente e luminosa (a roçar o kitsch) confere-lhe graça e leveza. A mim coube-me a versão em negro, mais monástica, mas pode optar pela alegria festiva da “prata”.

Por dentro está dividido em compartimentos blindados para a fonte de alimentação (com filtragem qb de 20 000uF por canal), andar de amplificação a válvulas, motor do controlo remoto e duplo andar de saída a transístores numa configuração complementar. Até o circuito passivo que assiste os controlos de tonalidade tem o seu próprio espaço independente.
Menina estás à janela


Além da residência valvular (são uma família de três 12AX7, mas só uma assoma nua e provocante à janela), que domina a fachada e atrai a nossa curiosidade de borboletas audiófilas, na frente temos os controlos de tonalidade (graves e agudos, mas deixe-os em paz), volume e selector de fontes (um led azul indica a fonte seleccionada); entre outros botões de pressão para activar o “tone”, um inusitado botão “loud”, que confere ao som uma textura mais espessa e agradável; além, claro, do botão de power cuja mola ressoa no metal circundante. Um pequeno led incrustado no controlo motorizado de volume pisca durante o “aquecimento” inicial, e acende-se depois quando pressionamos o respectivo comando no remoto para visualizarmos o movimento de rotação e a respectiva posição.



No meu caso, o botão ofereceu alguma resistência quando accionado manualmente, talvez devido a maus tratos no transporte, mas bastou puxá-lo ligeiramente para fora para tudo entrar nos eixos. Atrás temos seis pares de fichas RCA douradas para as diferentes entradas de linha (não tem andar phono para gira-discos) e saídas (rec out e preout), esta última ideal para atacar um subwoofer activo; e quatro pares de sólidos bornes preparados para a bicablagem das colunas de som.



NEM TUDO SÃO ROSAS

A minha primeira crítica vai, não para a qualidade das fichas e bornes, mas para a sua funcionalidade. As fichas RCA podiam estar um pouco menos embutidas no painel posterior para favorecer o contacto das fichas dos cabos; e os bornes, embora aceitem bananas, forquilhas e cabos nus, têm uma secção interna que favorece a utilização de cabos não-terminados em detrimento das forquilhas que têm de ter os braços bem abertos para os abraçar. Por outro lado, preferia que a entrada da corrente de sector não se fizesse pelo centro do painel posterior em total promiscuidade com a cablagem áudio. Um cabo de potência Siltech ou Nordost (ainda não experimentei os cabos da Vincent) pode ajudar aqui, pois estão bem isolados e não criam um campo magnético nas imediações.


A VOZ INTERIOR


Mas enfim, tudo se esquece quando o SV-236 se põe a cantar. É um bom gigante (a potência musical é generosa) com um coração de ouro (os registos médios parecem deixar-se influenciar pelos tons quentes da válvula protagonista envolta no seu manto vermelho de luz). Doce como os olhos da Amélia da canção popular: não há agressividade, dureza ou stress electrónico. O agudo de mel escorre-lhe pelos cantos marotos da boca. E contudo, o grave tem autoridade bastante e articulação suficiente para fundar a música no virtuosismo e dinâmica das secções rítmicas.


O SV-236 não tem medo de defrontar colunas difíceis e caprichosas de vias múltiplas ou de transdução exótica como as electrostáticas, mas o seu poder, ao mesmo tempo suave e sólido, em especial no extremo inferior do espectro sonoro, embora sem a articulação do Denon PMA-SA1, que analisei aqui na semana passada, faz maravilhas com colunas monitoras de pequeno porte, como as lindíssimas Sonus Faber Domus Concertino, pegando-lhes ao colo com a gentileza de quem tem plena consciência da sua força, quando o acidentado percurso musical começa a descer às profundezas das oitavas inferiores. As Concertino acompanham-no até onde podem e, no conjunto, fazem um par perfeito de preço quase acessível.


E não se pretenda confundir brandos costumes com falta de garra, paixão, drama; coerência e integridade com homogeneidade tonal; ou delicadeza de trato com fraqueza congénita. Força e discernimento, são estas as duas características principais de um som invulgar a este nível de preço.


O SV-236 não é um amplificador de alta definição, admito, mas tem um corpus sonoro harmonioso e orgânico, no qual o microdetalhe não se dilui, nem a presença e brilho próprio dos instrumentos se desvanece, antes dão o seu contributo para - à falta de melhor expressão - uma acústica de “aurora boreal”, cuja imagem resplandecente e ondulante nos rodeia como se fosse possível obter som surround com apenas duas colunas. O SV-236 é um doce encanto para os olhos e para os ouvidos que não se serve do preço para fazer subir o estatuto. Recomendado.


Preço: 1 300 euros


Distribuidor: JMAudio, telef. 93 649 4793, [email protected]


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