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2006

Ii Forum Hifi Event: A Reportagem - Parte 5



Como se diz em gíria financeira houve uma tomada forte do II Fórum Hifi Event por parte da Esotérico: duas salas enormes para exposição estática e dinâmica dos seus produtos, algo que já não acontecia há muito tempo no audioshow, por razões que terão a ver com o avultado investimento necessário sem garantia de retorno imediato.


A Esotérico, que recentemente passou por um processo de “divórcio” não-litigioso com a Artaudio e a Transom, que faziam parte do mesmo grupo, quis por certo demonstrar que está pronta para enfrentar o futuro no difícil mercado nacional, que passa por uma fase prolongada de pessimismo e depressão económica. Daí a aposta clara em produtos que cobrem todas as áreas e nichos da electrónica de consumo em áudio e vídeo.
Jamo Aesthetic Series


Como audiófilo, interessam-me sobretudo os produtos que se podem englobar no conceito alargado de highend, já os distribuidores precisam de ter uma perspectiva mais ampla e de diversificar a oferta. Assim justifica-se a opção da Esotérico por apresentar soluções mais económicas dentro das actuais tendências do mercado: AV (NAD, Onkyo), iPod (Jamo) e acessórios para áudio e vídeo com a Fujitsu como representante da imagem à volta da qual tudo gira hoje.
NAD Master Series dual mono integrated amp


No highend, que é a área prioritária à qual o Hificlube se dedica, as atenções focaram-se sobre a NAD Master Series e, em especial, as Jamo R909.


JAMO R909

Foram apresentadas na CES 2006, no stand da Jamo. Admito que não estive presente. Não posso ir a todo o lado e tenho de fazer opções. Talvez por preconceito, nunca considerei a Jamo uma marca audiófila, antes as via como um sucedâneo mais acessível da também dinamarquesa Bang&Olufsen. Aliás, o design futurista da Aesthetic Series, de sistemas de colunas para aplicações AV, aponta claramente nesse sentido. Assim nada fazia esperar que as R909 pudessem ter entrada imediata na categoria do que eu considero ser “highend”, isto sem prejuízo de aceitar como pertinentes algumas críticas que me foram chegando por email de, e cito o leitor José Águas apenas a título de exemplo: “um som morto, sem vida, sem realismo”. Nota: ler também na secção Correio a opinião do leitor João Anselmo.

Para mim, que durante anos construí todas as minhas colunas de raiz, até chegar à conclusão que nunca conseguiria satisfazer o meu desejo de perfeição, as Jamo R909 são uma obra-prima, um projecto electroacústico revolucionário que eu gostaria de ter concebido. As colunas de caixa aberta, ditas “open-baffle”, não são uma novidade. Aliás, as Martin Logan, que ultimamente tenho utilizado como referência, são-no também.


Todos os dipolos funcionam muito bem até aos 200Hz, e aquilo que se perde em termos de poder e impacte ganha-se em transparência, claridade, ausência de colorações e ressonâncias e, sobretudo, “ar”. Contudo, o elevado comprimento de onda das frequências baixas provoca cancelamentos de fase entre as radiações frontal e traseira do altifalante que se anulam mutuamente.


Ao contrário do que se pensa, as caixas de ressonância, embora possam ser utilizadas para reforçar determinadas frequências, com recurso à frequência de ressonância em função do volume de ar no interior, ou a técnicas de “carga” acústica, como as linhas-de-transmissão (que eu prefiro) e os sistemas reflex ou ABR, as caixas, dizia eu, são necessárias sobretudo para “absorver” a radiação traseira e evitar os tais cancelamentos.


A prova é que um painel-aberto (“open-baffle”), isto é, apenas uma “tábua” sem caixa, é quanto basta para evitar os cancelamentos, desde que - e aqui é que reside o busílis da questão - tenha as dimensões necessárias para evitar que o produto de ambas as “radiações” opostas se encontrem no espaço. Nos agudos e médios, com comprimentos de onda de alguns centímetros, é fácil. Mas vamos supor que pretendemos que o altifalante reproduza frequências graves até aos 30Hz. O comprimento de onda é da ordem dos 11 metros! O que significa que teoricamente o “baffle” (que significa obstáculo) teria de ter 5, 5 metros de raio, no caso de uma tábua circular para melhor compreensão! Convenhamos que seria pouco prático para colocar em casa…

Como conseguiu então Henrik Mortensen, o engenheiro responsável por este extraordinário projecto, o milagre de obter uma resposta quase plana dos 25H-30000Hz, sem cancelamentos nos graves, com uma coluna cujo “baffle” tem apenas cerca de meio metro de largura? Cá está, não conseguiu, porque as leis da física acústica não se regem pela fé. O que ele deu foi a volta ao problema…


Os cancelamentos de fase entre as radiações frontal e traseira dos altifalantes de graves não são totais e aumentam 6dB por oitava em função da descida de frequência. Portanto, o segredo é utilizar dois altifalantes de graves capazes de níveis superiores a 100dB e utilizar o filtro para linearizar a resposta entre os altifalantes de graves, o médio e o tweeter, de tal forma que por cada cancelamento de 6dB o filtro passa-baixas compensa o nível em relação aos filtros de passa-altas: +6dB aos 200Hz, +12 dB aos 100Hz e +18dB aos 50Hz, pois não era possível ir mais longe. Engenhoso, hã? Bom, estou convencido que também há um jogo de ligeira rotação controlada de fase entre os dois altifalantes de graves, mas o segredo é a alma do negócio…



Não admira, pois, que na audição haja tantas diferenças de opinião. Tudo depende das expectativas que se criam. Fundamentalmente, as R909 são isentas de colorações de caixa, vibrações e ressonâncias. E são tonalmente muito equilibradas, respiram como um todo orgânico. O painel aberto confere à imagem estereofónica a “grandiosidade” típica dos dipolos. Por outro lado, falta-lhes o “poder” associado às colunas de caixa, por muito que seja falso e resulte de “reforço” artificial por aproveitamento da frequência de ressonância da caixa ou da “sintonização” do pórtico, que “roda” a fase da radiação traseira, tranformando assim a coluna num bipolo em frequências específicas.

A resposta declarada de 25Hz da R909 é optimista. Conheço as faixas do disco utilizado na demonstração como a palma das minhas mãos e constatei que, apesar de todos os seus esforços, Mortensen, não conseguiu evitar a “quebra” na última oitava. Contudo, o grave das R909 tem uma característica de transparência que se assemelha em muito aos registos médios das Martin Logan, e isso é um feito digno de realce.



Não havendo caixa, é a própria sala que a substitui. Assim, eu teria colocado as colunas um pouco mais afastadas da parede de fundo e mais próximas uma da outra para melhorar a reprodução da profundidade do palco e dar mais corpo e substância ao “canal central virtual” da reprodução estéreo. As R909 não precisam de uma sala tão grande. Por muito que se tente, as radiações frontal e traseira vão acabar por se encontrar também sob a forma de reflexos secundários algures na sala, pelo que é natural que duas pessoas sentadas em dois pontos diferentes oiçam coisas diferentes. As R909 ainda que bem afastadas da parede atrás delas devem ser ouvidas no campo próximo.



Apesar de breve, esta minha primeira experiência com as R909 permite-me cotá-las como das melhores colunas de som actualmente no mercado. Tanto que gostaria de as voltar a ouvir.

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