Munique é a capital do “Mundial”. Mas nem por isso a febre do futebol tomou conta da cidade. Se fosse em Lisboa, respirava-se futebol por toda a parte. A cidade bávara, contudo, com excepção do aeroporto, não parece refém da promoção do evento. Lá se vê um cartaz ou outro e, em algumas lojas, vendem-se as “recordações” do costume: chávenas, copos, bandeiras e cachecóis.
Promoção da Nike à nossa selecção numa montra de Munique
Na montra de uma loja de desporto, dou de caras com a promoção da Nike à nossa selecção, garbosamente ao lado do Brasil e da Holanda, sob o lema “Joga bonito”. E vi o Cristiano Ronaldo, sorridente e gloriosamente belo, nos desdobráveis das revistas femininas, lidas no metropolitano por miúdas com olhos gulosos, cabelo em “arco-íris” e piercings múltiplos no nariz, sobrancelhas e língua. O metro, que noutras cidades é apenas o espelho sujo da sociedade urbana, é aqui limpo e até permite que os cidadãos se façam acompanhar do cão ou da bicicleta. Não há aparentemente qualquer controlo de bilhetes: nem torniquetes, nem fiscais, nada. Compra-se o bilhete por uma questão de civismo, assim como se paga o jornal que se retira de expositores abertos sem qualquer controle electrónico ou humano. E também não se vê polícias a patrulhar as ruas…
Loewe Parade: cá são vacas, lá são leões...
A única semelhança entre Lisboa e Munique é a “Parade”: a nossa é de vacas, a deles é de leões: Loewe Parade. Ora a escolha dos leões até pode ter alguma lógica porque são o símbolo da cidade. Mas porquê as vacas em Lisboa? Ainda se fossem pêgas (ou serão corvos?). Bom, entre vacas e pêgas que escolha o diabo: em ambos os casos, a associação que se faz é de gosto duvidoso, e não deixa lá muito bem vistas as nossas mulheres. Que são bem mais bonitas que as alemãs, diga-se...
Fica o elogio ao trabalho meritório dos nossos artistas: as nossas vacas são muito mais bonitas também! Por comparação, os leões de Munique não passam de uma confrangedora exibição artística de lugares comuns, sem gosto nem imaginação.
Músicos com trajes típicos da Baviera
Também é verdade que, em Munique, as pessoas têm muito mais com que se entreter. Como tentar manter as tradições, por exemplo: ouvem-se agrupamentos musicais nas cervejarias; e desfilam músicos na rua com os típicos calções de couro bávaros e chapéu de pena. Nas arcadas dos monumentos da Marienplatz, ecoa o som de uma harpa! É óbvio que não estamos em Lisboa, pois o instrumento seria um acordeão. Embora o objectivo seja o mesmo - sacar umas moedas piedosas aos transeuntes - o contexto é que é diferente...
Nos restaurantes típicos, o serviço e a comida são demasiado folclóricos para o meu gosto. Optei pelo italiano Via Veneto, na Josephplatz. Abri com um risotto de espargos e funcho, prossegui com um fegatto grelhado (Kalbsleber, na carta, pois claro: na Alemanha sê alemão), com puré de batata e decorado com framboesas, e terminei em apoteose com um tiramisu divino, tudo regado com um tinto italiano de excepção. Ao copo. Só em Portugal é que temos de comprar (e beber) a garrafa toda…
AO VIVO NO HIGHEND
As JM Lab Alto ao...alto
Para fazer frente ao habitual “Live Concert” da B&W, com um PA à base de “801D”, numa configuração 5.2, a Focal resolveu patrocinar a actuação ao vivo de Fellow&Friend, um duo composto por um guitarrista branco e uma cantora negra, e utilizou um par de Utopia Alto, montando-as sobre pedestais à boca do palco. Mas o som no hall da feira estava péssimo: empastelado e confuso - as ressonâncias não ajudavam nada...
O palco da B&W
Na B&W actuou este ano o duo de Anne Haigis, numa sala com lugares sentados e razoáveis condições acústicas. No enorme hall, o som estava muito alto para compensar, e as Alto estavam obviamente em sofrimento; já o som das B&W nunca subiu mais do que é habitual em ambiente doméstico.
Não é pois possível concluir se é boa ideia trocar o habitual PA por colunas highend: os músicos devem achar que não, pois montaram monitores profissionais de palco para se ouvirem a si próprios…
ELES FALAM, FALAM…
Sala da MBL
Nas salas dedicadas ao hifi, foram sobretudo os grandes sistemas que atraíram os visitantes: todos querem ouvir o que não podem comprar (mesmo na Alemanha). Contudo, havia mais gente na Quinta e na Sexta que no Sábado e no Domingo, o que significa que o Highend se está a tornar num certame para profissionais. Ou então os bávaros resolveram aproveitar a tímida réstea de sol de Sábado, entre chuvas e trovoada, para fazer piqueniques…
Sala da Sonus Faber: mais conversa...
Os visitantes distinguem-se uns dos outros porque os profissionais têm um ar atarefado e falam mais do que ouvem, enquanto os audiófilos têm um ar alucinado e ouvem mais do que falam - e lá como cá andam de saquinho na mão ou mochila às costas vergados ao peso dos catálogos. Contudo, lá, ao contrário de cá, os catálogos são todos traduzidos. É tudo em alemão - até os filmes de cowboys são dobrados na televisão…
E se os alemães falam que se fartam... Aquilo são seminários e mais seminários, conferências e mais conferências, apresentações especiais, longas dissertações e descrições técnicas, tudo antes de um homem poder ouvir um disquinho que seja. Embora um pouco enferrujado, o meu alemão lá foi dando para as encomendas (sobretudo nos restaurantes), e eu lá estive estoicamente em todas as apresentações possíveis. Mas ali quem não falar a língua germânica está lixado. A não ser que seja distribuidor e vá comprar alguma coisa - aí eles passam logo a falar inglês: business is business…
Ayon Sunrise II vs. Unison SP8
No seminário da revista Stereoplay, fez-se a comparação sistemática de diferentes topologias a válvulas: tríodos, pêntodos, Classe A, Classe +A-A (esta é nova, hã?), etc. Lá mais para a frente nesta reportagem, vou contar-vos o que se passou. Em pormenor - Entschuldigung, mas aprendi com eles…
Válvula de Fleming de 1904
O conferencista recuou até 1904 (!) e, recorrendo a projecções de fotos e gráficos num ecrã, por onde desfilaram válvulas mil, explicou tudo tim-tim por tim-tim em alemão cerrado. Por altura de 1945, já a minha mulher dormia ao meu lado, ignorando o meu cotovelo. E ele falava, falava, olhando sempre para mim, talvez porque eu tivesse um “badge” da press e era um colega potencial. Logo eu, que só conseguia perceber 2/3 do que ele dizia e tremia só de pensar que ele me ia fazer alguma pergunta. Mesmo assim fiquei acima da média, porque era o único que estava com atenção. Todos os alemães à minha volta tinham estampada no rosto a inevitável pergunta: Mas quando é que este gajo põe música?...
VÁLVULAS NO ALTAR DO SOM
The mighty Kronzilla
uVAC, o microamplificador a válvulasHavia por lá mais válvulas acesas que velas há no santuário de Fátima, pelo que a tradição do Highend Show continua a ser o que era. Estavam lá os amplificadores a válvulas todos: do poderoso Kronzilla ao uVac, o microamplificador a válvulas mais pequeno do mundo, com apenas 2 x 1 watt. E ainda mais alguns que eu nunca tinha visto na vida. Stay tuned…
NO PARAÍSO DOS GIRA-DISCOS:
Transrotor Artus, 118 000 euros de gira-disco!...
Em quase todas as demonstrações havia, além das inevitáveis fontes digitais, que soam cada vez melhor, gira-discos analógicos de todas as cores, tamanhos e feitios.
Vou dedicar um capítulo exclusivo aos gira-discos, não só publicando as habituais fotografias dos maravilhosos Transrotor, o ex-libris do Highend, como relatando o que se passou no seminário da revista AUDIO (a deles!), durante o qual foram comparados modelos de vários tipos de gira-discos, utilizando-se as mesmas faixas e o mesmo sistema complementar para todos, incluindo o Transrotor Artus, que custa a módica quantia de 118 000 euros (!).
Será o Artus melhor que um velho Garrard com 50 anos, recuperado por um artífice genial como o nosso Rui Borges? Saiba como 40 pessoas numa sala, incluindo os demonstradores, não notaram que havia algo de errado no som do Transrotor Artus. E era tão óbvio, mesmo na sexta fila onde eu estava sentado, que soava a escândalo,: tinha os canais trocados! Contudo toda a gente achou que era o que soava melhor. Seria do preço de 118 000 euros? Ou por ser tão espectacular? Ainda há quem diga que o hábito não faz o monge…
Apolyt, prato de 40Kg suspenso no ar...
Mas nada do que eu já vi no reino analógico se compara com o gira-discos Apolyt. É do tamanho de uma máquina de lavar loiça, utiliza um compressor industrial para manter o prato de 40 quilos suspenso no ar sem qualquer contacto físico (!). Uma vez atingidas as 33 rpm, cortada a cinta umbilical que liga o prato ao motor, só a inércia é suficiente para o prato continuar a girar durante 14 dias! Leu bem, não são 14 horas, são 14 dias...
BOSENDORFER: DO REAL AO VIRTUAL
Um dueto que não era da corda...
Foi uma das apresentações especiais mais interessantes. Uma pianista e um oboista, …eh…tocador de oboé… (ver vídeo) interpretaram pequenas peças de Mozart e Tchaikovsky que eram registadas em tempo real num gravador digital. O público presente ouvia depois a transcrição para CD sem sair da sala, num sistema com amplificação a válvulas e colunas Bosendorfer (natürlich).
Eu fiquei sentado mesmo ao pé dos músicos (hélas, tive de sair antes do fim porque estou constipado e me deu um ataque de tosse que podia ter arruinado a gravação), e posso garantir que as Bosendorfer reproduzem o timbre dos instrumentos na perfeição, apenas numa escala mais reduzida, o que afecta de certo modo a tonalidade e o corpo: ao vivo a componente “madeira” do oboé e, sobretudo, a caixa do piano têm muito mais influência no som. E havia lá outros ouvidos portugueses como testemunhas “muito” interessadas: Carlos Abreu, Rui Palhinha e Paulo Gomes. Não há fumo sem fogo…
UMA QUESTÃO DE FÉ
Alguns dos produtos apresentados no Highend só podem ter sucesso comercial se o ouvinte tiver muita fé. É um pouco como as curas milagrosas, embora sejam sempre fornecidas abundantes provas científicas abonadas por cientistas e universidades anónimas.
Fast Audio acaba com as ressonâncias adversas nas salas...
Você, caro leitor, pode não acreditar como eu, mas estas estatuetas em madeira e metal, do tamanho de um maço de tabaco, propostas pela Fast Audio, controlam as ressonâncias adversas dentro das salas. Pelo menos é o que eles dizem. Eu pensei que era para levar à mesa do pequeno-almoço com ovos de codorniz…
Haliaetus Firebird+Booster, as colunas foguetão!...
E o que dizer das colunas francesas Haliaetus, cujas fotos já foram aqui publicadas ontem? As saídas dos pórticos reflex baseiam-se nos tubos de escape do foguetão Ariane! Tudo com o apoio oficial da Agência Espacial Europeia, provavelmente para justificar os milhões em fundos que recebe da UE, pois é preciso provar que ir lá acima serve para alguma coisa cá em baixo - nem que seja para fabricar colunas destas…
FEIRA DE VAIDADES
MOC, de Munique, entrada do HighEnd Show
Desde que se transferiu para o M,O,C, o centro de feiras e congressos de Munique, o HighEnd Show ganhou uma atmosfera de “feira”, perdendo-se o espírito bucólico e poético do “hifi among the trees” do velho Kempinski, em Frankfurt. Mas o HighEnd continua a ser o único hifishow onde ainda é possível ver e ouvir debaixo do mesmo tecto os mais belos e estranhos sistemas de som do mundo. E também os melhores…
É isso que eu vou tentar mostrar aos leitores do Hificlube, ao longo da semana, levando-os pela mão até Munique, tendo como veículo privilegiado a palavra escrita e, sobretudo, a imagem (tirei centenas de fotos e fiz alguns vídeos).
Porque, nisto do som, não há nada como ver para ouvir…
Promoção da Nike à nossa selecção numa montra de Munique
Na montra de uma loja de desporto, dou de caras com a promoção da Nike à nossa selecção, garbosamente ao lado do Brasil e da Holanda, sob o lema “Joga bonito”. E vi o Cristiano Ronaldo, sorridente e gloriosamente belo, nos desdobráveis das revistas femininas, lidas no metropolitano por miúdas com olhos gulosos, cabelo em “arco-íris” e piercings múltiplos no nariz, sobrancelhas e língua. O metro, que noutras cidades é apenas o espelho sujo da sociedade urbana, é aqui limpo e até permite que os cidadãos se façam acompanhar do cão ou da bicicleta. Não há aparentemente qualquer controlo de bilhetes: nem torniquetes, nem fiscais, nada. Compra-se o bilhete por uma questão de civismo, assim como se paga o jornal que se retira de expositores abertos sem qualquer controle electrónico ou humano. E também não se vê polícias a patrulhar as ruas…
Loewe Parade: cá são vacas, lá são leões...
A única semelhança entre Lisboa e Munique é a “Parade”: a nossa é de vacas, a deles é de leões: Loewe Parade. Ora a escolha dos leões até pode ter alguma lógica porque são o símbolo da cidade. Mas porquê as vacas em Lisboa? Ainda se fossem pêgas (ou serão corvos?). Bom, entre vacas e pêgas que escolha o diabo: em ambos os casos, a associação que se faz é de gosto duvidoso, e não deixa lá muito bem vistas as nossas mulheres. Que são bem mais bonitas que as alemãs, diga-se...
Fica o elogio ao trabalho meritório dos nossos artistas: as nossas vacas são muito mais bonitas também! Por comparação, os leões de Munique não passam de uma confrangedora exibição artística de lugares comuns, sem gosto nem imaginação.
Músicos com trajes típicos da Baviera
Também é verdade que, em Munique, as pessoas têm muito mais com que se entreter. Como tentar manter as tradições, por exemplo: ouvem-se agrupamentos musicais nas cervejarias; e desfilam músicos na rua com os típicos calções de couro bávaros e chapéu de pena. Nas arcadas dos monumentos da Marienplatz, ecoa o som de uma harpa! É óbvio que não estamos em Lisboa, pois o instrumento seria um acordeão. Embora o objectivo seja o mesmo - sacar umas moedas piedosas aos transeuntes - o contexto é que é diferente...
Nos restaurantes típicos, o serviço e a comida são demasiado folclóricos para o meu gosto. Optei pelo italiano Via Veneto, na Josephplatz. Abri com um risotto de espargos e funcho, prossegui com um fegatto grelhado (Kalbsleber, na carta, pois claro: na Alemanha sê alemão), com puré de batata e decorado com framboesas, e terminei em apoteose com um tiramisu divino, tudo regado com um tinto italiano de excepção. Ao copo. Só em Portugal é que temos de comprar (e beber) a garrafa toda…
AO VIVO NO HIGHEND
As JM Lab Alto ao...alto
Para fazer frente ao habitual “Live Concert” da B&W, com um PA à base de “801D”, numa configuração 5.2, a Focal resolveu patrocinar a actuação ao vivo de Fellow&Friend, um duo composto por um guitarrista branco e uma cantora negra, e utilizou um par de Utopia Alto, montando-as sobre pedestais à boca do palco. Mas o som no hall da feira estava péssimo: empastelado e confuso - as ressonâncias não ajudavam nada...
O palco da B&W
Na B&W actuou este ano o duo de Anne Haigis, numa sala com lugares sentados e razoáveis condições acústicas. No enorme hall, o som estava muito alto para compensar, e as Alto estavam obviamente em sofrimento; já o som das B&W nunca subiu mais do que é habitual em ambiente doméstico.
Não é pois possível concluir se é boa ideia trocar o habitual PA por colunas highend: os músicos devem achar que não, pois montaram monitores profissionais de palco para se ouvirem a si próprios…
ELES FALAM, FALAM…
Sala da MBL
Nas salas dedicadas ao hifi, foram sobretudo os grandes sistemas que atraíram os visitantes: todos querem ouvir o que não podem comprar (mesmo na Alemanha). Contudo, havia mais gente na Quinta e na Sexta que no Sábado e no Domingo, o que significa que o Highend se está a tornar num certame para profissionais. Ou então os bávaros resolveram aproveitar a tímida réstea de sol de Sábado, entre chuvas e trovoada, para fazer piqueniques…
Sala da Sonus Faber: mais conversa...
Os visitantes distinguem-se uns dos outros porque os profissionais têm um ar atarefado e falam mais do que ouvem, enquanto os audiófilos têm um ar alucinado e ouvem mais do que falam - e lá como cá andam de saquinho na mão ou mochila às costas vergados ao peso dos catálogos. Contudo, lá, ao contrário de cá, os catálogos são todos traduzidos. É tudo em alemão - até os filmes de cowboys são dobrados na televisão…
E se os alemães falam que se fartam... Aquilo são seminários e mais seminários, conferências e mais conferências, apresentações especiais, longas dissertações e descrições técnicas, tudo antes de um homem poder ouvir um disquinho que seja. Embora um pouco enferrujado, o meu alemão lá foi dando para as encomendas (sobretudo nos restaurantes), e eu lá estive estoicamente em todas as apresentações possíveis. Mas ali quem não falar a língua germânica está lixado. A não ser que seja distribuidor e vá comprar alguma coisa - aí eles passam logo a falar inglês: business is business…
Ayon Sunrise II vs. Unison SP8
No seminário da revista Stereoplay, fez-se a comparação sistemática de diferentes topologias a válvulas: tríodos, pêntodos, Classe A, Classe +A-A (esta é nova, hã?), etc. Lá mais para a frente nesta reportagem, vou contar-vos o que se passou. Em pormenor - Entschuldigung, mas aprendi com eles…
Válvula de Fleming de 1904
O conferencista recuou até 1904 (!) e, recorrendo a projecções de fotos e gráficos num ecrã, por onde desfilaram válvulas mil, explicou tudo tim-tim por tim-tim em alemão cerrado. Por altura de 1945, já a minha mulher dormia ao meu lado, ignorando o meu cotovelo. E ele falava, falava, olhando sempre para mim, talvez porque eu tivesse um “badge” da press e era um colega potencial. Logo eu, que só conseguia perceber 2/3 do que ele dizia e tremia só de pensar que ele me ia fazer alguma pergunta. Mesmo assim fiquei acima da média, porque era o único que estava com atenção. Todos os alemães à minha volta tinham estampada no rosto a inevitável pergunta: Mas quando é que este gajo põe música?...
VÁLVULAS NO ALTAR DO SOM
The mighty Kronzilla
uVAC, o microamplificador a válvulasHavia por lá mais válvulas acesas que velas há no santuário de Fátima, pelo que a tradição do Highend Show continua a ser o que era. Estavam lá os amplificadores a válvulas todos: do poderoso Kronzilla ao uVac, o microamplificador a válvulas mais pequeno do mundo, com apenas 2 x 1 watt. E ainda mais alguns que eu nunca tinha visto na vida. Stay tuned…
NO PARAÍSO DOS GIRA-DISCOS:
Transrotor Artus, 118 000 euros de gira-disco!...
Em quase todas as demonstrações havia, além das inevitáveis fontes digitais, que soam cada vez melhor, gira-discos analógicos de todas as cores, tamanhos e feitios.
Vou dedicar um capítulo exclusivo aos gira-discos, não só publicando as habituais fotografias dos maravilhosos Transrotor, o ex-libris do Highend, como relatando o que se passou no seminário da revista AUDIO (a deles!), durante o qual foram comparados modelos de vários tipos de gira-discos, utilizando-se as mesmas faixas e o mesmo sistema complementar para todos, incluindo o Transrotor Artus, que custa a módica quantia de 118 000 euros (!).
Será o Artus melhor que um velho Garrard com 50 anos, recuperado por um artífice genial como o nosso Rui Borges? Saiba como 40 pessoas numa sala, incluindo os demonstradores, não notaram que havia algo de errado no som do Transrotor Artus. E era tão óbvio, mesmo na sexta fila onde eu estava sentado, que soava a escândalo,: tinha os canais trocados! Contudo toda a gente achou que era o que soava melhor. Seria do preço de 118 000 euros? Ou por ser tão espectacular? Ainda há quem diga que o hábito não faz o monge…
Apolyt, prato de 40Kg suspenso no ar...
Mas nada do que eu já vi no reino analógico se compara com o gira-discos Apolyt. É do tamanho de uma máquina de lavar loiça, utiliza um compressor industrial para manter o prato de 40 quilos suspenso no ar sem qualquer contacto físico (!). Uma vez atingidas as 33 rpm, cortada a cinta umbilical que liga o prato ao motor, só a inércia é suficiente para o prato continuar a girar durante 14 dias! Leu bem, não são 14 horas, são 14 dias...
BOSENDORFER: DO REAL AO VIRTUAL
Um dueto que não era da corda...
Foi uma das apresentações especiais mais interessantes. Uma pianista e um oboista, …eh…tocador de oboé… (ver vídeo) interpretaram pequenas peças de Mozart e Tchaikovsky que eram registadas em tempo real num gravador digital. O público presente ouvia depois a transcrição para CD sem sair da sala, num sistema com amplificação a válvulas e colunas Bosendorfer (natürlich).
Eu fiquei sentado mesmo ao pé dos músicos (hélas, tive de sair antes do fim porque estou constipado e me deu um ataque de tosse que podia ter arruinado a gravação), e posso garantir que as Bosendorfer reproduzem o timbre dos instrumentos na perfeição, apenas numa escala mais reduzida, o que afecta de certo modo a tonalidade e o corpo: ao vivo a componente “madeira” do oboé e, sobretudo, a caixa do piano têm muito mais influência no som. E havia lá outros ouvidos portugueses como testemunhas “muito” interessadas: Carlos Abreu, Rui Palhinha e Paulo Gomes. Não há fumo sem fogo…
UMA QUESTÃO DE FÉ
Alguns dos produtos apresentados no Highend só podem ter sucesso comercial se o ouvinte tiver muita fé. É um pouco como as curas milagrosas, embora sejam sempre fornecidas abundantes provas científicas abonadas por cientistas e universidades anónimas.
Fast Audio acaba com as ressonâncias adversas nas salas...
Você, caro leitor, pode não acreditar como eu, mas estas estatuetas em madeira e metal, do tamanho de um maço de tabaco, propostas pela Fast Audio, controlam as ressonâncias adversas dentro das salas. Pelo menos é o que eles dizem. Eu pensei que era para levar à mesa do pequeno-almoço com ovos de codorniz…
Haliaetus Firebird+Booster, as colunas foguetão!...
E o que dizer das colunas francesas Haliaetus, cujas fotos já foram aqui publicadas ontem? As saídas dos pórticos reflex baseiam-se nos tubos de escape do foguetão Ariane! Tudo com o apoio oficial da Agência Espacial Europeia, provavelmente para justificar os milhões em fundos que recebe da UE, pois é preciso provar que ir lá acima serve para alguma coisa cá em baixo - nem que seja para fabricar colunas destas…
FEIRA DE VAIDADES
MOC, de Munique, entrada do HighEnd Show
Desde que se transferiu para o M,O,C, o centro de feiras e congressos de Munique, o HighEnd Show ganhou uma atmosfera de “feira”, perdendo-se o espírito bucólico e poético do “hifi among the trees” do velho Kempinski, em Frankfurt. Mas o HighEnd continua a ser o único hifishow onde ainda é possível ver e ouvir debaixo do mesmo tecto os mais belos e estranhos sistemas de som do mundo. E também os melhores…
É isso que eu vou tentar mostrar aos leitores do Hificlube, ao longo da semana, levando-os pela mão até Munique, tendo como veículo privilegiado a palavra escrita e, sobretudo, a imagem (tirei centenas de fotos e fiz alguns vídeos).
Porque, nisto do som, não há nada como ver para ouvir…