ORGANIZAÇÃO AUSENTE
Fiquei incrédulo quando, há uns meses, soube em primeira mão que o Audioshow se iria realizar na FIL e em paralelo com a Intercasa.
A breve visita (a mais curta de todas as 17 edições e, quem sabe, a última) desafiou as piores expectativas. A organização foi ausente. Não havia recepção, não havia guia, as poucas indicações eram tímidas e recônditas. O audioshow (?) teve que ser encontrado, já que nada o fazia anunciar. No pavilhão 3 lá estava um 'cluster', embebido na intercasa, de representantes e lojistas num contexto que se estranha e não se entranha. Neste contexto pode expor-se eletrónica de grande consumo (algo que a 'Audio' não assume). Ignoro a vantagem, para expositores e visitantes, de aí encontrarmos uns Dartzeel.
Um evento organizado(?) com desrespeito por visitantes e expositores.
Quem estivesse alerta e se desse ao trabalho de procurar tinha 5 - SALAS - 5 separadas da turba. Alguns comentários quanto a estas, agradecendo aos expositores o esforço de procurar dar alguma diginidade ao Audioshow:
Imacústica: um som medíocre com Wilson+Krell. A imacustica insiste em associar as duas marcas - uma combinação que nunca me convenceu (sabendo como as Wilson tocam com Dartzeel ...). Eles lá saberão. O som era de 'PA' no mau sentido do termo. 'Macho', 'bombado', sem refinamento, incapaz de fazer música.
Viasónica: quando lá estive o som estava demasiado alto, com alguma saturação dinâmica. A imagem era declaradamente 'larger than life' (algo que facilmente sucede com as Martin Logan), um aspecto que me desagrada sobremaneira. A 'costura' no grave das Martin Logan também me pareceu evidente. Mas era um sistema que tinha côr e comunicava, o que não deixou de ser uma lufada de ar fresco depois da sala da imacustica ...
Delmax: O Rui Borges foi capaz de extrair o melhor do material que levou. As dimensões da sala puxavam demasiado pelo sistema, sendo notório o constrangimento dinâmico. As colorações de caixa das Sonus Faber também não enganavam. Mas tudo isto tem que ser contextualizado: o sistema custava menos que os cabos de coluna (transparent) do sistema Wilson+Krell. Soava aberto, alegre. Comunicava. E isto com um orçamento muito sensato. Bom trabalho.
Polifer: Alguma coisa ali não funcionava. As dynaudio não são uma coluna que me agrade, mas o som estava demasiado opaco. Incompatibilidade entre a electrónica da Burmester e as Dynaudio? Pela minha parte teria preferido que também as colunas fossem da Burmester (os ribbons nas altas frequências têm sempre outro arejamento), mas também sei que os importadores têm por vezes que se limitar ao equipamento que têm disponível na ocasião.
Ajasom: Para mim a grande (e boa) surpresa, mesmo sendo amigo do António Almeida e sabendo que ele iria ter um sistema AV da Meridian. O AV é algo que habitualmente não me estimula, mas desta vez a conversa foi outra. A imagem era um assombro (!!!). O som surpreendente. As colunas de aplicação na parede da Meridian são excelentes (destaque para o tweeter de fita). O grave era soberbo em articulação e velocidade e em perfeita continuidade com tudo o resto ... ao contrário do que encontramos nos design reflex (isto é: quase tudo o que hoje se fabrica). Julgo que aqui também estaríamos a ouvir as vantagens da utilização de x-over activo ... uma solução que a Meridian, inteligentemente, utiliza há muitos anos. Todo o sistema soava perfeitamente integrado (perfeita a afinação do sub-woofer ... não se notava a sua 'entrada') proporcionando, em conjunto com a extraordinária imagem, uma experiência muitíssimo envolvente e intensa.
João Jarego
ESPERANÇA E VONTADE
Pergunta o JVH se os seus leitores não gostaram do que viram ou ouviram no Audioshow 2006. Eu respondo com uma pergunta: Qual Audioshow? Eu estive lá, vi tudo com atenção, ouvi o pouco que havia a ouvir com atenção, e digo-lhe, sinceramente, não gostei do que vi nem do pouco que ouvi. E tenho pena, porque já não lhe sei dizer há quantos anos vou ao Audioshow fazer a minha actualização anual de sonhos, e no ano passado fiquei com a impressão e com a esperança que a coisa estava a mudar para melhor - mais música a tocar, menos plasmas e explosões. Este ano acabou. No pavilhão 3, os poucos expositores mostravam o que tinham em Alta-Fidelidade estaticamente. Havia por lá obras de arte como as Stradivari, que estavam quedas, mudas e tristes (e ainda bem que estavam mudas, pois ninguém, que saiba o que significam na hierarquia complicada da alta-fidelidade, as quereria ver afirmar-se naquela confusão de feira de móveis e banheiras), havia por lá amplificadores Halcro, desligados, sozinhos, descobri um par de nuForce meio escondidos, desligados, ali à mão de lhes pegar e não dar valor absolutamente nenhum àquela caixa leve e nem sequer muito bem acabada...
Pode ser que este modelo de feira resulte para os importadores, lojas e representantes, afinal precisamos deles vivos e de boa saúde, e a avaliar pela quantidade de plasmas e LCD's e pela fila no balcão de crédito que havia cá fora no sábado...
Só que, vender mais um plasma hoje, sacrificando aqueles que sofrem com a falta de isolamento acústico no piso 1, é cuspir numa das mãos que dão o pão. Os fabricantes de automóveis produzem protótipos ultra-sofisticados e proporcionam-lhes cobertura mediática, mantêm um modelo topo-de-gama, caro de produzir e de vendas reduzidas. E isto porquê? Porque, quem compra um carro mais barato, sonha com os melhores, leva para casa um pedacinho do sonho. E o sonho cria-se, mantém-se e alimenta-se investindo no desenvolvimento e divulgação de produtos que apesar de provavelmente renderem poucos lucros, potenciam a venda das gamas mais baixas que herdam os nomes e algumas das tecnologias. Quantas unidades de Nautilus vendeu a B&W? E quantos milhares de colunas vendeu e vende dos seus modelos mais acessíveis, que usam tweters com o mesmo nome e aspecto semelhante aos das Nautilus?
Imagino que, num mercado pequeno como o nosso, não seja uma decisão difícil, do ponto de vista económico, optar por expor um sistema topo-de-gama numa feira especializada, arriscando criticas de entendidos e desentendidos, arriscando pouco público e poucos compradores, ou então, expor plasmas e LCD's, mais ou menos HD Ready, com ficha USB e encaixe para iPod, numa feira onde vai toda a gente e a família, e até vinha a calhar uma TV nova dessas fininhas. Pode-se argumentar que de sonhos e expectativas ninguém vive, e que para se poder demonstrar grátis grandes sistemas, há que vender muito 5.1 em coluninhas de plástico genuíno. Para quem isto é verdade, então o actual formato do Audioshow deve servir. Para os outros, espero que haja esperança e vontade de um certame dedicado ao Som e não aos números.
José Horta
MISÉRIA FRANCISCANA
Que miséria franciscana. Gostei das 3 salas da Imacústica e mais nada. A do Rui, como sempre, um magnífico som a preços que não são pornográficos. A Wilson mais Krell, tão magnífico que até a minha mulher gostou e notou a diferença. E as Martin Logan também estavam muito bem. E foi tudo.
Mal por mal prefiro o velhinho ISCTE. E depois os vendedores também deviam estar desmotivados por varias razões:
1. não sabiam distinguir à partida entre quem estava realmente interessado no Hifi dos mirones que foram ver móveis e candeeiros.
2. estavam lá há já um par de dias e aquilo mói. Eu sei porque já fiz muitas feiras.
3. depois vendiam o peixe deles mas não podiam demonstrar.
E a sala da Sony com o projector ligado a um Blu-ray. Quem é que montou aquilo? Que falta de cuidado. Não foi na Sony mas lembro-me de ver um ecrã enorme ligado a um leitor de DVD (ambos com entrada de video por componentes e HDMI) por video composto. Sim, o cabinho amarelo...
E o mais grave foi que a minha mulher quis ir e tive que gramar alguns expositores de móveis e candeeiros. Uma experiência que não desejo a ninguém.
Vamos lá a ver se entram em razão e no próximo ano fazem isto num sítio mais decente. É que não me apetece gastar 650 Km de gasolina mais portagens para ver algo indecente.
Rogério Neiva
O FIM DO AUDIOSHOW?
Infelizmente parece que desta é que foi o fim do AudioShow. Não sei se a falta de expositores a apostarem em salas de audição se deve a falta de verba para uma exposição estática e mais uma sala de audição, ou à discordância relativamente a este novo modelo. Ora suponho eu que a lógica de transplantar o Audioshow para a FIL, estivesse ligada não só à possibilidade de atingir um público mais amplo, mas também de permitir reduzir o valor de custo das salas, permitindo a presença de mais expositores, com mais e melhores salas de audição. Ora, o que se viu é exactamente a negação disso. Realmente nem sequer se poderá considerar que este ano houve um Audioshow, quando apenas existiam 4 salas de audição, todas elas de reduzidas dimensões e onde três delas eram de material do mesmo importador, que, honra lhe seja feita, continua a estar presente. Quanto às exposições estáticas, ou feitas no meio da confusão, nada têm a ver com Hi-Fi, não podem certamente de forma alguma arregimentar quem quer que seja para esta causa.
Quanto às salas: na do Rui Borges, com pouco equipamento e este de um custo modesto, não obstante tinha simpatia, bom som e boa música, sendo um exemplo a seguir. Na sala da Imacústica, sinceramente não gostei muito das Wilson, talvez por escolha do material colocado e quer-me parecer que eu e o funcionário da Imacústica não temos os mesmos gostos musicais, parece-me que este também não gosta do SACD, pois que me lembre não ouvi nenhum, nem neste ano nem nos outros anteriores. Já por outro lado, gostei mais do som das Martin Logan, com os Audio Research, que achei mais realista e transparente, do que a sala Wilson/Krell.
A sala da Videoacustica tinha um conjunto de material medíocre, estando a passar pela enésima vez aqueles filmes chineses de artes marciais, pelo que fugi a sete pés dali.
Gostei de ver a dinâmica do som e imagem do BluRay no expositor da Pioneer, com aquelas colunas fabulosas da Pioneer, mesmo estando apenas a serem alimentadas por um integrado AV da marca de Gama média alta (AX4i), tinham bastante pujança. A imagem do plasma que estava a ser utilizado aí, com as filmagens de um concerto de jazz, estava do melhor que já vi, já os excertos de filmes (Minority Report e outro) tinham uma qualidade de imagem apenas média. Os plasmas da Panasonic, os Full HD, também estavam bons e é tudo. Tudo o resto não merece menção, porque não estavam acima do que é habitual ver-se, numa fnac ou worten.
José Pedro Esteves Águas
VIA-SE O BUÇO DA CANTORA!
Sou seu leitor desde os tempos em que escrevia para a revista Audio, então uma revista de qualidade que se preocupava em informar com artigos técnicos bem escritos e com sentido de humor (refiro-me aos seus e aos do Holbein, que me deliciavam e faziam sonhar sobre as sensações que a magia da música, tocada através sistemas high end provocavam.... Bem, nessa época, era um jovem inconsciente, mas feliz. Tinha um sistema de som medíocre mas que me dava prazer ouvir, constituído por um receiver Onkyo. Com o passar dos anos o ouvido audiófilo foi amadurecendo, o que ontem era pura magia e sedução, nos dias de hoje acaba frequentemente em desilusão. E esta feira que era suposto ser um audioshow não fugiu à regra!
Fui no sábado. Do recinto da feira, propriamente dito, uma desilusão: só valeu a pena em termos visuais pelo sex-apeal das meninas da Pioneer, um exemplo a seguir em termos visuais, porque duvido que tanta beleza percebesse alguma coisa de som e imagem, enfim não se pode ter tudo..., e pelas poucas imagens de aparelhos. Interessante a imagem da intimidade de um power da Audio Research, que mostrava que um dos segredos do seu som são uns condensadores amarelitos de teflon da REL.
Das 6 salas de som, que devem ter passado despercebidas a 99% dos feirantes (quem vai compensar os importadores pelo esforço e dinheiro dispendido para tão pouco?) eis a minha opinião:
Em geral: Todas as salas com péssima acústica, onde para além disso se ouvia o ruído de fundo da ventilação da feira.
Delmax: Excepcional simpatia do Rui, que montou um sistema de custo razoável, a tocar de forma muito musical.
Imacústica: Num primeiro impacto impressionou o grave das Wilson com aquela sensação de UAU! Granda grave! Que impacto e resolução! Mas ao fim da segunda música... havia algo que não estava bem ali. O sistema não comunicava musicalmente! Estava lá tudo definido, graves, agudos, mas o som cansava. Ao fim da terceira música não aguentei mais e saí. Isto dá para reflectir! Um sistema com um custo daqueles devia maravilhar em todos os aspectos... Onde estava a falha? Não sei dizer... talvez o JVH possa elucidar... mas eu pessoalmente nunca gostei muito do som dos Transparent Cable e eles estavam lá...
Viasónica: Aqui fiquei algo confuso. Sentado do ponto central de audição os agudos soavam duros como nunca tinha ouvido de uma electrostáticas. Pondo-me de pé e fora do ponto central de audição, os agudos soavam muito macios mas algo retraídos.
Ajasom: Que espectáculo de imagem! Quase que dava para ver os pêlos do buço da cantora (não vou dizer qual...) O som era muito musical e detalhado, mas muito melhor com música (concertos em dvd) que com filmes. Aqui deveria ter um pouco mais de impacto. Este facto não deverá ter sido alheio ao António Almeida que utilizou principalmente concertos na demonstração. De qualquer forma, este para mim foi de longe o melhor som do Show e um dos melhores em cinema em casa que já ouvi. Os meus parabéns!
Por fim a Polifer: Um estreia agradável. Electrónica de excelente qualidade da Burmester, algo limitada pelas colunas da Dynaudio. Um cabo novo de coluna da Van Den Hul, topo de gama, que acho que promete. Pena a muito pouca gente que não viu nem ouviu!
Aguardo com expectativa o seu comentário final daquele que não foi para um audioshow. Espero que os organizadores tenham aprendido a lição.
Hugo Manuel Brito Águas
CORREDOR SEM VIDA
O meu nome é José Brandão e sou um apaixonado por música e equipamentos de música. Não falho um AudioShow desde 1997, ou seja, o ano em que vim viver para Lisboa e aguardo a sua realização com grande entusiasmo e ansiedade. Este ano, posso dizer que só a minha grande paixão por música me fez deslocar ao evento, uma vez que estava um pouco doente e o tempo também não ajudava nada mas, mesmo assim, meti-me no carro e lá fui fazer a viagem de 35km para esse tão esperado acontecimento. Claro, que ia um pouco receoso do que poderia encontrar. No entanto, como tinha lido o artigo do Engº Jorge Gonçalves, na Audio, a dizer que haveria auditórios, pensei que até podia ser interessante, quiçá?
Depois de ter dado a minha voltinha, já um pouco desanimado, pois aquilo não tinha nada a ver com o que eu estava habituado, perguntei a um dos representantes onde eram os auditórios e ele respondeu-me que só havia 4 e que tinha de sair do pavilhão e...já sabem o resto.
Poucos mas bons, pensei eu, até ver a verdadeira tristeza daquele corredor sem vida, Mas pior do que tudo isso, só mesmo o interior das salas e não falo da qualidade dos equipamentos, mas sim da falta de interesse/motivação das pessoas responsáveis pelas marcas, que certamente estariam a contar os minutos para se irem embora e esquecer aqueles dias.
Normalmente, não costumo criticar, mas se o faço agora é com receio que aquilo que sempre gostei se perca ou transforme em algo sem qualquer interesse e pode ser que se houver muitas pessoas com a minha opinião, o Jorge Gonçalves decida nunca mais fazer o AudioShow neste formato.
José Brandão
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE
Este texto é a minha (modesta) contribuição para o assunto do Audioshow. Parece que a adesão dos do costume foi fraca (encontro-me entre os ditos), mas se achar pertinente que esta opinião figure na lista correspondente, espero que possa ser um sinal para pensarmos no assunto com seriedade e profundidade. Eu, desde já, me coloco modestamente no lugar que acho que ocupo, pois é de gente bem informada que tais contribuições devem vir; e espero que venham.
Tenho, com a regularidade que me é possível, manifestado perante a sua pessoa opiniões/sugestões desde que este seu site (bem haja!) está na internetosfera. Os Audioshow passados não têm sido excepção (salvo erro, apenas num ano deveras complicado para mim). Este ano não fui ao Audioshow, muito embora pudesse ter ido. Preconceito? Uma dose disso, sem dúvida. Desconfiança? Também, um bocado, a gosto. Achar uma perca de tempo? Depois dos dois primeiros temperos, é óbvio que o caldo começa a saber muito a 'perca de tempo', de facto. Apesar disso, saliento a clara falta de informação/divulgação e, para um evento que teve a ousadia de arriscar tamanho salto, parece-me um contra-senso.
Vejamos: A organização destes eventos implica custos e investimentos, e parece-me clara a opção dos organizadores em tornar o evento Audioshow mais abrangente e democrático. Assim, fora da revista Audio (que consultei na internet) nada vi que anunciasse o Audioshow de 2006. Mesmo no seu site, quando dou conta, já tinha começado. Assim, parece-me que quer o mais refinado audiófilo, quer o maior amante da decoração de interiores (sejam eles quais forem) tenham observado, com alguma estranheza, a convivência entre tais produtos expostos, embora por razões diferentes (o audiófilo sabia ao que ia embora na esperança que pudesse ser diferente, mas os outros não terão feito a menor ideia de que iriam encontrar lá 'aquilo', passe a heresia da expressão). Mas, se calhar, não tenho razão, e até pode ter acontecido que tenham existido anúncios do Audioshow 2006 na Casa Cláudia e revistas afins...
No entanto, a questão fundamental a ser colocada é a seguinte: será possível conciliar, de facto, públicos desta natureza? Este é um exercício que, certamente, nos pode levar a deambulações muito longas com o risco de perdermos a referência essencial, e não é isso que pretendo. Isto é apenas uma opinião que pretende contribuir para uma discussão sobre o futuro.
A base da minha argumentação pode resumir-se ao seguinte: o mercado comanda/condiciona as nossas escolhas futuras. A realidade que temos à nossa volta é a de uma crise profunda na indústria discográfica, com as grandes multinacionais a perceberem (talvez um pouco tarde) que se devem virar para a internet e para a venda de música à unidade, em formato mp3, cuja qualidade audiófila nem vale a pena comentar. Por outro lado, o grande público vive fascinado com a imagem e os sistemas de cinema em casa, facto que a indústria cinematográfica percebeu e onde vai buscar proventos que porventura não consegue nas salas de cinema (já repararam no ritmo de rotação dos filmes nos cinemas actualmente? mesmo o dos bons filmes?).
Isto leva a que o futuro da audiofilia não seja propriamente brilhante. Mas há razões para temer a sua extinção? Como acontece com toda e qualquer estrutura ou grupo, se não há renovação geracional, o grupo definha lentamente e acaba por extinguir-se. Neste sentido, creio que devemos olhar para o futuro sem preconceitos, e creio que pode haver sentido em encaixar um Audioshow (que pode não ser aquele que mais
desejo) numa Intercasa, ao lado das sanitas e dos tapetes. Afinal, cumprem uma função para um mesmo fim: a casa! Por isso, vejo como proveitoso este tipo de eventos para distribuidores cuja gama de produtos apela ao grande público, e até pode ser bem conduzido no sentido de educar o visitante para a diferença entre um sistema acessível de outro que se vende a retalho num hipermercado (já chegávamos a algum lado). Para muitos ainda é válida a premissa de 'para quê comprar um DVD de 250 euros, quando estes aqui custam 90?', embora nem só do preço viva um produto, mas creio que percebe o que quero dizer. Também posso ver como vantajoso que certos distribuidores vejam nestes eventos a possibilidade de aceder a uma franja maior de um grupo com poder de compra efectivo, e que nunca na vida foi a um Audioshow, e acha que ter um sistema chique é comprar B&O. Já há muita coisa (boa e cara!) que não é sinónimo de feio ou inestético, e para algum deste público a possibilidade de arranjar um décor audiófilo que é completamente diferente do de uma qualquer Tátá é argumento suficiente para comprar.
O que não pode acontecer: Não fui ao Audioshow 2006, por isso, não sei quem lá esteve. Mas não me custa imaginar/prever que os pequenos distribuidores (talvez a maioria) se tenham simplesmente alheado do evento. De facto, muito do público tradicional do Audioshow não encaixa ali. Não me considero nem pretendo ser um audiófilo puro (longe disso), mas sim um amante de música que descobriu os prazeres da sua reprodução com qualidade e que assim ficou para sempre amarrado a esta causa. Por isso mesmo, acho não só importante, mas também fundamental, que exista um outro 'Audioshow', mais reservado, como uma sessão de prova de (bons) vinhos, bem promovido e beneficiando da exposição que o Audioshow teve para um público mais vasto (meus amigos, está na hora de trabalharmos em uníssono). No que não nos poderemos tornar é numa espécie de clube em que só é considerado bem-vindo se souber emitir uma opinião temperada com uma dúzia de termos técnicos pelo meio (eu digo desde já que não consigo!). Não é preciso ser enólogo para apreciar um bom vinho. Talvez a renovação geracional não se faça (como muitas vezes imaginamos) somente com jovens, mas se calhar com pessoas maduras (estou a pensar em toda a gama de idades!), cuja experiência pessoal leva a apreciar outras formas de estar e de viver. Assim como no poema de Manuel Alegre haverá sempre alguém que resiste, creio que aqui também haverá sempre alguém que, bem conduzido num momento certo da sua vida, apreciará a boa reprodução musical e o prazer que ela transposta, assim como o calor que nos transmite aos corações, talvez demasiadamente frios pela panóplia tecnológica que nos rodeia.
Mário A. Gonçalves
GOSTEI DO PRIMALUNA
As suas notas sobre o Audioshow no Hi Fi Clube estavam muito boas. Desloquei-me a Lisboa, nesta 5ª feira, e ouvi o sistema da Krell e as Martin Logan. As Martin Logan são muito musicais e o sistema da Krell demonstrou uma garra e energia fora do vulgar, comparado com o sistema da Burmester que, ao lado do Krell, não tocava 'nada'. Também gostei do Prima Luna, aliás concordo com as suas observações: o sistema não era caro mas era muito agradável. Aguardo mais notas suas sobre o Audioshow.
Nuno Baptista
FIQUEI ESTUPEFACTO
Há cerca de um ano, escrevi-lhe a propósito do Audioshow, mais concretamente sobre qual achava ser o melhor e o pior som do evento. Devo-lhe informar que tinha deixado de ir ao audioshow, desde a 1ª edição do ISTL, tendo voltado o ano passado. Muita gente, muita confusão, poucas condições de audição e, acima de tudo, um evento onde quem procura fazer uma escolha sobre um determinado equipamento acaba por sair mais confuso do que entrou. Este ano voltei ao audioshow. Um novo local, outras condições, fui 5ª feira, às 15 horas, para fugir a uma enchente, etc… Embora sabendo que o evento acontecia em simultâneo com a Intercasa, esperava tudo menos aquilo que vi. Finalmente no pavilhão 3 aparecem os primeiros equipamentos de electrónica. Algures entre os expositores de tapetes e os de material de WC's!!!!
Fiquei estupefacto. Os equipamentos da Audio Research, Sonus Faber e Krell, logo ali ao lado dos resguardos dos Polibans. Gostaria imenso que fossem tão acessíveis quanto estes, mas infelizmente não o são. Senti-me, enquanto amante de música, bastante desiludido. Electrónica deste calibre é apenas um sonho para a grande maioria daqueles que visitam o show. Se no ISTL não havia condições, na FIL dificilmente se poderia descer mais baixo. O espanto ainda foi maior quando deparei com o facto da maioria do equipamento estar apenas em exposição estática. Quando questionado um dos expositores como poderia aceder às salas de audição e/ou se as havia, a resposta foi esta: “Não sei bem. Penso que tem que sair do edifício e subir de elevador ao primeiro andar. Acho que lá as há!”. Bastou. Abandonei a exposição. O que vale é que a visitei com um convite da Imacústica. Mesmo assim não valeu o tempo que perdi, os quilómetros que fiz e a gasolina que gastei. Será assim que se quer angariar clientes? Pelo menos a Pioneer foi inteligente nesse aspecto. Umas miúdas giríssimas e Plasmas com fartura sempre chamam a atenção daqueles que não sabem se devem comprar o ultimo grito em frigoríficos, ou um tapete nas cores da moda. Acho que muita gente vai sair dali a pensar que os Amplificadores da Audio Research são torradeiras a válvulas e as colunas da Wilson uns frigoríficos com um design fora do comum. Se pelo menos estivessem ligados e a dar alguma música, mesmo sem ser nas condições ideais, fica-se com uma ideia do que aquilo é. Envio-lhe este mail porque sinto que, ao contrário do que muita vez refere, neste mundo do high-end não há muita simpatia, nem muita vontade em vender…
Sérgio Fernandes
TRISTEZA E DESILUSÃO
Sou um seu leitor atento, já há bastante tempo. Do mesmo modo, também sou um visitante e apreciador do Audioshow praticamente desde as suas primeiras edições. Foi, portanto, com tristeza e desilusão que visitei mais uma vez a edição de 2006, deste importante evento audiófilo nacional.
Contudo, se já é incomodativo ver peças no valor de vários milhares de euros alta-fidelidade misturadas com frigoríficos, cozinhas e máquinas de café, pior ainda é verificar que o Audioshow encolheu! Além disso, as condições de audição das poucas salas disponíveis não foram propriamente exemplares.
Se o argumento desta mudança é trazer mais gente para a alta-fidelidade, expandindo o mercado, pergunto como é que isso será possível com este formato? Duvido que alguém possa sentir algum interesse em adquirir, por exemplo, umas colunas de 10.000 euros se não tiver oportunidade de compreender que aquele produto se distingue de outro vinte vezes mais económico, não só pela estética, mas também pela performance musical. Por outras palavras, é como se os importadores fossem pregar 'o cristianismo' aos infiéis, apelando à sua conversão, mas sem poderem celebrar missa. Ou seja, esta tentativa de captar gente nova para o mundo da alta-fidelidade vai ser, do meu ponto de vista, infrutífera e uma enorme desilusão.
Como Maomé não foi à montanha, resolveu-se trazer um “pequeno monte de areia” até Maomé. Por isso, soube a pouco..., até porque a verdadeira montanha é muito maior do que aquilo que por lá se viu!
Tal como na parábola do filho pródigo: volta Audioshow estás perdoado!
Pedro Afonso
O QUE DISSE A BÁRBARA?
Parece que foi um 'audiozinhoshow' pela reportagem no site...
À parte do audioshow que não visitei, não resisti a dar uma boa gargalhada com aquela da Bárbara guimarães e até imaginei a conversa entre os dois, que envio em anexo.
Há muitas possibilidades de o teor da conversa ser próxima dos balões que inseri em cima da imagem ... :-)
Fernando Magalhães
AUDIOSHOW Nº17
Maioridade ou fim de ciclo?!
Durante anos construiu-se uma ideia de high-end ou último pináculo da Tecnologia que nos transportava e aproximava à música, obsessão audiófila que afectou e afecta milhares de fãs em todo o Mundo.
Se por um lado foi ganhando adeptos, críticos e toda uma plêiade de construtores num processo de aprendizagem e diferenciação, por outro lado não veio representando percentualmente uma maioria em matéria de consumo de electrónica. Estou a falar naturalmente na franja de topo em matéria de equipamentos quer áudio, quer hoje o cinema.
Não é fácil portanto imaginar lucros elevadas em pequenas fatias de mercado! Mas o supremo, a busca incessante da perfeição tem esse custo. Durante os últimos vinte anos também em Portugal este conceito cresceu atingindo mesmo picos de entusiasmo, direi mesmo algo desajustados para a bolsa desta pequena parcela audiófila militante.
Todos aplaudimos 'de pé' o entusiasmo dos importadores e dos organizadores de certames verdadeiramente high-end dos últimos anos.
Há deste modo uma consciência colectiva no seio desta já grande colectividade não só mundial mas também cá no nosso país. A título de exemplo veja-se o renascimento do vinil que só em 2005 representou mais de 10% das vendas globais tendo toda a imprensa estrangeira a referir enfaticamente o retorno de máquinas fabulosas como o Continuum Caliburn e o Clearaudio Statement a custarem o preço de apartamentos. Estará errado? Quem entenderá este paradigma?
O que nós sabemos de certeza é que apenas o público alvo o poderá respeitar e admirar em toda a sua glória e não uma enorme massa a (crítica) que não se coíbe nos comentários desajustados porque ignorante (é um processo de aprendizagem lento...) quando se mistura o altamente diferenciado com outras coisas do consumo que, com o devido respeito, têm o seu lugar próprio.
Falo por mim e dou comigo a pensar no lançamento mundial das Stradivari rodeadas então de pompa e circunstância num castelo medieval em Itália com tochas acesas... para depois partilharem com outras peças de alto prestígio num espaço aberto e estático perfilando-se em silêncio rodeadas de ruído!
Será necessário sacrificar a dignidade destes autênticos objectos de arte massificando-os sem que possam atingir as massas?
Deixo estas reflexões para todos os que representam e influenciam o 'status quo' do high-end em Portugal para que continue a ter o destaque que merece como até aqui e não se torna indiferenciado nesta ânsia de consumo pelo consumo.
Para terminar este meu desencanto, nem uma fotografia consegui fazer (persistência da memória), desejo que se faça de novo luz nesta opacidade globalizante.
Viva a diferenciação!
Jorge Cabral