Sala Polifer/Burmester
Tenho um carinho especial por Dieter Burmester, que sempre me recebeu com amizade e simpatia. O carinho é extensivo à marca que ostenta o seu nome, ou não fosse a Burmester um projecto pessoal de afirmação pessoal, pois foi a primeira a conseguir romper o círculo vicioso do “som alemão”, tradicionalmente duro e com ênfase nos registos médio-altos.
Sempre associei a Burmester ao luxo e à classe pura (e não dura), pelo que, depois de assistir, durante 15 anos, a demonstrações fabulosas, no Kempinski, de Frankfurt, custou-me ver equipamentos desta categoria exibidos no último Audioshow, sem as condições mínimas (e não me refiro apenas às condições acústicas, mas também de enquadramento estético e “religioso”) para poderem justificar o elevado preço de venda a um público conhecedor e apreciador do que há de melhor no mercado mundial.
Até o “Corte Inglês” sabe que certas iguarias se vendem melhor no espaço “Gourmet”…
Em boa verdade, não posso afirmar que a sala 1210 do Sheraton tinha as condições ideais para demonstrar as potencialidades das notáveis colunas B80 e do amplificador Ref. 909, que é, reconhecidamente, um dos melhores do mundo, se não mesmo o melhor do mundo em alguns aspectos, nomeadamente a arte de debitar “poder suave”, de que os Audionet são dignos seguidores; além, claro, de todo o equipamento complementar, já amplamente divulgado, e que me dispenso de enunciar de novo.
Mas todo o ambiente de evento cultural que envolveu o Highend Show foi, por si só, motivo bastante para lhes devolver a dignidade audiófila, apesar dos inevitáveis erros de percurso associados à eventual inexperiência neste tipo de certames, que não à boa vontade, simpatia e esforço dos anfitriões, com os quais, estou certo, virei a ter um relacionamento mais estreito e profícuo do que com o anterior distribuidor, com as consequências que se conhecem…
Será desta que se cumpre o desejo enunciado na reportagem CES 2005?...
Dois dos erros, que aponto com espírito construtivo, aliás comuns a outros expositores, foram a escolha de música e volume de som.
Entrei três vezes na sala da Polifer e, de todas as vezes, azar ou sorte minha, ouvi Hugh Masekela a cantar “Stimela”. Como se tivessem deixado a faixa em modo “repeat” só para impressionar.
Esta é, sem dúvida, a faixa mais famosa de um dos mais notáveis álbuns registados ao vivo deste cantor africano de intervenção política: o tema é forte, tal como as palavras, que constituem um libelo acusatório e violento contra a exploração da mão de obra barata e miserável dos trabalhadores africanos, nas minas de diamantes da África do Sul, para onde viajam dos seus países de origem, sem garantia de regresso, num comboio a vapor (stimela). Convenhamos que ouvir este tema num sistema de milhares de euros é quase uma provocação…
A banda animada por um público rendido à sua qualidade arranca para uma interpretação fabulosa que, pelo seu dramatismo e dinâmica, se tornou em pouco tempo um disco de culto audiófilo (a versão SACD é de cortar a respiração e o LP é ainda melhor). A faixa é longa (10 min.) e, tratando-se de uma narrativa, exige que o público se sente ou, no mínimo, que a oiça do princípio ao fim, o que é exigir muito numa situação de demonstração de porta aberta, numa sala apertada, na qual excertos curtos de música variada são mais aconselháveis.
Dieter Burmester sempre utilizou Masekela para exibir os dotes do seu sistema topo de gama, mas em sessões de meia-hora, à porta fechada, nas quais se serviam faixas seleccionadas de vários géneros musicais, num crescendo dinâmico que terminava com Stimela e os “Tambores Chineses”, de Yim Hok-Man.
Nota: A partir de 2004, com as transferência do HighEnd de Frankfurt para Munique, Dieter Burmester, passou a fazer demonstrações de porta aberta e adoptou os Eagles. O mercado tem razões que a razão bem conhece...
HighEnd 2004
HighEnd 2005
Aliás, este é o programa contido no disco-demonstração utilizado pela Polifer, o Burmester AudioSysteme Vorführungs-CD III, e que podia ter sido deixado a correr, pois tem muitos outros motivos de interesse musical: Melissa Walker, Paganini, John Lee Hooker, Bernie Wallace, etc.
Acresce que “Stimela” deve ouvir-se alto, quase a níveis de concerto ao vivo, o que, se é verdade que impressiona quem ouve sentado, atento e imerso no palco sonoro, pode afastar o passante, em especial o tutti frenético de vozes e percussão, já na parte final, que está 10dB acima do nível médio da gravação.
O mesmo se pode dizer dos espectaculares tambores chineses (não, não era o Kodo), a que só grandes sistemas como o da Burmester podem fazer justiça. Apesar da qualidade do registo, comentários como “aqui só se ouve batucada” podem deixar uma impressão errada a quem circula nos corredores de falta de requinte e subtileza que são virtudes reconhecidas da marca.
Burmester Ref. 909/B80
À terceira foi de vez: “Stimela” estava a tocar bem alto, e o “pas-de-deux” das B80 com o 909 cumpriu as expectativas deste vosso audiófilo, que já os ouviu em outros palcos sempre com inegável agrado, quando não mesmo espanto: poder, autoridade, corpo e profundidade dos registos graves, densidade acústica dos registos médios, elevada resolução e doçura controlada dos agudos fazem parte do habitual denominador comum da Burmester, que pode variar (e muito) com as circunstâncias, como foi o caso, levando a comentários entre o entusiástico e o defraudado, mas sem nunca pôr em causa o essencial: o elevado potencial de um sistema verdadeiramente highend!
O desejo de posse insinua-se insidioso quando oiço Burmester…
Tenho um carinho especial por Dieter Burmester, que sempre me recebeu com amizade e simpatia. O carinho é extensivo à marca que ostenta o seu nome, ou não fosse a Burmester um projecto pessoal de afirmação pessoal, pois foi a primeira a conseguir romper o círculo vicioso do “som alemão”, tradicionalmente duro e com ênfase nos registos médio-altos.
Sempre associei a Burmester ao luxo e à classe pura (e não dura), pelo que, depois de assistir, durante 15 anos, a demonstrações fabulosas, no Kempinski, de Frankfurt, custou-me ver equipamentos desta categoria exibidos no último Audioshow, sem as condições mínimas (e não me refiro apenas às condições acústicas, mas também de enquadramento estético e “religioso”) para poderem justificar o elevado preço de venda a um público conhecedor e apreciador do que há de melhor no mercado mundial.
Até o “Corte Inglês” sabe que certas iguarias se vendem melhor no espaço “Gourmet”…
Em boa verdade, não posso afirmar que a sala 1210 do Sheraton tinha as condições ideais para demonstrar as potencialidades das notáveis colunas B80 e do amplificador Ref. 909, que é, reconhecidamente, um dos melhores do mundo, se não mesmo o melhor do mundo em alguns aspectos, nomeadamente a arte de debitar “poder suave”, de que os Audionet são dignos seguidores; além, claro, de todo o equipamento complementar, já amplamente divulgado, e que me dispenso de enunciar de novo.
Mas todo o ambiente de evento cultural que envolveu o Highend Show foi, por si só, motivo bastante para lhes devolver a dignidade audiófila, apesar dos inevitáveis erros de percurso associados à eventual inexperiência neste tipo de certames, que não à boa vontade, simpatia e esforço dos anfitriões, com os quais, estou certo, virei a ter um relacionamento mais estreito e profícuo do que com o anterior distribuidor, com as consequências que se conhecem…
Será desta que se cumpre o desejo enunciado na reportagem CES 2005?...
Dois dos erros, que aponto com espírito construtivo, aliás comuns a outros expositores, foram a escolha de música e volume de som.
Entrei três vezes na sala da Polifer e, de todas as vezes, azar ou sorte minha, ouvi Hugh Masekela a cantar “Stimela”. Como se tivessem deixado a faixa em modo “repeat” só para impressionar.
Esta é, sem dúvida, a faixa mais famosa de um dos mais notáveis álbuns registados ao vivo deste cantor africano de intervenção política: o tema é forte, tal como as palavras, que constituem um libelo acusatório e violento contra a exploração da mão de obra barata e miserável dos trabalhadores africanos, nas minas de diamantes da África do Sul, para onde viajam dos seus países de origem, sem garantia de regresso, num comboio a vapor (stimela). Convenhamos que ouvir este tema num sistema de milhares de euros é quase uma provocação…
A banda animada por um público rendido à sua qualidade arranca para uma interpretação fabulosa que, pelo seu dramatismo e dinâmica, se tornou em pouco tempo um disco de culto audiófilo (a versão SACD é de cortar a respiração e o LP é ainda melhor). A faixa é longa (10 min.) e, tratando-se de uma narrativa, exige que o público se sente ou, no mínimo, que a oiça do princípio ao fim, o que é exigir muito numa situação de demonstração de porta aberta, numa sala apertada, na qual excertos curtos de música variada são mais aconselháveis.
Dieter Burmester sempre utilizou Masekela para exibir os dotes do seu sistema topo de gama, mas em sessões de meia-hora, à porta fechada, nas quais se serviam faixas seleccionadas de vários géneros musicais, num crescendo dinâmico que terminava com Stimela e os “Tambores Chineses”, de Yim Hok-Man.
Nota: A partir de 2004, com as transferência do HighEnd de Frankfurt para Munique, Dieter Burmester, passou a fazer demonstrações de porta aberta e adoptou os Eagles. O mercado tem razões que a razão bem conhece...
HighEnd 2004
HighEnd 2005
Aliás, este é o programa contido no disco-demonstração utilizado pela Polifer, o Burmester AudioSysteme Vorführungs-CD III, e que podia ter sido deixado a correr, pois tem muitos outros motivos de interesse musical: Melissa Walker, Paganini, John Lee Hooker, Bernie Wallace, etc.
Acresce que “Stimela” deve ouvir-se alto, quase a níveis de concerto ao vivo, o que, se é verdade que impressiona quem ouve sentado, atento e imerso no palco sonoro, pode afastar o passante, em especial o tutti frenético de vozes e percussão, já na parte final, que está 10dB acima do nível médio da gravação.
O mesmo se pode dizer dos espectaculares tambores chineses (não, não era o Kodo), a que só grandes sistemas como o da Burmester podem fazer justiça. Apesar da qualidade do registo, comentários como “aqui só se ouve batucada” podem deixar uma impressão errada a quem circula nos corredores de falta de requinte e subtileza que são virtudes reconhecidas da marca.
Burmester Ref. 909/B80
À terceira foi de vez: “Stimela” estava a tocar bem alto, e o “pas-de-deux” das B80 com o 909 cumpriu as expectativas deste vosso audiófilo, que já os ouviu em outros palcos sempre com inegável agrado, quando não mesmo espanto: poder, autoridade, corpo e profundidade dos registos graves, densidade acústica dos registos médios, elevada resolução e doçura controlada dos agudos fazem parte do habitual denominador comum da Burmester, que pode variar (e muito) com as circunstâncias, como foi o caso, levando a comentários entre o entusiástico e o defraudado, mas sem nunca pôr em causa o essencial: o elevado potencial de um sistema verdadeiramente highend!
O desejo de posse insinua-se insidioso quando oiço Burmester…