“Filha da mãe”, foi este o título que dei ao meu teste das Sonus Faber Amator II, publicado então no DN, já lá vão uns bons anos. Pretendia com ele significar que elas “saíam” à mãe - na circunstância as Extrema - que eu utilizava no meu sistema de referência.
Lembro-me que o título foi mal entendido em Itália, e prestou-se até a algumas piadas, porque Franco Serblin ficara com a ideia de que eu tinha chamado “filha da puta” às Amator, como me confessou na sua primeira visita a Portugal. Não que as Extrema fossem senhoras bem comportadas - tinham pêlo na venta, e sopravam quando a mostarda lhes chegava ao nariz. Adoravam rapazes novos e fortes, como os Krell - logo aos dois de cada vez! Quanto mais potência, melhor soavam…
Martin Logan Vantage (foto de catálogo)
Não é o caso das Martin Logan Vantage, que são auto-suficientes nos graves e qualquer bom amplificador que não entre em parafuso, leia-se, oscilação, quando tem de reproduzir 20Khz à máxima potência, as satisfaz plenamente. Mas se há uma coluna que é “a cara da mãe”, this is it...
Painel XStat(foto de catálogo)
À mãe Summit foi a Vantage buscar a beleza (e leveza) única da transparência do painel electrostático XStat e a elegância do porte altivo que assenta sobre uma caixa de graves activos com design nórdico capaz de deixar o gineceu audiófilo à beira de uma ataque de desejo de posse. Quem ganha com isso é o pessoal do androceu…
Não quero perder muito tempo com descrições pormenorizadas que outros melhor do que eu já disponibilizaram na net aqui. Irei debruçar-me sobre aquilo que as distingue, porque o que as assemelha é tão óbvio que salta aos olhos - e aos ouvidos…
Martin Logan Summit (foto de catálogo)
Fui dos primeiros europeus a ouvir as Summit, numa demonstração privada em Las Vegas, quando ainda eram quase segredo de estado. Lembro-me que, na altura, o que mais me impressionou foi a naturalidade das vozes e o poder e extensão dos graves. Algo que, meses depois, não consegui reproduzir em minha casa.
Admito que a minha sala é demasiado pequena para colunas que descem muito abaixo dos 35Hz, se bem que as Odyssey (que continuam a ser as minhas preferidas) acolitadas por dois “subs” da MJ Acoustics sempre se sentiram como peixe na água. Com as Summit, só consegui obter resultados satisfatórios (ler teste em Artigos Relacionados) com a manipulação radical dos controles de volume de 50Hz e 25Hz: o primeiro no máximo e o segundo no mínimo!
Admito também que devo ter sido o único a “queixar-se” dos graves da Summit: mais dB menos dB, todos os felizes proprietários das Summit, daqui e de além-mar, conseguiram, de uma forma ou de outra, casá-las com a respectiva sala, em muitos casos com uma afinação totalmente à revelia da minha: 50Hz “cortados”, 25Hz “puxados”. Depois de ver num episódio da “CSI, New York”, que há tipos saudáveis que amputam os seus próprios membros porque preferem ser coxos, já estou por tudo. É que ao cortar 10dB ao cone de alumínio aos 50Hz deixa sem apoio a zona já de si ténue dos 200Hz, quando o painel já está em esforço a trabalhar numa zona que lhe é proibida.
As Summit foram concebidas para salas tipicamente americanas, leia-se, de grandes dimensões, e com o “Home Theater” como pano de fundo. De facto, sejamos justos, sempre que utilizei as Summit como par principal de um sistema AV, a “bunda” grande nunca me incomodou, deu-me até grande prazer. O som de cinema ganha outra dimensão com colunas que reproduzem as oitavas inferiores com facilidade. E depois as bandas sonoras e, sobretudo, as vozes offstage ficam tão reais que chegam a assustar.
No meu modesto tugúrio, o binómio sala/Summit resultava num inaceitável diferencial de +6dB aos 30Hz em relação aos 200Hz, isto com ambos os controles em “flat”, um sinal indiciador de relação conflituosa, daí os ajustes que me vi obrigado a fazer.
As Vantage fotografadas na CES2006, no Hilton de Las Vegas
A tal ponto, que desejei que Gayle Sanders tivesse optado apenas por um “woofer” dinâmico com um controle aos 35Hz. Fiz-lhe chegar esta sugestão: a resposta veio no ano seguinte na forma das belas Vantage! Não era bem o que eu queria, embora tenham no nome o V de Victor. Pura coincidência, claro…
O que eu queria era que as Vantage tivessem o mesmo painel electrostático das Summit, que se responsabiliza por (quase) tudo o que se passa acima dos 275Hz. Mas há razões comerciais que falam mais alto, e não se pode ficar com a mãe pelo preço da filha, pronto. Assim, nas Vantage, cujo painel tem menor superfície de irradiação, foi necessário subir a saia acima do joelho: 400Hz.
É esta a diferença fundamental entre mãe e filha: a bainha da saia que corresponde a 125Hz de som electrostático.
Claro que para o distribuidor e, sobretudo, para o público há outro argumento de venda mais…eeeh… vantajoso: a Vantage tem todo o sabor da Summit por metade do preço…
No filme “23 gramas” (notável desempenho de Sean Penn), o título refere-se ao peso que um ser humano perde no momento exacto da morte (o peso da alma que se liberta do corpo?). Serão 125Hz a diferença entre a vida e a morte de uma Martin Logan? Duvido. A não ser que seja na transição médio grave que se esconde afinal a alma da música...
Portanto, quem comprou as Summit não deve sentir-se defraudado, apenas porque há quem afirme - Ken Kessler, por exemplo - que as Vantage reproduzem 90% do som das Summit por metade do preço. Ainda que seja em parte verdade, os 10% que faltam são o fillet mignon, a ponta do lombo do som electrostático - e isso paga-se caro...
Vamos, então, aos outros 90%. Tal como eu suspeitava, o grave das Vantage e a minha sala não revelaram incompatibilidades gritantes, mesmo com o controle na posição “flat”, embora eu prefira um “corte” de 2 a 4dB aos 35Hz. O grave é sólido, rápido, tem “punch” e o seu “peso específico” facilita a integração com o painel. Não tem, como é óbvio, a mesma extensão e gravitas do grave das Summit, passe a redundância.
Vantage, frente e trás (foto de catálogo)
A opção pela técnica de slot-loading facilita o acoplamento acústico com o conteúdo atmosférico da sala. A “ranhura” lineariza mais eficazmente a pressão de ambos os lados do diafragma do altifalante de graves, reduzindo a distorção provocada pelas diferenças de pressão dentro da caixa, que aumenta quando o altifalante recua e diminui quando o altifalante avança, afectando o movimento de pistão do cone, além de que funciona como um excelente filtro mecânico de passa-baixas.
Pode assim optar-se por um filtro eléctrico de 1ª ordem, muito menos susceptível de provocar desvios de fase e oscilação. Esta conjugação electromecânica resulta num filtro de quasi-terceira ordem com alinhamento do tipo Butterworth e excelente factor de amortecimento. Daí a sensação de “tightness” do grave das Vantage. Gayle Sanders sabe muito bem o que faz, ou não teria roubado Debbie, a secretária de Ricardo Franassovici, para casar com ela...
Portanto, já temos duas das características do grave ideal: tenso e intenso, como o amor. A extensão é, como já vimos, q.b. e adequada ao desejável equilíbrio espectral. Em caso de baixo-dependência grave, pode sempre juntar dois “subs” (e nunca apenas um!) devidamente alinhados. Isto, porque o altifalante de graves aqui tem de compensar os tais 125Hz em falta na extensão do painel, logo ao puxar o cobertor para a cabeça fica-se com os pés de fora…
A opção por um corte aos 400Hz já tinha sido tentada com sucesso nas Clarity, que são igualmente coesas mas menos transparentes. O painel XStat é mais rápido, pelo que foi necessário encontrar um altifalante de alumínio compatível, tanto em termos electromecânicos como acústicos. A opção por uma unidade de apenas 20, 3 cm de diâmetro prende-se com o facto de um altifalante maior, com uma frequência de ressonância mais baixa, logo com melhor extensão de graves, ter tendência para se tornar direccional à medida que a frequência sobe. Ora, nas Vantage o cone de alumínio ainda está activo aos 800Hz, embora esteja praticamente anulado aos 2kHz, o que só vem confirmar a minha especulação de um filtro Butterworth de 3ª ordem. Apesar disso, quanto mais “cortar” no grave, sem nunca, repito, nunca afectar o justo equilíbrio espectral, menos o alumínio mete as mãos por baixo das saias transparentes do painel.
As Vantage são um milagre acústico. O painel não soa, hélas, tão natural como o das Summit. Em especial nas vozes masculinas, nota-se uma ligeira coloração que resulta numa vaga sugestão de artificialidade e menor transparência intrínseca, que não deve ser confundida com a claridade típica das ML - essa está lá em abundância.
Um outro tipo de “artificialidade” adivinha-se também nos registos médio-altos, sobretudo nas vozes femininas, e não perdoa discos e respectivos reprodutores com tendência para a sibilância e os “gafanhotos”. Mas esta é mais evidente enquanto as Vantage estão “verdes”.
Também no áudio a virgindade está fora de moda: as colunas querem-se com passado, e quanto mais dissolutas melhor. Um dia Ricardo Franassovici disse-me que tinha “desflorado” as suas Martin Logan Statement com a faixa “Like a Virgin”, de Madonna, aos altos berros. Claro que ele fugia de casa, quando o disco estava a tocar…
Em alternativa, deixe-as uns dias nas mãos do Luís Campos, que sabe muito bem o que há-de fazer com elas - honi soit qui mal y pense…
Ao optar nas Summit por um corte baixo aos 275Hz, Gayle Sanders expôs as limitações do painel nos 200Hz: soam algo retraídas nesta zona do espectro e menos presentes que as Vantage, que projectam melhor os sons (a menor inclinação do painel tem aqui também um papel fundamental), e são ainda mais claras, além de excepcionalmente informativas - maybe a little too much so: ouvem-se todas as minudências da mistura sonora.
Martin Logan Vantage(foto de catálogo)
Mas essa é outra das características de todas as Martin Logan. Talvez por isso, Luís Campos goste tanto de as ouvir acolitadas pelo Krell FBI, cuja secção de preamplificação é inusitadamente doce e parece deitar mel sobre a informação acústica. Na falta do FBI, ou da luz de fim de tarde de um Primaluna Prologue, oiça-as numa sala com abundância de tapetes e cortinados. Ou vá dar uma volta e deixe a Madonna a gritar que é virgem até você acreditar…
As Vantage não soam como colunas electrostáticas típicas: o enfoque é excelente assim como a dispersão lateral graças à curvatura do painel. No plano vertical, a dispersão não é tão boa, e os agudos perdem presença quando são ouvidas de pé. As Vantage soam antes como colunas dinâmicas, capazes de elevados níveis de pressão sonora, transparência, claridade e vivacidade nos registos médios com agudos cintilantes e notável sentido rítmico (as Summit são mais lentas). Contudo, nenhum conjunto de altifalantes convencionais consegue este nível de entrosamento temporal entre os 500Hz e os 20kHz. Além de que também não se pode ver através deles…
Nota: as Vantage são perfeitamente compatíveis com amplificadores de Classe D e tocam maravilhosamente bem com os BelCanto REF1000.
Distribuidor: IMACÚSTICA
Fabricante: MARTIN LOGAN
Lembro-me que o título foi mal entendido em Itália, e prestou-se até a algumas piadas, porque Franco Serblin ficara com a ideia de que eu tinha chamado “filha da puta” às Amator, como me confessou na sua primeira visita a Portugal. Não que as Extrema fossem senhoras bem comportadas - tinham pêlo na venta, e sopravam quando a mostarda lhes chegava ao nariz. Adoravam rapazes novos e fortes, como os Krell - logo aos dois de cada vez! Quanto mais potência, melhor soavam…
Martin Logan Vantage (foto de catálogo)
Não é o caso das Martin Logan Vantage, que são auto-suficientes nos graves e qualquer bom amplificador que não entre em parafuso, leia-se, oscilação, quando tem de reproduzir 20Khz à máxima potência, as satisfaz plenamente. Mas se há uma coluna que é “a cara da mãe”, this is it...
Painel XStat(foto de catálogo)
À mãe Summit foi a Vantage buscar a beleza (e leveza) única da transparência do painel electrostático XStat e a elegância do porte altivo que assenta sobre uma caixa de graves activos com design nórdico capaz de deixar o gineceu audiófilo à beira de uma ataque de desejo de posse. Quem ganha com isso é o pessoal do androceu…
Não quero perder muito tempo com descrições pormenorizadas que outros melhor do que eu já disponibilizaram na net aqui. Irei debruçar-me sobre aquilo que as distingue, porque o que as assemelha é tão óbvio que salta aos olhos - e aos ouvidos…
Martin Logan Summit (foto de catálogo)
Fui dos primeiros europeus a ouvir as Summit, numa demonstração privada em Las Vegas, quando ainda eram quase segredo de estado. Lembro-me que, na altura, o que mais me impressionou foi a naturalidade das vozes e o poder e extensão dos graves. Algo que, meses depois, não consegui reproduzir em minha casa.
Admito que a minha sala é demasiado pequena para colunas que descem muito abaixo dos 35Hz, se bem que as Odyssey (que continuam a ser as minhas preferidas) acolitadas por dois “subs” da MJ Acoustics sempre se sentiram como peixe na água. Com as Summit, só consegui obter resultados satisfatórios (ler teste em Artigos Relacionados) com a manipulação radical dos controles de volume de 50Hz e 25Hz: o primeiro no máximo e o segundo no mínimo!
Admito também que devo ter sido o único a “queixar-se” dos graves da Summit: mais dB menos dB, todos os felizes proprietários das Summit, daqui e de além-mar, conseguiram, de uma forma ou de outra, casá-las com a respectiva sala, em muitos casos com uma afinação totalmente à revelia da minha: 50Hz “cortados”, 25Hz “puxados”. Depois de ver num episódio da “CSI, New York”, que há tipos saudáveis que amputam os seus próprios membros porque preferem ser coxos, já estou por tudo. É que ao cortar 10dB ao cone de alumínio aos 50Hz deixa sem apoio a zona já de si ténue dos 200Hz, quando o painel já está em esforço a trabalhar numa zona que lhe é proibida.
As Summit foram concebidas para salas tipicamente americanas, leia-se, de grandes dimensões, e com o “Home Theater” como pano de fundo. De facto, sejamos justos, sempre que utilizei as Summit como par principal de um sistema AV, a “bunda” grande nunca me incomodou, deu-me até grande prazer. O som de cinema ganha outra dimensão com colunas que reproduzem as oitavas inferiores com facilidade. E depois as bandas sonoras e, sobretudo, as vozes offstage ficam tão reais que chegam a assustar.
No meu modesto tugúrio, o binómio sala/Summit resultava num inaceitável diferencial de +6dB aos 30Hz em relação aos 200Hz, isto com ambos os controles em “flat”, um sinal indiciador de relação conflituosa, daí os ajustes que me vi obrigado a fazer.
As Vantage fotografadas na CES2006, no Hilton de Las Vegas
A tal ponto, que desejei que Gayle Sanders tivesse optado apenas por um “woofer” dinâmico com um controle aos 35Hz. Fiz-lhe chegar esta sugestão: a resposta veio no ano seguinte na forma das belas Vantage! Não era bem o que eu queria, embora tenham no nome o V de Victor. Pura coincidência, claro…
O que eu queria era que as Vantage tivessem o mesmo painel electrostático das Summit, que se responsabiliza por (quase) tudo o que se passa acima dos 275Hz. Mas há razões comerciais que falam mais alto, e não se pode ficar com a mãe pelo preço da filha, pronto. Assim, nas Vantage, cujo painel tem menor superfície de irradiação, foi necessário subir a saia acima do joelho: 400Hz.
É esta a diferença fundamental entre mãe e filha: a bainha da saia que corresponde a 125Hz de som electrostático.
Claro que para o distribuidor e, sobretudo, para o público há outro argumento de venda mais…eeeh… vantajoso: a Vantage tem todo o sabor da Summit por metade do preço…
No filme “23 gramas” (notável desempenho de Sean Penn), o título refere-se ao peso que um ser humano perde no momento exacto da morte (o peso da alma que se liberta do corpo?). Serão 125Hz a diferença entre a vida e a morte de uma Martin Logan? Duvido. A não ser que seja na transição médio grave que se esconde afinal a alma da música...
Portanto, quem comprou as Summit não deve sentir-se defraudado, apenas porque há quem afirme - Ken Kessler, por exemplo - que as Vantage reproduzem 90% do som das Summit por metade do preço. Ainda que seja em parte verdade, os 10% que faltam são o fillet mignon, a ponta do lombo do som electrostático - e isso paga-se caro...
Vamos, então, aos outros 90%. Tal como eu suspeitava, o grave das Vantage e a minha sala não revelaram incompatibilidades gritantes, mesmo com o controle na posição “flat”, embora eu prefira um “corte” de 2 a 4dB aos 35Hz. O grave é sólido, rápido, tem “punch” e o seu “peso específico” facilita a integração com o painel. Não tem, como é óbvio, a mesma extensão e gravitas do grave das Summit, passe a redundância.
Vantage, frente e trás (foto de catálogo)
A opção pela técnica de slot-loading facilita o acoplamento acústico com o conteúdo atmosférico da sala. A “ranhura” lineariza mais eficazmente a pressão de ambos os lados do diafragma do altifalante de graves, reduzindo a distorção provocada pelas diferenças de pressão dentro da caixa, que aumenta quando o altifalante recua e diminui quando o altifalante avança, afectando o movimento de pistão do cone, além de que funciona como um excelente filtro mecânico de passa-baixas.
Pode assim optar-se por um filtro eléctrico de 1ª ordem, muito menos susceptível de provocar desvios de fase e oscilação. Esta conjugação electromecânica resulta num filtro de quasi-terceira ordem com alinhamento do tipo Butterworth e excelente factor de amortecimento. Daí a sensação de “tightness” do grave das Vantage. Gayle Sanders sabe muito bem o que faz, ou não teria roubado Debbie, a secretária de Ricardo Franassovici, para casar com ela...
Portanto, já temos duas das características do grave ideal: tenso e intenso, como o amor. A extensão é, como já vimos, q.b. e adequada ao desejável equilíbrio espectral. Em caso de baixo-dependência grave, pode sempre juntar dois “subs” (e nunca apenas um!) devidamente alinhados. Isto, porque o altifalante de graves aqui tem de compensar os tais 125Hz em falta na extensão do painel, logo ao puxar o cobertor para a cabeça fica-se com os pés de fora…
A opção por um corte aos 400Hz já tinha sido tentada com sucesso nas Clarity, que são igualmente coesas mas menos transparentes. O painel XStat é mais rápido, pelo que foi necessário encontrar um altifalante de alumínio compatível, tanto em termos electromecânicos como acústicos. A opção por uma unidade de apenas 20, 3 cm de diâmetro prende-se com o facto de um altifalante maior, com uma frequência de ressonância mais baixa, logo com melhor extensão de graves, ter tendência para se tornar direccional à medida que a frequência sobe. Ora, nas Vantage o cone de alumínio ainda está activo aos 800Hz, embora esteja praticamente anulado aos 2kHz, o que só vem confirmar a minha especulação de um filtro Butterworth de 3ª ordem. Apesar disso, quanto mais “cortar” no grave, sem nunca, repito, nunca afectar o justo equilíbrio espectral, menos o alumínio mete as mãos por baixo das saias transparentes do painel.
As Vantage são um milagre acústico. O painel não soa, hélas, tão natural como o das Summit. Em especial nas vozes masculinas, nota-se uma ligeira coloração que resulta numa vaga sugestão de artificialidade e menor transparência intrínseca, que não deve ser confundida com a claridade típica das ML - essa está lá em abundância.
Um outro tipo de “artificialidade” adivinha-se também nos registos médio-altos, sobretudo nas vozes femininas, e não perdoa discos e respectivos reprodutores com tendência para a sibilância e os “gafanhotos”. Mas esta é mais evidente enquanto as Vantage estão “verdes”.
Também no áudio a virgindade está fora de moda: as colunas querem-se com passado, e quanto mais dissolutas melhor. Um dia Ricardo Franassovici disse-me que tinha “desflorado” as suas Martin Logan Statement com a faixa “Like a Virgin”, de Madonna, aos altos berros. Claro que ele fugia de casa, quando o disco estava a tocar…
Em alternativa, deixe-as uns dias nas mãos do Luís Campos, que sabe muito bem o que há-de fazer com elas - honi soit qui mal y pense…
Ao optar nas Summit por um corte baixo aos 275Hz, Gayle Sanders expôs as limitações do painel nos 200Hz: soam algo retraídas nesta zona do espectro e menos presentes que as Vantage, que projectam melhor os sons (a menor inclinação do painel tem aqui também um papel fundamental), e são ainda mais claras, além de excepcionalmente informativas - maybe a little too much so: ouvem-se todas as minudências da mistura sonora.
Martin Logan Vantage(foto de catálogo)
Mas essa é outra das características de todas as Martin Logan. Talvez por isso, Luís Campos goste tanto de as ouvir acolitadas pelo Krell FBI, cuja secção de preamplificação é inusitadamente doce e parece deitar mel sobre a informação acústica. Na falta do FBI, ou da luz de fim de tarde de um Primaluna Prologue, oiça-as numa sala com abundância de tapetes e cortinados. Ou vá dar uma volta e deixe a Madonna a gritar que é virgem até você acreditar…
As Vantage não soam como colunas electrostáticas típicas: o enfoque é excelente assim como a dispersão lateral graças à curvatura do painel. No plano vertical, a dispersão não é tão boa, e os agudos perdem presença quando são ouvidas de pé. As Vantage soam antes como colunas dinâmicas, capazes de elevados níveis de pressão sonora, transparência, claridade e vivacidade nos registos médios com agudos cintilantes e notável sentido rítmico (as Summit são mais lentas). Contudo, nenhum conjunto de altifalantes convencionais consegue este nível de entrosamento temporal entre os 500Hz e os 20kHz. Além de que também não se pode ver através deles…
Nota: as Vantage são perfeitamente compatíveis com amplificadores de Classe D e tocam maravilhosamente bem com os BelCanto REF1000.
Distribuidor: IMACÚSTICA
Fabricante: MARTIN LOGAN