O evento em si e a reportagem têm tempos diferentes: o tempo narrativo não corresponde nunca ao tempo real. É assim também no cinema. As memórias que ficam suscitadas pelas fotos dos momentos vividos são agora visitadas ao sabor do tempo subjectivo da escrita, que já não cabe nos limites inexoráveis do tempo objectivo que passou. O desfasamento temporal entre momento e pensamento, que Virgínia Woolf contornou na sua obra, com a técnica de “stream of consciouness”, e que tanto perturbou Fernando Pessoa, é uma das causas das diferenças de opinião. E o que é uma opinião senão a distorção subjectiva da realidade? Podem as fotos proporcionar as mesmas emoções que senti no acto de as tirar? Ou serão as fotos uma realidade outra, que não a que eu vivi?...
O que se segue não é, pois, uma reportagem, é apenas mais uma experiência de “escrítica”: a descrição foto a foto do seu conteúdo visual e emocional. Sem nenhuma ordem específica. As fotos vão surgindo como os pensamentos. Sem serem convidadas. A que se seguem outros pensamentos. Não porque sejam obras de arte. Mas porque reflectem um desejo de perfeição em cada sala.
INTERLUX
Na' não-sala' da Interlux, as Gallo tocaram ao vivo
O Gallo cantou ao entardecer. Em campo aberto. A rebate como o sino da aldeia. O povo “ajuntava-se” para ouvir o sermão musical no adro da igreja. Passamos o tempo a queixar-nos dos efeitos deletérios das salas. E quando ouvimos umas colunas “sem sala”, desejamos tê-la. “Que pena as Gallo Reference III não terem tocado numa sala”, comentava-se.
VPI Aries III
Apesar de tudo, a pressão sonora fazia-se sentir, a imagem estava lá, o “swing” do VPI e o “tacho” de graves também. Mesmo sem o amplificador que as pode levar até às profundezas do inferno. O Carlos está perdoado. Até porque me enviou um par de Gallos para eu ouvir na minha capela particular. São feias, admito. Mas a beleza está nos olhos de quem olha. E no reino dos céus a beleza está no espírito - espero…
Vítor Torres, um audiófilo fiel e dedicado - e um bom amigo, ouve atentamente as 'suas' Gallo Reference III
Vítor Torres tem umas Gallo Reference III. Com amplificação Accoustic Arts. Tal como se ouviu no Hotel Villa Rica. Há quem esteja farto do que tem em casa e goste de novas aventuras. Ele não. O adro da Interlux foi o constante ponto de partida das suas procissões audiófilas. Como se não pudesse estar muito tempo sem as ouvir, sem respirar aquele som analógico, enchia o peito de música, num longo fôlego até chegar de novo à superfície. Há colunas assim: prendem-nos, como as sereias…
Há muitas formas de ouvir. Com a frescura dos 20 anos. Ou com a experiência da vida. Ao fundo, fotografei inadvertidamente o Miguel Barroso (creio) no acto de me fotografar fotografando. Será que daquele lado o som era diferente? Será que é tudo uma questão de perspectiva?…
Nota: informou-me Miguel Barroso que não é ele o fotógrafo, mas sim António Salgueiro. Fica a correcção e o pedido de desculpas pelo erro que se deveu ao facto de eu não os conhecer pessoalmente.
MERCAUDIO
Acolitadas por electrónica Myryad: leitor-CD MXC-6000 e amp. integrado MXI-2150, ouvi, durante breves instantes, na sala longa e estreita da Mercaudio, as Acoustic Energy AE1 Classic, que, como o nome indica, são um “remake” de um minimonitor clássico da década de 90. A opção por uma colocação demasiado próxima de paredes reflectoras, para melhor controlar os modos da sala, acabou por prejudicar a imagem estereofónica, e com ela a “substância” do som, o que terá desiludido alguns visitantes. Mas o potencial está lá, pois quem sai aos seus não degenera, e eu sempre gostei de “clássicos”.
Myryad MXC-6000 e MXI-2150
As AE1 Classic são um “nearfield” monitor de alta precisão para utilização intensiva em estúdios de gravação e de rádio. Os resultados teriam sido, pois, muito melhores com as colunas colocadas em posição mais elevada, mais próximas uma da outra, e também com o ouvinte sentado no campo próximo. A ideia é ouvir o som directo antes de ouvir os reflexos secundários. A AE1 Classic é uma minilupa. Num estúdio fotográfico corresponde à lupa que se utiliza para ver se os “slides” estão nítidos. Este é um monitor da “nitidez” do som, capaz de elevados níveis de pressão sonora (o próprio altifalante de metal funciona como dissipador e tem um movimento pistónico em toda a sua banda de trabalho…). Ou seja: não pensem que no ForumHifi Event ouviram tudo aquilo de que as AE1 Classic são capazes. Estou convencido que com um Nuforce por trás até se ouviriam os pêlos da barba do cantor a crescer…
ZEN AUDIO
É uma nova empresa nacional da área do áudio. Aos comandos está o Miguel Pais. With a little help from Augusto Quadros. E lá estavam os dois juntos no “Event”. A grande surpresa foi o facto de as Von Schweikert VR4 estarem associadas a electrónica Lyngdorf, uma empresa dissidente da TACT que utiliza a mesma tecnologia. Nos EUA é distribuída sob a designação BOZ. Mas isso já os leitores do Hificlube sabem há muito tempo. O que me deixa feliz é que o Miguel se inspirou na minha reportagem da CES 2006 para se lançar no mercado com a Lyngdorf (ver Artigos Relacionados). E quando eu lhe disse que as VR4 estavam a “pegar” um bocadinho na sala inflacionando os registos médio-graves, ele respondeu: “ o som está directo, sem recurso a igualização computorizada, até porque o JVH gostou mais do som sem igualização em Las Vegas”, fiquei sensibilizado, mas pensei: “nem tudo o que JVH diz é lei, e esta sala precisava de um ligeiro tempero…”.
Miguel Pais, mais um herói no campo de batalha do mercado de áudio
Não sei se, no Domingo, o Miguel já tinha optado pela igualização, até porque este sistema foi aquele em que parece ter havido mais diferenças de opinião. Terão todos os visitantes ouvido a mesma coisa? Tal como sucede em todas as salas, eu verifiquei que o som era melhor nuns pontos que noutros. E quando voltei para fazer mais umas fotos, ouvia-se música portuguesa. Os Lyngdorf e as VonSchweikert deixaram passar incólume a entoação característica do sotaque alentejano. Um bom augúrio, digo-vos eu, vindo de equipamentos com nomes germanófilos tão estranhos…
Zen Audio é um nome interessante para uma empresa distribuidora de áudio. Está associado a algo de transcendente e esotérico, e foi obviamente inspirado por uns cabos que andavam por ali…
Mas Zen sugere logo amplificadores a válvulas SE de 2W, com enrolamento de prata benzida nos transformadores e fabricados por monges budistas para se aquecerem nos templos das montanhas geladas. Ora não há de nada de mais científico do que a Lyngdorf - aquilo é tudo à base de matemática. Eu sei porque, há muitos anos, Peter Lyngdorf apresentou-me o jovem engenheiro responsável pelo TACT, e ele mostrou-me o livro das fórmulas para explicar como aquilo funcionava. Parecia que tinha vindo de outro planeta…
O que se segue não é, pois, uma reportagem, é apenas mais uma experiência de “escrítica”: a descrição foto a foto do seu conteúdo visual e emocional. Sem nenhuma ordem específica. As fotos vão surgindo como os pensamentos. Sem serem convidadas. A que se seguem outros pensamentos. Não porque sejam obras de arte. Mas porque reflectem um desejo de perfeição em cada sala.
INTERLUX
Na' não-sala' da Interlux, as Gallo tocaram ao vivo
O Gallo cantou ao entardecer. Em campo aberto. A rebate como o sino da aldeia. O povo “ajuntava-se” para ouvir o sermão musical no adro da igreja. Passamos o tempo a queixar-nos dos efeitos deletérios das salas. E quando ouvimos umas colunas “sem sala”, desejamos tê-la. “Que pena as Gallo Reference III não terem tocado numa sala”, comentava-se.
VPI Aries III
Apesar de tudo, a pressão sonora fazia-se sentir, a imagem estava lá, o “swing” do VPI e o “tacho” de graves também. Mesmo sem o amplificador que as pode levar até às profundezas do inferno. O Carlos está perdoado. Até porque me enviou um par de Gallos para eu ouvir na minha capela particular. São feias, admito. Mas a beleza está nos olhos de quem olha. E no reino dos céus a beleza está no espírito - espero…
Vítor Torres, um audiófilo fiel e dedicado - e um bom amigo, ouve atentamente as 'suas' Gallo Reference III
Vítor Torres tem umas Gallo Reference III. Com amplificação Accoustic Arts. Tal como se ouviu no Hotel Villa Rica. Há quem esteja farto do que tem em casa e goste de novas aventuras. Ele não. O adro da Interlux foi o constante ponto de partida das suas procissões audiófilas. Como se não pudesse estar muito tempo sem as ouvir, sem respirar aquele som analógico, enchia o peito de música, num longo fôlego até chegar de novo à superfície. Há colunas assim: prendem-nos, como as sereias…
Há muitas formas de ouvir. Com a frescura dos 20 anos. Ou com a experiência da vida. Ao fundo, fotografei inadvertidamente o Miguel Barroso (creio) no acto de me fotografar fotografando. Será que daquele lado o som era diferente? Será que é tudo uma questão de perspectiva?…
Nota: informou-me Miguel Barroso que não é ele o fotógrafo, mas sim António Salgueiro. Fica a correcção e o pedido de desculpas pelo erro que se deveu ao facto de eu não os conhecer pessoalmente.
MERCAUDIO
Acolitadas por electrónica Myryad: leitor-CD MXC-6000 e amp. integrado MXI-2150, ouvi, durante breves instantes, na sala longa e estreita da Mercaudio, as Acoustic Energy AE1 Classic, que, como o nome indica, são um “remake” de um minimonitor clássico da década de 90. A opção por uma colocação demasiado próxima de paredes reflectoras, para melhor controlar os modos da sala, acabou por prejudicar a imagem estereofónica, e com ela a “substância” do som, o que terá desiludido alguns visitantes. Mas o potencial está lá, pois quem sai aos seus não degenera, e eu sempre gostei de “clássicos”.
Myryad MXC-6000 e MXI-2150
As AE1 Classic são um “nearfield” monitor de alta precisão para utilização intensiva em estúdios de gravação e de rádio. Os resultados teriam sido, pois, muito melhores com as colunas colocadas em posição mais elevada, mais próximas uma da outra, e também com o ouvinte sentado no campo próximo. A ideia é ouvir o som directo antes de ouvir os reflexos secundários. A AE1 Classic é uma minilupa. Num estúdio fotográfico corresponde à lupa que se utiliza para ver se os “slides” estão nítidos. Este é um monitor da “nitidez” do som, capaz de elevados níveis de pressão sonora (o próprio altifalante de metal funciona como dissipador e tem um movimento pistónico em toda a sua banda de trabalho…). Ou seja: não pensem que no ForumHifi Event ouviram tudo aquilo de que as AE1 Classic são capazes. Estou convencido que com um Nuforce por trás até se ouviriam os pêlos da barba do cantor a crescer…
ZEN AUDIO
É uma nova empresa nacional da área do áudio. Aos comandos está o Miguel Pais. With a little help from Augusto Quadros. E lá estavam os dois juntos no “Event”. A grande surpresa foi o facto de as Von Schweikert VR4 estarem associadas a electrónica Lyngdorf, uma empresa dissidente da TACT que utiliza a mesma tecnologia. Nos EUA é distribuída sob a designação BOZ. Mas isso já os leitores do Hificlube sabem há muito tempo. O que me deixa feliz é que o Miguel se inspirou na minha reportagem da CES 2006 para se lançar no mercado com a Lyngdorf (ver Artigos Relacionados). E quando eu lhe disse que as VR4 estavam a “pegar” um bocadinho na sala inflacionando os registos médio-graves, ele respondeu: “ o som está directo, sem recurso a igualização computorizada, até porque o JVH gostou mais do som sem igualização em Las Vegas”, fiquei sensibilizado, mas pensei: “nem tudo o que JVH diz é lei, e esta sala precisava de um ligeiro tempero…”.
Miguel Pais, mais um herói no campo de batalha do mercado de áudio
Não sei se, no Domingo, o Miguel já tinha optado pela igualização, até porque este sistema foi aquele em que parece ter havido mais diferenças de opinião. Terão todos os visitantes ouvido a mesma coisa? Tal como sucede em todas as salas, eu verifiquei que o som era melhor nuns pontos que noutros. E quando voltei para fazer mais umas fotos, ouvia-se música portuguesa. Os Lyngdorf e as VonSchweikert deixaram passar incólume a entoação característica do sotaque alentejano. Um bom augúrio, digo-vos eu, vindo de equipamentos com nomes germanófilos tão estranhos…
Zen Audio é um nome interessante para uma empresa distribuidora de áudio. Está associado a algo de transcendente e esotérico, e foi obviamente inspirado por uns cabos que andavam por ali…
Mas Zen sugere logo amplificadores a válvulas SE de 2W, com enrolamento de prata benzida nos transformadores e fabricados por monges budistas para se aquecerem nos templos das montanhas geladas. Ora não há de nada de mais científico do que a Lyngdorf - aquilo é tudo à base de matemática. Eu sei porque, há muitos anos, Peter Lyngdorf apresentou-me o jovem engenheiro responsável pelo TACT, e ele mostrou-me o livro das fórmulas para explicar como aquilo funcionava. Parecia que tinha vindo de outro planeta…